sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O desafio do pastoreio

À turma de formandos e formandas do período matutino, 2013: O desafio do pastoreio



Discurso proferido em 14 de dezembro de 2013 por ocasião da colação de grau da turma do período matutino da FATEO
Magali do Nascimento Cunha

É uma honra e motivo de alegria ser paraninfo desta turma e de uma turma que se chama "Turma Milton Schwantes". Muito obrigada por esta manifestação de carinho e reconhecimento pelo trabalho que eu desenvolvi com vocês. A docência, do ponto de vista teológico e pastoral, é um ministério - e ministério é serviço. Deus nos dá os dons - e no meu caso me deu dois dons: escrever e trabalhar pela informação e pela verdade (o jornalismo) e ajudar pessoas no processo de aprendizado (a docência). E o mais bonito da docência é que podemos aprender também e para isso temos que renovar nossa paciência para ouvir, e respeitar... desafios grandes hoje no nosso tempo.

Outra coisa que me honra e me alegra com a homenagem de vocêsé o fato de eu ser mulher e ser leiga. Com isso vocês dão um belo testemunho de que mulheres e leigos/as têm lugar na vida das igrejas e no ensino da Teologia, em um tempo marcado por posturas cada vez mais sexistas e clericalistas nas nossas igrejas.

Aprendi muito com vocês. Vocês são uma turma bastante heterogênea, cheia de diversidade: faixa etária, localidades, histórias de vida, concepções sobre a fé e a Igreja. Isto é sempre muito positivo, afinal não tem nada mais negativo e anti-evangélico do que se trabalhar para ter todo mundo vivendo experiências e pensando do mesmo jeito num grupo, como algumas denominações fazem acontecer hoje. Até nas famílias a diversidade é algo bem positivo. Tudo isto deve servir de aprendizado.

Mas há nuances que preocuparam nessas diferenças da turma... aprendi que a maioria mostrou valorizar a paz, a humildade, o respeito, a disposição para aprender com as diferenças, enquanto uma pequena parte revelou dificuldade em desenvolver nos relacionamentos estes valores tão cristãos. E eles são imprescindíveis para o pastoreio e a quase totalidade da turma já é ou será pastor ou pastora.

Por isso é meu dever docente e de pessoa homenageada por vocês (minha responsabilidade aumenta no compromisso com vocês!! Paraninfo, ou madrinha, é "meio mãe"), é meu dever indicar quanta responsabilidade está colocada no convite de formatura como texto-chave: “A perdida buscarei... a desgarrada tornarei a trazer... a quebrada ligarei e a enferma fortalecerei... apascentá-las-ei com justiça” (texto de Ezequiel 34.16).

Ser pastor e pastora, mesmo quem não vai assumir o ministério pastoral é chamado a realizar a ação pastoral – da presença da igreja na comunidade e no mundo – é pastor e pastora. Neste texto mesmo de Ezequiel, é Deus quem está falando. Por que Deus é quem fala? porque o profeta denuncia que Deus precisa ele próprio fazer o trabalho porque os pastores que deveriam cuidar do povo (no caso os governantes e os sacerdotes) não estavam fazendo. O profeta dizia “Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos! Os pastores não vão apascentar as ovelhas?”

E o profeta mostra como para buscar a perdida, trazer a desgarrada, ligar a quebrada, fortalecer a enferma e apascentar com justiça é preciso ter inspiração em Deus, o Grande Pastor, mais tarde encarnado em Jesus, o Bom Pastor. Ezequiel mostra que o amor infinito e incondicional de Deus contrasta com a ganância e os interesses mesquinhos dos representantes do povo.

Em vez de conduzir as ovelhas a verdes pastagens, eles se fartam a si mesmos. Em vez do cuidado atencioso do pastor carinhoso, eles conduzem as ovelhas com violência e com dureza. 

Por isso é que Deus, o verdadeiro pastor, é quem vai fazer o que os governantes e sacerdotes não fazem.

Jesus vai assumir o pastoreio do povo que era como ovelhas sem pastor e vai criticar os pastores de Israel , os escribas e os fariseus, que ao invés de conduzirem as ovelhas a Deus as afastavam dEle. Jesus fala de mercenários... Imagem dura. Mas mostra que ser pastor é o contrário, é estar junto com as ovelhas incondicionalmente: afirma que o pastor acompanha todas, guia, cuida, conduz, abre caminho. O plural “Ovelhas” aqui significa todos que carecem do cuidado de Deus - não só os que estão num só tipo de aprisco. Pastoreio em Jesus passa a ter o Cristo como modelo. Pastorear, é ainda, unir, trazer unidos os membros para o corpo de uma só cabeça. Um só rebanho!

Por isso, volto àquela minha preocupação com a necessidade de quem se prepara para ser pastor e pastora valorizar a paz, a humildade, o respeito, a disposição para aprender com as diferenças...

Responsabilidade grande para o pastoreio hoje: tomar o modelo de Jesus, o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Hoje temos os pastores/as-celebridades, que têm mais o modelo do mercenário descrito por Jesus, e pastores/as que almejam o modelo das celebridades, status eclesiástico: estão aí para mandar, submeter, descuidar, causar contenda, divisão. Pastores e pastoras que cuidam do seu bem estar e se pastoreiam a si próprios, como denuncia Ezequiel, cuidando das ovelhas a distância, ou, fazem uma assistência social aqui, outra ali... - mas não estão no meio, não dão carinho, não acompanham... nem as conhecem... não trazem a dor do outro para si... nem imaginam que dor é a do outro... também não celebram a alegria do outro que nem sabem qual foi...

Por isso, gostaria de terminar minhas palavras dizendo a vocês o mesmo que já disse para outras turmas.

Não vou me cansar de repetir e espero que vocês não se cansem de ouvir: em nome da sua vocação, amem as pessoas com quem trabalharão. E amem a vocês mesmos/as. Garantam o valor da sua vocação. Não atuem na vida da igreja para conquistar degraus na hierarquia eclesiástica, façam suas escolhas e assumam as posturas necessárias de acordo com o que vocês acreditam, de acordo com a formação que receberam, de acordo com a ética do Reino.

