quinta-feira, 30 de junho de 2011

18º Concílio Geral - A Mudança que não houve

Este ensaio foi escrito cerca de uma semana após o término do 18º Concílio Geral em Aracruz. Ainda não havia sido realizada a segunda fase do Concílio, em Rudge Ramos, nas dependências da UMESP. Na época, como atualmente, havia uma grande manipulação da opinião pública da igreja a respeito de temas que deveriam ser tratados pastoralmente, mas eram explorados politicamente. Isto criou um clima de efervescência, de euforia e de histeria em setores da igreja, gerando verdadeiras tempestades em copo d'água a respeito da questão do ecumenismo e da maçonaria, que foram explorados por grupos interessados em ocupar espaços nas administrações regionais e nacional.


O texto foi originalmente publicado em 27 de julho de 2006 no blog Metodistas & Ecumênicos. Está sendo republicado sem revisão, para servir de alerta a respeito do 19º Concílio Geral, cujo clamor por "mudanças" também está mobilizando as bases metodistas sem os devidos cuidados pastorais, mais uma vez podendo ser utilizado para fins políticos e eleitorais.

O final do 19º Concílio Geral, a ser realizado na Igreja Metodista da Asa Sul nos dirá se o texto continua atual e se a história se repetirá como tragédia ou como farsa. 


Concílio Geral - a mudança que não houve

Por: Fábio Martelozzo Mendes

Entra no elevador. O ascensorista pergunta: “Qual andar?” O sujeito responde: “Tanto faz, já estou no prédio errado mesmo.”

Campanha eleitoral. Todos os candidatos falam em mudança, inclusive o candidato que representava o governo de então. Mudança de rumos da política econômica, mudança do ritmo de crescimento econômico, mudança na relação entre Planalto e Congresso, mudança de prioridades governamentais, com maior ênfase no bem estar social e menor ênfase no aspecto financeiro e institucional. Falava-se muito, mas o que vemos hoje nos dá a real noção da possibilidade de mudanças: nenhuma.

Como mudar a relação Planalto-Congresso sem mudar as regras políticas, a representatividade dos Estados, sem mudar a possibilidade de governança e o papel do congresso e do presidente num regime presidencialista? Como mudar a política de juros e a relação com as instituições financeiras sem mudar a dependência da economia ao capital especulativo e com todas as candidaturas financiadas pelos bancos?

A “ilusão da mudança”, agora explorada inclusive por partidos que até então faziam parte da base governista, também foi explorada neste 18o Concílio Geral da Igreja Metodista.

Nos últimos anos, através dos meios de comunicação extra-oficiais, de emails, encontros de grupos societários, evangelísticos e avivalistas, a mudança de rumos da Igreja Metodista foi o mais alardeado evento a acontecer no Concílio Geral.

Mudanças! Grandes mudanças! A Igreja Metodista iria deixar seus quase cento e cinqüenta anos de estagnação e se tornar uma igreja amante do evangelismo, lançando-se na pesca de almas com vigor jamais visto! A Faculdade de Teologia iria deixar de ser um centro de liberalismo teológico, agnosticismo e socialismo e passaria a ser uma fábrica de profetas, de onde o jovem empolgado sairia um verdadeiro apóstolo, pescador de almas, zeloso de suas ovelhas, ao invés de um cético que lança dúvidas sobre seu próprio rebanho! Os bispos e sds deixariam de ser os meros politiqueiros que passam quatro anos apenas costurando a base de apoio para sua própria reeleição tornando-se, sim, verdadeiros pastores de pastores, nutrizes do ardor missionário de seus colegas presbíteros, que agiriam a partir de então com renovado vigor e cuidado por seu rebanho!

Podemos esperar isso da nossa Igreja Metodista após o Concílio Geral de 2006?

Eu creio que não.