Viver o Evangelho é isto mesmo... o gosto doce dos frutos que Deus concede não tem comparação com qualquer destaque na vida da igreja.

Estes são meus desejos de leiga, aquela que é pastoreada, e que precisa continuar sendo pastoreada. Estes são meus desejos, que já tive chance de partilhar com vocês tantas vezes em sala de aula. Meus desejos de leiga, meus desejos de ex-professora e amiga. Estes são também os meus desejos de membro de uma comunidade de fé, que quer ver uma igreja guiada não pelos valores deste mundo, com seus números, competição, exclusão e intolerância, mas guiada pelos valores do Reino, da comunidade, da amizade, da liberdade e da partilha – vocês podem ajudar a escrever esta página na nossa história. Sigam adiante!

Formatura da FaTeo 2013: em meio à emoção e alegria, palavras de exortação: http://www.metodista.br/fateo/noticias/formatura-da-fateo-2013-em-meio-a-emocao-e-alegria-palavras-de-exortacao/view

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Mensagem de Natal da Prefeita de Belém, Palestina – Vera Baboun

Mensagem de Natal da Prefeita de Belém, Palestina – Vera Baboun

Desde uma pequena gruta em Belém a mensagem de amor, esperança, justiça e paz, se espalhou por todo o mundo.
Image
Vista panorâmica da Cidade Palestina de Belém, ao fundo, Colinas da Jordânia.
Hoje, a nossa pequena vila se transformou em uma vila menor ainda, devido à expansão dos assentamentos israelenses, mas a mensagem de Jesus Cristo continua em nossos corações, superando com esperança a aflição de décadas vividas sob ocupação externa e sendo privados de nossos direitos.
Em Belém, apesar das dificuldades, nós temos a obrigação de olhar para o futuro com esperança. Nós celebramos, pois grande parte de nossa “Cidade Antiga” se transformou Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e o restauro da Igreja da Natividade, começou sob o patrocínio do Presidente Mahmoud Abbas.
Nosso setor privado continua a investir apesar dos obstáculos colocados pela ocupação, e nosso povo continua a protestar pacificamente contra as injustiças impostas sobre eles, enquanto a comunidade internacional apenas observa simpaticamente.
Uma vez por ano, a cidade de Belém entra em milhões de casas pelo mundo todo através da figura que nasceu na nossa pequena gruta. Mais de 2000 anos se passaram desde este momento, e o povo de Belém continua a proteger e cuidar desses lugares onde a Sagrada Família deixou seu legado.
Como o Papa João Paulo II disse-nos em sua visita à nossa cidade me 2000, “Os pastores de Belém foram os seus antecessores, seus antepassados”.
Mas Belém não é um museu, nem apenas uma gruta. É uma experiência viva de luta diária pela existência, por uma paz justa e duradoura, e este é o Belém que nós também compartilhamos com o mundo. Uma Belém que é modelo natural de coexistência entre Cristãos e Muçulmanos, um exemplo para o resto da região.
Uma Belém que é casa de milhares de refugiados que tem esperado pelo cumprimento dos seus direitos desde 1948. Uma Belém onde religiosas e religiosos cristãos oram pela liberdade de todo o povo Palestino e pela preservação de suas casas e sustento. Belém e seu povo são um chamado vivo pela liberdade e pela dignidade.
Da Praça da Natividade, nós agradecemos os líderes mundiais pela atenção que eles têm dado ao nosso país, a Palestina, e a nossa cidade de Belém em particular. Mas é chegado um tempo de tomar ações concretas a fim de preservar as esperanças por uma paz justa na região. Ao continuarmos as restaurações de nossa Cidade Antiga, nós continuamos um chamado pela restauração de nossas terras e o retorno do nosso povo.
Nós oramos para que este Natal ilumine os corações daqueles que tem o poder para acabar com décadas de injustiças; e de garantir um estabelecimento seguro de um livre e soberano Estado Palestino nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital, nossa cidade irmã que foi completamente separada de Belém pela primeira vez em 2000 anos de Cristianismo, por culpa do empreendimento de colonização israelense.
Todo Natal nós declaramos “Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”
Que esse Natal nos dê, e a todos os nossos irmãos e irmãs por todo o mundo, a força necessária para celebrar o Natal de 2014 tendo alcançado o cumprimento da justiça e da paz para todas as pessoas do mundo, incluindo as daqui da Palestina.
AP Photo/Majdi Mohammed
 Vera Baboun é a prefeita da Municipalidade de Belém, Estado da Palestina.
Para o texto original em Inglês: http://www.maannews.net/eng/ViewDetails.aspx?ID=652272
Traduzido por Alexandre Pupo Quintino.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O sétimo elemento

O sétimo elemento

No sábado dia 14/12, fui pego de surpresa com a notícia da criação da 7ª região eclesiástica na Igreja Metodista no Brasil compartilhada no facebook, no mesmo momento me indignei com a notícia e para minha surpresa, muitos outros manifestaram sua discordância. Meu intuito com esse post é justamente esclarecer o porquê eu acho essa notícia negativa. Gostaria de explicar algumas questões antes.

Você paga seu dízimo e ofertas na igreja e um percentual desses dízimos vão para sede regional se sustentar. Esse dinheiro serve para pagar infraestrutura física, funcionários, viagens, remuneração do bispo e entre outras coisas.



Eu procurei na internet informações e encontrei dificuldades para encontrar informações sobre as despesas das regiões eclesiásticas, então vou argumentar aqui sobre uma ideia que eu tenho que essas despesas representam, mas ficaria muito satisfeito se alguém me mandasse informações mais precisas, mas vamos em frente.

Considerando o custo de um bispo seria em torno de R$25.000/mês, ou seja, R$325.000/ano, incluso aí 13º, férias, água, luz, telefone, carro, gasolina, subsídio e outras despesas relacionadas somente ao ministério episcopal. Fora isso, soma-se a necessidade de uma sede regional, suas contas, 5 funcionários, encargos e etc, mais R$25.000/mês ou seja totalizamos cerca de R$650.000 reais/ano para sustentar uma sede regional. Se levarmos em conta outras despesas, chegamos facilmente em R$1 mi/ano, mas vamos considerar que seja R$650.000/ano.



Só de comprar essas novas despesas, superamos a oferta nacional missionária que em 2013 foi no valor de R$550.000, ou seja, um dinheiro que poderia está sendo gasto em missões, será utilizado somente em manter a estrutura de uma nova sede e mais um bispo. "Ah! Mas o bispo tem muito trabalho e não estava tendo condições de administrar uma região com mais de 100 mil membros". Bem, eu não tenho condições de avaliar a realidade do bispo, mas fiz uma pesquisa sobre igrejas metodistas em outros países (bem mais transparentes que os nossos) e comparei a relação bispo/nº de membros e vejam o que eu encontrei.

Coréia do Sul - 11 bispos – 1.587.385 membros – Aproximadamente 1 bispo a cada 144 mil membros - http://www.kmc.or.kr/new_eng/about/about05.html

Estados Unidos – 50 bispos – 7.725.039 membros – Aproximadamente 1 bispo a cada 154 mil membros - http://en.wikipedia.org/wiki/United_Methodist_Church

Ou seja, o número de membros não me parece uma justificativa plausível para o surgimento de uma nova região. Aliás, no site da Igreja Metodista Unida, tem o valor dos salários dos bispos que é em torno de U$120.000 anuais + a residência. Seria muito transparente da parte da Igreja Metodista do Brasil divulgar esses valores. As informações foram encontradas em http://archives.umc.org/interior.asp?ptid=21&mid=5860

Ademais, se a média de membros adotada por bispos é na faixa de 50 mil, o que aconteceria com a primeira se ela atingir a meta de 1 milhão de membros em 2014? Seriam 20 novas regiões? Importante se ressaltar que uma conferência (equivalente a região eclesiástica aqui) na Coréia do Sul tem mais de 300.000 membros.

A questão geográfica a mim tampouco parece um argumento lógico, visto que o rio de janeiro já é a menor região, o que não implica em grandes deslocamentos do bispo para gerenciar a igreja, diferentemente das regiões missionárias e todas as regiões eclesiásticas excetuando-se o Rio Grande do Sul e São Paulo.

Por fim, não vejo a menor lógica (humana e espiritual) na criação dessa região e a meu ver essa divisão (que colocam como multiplicação) da primeira região, tem muito mais um fim político do que uma “expansão missionária”. Não tive tempo e nem quis me aprofundar nas questões tais quais, números de delegados e poder de uma região isolada nas decisões nacionais da igreja, se os benefícios e salários dos bispos são compatíveis com a realidade do país e outras coisas, mas temos aí um bom campo de debate.

Entristeço-me com tudo isso e gostaria de coração que alguém que pense o contrário de mim me trouxesse argumentos válidos antes de me taxar de rebelde, ou falar com argumentos rasos como “é a vontade de Deus”, ou “isso é fruto do crescimento”. Ah e não se esqueçam de me ajudar com informações sobre as despesas das regiões, ajuda a enriquecer (somente) a discussão. ;)

Artigo escrito por Pedro Calixto, membro da Igreja Metodista em Carlos Prates-BH, 4ª Região



segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Professora da FATEO participa de oficina de promoção de direitos humanos em Brasília

Professora da FATEO participa de oficina de promoção de direitos humanos em Brasília

Lideranças pentecostais se reúnem por movimento por direitos (humanos) de crianças e adolescentes














Magali do Nascimento Cunha

Mobilizar e qualificar a ação de comunidades religiosas pelos direitos (humanos) das crianças e adolescentes é o objetivo do Movimento Paz & Proteção, União e Fé pelas Crianças e Adolescentes, que realizou oficina nesta sexta-feira (6/12), no Palácio do Planalto, em Brasília., com promoção da Unicef em parceria com a Secretaria-Geral da Presidência da República e Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, com o apoio do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), da Visão Mundial, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro) e a KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço. A oficina deste 6 de dezembro foi voltada para lideranças pentecostais e contou com a participação de cerca de 50 delas, representando 15 estados, atuantes em projetos de assistência e de garantia de direitos com crianças e adolescentes.

A sessão da manhã, coordenada pelo Secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral Paulo Maldos, contou com a presença do Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho, da Secretária Nacional de Promoção dos Direitos das Crianças e Adolescentes Angelica Goulart e da Chefe de Proteção à Criança na Unicef no Brasil Casimira Benge. O ministro Gilberto Carvalho e o pastor e professor de Teologia da Universidade Mackenzie Ricardo Bitun  apresentaram reflexões sobre “Defesa de Direitos, ação e participação social: o papel das comunidades religiosas”. Na sessão da tarde os participantes receberam orientações sobre campanhas para garantir o registro civil e documentação básica e de enfrentamento à violência, além de terem chance de compartilhar suas próprias ações em torno da defesa dos direitos (humanos) de crianças e adolescentes e de conhecer mais sobre o Movimento Paz & Proteção.

Portas abertas

 
Foto: Gilmar Caetano Tomáz


O ministro Gilberto Carvalho ressaltou em sua fala que é tarefa da Secretaria-Geral da Presidência garantir as portas abertas do Palácio do Planalto para diálogo e cooperação com os diferentes segmentos da sociedade civil. Ao contrário do que muitos apregoam, disse o ministro, o Governo Federal não é inimigo das igrejas e este evento é um retrato da disposição para o diálogo e a cooperação com vistas ao bem comum da população brasileira. O Estado é laico, continuou Gilberto Carvalho, e por isso mesmo deve trabalhar pela garantia do direito à liberdade religiosa e ter as religiões como parceiras.