Creio que não, não porque os bispos eleitos careçam de carisma episcopal, não porque os presbíteros não se esforcem para cumprir suas funções, não porque os leigos não se empenhem no crescimento da Igreja Metodista. Creio, sim, que as mudanças não acontecerão principalmente porque não houve vontade política para que qualquer mudança relevante acontecesse. E isso pode ser atribuído tanto aos atuais detentores das funções episcopais, das secretarias nacionais, aos coordenadores de áreas, aos integrantes dos grupos de trabalho, às instituições ‑ quanto aos postulantes a esses mesmos cargos e que agora, em parte a eles ascendem.

Se quisermos mudanças de rumos, em primeiro lugar, precisamos saber qual Igreja Metodista queremos, quais os objetivos a serem atingidos, qual a eclesiologia da Igreja Metodista, como será a relação da Igreja Metodista frente aos novos movimentos religiosos, quais os parâmetros litúrgicos, teológicos e doutrinários da Igreja Metodista, quais os limites da diversidade sem risco de perdermos a identidade denominacional. Se quisermos bispos que sejam pastores e não burocratas eclesiásticos, precisamos determinar qual o papel do bispo, qual o papel da COGEAM, quais os limites de atuação do Colégio Episcopal e da COGEAM. Se quisermos mudar a formação ministerial e a gestão da educação teológica da nossa igreja, precisamos saber qual o modelo de formação ministerial e de educação teológica que precisamos para atingir nossos objetivos pastorais e missionários.

Mas outra vez a ordem de discussão foi equivocada. Ao invés de definirmos os parâmetros e então elegermos bispos cônscios de seus papéis, toda a discussão girou primordialmente em torno dos nomes e uma verdadeira batalha política foi travada para ver qual partido abocanharia mais cargos.

O grupo que se apropriou do slogan da mudança articulou em torno de seus nomes uma rede de apoio e batalhou pela sua eleição. O grupo que atualmente ocupa as funções diretivas da igreja articulou uma base de votos para manter suas funções e também partiu para a luta. E ambos os grupos se lançaram à caça dos votos muitas vezes, inclusive, em franco desrespeito à vontade dos Concílios Regionais que os elegeram e a despeito da vontade das bancadas regionais que representam. Ao fim e ao cabo, os grupos que advogavam pela mudança e tanto criticavam a postura política e burocrática dos detentores das funções diretiva, articularam-se usando os mesmos recursos que até então repudiavam. Mudam-se os nomes, mantém se os métodos. Alguma semelhança com 2002?

Após terem garantido as “boquinhas”, a grande luta se travará em torno de questões secundárias ou supérfluas. Ecumenismo. Se a Igreja Metodista sair do CONIC e do CLAI haverá alguma grande mudança de atuação evangelística e missionária da igreja? Ou será que o clero e laicato metodistas continuarão a ter a mesma atuação e postura frente à Igreja Católica Romana, quer favorável, quer contrária? Se a Igreja Metodista tomar uma postura mais dura em relação à maçonaria, será que aquela meia dúzia de pastores maçons e uma dúzia de leigos maçons deixarão de ser maçons? Será que isso é a grande mudança que foi alardeada nos espaços pré-conciliares?

Para sermos justos não podemos deixar de louvar decisões tomadas no Concílio Geral. Por exemplo, a criação do curso de pós-graduação em música sacra, a criação de um departamento nacional de música e artes e a mudança de status dos Campos Missionários da Amazônia para Região Missionária da Amazônia, com vistas a estimular a missão integral da igreja.

Mas não podemos deixar de lamentar os fatos que geraram o apelo da bispa Marisa Coutinho, pedindo apoio integral para a REMNE, conclamando a Igreja Metodista a adotar de forma enfática a obra missionária no Nordeste e no Norte do Brasil. O congelamento das cotas orçamentárias para a REMNE mais uma vez mostra que a expansão missionária no Norte e Nordeste brasileiro ainda não é prioridade para a Igreja Metodista, como já havia detectado o bispo Paulo Mattos em artigo escrito ao “Mosaico – Apoio Pastoral”. Não por acaso foi o bispo Paulo Mattos o primeiro bispo da REMNE.

Na verdade, a grande chance de mudança da Igreja Metodista se dará na área administrativa. Existe a real possibilidade de operarmos numa estrutura mais “enxuta”, menos onerosa e, conseqüentemente, de termos mais recursos destinados à missão. Mas é muito pouco isso, não?

Afinal, tanto se falou e tanta expectativa se criou em torno de uma mudança radical e positiva na vida da igreja. Tanto se articulou com nomes clérigos e leigos de diversas regiões eclesiásticas em torno de um compromisso pela eleição de oito “bispos pastores”, não ligados às teologias da libertação, ao academicismo liberalizante, à burocracia institucional ou ao ecumenismo com a Igreja Católica Romana.

Tanto se falou do resgate de um metodismo mais wesleyano, da adoção de práticas eclesiásticas mais afinadas com nossas raízes e tradições.

O irônico nisso tudo é que o grupo que advogava esse resgate wesleyano é apoiado por igrejas, pastores e delegados que, quando não responsáveis em omissão pelo abandono de práticas litúrgicas ligadas à nossa tradição metodista e protestante, como o batismo infantil e por aspersão, são responsáveis em comissão pela introdução de práticas litúrgicas estranhas à nossa tradição wesleyana, tais como grupos celulares G-12, atos proféticos e outras novidades neopentecostalistas.

O que tivemos, enfim? Pouco, muito pouco além da luta pelas “boquinhas”.

Esqueceram-se os conciliares que o bispo é um pastor de toda a igreja, não o representante de uma corrente teológica ou de um estilo litúrgico que visa a romper com os anos de estagnação. Mais uma vez teremos fortalecida, na nossa Igreja, a visão de que a conexionalidade não passa de uma ilusão, teremos fortalecida a postura de que o que vale é a vida da igreja local, praticando um congregacionalismo branco, a despeito da vontade ou da orientação e, por vezes, sequer da existência do bispo.

Se queríamos mudança, deveríamos ter trabalhado e lutado por atingi-la, não reduzindo este 18o Concílio Geral da Igreja Metodista a mais uma briga pelas “boquinhas”.

Resolvidas as “boquinhas”, bem... aí, tanto faz, já estamos no prédio errado mesmo.

Que Deus proteja os integrantes do Colégio Episcopal dos mesmos procedimentos que foram utilizados para garanti-los como membros do colégio episcopal.

Fábio Martelozzo Mendes
3a Região Eclesiástica

http://metodistaecumenico.blogspot.com/2006/07/conclio-geral-mudana-que-no-houve.html 

terça-feira, 28 de junho de 2011

Carta dos membros da Igreja Metodista em Bela Aurora para o revmo.bispo Roberto Alves de Souza e para o rev.Luiz Carlos Rampinelli

Carta dos membros da Igreja Metodista em Bela Aurora para o revmo.bispo Roberto Alves de Souza e para o rev.Luiz Carlos Rampinelli  

Juiz de Fora, 19 de dezembro de 2010.

Revmo. Bispo Roberto Alves de Souza

Bispo Presidente da IV Região Eclesiástica da Igreja Metodista no Brasil

Rev. Luiz Carlos Rampinelli

Superintendente Distrital da Serra da Mantiqueira e sul de Minas

E por isso mesmo vós, empregando toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência,

à ciência o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade,

 à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor. ...

... E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações; II Pedro 1 vs 5,6,7 e 19

Queridos Bispo Roberto e Rev. Luiz Carlos.

Que a Paz de Deus e sua infinita Graça anteceda em seus corações esta carta coletiva que a nós, Povo Metodista que se congrega na Igreja Metodista de Bela Aurora, pareceu bem escrever e encaminhar.

Certamente que muitas coisas têm sido faladas a respeito do que aconteceu recentemente em nossa igreja local.