Este esforço, segundo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, tem muitos obstáculos, já que há o reconhecimento desde o Governo Lula que, "ao chegar ao poder máximo, se deparou com uma máquina e um aparato legal preparadas para servir à acumulação e não aos pobres". Segundo o ministro, há uma cultura entre os diferentes estratos da máquina governamental, inclusive no funcionalismo público, de atuar nesse sentido - servir a quem sempre teve privilégios. Buscou-se, então, atuar "contra este padrão de Estado em busca de um Estado brasileiro como motor de igualdade e não de exclusão". A partir disso, Gilberto Carvalho avalia que conseguiu-se brechas que mostram que muita coisa mudou no Brasil, mas que ainda cabe ao Estado a tarefa, que classifica como imensa, de se "alcançar uma democracia verdadeira, por isso, é preciso contar com a ação cidadã de entidades sociais, como as igrejas. O ministro reconhece que se as entidades sociais cruzarem os braços o país pára e, portanto, cabe ao Estado apoiá-las".

O teólogo Ricardo Bitun expressou o desafio da responsabilidade social das igrejas à luz da Bíblia, tanto nos Antigo e Novo Testamentos que sempre chamam a um cuidado com o que chamou de "quadrilátero dos excluídos": órfãos, viúvas, pobres e estrangeiros".

Orientações pelos direitos (humanos) das crianças e adolescentes

As lideranças pentecostais participantes da Oficina do Movimento Fé e Proteção receberam orientações da equipe da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal/Secretaria Nacional de Proteção dos Direitos das Crianças e Adolescentes quanto às prioridades assumidas em busca de paz e proteção para este segmento da população brasileira. Uma delas é a Mobilização Nacional pela Certidão de Nascimento que afirma a certidão de nascimento e a documentação básica das crianças como um direito humano. Com a campanha o Governo Federal espera superar muitos processos de exclusão e violência contra crianças e adolescentes que ocorre pelo simples fato de elas/eles não serem registrados como cidadãos brasileiros. Dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostram que desde que a mobilização começou, a média nacional de crianças sem registro de nascimento caiu mais de 50% em cinco anos. O índice era de 20,9% em 2002, recuou para 12,2% em 2007 e caiu para 6,6% em 2010. Entre 2009 e 2010 a redução foi de 19,5%, ou seja, um das maiores da série histórica. Qualquer pessoa ou grupo pode se engajar na mobilização: informações e materiais aqui.

Foram destacados dois temas em relação à violência contra crianças e adolescentes: a campanha Proteja Brasil e a discussão sobre a redução da maioridade penal. A campanha de proteção à criança e adolescente,  que prevê combate à exploração sexual e outras formas de violência como a do trabalho infantil, em especial durante os grandes eventos, como o Carnaval e a Copa do Mundo. É a Campanha Proteja Brasil - saiba mais aqui e aqui.

Sobre a redução da maioridade penal, campanha de pessoas e grupos, inclusive evangélicos, para que adolescentes que cometem crimes sejam punidos da mesma forma como adultos, a própria Secretária Nacional de Promoção dos Direitos das Crianças e Adolescentes Angelica Goulart apresentou uma reflexão. Ela explicou que é um tema difícil que mexe com emoções por isso tem proposto, inclusive em audiência com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, a qualificação do debate, defendendo mudanças estruturais para que os direitos de crianças e dolescentes sejam garantidos. Segundo dados da secretaria 0,09% dos total da população adolescente comete ato infracional e dos atos cometidos cerca de 17% são gravosos. “Assistir o assassinato de um jovem ou de uma moça que estava trabalhando dentro de seu consultório dá a impressão para todos os brasileiros que isso vai acontecer todo dia e que são centenas de adolescentes que saem por aí assassinando as pessoas. Isso não é real”, afirmou Angélica Goulart. Ela lembrou que este tema sempre se reforça quando alguém branco e da classe média sofre com algum crime. "Claro que não é correto e quem praticou deve ser devidamente punido", disse, "no entanto, e aquelas crianças e adolescentes negros, da periferia que morrem todos os dias, quem clama por eles?" A secretária mostrou dados que revelam que mais de 20 crianças e adolescentes morrem assassinados todos os dias no País. Para ver os dados que a secretária Angélica Goulart apresentou à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados clique aqui.

Angelica Goulart lembrou que não é verdadeira a afirmação que crianças e adolescentes que cometem crimes ficam impunes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê as punições e a internação. Ela recordou a lei que criou o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei (Sinase, 12.594/12), aprovada em 2011 pelo Congresso. Segundo ela, só 6% das unidades de internação adequaram suas instalações aos parâmetros previstos na lei, mas 74,78% já atenderam parcialmente as exigências. O objetivo é que se tornem próprias para a ressocialização desses jovens e não uma reprodução do sistema prisional.

Foi afirmado entre os participantes do encontro que o tema da redução da maioridade penal é crucial em todo este contexto de paz e proteção e deve ser oposto pelas igrejas como testemunho de fé e misericórdia. Afirmou-se que a violência resultante do crime é uma dura realidade da sociedade brasileira e que as crianças e adolescentes não podem ser colocados como "bodes expiatórios" e perderem de vez a vida, já que são usados por adultos criminosos e correm o risco de serem tratados da mesma forma que eles em suas punições. Mais sobre este assunto aqui.

Outros assuntos foram abordados na Oficina como o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e indicados caminhos de ação.

O Movimento Paz e Proteção


O Movimento Paz e Proteção faz parte de uma ação global que a UNICEF vem realizando para mobilizar organizações seculares e religiosas, unindo a fé e os esforços de todos e todas. Essa aliança é baseada no que foi estabelecido pela Convenção sobre os Direitos da Criança, na legislação brasileira e em princípios e valores comuns. 

O Movimento Paz e Proteção busca unir pessoas, organizações e comunidades religiosas ou de fé para a salvaguarda dos direitos, da integridade e da dignidade de crianças e adolescentes. O objetivo é garantir a sobrevivência, desenvolvimento, proteção e bem-estar de meninas e meninos por meio de ações de prevenção da violência e promoção do registro de nascimento.  Para participar do Movimento, as organizações e instituições assinaram um Termo de Adesão, concordando com a implantação das ações previstas. As lideranças pentecostais presentes foram convidas a assinar o Termo, que pode ser assinado por outras organizações que desejem  se integrar. Veja aqui.