O autor da carta aos Hebreus nos inspira a dizer que nós, “que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Hebreus 12:1)

Com efeito, somos testemunhas de que o nosso Deus agiu e continua agindo no meio de seu povo. Por isso desejamos, por nós mesmos, testemunhar que Deus estava presente conosco no ato de acolhimento, pela Igreja Metodista de Bela Aurora, dos 17 irmãos/irmãs metodistas da cidade de Belém do Pará. Não apenas testemunhamos como participamos ativamente de todo o processo de relacionamento e integração com os queridos irmãos/ãs, metodistas ativos/as e desejosos/as de continuar a professar e expandir em sua cidade a missão de evangelizar, na condição de membros do corpo de Cristo e da Igreja Metodista. Por isso rogamos-lhes que estejam atentos ao nosso relato, pedindo a Deus que complete em seus corações, e no das demais autoridades e membros de nossa amada Igreja Metodista, o testemunho que queremos dar.

Como já se sabe, alguns membros da Igreja Metodista em Belém pediram suas transferências para a Igreja Metodista de Bela Aurora. Um momento de integração e acolhimento foi cuidadosa e amorosamente planejado. Solicitamos doações para custear a viagem de alguns irmãos de Belém do Pará até Juiz de Fora. Os oito irmãos que puderam vir também estavam representando os que ficaram.

Rev. Moisés Abdom Coope, como diligente pastor que é, levantou-se às 3:30 da manhã do dia 27 de novembro e foi ao Rio de Janeiro buscar suas novas ovelhas. Na chegada a Juiz de Fora, Rev. Moisés reuniu-se com o grupo, saudando-os com carinho. Fez a leitura de Mateus 5:1-10, que narra serem bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça. Rev. Moisés declarou ter a consciência de estar sendo criticado por alguns por essa decisão de recebê-los como membros de Bela Aurora, porém destacou a sua tranqüilidade em fazê-lo já que o seu maior compromisso nessa sua fase da vida era o de manter-se fiel ao Evangelho e àquilo em que cria.

Os irmãos/ãs de Belém se apresentaram, e deram testemunhos de sua fé. Foi um momento extraordinário e emocionante. Todos declararam o seu amor por Cristo e sua Igreja, bem como o grande amor que sentem pela Igreja Metodista. Eles fizeram uma longa, cansativa e dispendiosa viagem, simplesmente porque queriam continuar fazendo parte do Povo Chamado Metodista.

E nos relataram os motivos que os trouxeram até nós em busca de acolhimento. O grupo informou ainda que, devido aos empecilhos que estavam enfrentando para se reunir em sua igreja local, optaram por fazer os cultos nos lares uns dos outros, mas que se sentiam como ovelhas sem pastor. Muitos/as de nós, que já havíamos passado por situações semelhantes e fomos prontamente acolhidos pelo pastor e pela Igreja de Bela Aurora, sentimos no coração o desejo ardente de estar ao lado do Rev. Moisés na acolhida amorosa e generosa desse grupo; e esse foi o sentimento de toda a igreja que já tem essa característica de ter acrescentada à fé, a virtude da fraternidade.

A reunião com o Rev. Moisés teve que ser interrompida em razão do avançado da hora, pois os irmãos que vieram de Belém deveriam se dirigir para as casas onde ficariam hospedados, para almoçar e tentar descansar um pouco. Mas, para os irmãos de Bela Aurora que acompanharam este primeiro encontro, ficou a certeza de que esses nossos irmãos metodistas de Belém precisam ser ouvidos. Eles demonstram ter a graça, os dons e os frutos que caracterizam os verdadeiros cristãos.

À tarde, depois de um estudo participativo ministrado pelo Professor Doutor Zwinglio Mota Dias, tivemos um debate em que estiveram presentes metodistas de outras localidades do país, pastores e membros da Igreja. Os trabalhos foram encerrados com uma deliciosa confraternização regada a pizzas, nas dependências da igreja.

É difícil traduzir em palavras o quão gratificantes foram os momentos que vivenciamos como povo de Deus nesses dois dias de pura comunhão e celebração. Como outrora, dividimos nossas casas, nossas camas, nossas refeições,nosso amor fraterno.

No domingo, dia 28, tivemos no culto matutino a presença do coral da Igreja com belos hinos; o pastor Moisés Coppe dirigiu e o pastor Adahyr Cruz trouxe a mensagem: “texto bíblico de Mt.5:13-16 -  “ Vós sois o sal da terra e luz do mundo...”. Outros pastores presentes: Rev. Messias, Rev. Plínio, Rev. Trevenzoli. Destacamos aqui as palavras de saudação do Rev. Adahyr: Vivemos um tempo histórico de muitos sinais de fraternidade e compromissos cristãos.  Aqui em Bela Aurora, desde ontem, realizamos um encontro que o Espírito Santo inspirou para o testemunho do amor entre os irmãos que verdadeiramente se amam. Saudamos em Cristo os irmãos/(ãs) que vieram de Belém, para renovarem aqui suas esperanças de continuarem, como comunidade de fé, dentro de nossas tradições metodistas. Saudamos todos os irmãos (ãs) da Igreja de Bela Aurora e a seu pastor Moisés, pela festa de acolhimento à Congregação de Belém. No amor de Cristo não há espaço para exclusão e separação, ninguém fica de fora porque a missão que é de Deus inclui a todos.

Após a mensagem, o Rev. Moisés chamou à frente e formalmente apresentou os novos membros belenenses da Igreja Metodista de Bela Aurora. Cada um dos outros nove, que não puderam vir foi representado por irmãos/ãs visitantes e da nossa comunidade de fé. Nesse instante foi feita uma conexão, via internet (Skype), através da ação de uma turma de jovens da Igreja de Bela Aurora, passando o pastor a falar também com o pessoal que ficou em Belém, sendo cada um deles apresentado, pelo telão, à igreja em Juiz de Fora, inclusive Dona Gertrudes, mãe da Fátima, fundadora do trabalho metodista em Belém.

O pastor Moisés se dispôs, com o nosso aval, a acompanhar mensalmente a estruturação do novo ponto missionário em Belém e nós nos comprometemos a manter um estreito relacionamento com nossos irmãos, quer através dos meios eletrônicos, quer acompanhando o pastor Moisés quando possível. O culto foi encerrado, havendo ainda a apresentação de um vídeo pelo grupo de Belém mostrando a culinária, as belezas e riquezas daquela terra.

Toda a igreja participou de um churrasco de confraternização em mais uma oportunidade de estreitamento de laços. Depois de um passeio para reconhecimento da cidade e um breve descanso, nos reunimos novamente para louvar e agradecer a Deus a oportunidade que tivemos de encarnar o evangelho, de podermos, sustentados por Ele, estar atentos à palavra profética, e tal como uma candeia iluminar até que desponte a aurora.

Ainda no culto vespertino, pudemos repartir o pão e o vinho na celebração da Santa Ceia. Foi emocionante a partida de nossos irmãos/ãs e visitantes ao som de “Uma Bênção Antiga”, entoada pelo coral. Como pastor atento a suas ovelhas, o Rev. Moisés Coppe acompanhou o grupo até o aeroporto Tom Jobim na Van do nosso irmão Mazinho, que esteve o tempo todo à disposição dos irmãos.

E é porque temos sido pastoreados/as com amor e acolhimento pelo pastor Moisés, que o mesmo sentimento tem existido da parte de cada irmão/ã para com o outro/a. Assim, com o mesmo sentimento acolhemos junto com o pastor Moisés nossos irmãos/ãs belenenses. Expressamos aqui o nosso testemunho do que vimos, ouvimos e vivemos para a glória de Deus. A Ele todo o poder.