Esta foi a terceira oficina do Movimento Paz e Proteção em Brasília, desde maio de 2013, com lideranças religiosas para discutir o plano conjunto para proteção de crianças e adolescentes. “Aproximar as igrejas diferentes em favor de um objetivo comum é um testemunho claro de que podemos acreditar de maneiras distintas, mas que nosso compromisso último é o mesmo, ou seja, trabalhar em favor da promoção de uma cultura de paz”, disse numa das oficinas  Romi Márcia Bencke, Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).

O Diretor Nacional da Visão Mundial João Helder Diniz também declarou,  quando presente em outra oficina, que a parceria poderá potencializar os trabalhos que as igrejas já realizam e fazer com elas contribuam com outros desafios, como o da violência doméstica contra meninos e meninas. “As igrejas já realizam coordenam diversas iniciativas na área da infância e adolescência mas, muitas vezes, esses esforços são realizadas de forma isolada dentro de um determinada área ou território”, afirmou.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Pastor metodista é homenageado com Medalha Ewerton Montenegro pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo por sua atuação em defesa dos Direitos Humanos

Pastor metodista é homenageado com Medalha Ewerton Montenegro pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo por sua atuação em defesa dos Direitos Humanos




No último dia 05 de dezembro o rev.Adahyr Cruz, presbítero aposentado da Igreja Metodista, recebeu a Medalha Ewerton Montenegro por sua atuação na valorização e na defesa dos direitos humanos, no Estado do Espírito Santo.

O rev.Adahyr atuou na Pastoral Indigenista da 4ª Região lutando em favor dos índios Guaranis no estado do Espírito Santo, além de ter sido conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos e um dos criadores do Fórum Reage Espírito Santo.

Abaixo reproduzimos uma entrevista concedida pelo rev.Adahyr à revista "15 Anos em Revista", produzida pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos do Espírito Santo:

Entrevistado  -  Pr. Adahyr Cruz – Pastor da Igreja Metodista e Ex-conselheiro do CEDH



Pergunta: Pr. Adahyr, porque houve a necessidade da criação do Fórum Reage Espírito Santo?

As organizações civis mostravam sinais de revolta contra o que acontecia em nosso estado. O governo de José Inácio anunciara que resgataria o respeito pela gestão pública. Os governos estaduais de Max, Albuíno e Vitor não conseguiram enfrentar o crime e a corrupção, deixando marcas de instabilidade econômica e política. Vivia-se momentos de inflação, desemprego e crescimento da violência no estado.

A Scuderie Detetive Lecoq, com integrantes da polícia militar e civil, alargava sua ação criminosa atingindo setores do judiciário. 

O governo de José Inácio, segundo denúncias na imprensa da época, abusou do poder e ofereceu a gestão pública para os benefícios de amigos e familiares.

Na Assembléia Legislativa ações de alguns deputados engrossavam a lista do crime de colarinho branco. O deputado Gratz e o diretor da casa legislativa formaram uma rede com políticos corruptos, fazendo o crime se espalhar pelo estado.

O processo de escolha para compor o Tribunal de Contas do Estado facilitava o interesse dos políticos corruptos.

No judiciário a conivência de alguns juízes comprometia a instância do juízo e da lei.

Pergunta: Como o Sr. avalia esse movimento?

No Brasil, de 64 a 85, cresceu a consciência popular de que o povo organizado ganharia força para enfrentar o autoritarismo e a corrupção. A ditadura, embora longa, não ganhou trégua das organizações sociais, estudantis, operárias e os movimentos de base da igreja, como as CEB’s e outras.

Na década de 90, diante do crime organizado no ES criou-se o FORUM REAGE ESPÌRITO SANTO, integrados por representantes de associações políticas, civis e religiosas. Lá estavam representações da Comissão de DH da Câmara Federal, da ALES, Movimento Nacional de DH, CEDH, CDDH, Comissão de Justiça e Paz, Pastoral do Menor, MST, CONIC, UFES e OAB. No início um grupo de políticos, de reconhecida credibilidade vai ajudando a organizar o Fórum, que iria ganhar poder e legitimidade.

É justo lembrar o nome de Everton Montenegro, grande lutador pelos direitos, como advogado encaminhando ações judiciais contra a Scuderie Lecoq. Faleceu em plena atividade. Destaque deve ser dado à liderança do Dr. Agesandro da Costa Pereira presidente da OAB/ES e ao Dr. João Baptista Herkenhof, Dra. Ivone Vilanova, Dr. Carlos Eduardo Lemos, Dr. Alexandre Martins, mártir da luta contra o crime organizado, os deputados Claudio Vereza, Brice Bragato, e Iriny Lopes que fazia a relação do Forum com a área federal. A eleição de Cláudio Vereza para a presidência da ALES representou vitória do FORUM e das alianças populares e foi um golpe profundo no desmantelamento da rede do crime de corrupção que assaltava o estado. 

A convite do FORUM vieram ao estado vários membros da Comissão Parlamentar de Inquérito, para conhecer a situação caótica do Estado. Na ocasião o Espírito Santo tinha 64 pessoas denunciadas e indiciadas por aquela comissão.

A Anistia Internacional veio comprovar os crimes, relatando-os para a imprensa e organismos mundiais. O FORUM trouxe também ao estado o Ministro da Justiça, exigindo-lhe em assembléia a intervenção federal do estado, mas veio apenas a Força Nacional de Combate ao Crime.

Poucos foram para a cadeia, mas os nomes da corrupção foram para a Imprensa, muitos processos e ações acionadas.

Descobriu-se, com as ações do FORUM, o véu que encobria a impunidade dos criminosos contra a sociedade e os indivíduos.

O FORUM contribuiu para a certeza de que a sociedade organizada adquire poderes capazes de inverter a lógica perversa de que o poder, o dinheiro, a corrupção e o crime podem prevalecer sobre as forças do bem. 

Pergunta: Como o Sr. Avalia a participação das Igrejas no movimento?

As igrejas evangélicas, algumas históricas, como a Igreja Presbiteriana do Brasil, Batistas, Assembléia de Deus, participaram esporadicamente nas Assembléias do FÓRUM. A Associação de Pastores Evangélicos tinha acento no FÓRUM, mas de fraca atuação, embora encaminhassem para reuniões internas políticos evangélicos para opinarem sobre os acontecimentos no estado. 

A Igreja Católica teve participação mais ativa através de pastorais e posicionamentos por ações próprias e junto com o FÓRUM. O arcebispo Dom Silvestre Scandian esteve presente e era defensor comprometido com a defesa das lutas de interesse do FÓRUM.

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC, composto de sete Igrejas no estado onde participavam as Igrejas Católica, Metodista, Presbiteriana Unida (IPU) e Evangélica de Confissão Luterana (IECLB), teve uma atuação destacada nas ações do FORUM, participando de sua direção. Os assuntos do FÓRUM eram relatados nas reuniões internas e as propostas trazidas por seus representantes Pr. Adahyr Cruz e Pr. Norberto Berger. As direções das Igrejas tomavam conhecimento e respaldavam as ações do CONIC e do FÓRUM.

Pergunta: Como o Sr. Avalia a participação do Conselho Estadual de Direitos Humanos no FÓRUM Reage Espírito Santo e na luta contra a impunidade ?

O Conselho estava no início de suas atividades e enfrentava muitas adversidades para se organizar. O Estado legalizou e não dava condições para suas ações. Não era diferente dos demais. Não tinha espaço, ia de um lugar para outro, sem telefone e nenhuma outra comunicação, sem suportes administrativos. Era prá não funcionar mesmo.

Nada intimidou o trabalho do Conselho. Em suas reuniões mensais era avaliada a conjuntura do estado e ações eram propostas. Na presidência, nos primeiros mandatos, Isaias Santana teve importante papel e o Conselho passava a perceber os meandros do crime organizado, seus atores e a armação da impunidade.

Vários membros do Conselho participaram na criação do FÓRUM e só havia afinidades nos objetivos e ações.

Revista Conselho Estadual de Direitos Humanos - 15 anos em revista: http://www.dhnet.org.br/dados/revistas/a_pdf/cedh_es_revista_direitos_humanos.pdf

Dia Internacional dos Direitos Humanos: Sessão solene homenageia a luta dos direitos humanos na 5ª Semana: http://www.ptes.com.br/claudiovereza/mostraconteudos.asp?cod_conteudo=1467


Assembleia presta homenagem a 77 personalidades do Estado: http://al-es.jusbrasil.com.br/noticias/2036386/assembleia-presta-homenagem-a-77-personalidades-do-estado

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Conselho Mundial de Igrejas se reune para testemunhar ao mundo a unidade cristã e o desejo de Deus da justiça com paz

Conselho Mundial de Igrejas se reune para testemunhar ao mundo a unidade cristã e o desejo de Deus da justiça com paz

Magali do Nascimento Cunha

"Deus da Vida, guia-nos à justiça e à paz" foi o tema da assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) realizada de 30/10 a 8/11, em Busan, Coreia do Sul. É uma oração que expressa uma das mais destacadas demandas do tempo em que vivemos: justiça com paz e paz com justiça, fontes de vida, vontade de Deus. Na Assembleia Plena da mais importante organização do movimento ecumênico mundial, a certeza de que justiça e paz são dons de Deus, ministério do Cristo e de seus discípulos e discípulas no século XXI foi o conteúdo que animou o encontro de quase cinco mil cristãos e cristãs de todo o mundo. "Essa reunião é um milagre do Espírito Santo: tanta gente de tantos lugares diferentes, de línguas diferentes, culturas diferentes, realidades sociais diferentes, consegue se reunir com uma mesma perspectiva e se entender... há divergências, claro, mas há muita concordância" disse o moderador do CMI, o pastor luterano brasileiro Walter Altmann.


A Assembleia do CMI: um mosaico de experiências

O CMI foi fundado há 65 anos, em 1948, por igrejas do mundo inteiro empenhadas em trabalhar pela unidade visível dos cristãos e das cristãs, motivadas pela oração do Cristo: "Que eles sejam um para que o mundo creia" (Jo. 17.21). Desde então foram realizadas inúmeras atividades para concretizar o esforço conjunto das igrejas em várias frentes. A  assembleia é a expressão viva das 345 igrejas-membro entre evangélicas e ortodoxas de todos os continentes, que se reúnem para orar, celebrar, refletir e tomar decisões. Busan recebeu 825 delegados das igrejas e mais de 4 mil participantes, entre organizações associadas e representantes de outras igrejas cristãs.

Cada dia de encontro iniciava e finalizava com orações e celebrações litúrgicas. Também houve dezenas de grupos de estudos bíblicos focados na temática da assembleia. Foram realizadas seis sessões plenárias temáticas: sobre o tema da Assembleia; sobre a realidade da Ásia; sobre Missão; sobre Unidade; sobre Justiça; sobre Paz. Uma série de 21 “conversações ecumênicas”, destinadas a fomentar o debate sobre questões de interesse comum, foram realizadas a finalidade de contribuir para a configuração de uma agenda ecumênica comum para o período posterior a Busan. Foi aprovado que o próximo período entre Assembleias do CMI será pautado por uma Peregrinação pela Justiça e a Paz, com um  convite para que todas as igrejas se engajem.

Foi nas plenárias administrativas que as/delegadas/os tiveram chance de avaliar o trabalho dos programas do CMI e discutir novas propostas para ele com prioridades de ação para os próximos anos. Nessas plenárias ainda aconteceram eleições: foram eleitas/os oito presidentes para as regiões do mundo e para as tradições ortodoxas. Para a América Latina e o Caribe foi eleita a pastora presbiteriana da Colômbia Gloria Nohemy Ulloa Alvarado. Também foi eleita a nova delegação latino-americana no Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas. Ela fica bem mais representativa com a participação de três mulheres, dois leigos e um jovem: Ana Maria Velilla de Medio (leiga, da Igreja Discípulos de Cristo da Argentina), Aída Consuelo Sanchez-Navarro (pastora, da Igreja Episcopal de Honduras), Cora Luisa Antonio Matamorros (pastora da Igreja Morava da Nicarágua), Daniel Angel Favaro (pastor metodista da Argentina), Thomas Hyeono Kang (leigo, jovem, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil). Estes agora são os representantes do continente latino-americano no período entre as assembleias do CMI. O novo Comitê Central - órgão máximo do CMI - elegeu ainda, pela primeira vez na sua história, uma moderadora (presidenta) Agnes Abuom, uma mulher negra leiga africana da Igreja Anglicana no Quenia. Ela substitui o brasileiro luterano Walter Altmann pelo próximo período entre Assembleias. Ela atua no Quenia como consultora de projetos de desenvolvimento social e é ativista nos campos da economia justa, paz e reconciliação. Como vice-moderadores (vice-presidentes) foi eleita a bispa Metodista dos EUA Mary Ann Swenson, que tem atuado como presidente da Comissão Geral da Igreja Metodista Unida para Unidade Cristã e questões inter-religiosas, e continua por mais um período o ortodoxo, professor de Teologia em Istambul Gennadios de Sassima.

Com o fim de possibilitar o intercâmbio de dons e experiências entre os participantes a Assembleia teve o “Madang”- palavra de origem coreana que denota reunião, encontro, comunidade, celebração, família. No Madang era possível participar, em horários alternativos,  de oficinas, exposições, atividades especiais, atuações, obras de teatro, artes visuais, espaços de debate, encontros culturais preparados por igrejas e grupos ecumênicos de todo o mundo.

A realidade da Coreia do Sul e suas igrejas foi tema destacado na assembleia. Os/as participantes fizeram visitas a igrejas e projetos ecumênicos e uma parcela teve chance de participar da Peregrinação pela Paz, quando momentos de reflexão e oração aconteceram na Zona Desmilitarizada que divide as duas Coreias.

A participação metodista em Busan

37 Igrejas Metodistas presentes em 60 países mais o Concílio Mundial Metodista são membros do CMI. Os/as metodistas são uma forte presença no movimento ecumênico historicamente: além de reconhecidos líderes de diversos processos relacionados ao ecumenismo mundial (também no âmbito latino-americano e brasileiro), três dos sete secretários-gerais do CMI desde 1948 até hoje foram metodistas.

A Igreja Metodista no Brasil, seguindo a vocação dos metodistas em todo o mundo, é membro-fundadora do CMI, tendo participado com um delegado na primeira assembleia, a de 1948, em Amsterdan/Holanda.  A delegação da Igreja Metodista no Brasil para a Assembleia de Busan foi composta pelos bispos Adonias Pereira do Lago e Stanley da Silva Moraes e pela leiga Magali do Nascimento Cunha; o jovem Lucas Pereira do Lago participou como assessor da delegação e foi participante subsidiado pelo CMI para o Trem da Paz - uma iniciativa das igrejas coreanas para chamar a atenção para a necessidade de paz e reunificação da península coreana. Trata-se de um trem que saiu, em 6 de outubro, de Berlim/Alemanha, onde um muro que dividia o País foi superado em 1989, com direção a Busan, onde chegou em 28 de outubro, passando por Moscou, Irkutsk, Beijing, Seul. Os participantes tiveram oportunidade de intercambiar experiências de promoção da paz e da reconciliação e orar pela derrubada do muro que divide a Coreia, mas também pela derrubada de outros muros como o que isola os palestinos e separa dos irlandeses.
 Outros/as metodistas do Brasil serviram à Assembleia do CMI: o jovem Alexandre Quintino, da Igreja Metodista em Vila Mariana foi selecionado para participar como parte da equipe de apoio ("stewards"), tendo atuado com a equipe de culto que teve a expressão musical liderada pelo Rev. Tércio Junker; a Revda. Rosângela Soares de Oliveira representou o Dia Mundial de Oração e atuou na Pré-Assembleia de Mulheres e nos estudos bíblicos; a Revda. Nancy Cardoso Pereira atuou em workshops com os grupos Oikotree e Kairós Palestina, os quais assessora.


(foto: Trem da Paz chega a Busan)


(foto: Participantes da Pré-Assembleia de Mulheres e Pré-Assembleia de Homens)


(foto: Peregrinação pela Paz)


(foto: Missão e Liderança)

Na penúltima assembleia do CMI, realizada no Brasil (Porto Alegre, 2006), a delegada leiga Magali do Nascimento Cunha foi eleita membro do Comitê Central do organismo, segmento formado por 150 representantes de igrejas e continentes, que se reúne para tratar da vida do conselho no interregno das assembleias. Ela representou a Igreja Metodista no Brasil e as igrejas-membro do CMI na América Latina no período juntamente com outros quatro membros (do Brasil, da Bolívia e da Argentina), tendo contribuído também com uma nomeação específica para a Comissão Especial de Consenso e Colaboração (diálogo entre protestantes e ortodoxos no comitê central). O mandato se encerrou na Assembleia de Busan, onde Magali Cunha participou, como membro do Comitê Central que se encerrou, na moderação de plenárias administrativas, na liderança de um grupo de estudo bíblico e na facilitação de uma das conversações ecumênicas.

Houve duas reuniões de todos os metodistas presentes no evento. Houve uma oportunidade de encontro por região do mundo para diálogo sobre conteúdos da Assembleia que podem ser reforçados a partir da perspectiva específica do Metodismo. O grupo da América Latina indicou: (1) o engajamento no tempo de “Peregrinação pela Justiça e pela Paz” que deve ser aprovado amanhã, como programa do CMI, à luz da perspectiva wesleyana de santidade social e da noção de que “o mundo é nossa paróquia”; (2) a necessidade de reforçarmos em cada país tema como o da desmilitarização, amplamente discutido na Assembleia, e muito próximo da realidade latino-americana; (3) a relação dos temas de justiça e paz com a teologia wesleyana da graça e a compreensão de que somos igrejas para o mundo; (4) a importância do aprofundamento da temática do diálogo inter-religioso.

É impossível participar de uma Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas e não se sentir contagiada/o pelas possibilidades de superação das divisões e unidade em torno do que é comum à fé cristã. Quem quiser ter acesso a todos os materiais, inclusive ler a mensagem remetida a todas as igrejas pela Assembleia, pode acessar: http://wcc2013.info/es/


Magali do Nascimento Cunha, leiga metodista, membro da Igreja Metodista em Vila Floresta (3a RE), jornalista professora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista.

Esta matéria foi originalmente publicada no jornal Expositor Cristão de Dezembro de 2013 em uma versão ligeiramente mais curta, devido às limitações de espaço que veículos de comunicação impressos tem. Ela pode ser lida aqui: http://issuu.com/expositorcristao/docs/expositor_crist__o_dezembro_2013

Para mais fotos e relatos sobre a participação metodista na Assembleia do Conselho Mundial de igrejas:

Relatório – 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/19/relatorio-10a-assembleia-do-conselho-mundial-de-igrejas/

Peregrinos do Caminho: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/10/peregrinos-do-caminho/

Metodistas brasileiros participam da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas - Relato de Alexandre Pupo Quintino (membro da IM em Vila Mariana - SP): http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2013/11/metodistas-brasileiros-participam-da.html

Jornal Brasil de FaTo destaca participação de jovens na Assembleia do CMI: http://www.metodista.br/fateo/noticias/jornal-brasil-de-fato-destaca-participacao-de-jovens-na-assembleia-do-cmi/view

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Rede Metodista Confessante apoia a Plataforma dos Movimentos Sociais pela reforma do Sistema Político

Rede Metodista Confessante apoia a Plataforma dos Movimentos Sociais pela reforma do Sistema Político





NOSSOS PRINCÍPIOS: IGUALDADE, DIVERSIDADE, JUSTIÇA, LIBERDADE, PARTICIPAÇÃO, TRANSPARÊNCIA E CONTROLE SOCIAL
A plataforma parte do pressuposto da necessidade da consolidação e ampliação dos espaços de participação e controle social e do reconhecimento dos diferentes sujeitos políticos que atuam nestes espaços. Além disso, entendemos a necessidade de aperfeiçoar a democracia representativa e ao mesmo tempo dotá-la de mecanismos de democracia participativa e direta. Essas transformações só se realizam se tivermos um sistema público de comunicação, baseado nos princípios da democratização, do controle social, e do direito ao acesso às informações. Por isso o direito humano à comunicação tem centralidade nesta Plataforma.
Entendemos que não existe aprofundamento democrático e reforma no plano político sem uma verdadeira reforma nos espaços públicos de decisão das políticas econômicas. Queremos valorizar a política frente os interesses econômicos e não aceitamos a separação entre o político, o econômico e o social. Entendemos que todas as políticas públicas, sejam elas econômicas e/ou sociais, são mecanismos de redistribuição ou concentração de renda, de riquezas e do poder e devem zelar pelo respeito profundo às dimensões socioambientais.
Temos a convicção que o poder real nunca pode ser inteiramente delegado, ele cabe à cidadania. Por isso, o controle social e a participação cidadã e outras formas não institucionais de exercício político, autônomas e independentes, são elementos fundamentais à democratização da arena política.
Os princípios democráticos que devem nortear uma verdadeira reforma política são da igualdade, da diversidade, da justiça, da liberdade, da participação, da transparência e controle social.
O que entendemos por esses conceitos:
Igualdade: Equilíbrio de direitos e responsabilidades entre os/as cidadãos/ãs, respeitando as diversidades. Opõe-se às disparidades de renda, de posse de terra, de acesso à saúde, de acesso à educação, de acesso aos espaços de decisão, de representação política, de acesso ao comércio internacional entre os países, de apropriação da riqueza produzida nas relações de trabalho, entre outras.
Diversidade: Distinções dadas por aspectos de gênero, geracional, raça/cor, etnia, orientação sexual, pessoa com deficiência, entre outros. Diz respeito também aos diferentes espaços geográficos onde as populações se organizam (áreas urbana e rural, comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhas, indígenas) e às distintas atividades econômicas praticadas (extrativista, artesanal, agricultura familiar, atividade pesqueira, industrial). O conceito de diversidade não se opõe ao de igualdade, pois a igualdade busca respeitar as diversidades.
Justiça: Defesa dos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCAs), buscando restaurar os direitos ameaçados e garantir a implementação dos direitos não reconhecidos ou criação de novos direitos. Tem como orientação posicionar-se contra práticas que beneficiam o interesse privado em detrimento do interesse público (entre essas, o clientelismo, o patrimonialismo, o nepotismo, a corrupção, o preconceito, as discriminações). Observa o sistema democrático, a forma de governo republicana e o Estado de Direito, combatendo todas as formas de desigualdades e injustiças.
Liberdade: Princípio que prevê a livre expressão, movimentação, atividade política e de organização dos/as cidadãos/as. Orienta o/a cidadão/ã a expressar-se e a atuar politicamente em defesa de valores democráticos, como a igualdade e os Direitos Humanos; contestar e atuar politicamente contra situações de desigualdades sociais, políticas, jurídicas e econômicas. O principio da liberdade pressupõe a livre organização partidária.
Participação: Atuação da sociedade civil do campo democrático (movimentos sociais, organizações) nos espaços públicos de decisão. Deve ocorrer, preferencialmente, por meio da institucionalização de mecanismos de democracia participativa e direta, inclusive, na elaboração, deliberação, implementação, monitoramento e avaliação das políticas públicas. É também um processo de aprendizado na medida em que qualifica a intervenção de cidadãos/ãs para a atuação nos espaços públicos de decisão.
Transparência: Acesso universal às informações públicas, por meio da disponibilidade inteligível ao conjunto da população. Inclui também a divulgação ampla, permanente e imparcial das decisões públicas, sejam oriundas da burocracia ou dos representantes eleitos/nomeados. É uma postura ética que se espera do poder público. A transparência e o acesso às informações públicas fazem parte da defesa pelo direito humano à comunicação.
Controle social: Monitoramento do Estado por parte da sociedade civil que atua no campo democrático, entre os quais, os movimentos sociais, visando ao controle das ações governamentais. A qualidade do controle social pressupõe a transparência e o acesso às informações públicas. O controle social visa à defesa e à implementação de políticas públicas que respeitem o conceito de igualdade, universalidade, diversidade, justiça e liberdade.


Colete assinaturas em sua comunidade!