Testemunho de alguns irmão/ãs que estiveram conosco nesses dias:

Pela manhã, tivemos um culto belíssimo, com o coral cantando “Maravilhosa Graça” e outros hinos. Foi lindo ver a congregação cantar: "Não é dos fortes a vitória, nem dos que correm melhor..."Voltamos para o Rio com o tempo arrochado para os irmãos não perderem o vôo. Dentro da Van, em cada banco, uma lembrancinha do Encontro dada pelo pessoal de Bela Aurora.Também colocaram na Van um lanche delicioso, de um pão quentinho recheado com queijo e presunto, super gostoso, com refrigerante. Nos deliciamos, especialmente o Pastor Moisés, que comia com a alegria de uma criança. (Cibele Paradela)

É quando desponta a aurora que o choro de uma noite se transforma em risos. Eu, que também sou “da alva”, pude ser testemunha da luz que em “Bela Aurora” brilhou nesse fim de semana. Em comunhão com nossos irmãos de Belém, no primeiro domingo do Advento, tendo Moisés como nosso pastor, e homens, mulheres, jovens e crianças, metodistas de boa vontade, a anunciar as boas novas da esperança, da fé e do amor concretizadas no acolhimento. ACOLHIMENTO! Foi essa a palavra de ordem do evento. Como outrora, os irmãos foram recebidos nas nossas casas. Corações aquecidos pelo relacionamento, pela comunhão, pelo riso franco, pelo compartilhar das emoções, lágrimas, tristezas e alegrias. Abnegação de alguns, comparecimento de todos, pizzas no fim de noite. O corpo pedindo descanso e a alma aflita querendo que o tempo andasse devagarzinho. “Carpe diem”. Na “bela aurora” do domingo, soou uma melodia que nos trouxe à memória tempos de irmandade metodista convicta “Vigiar e Orar embora o céu sereno pareça um dia calmo anunciar...”(Dalva Dianim Berzoini)

O culto da manhã dominical foi um primor. E até significando inclusão, cheio de emoção, lá estava Reverendo Adahyr cantando no coral de Bela Aurora. Foi vibrante o cântico tanto do coral, quanto da congregação, nos hinos e no louvor. “Nas estrelas vejo sua mão...” com pessoas de todas as idades e identidades cantando com igual entusiasmo. Reverendo Adahyr, tanto cansado como emocionado, com sua mensagem incisiva, verdadeira, ao mesmo tempo denunciando o pecado e, como um pastor, conduzindo as ovelhas, carregando todos nós no colo. Nós precisamos disto. Gostei de ver Reverendo Plínio, jovem valor, por lá. A liturgia foi dividida com os irmãos presentes. Ester, de Belém, acendeu simbolicamente, com os irmãos de Belém, a primeira vela do Advento. Eu estou orgulhoso de ter incluído meu irmão, Carlos, de Monte Castelo, que foi abraçado e acolhido por todo o Grupo. Ele é o início da nossa caminhada num abraço às pessoas mais simples, que não têm o computador como ferramenta habitual.(Isaías Laval)

Bela Aurora foi, seguramente, palco de um evento digno do nome! A motivação foi crescente de sábado à noite de domingo! Além da simpatia e dinamismo do grupo de Belém, contamos com o reforço ativo de Cléber e Cibele, Isaias e Carlos Laval, Cetrulo e Regina, Jessé e Marcos, jaider e Nádia, Adahyr, entre outros! Se não fosse metodista neste final de semana teria me tornado um dos! (Messias Valverde).

Amados Bispo e Superintendente Distrital, este é um testemunho verdadeiro e fiel, que desejamos repartir com vocês, nossos irmãos, investidos de autoridade dispensada por Deus, para a realização de Sua obra e para o bem da Igreja. E, quando Deus permitir, queremos, de viva voz, lhes dar testemunho de tudo o que “temos ouvido, vivido, aprendido e visto”.

Que a Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, nosso Pai, esteja com os amados irmãos, acompanhando-os nos seus respectivos ministérios. Essa é a nossa oração. Seguem assinaturas:

sábado, 25 de junho de 2011

Sobre a obscuridade da Igreja Evangélica Brasileira

Sobre a obscuridade da Igreja Evangélica Brasileira.


 
Não sou de escrever sobre a Igreja. Não por covardia ou omissão, mas por achar que precisamos olhar mais para o mundo do que para dentro. Um sintoma de nossa doença está em ficarmos olhando exclusivamente para dentro, discutindo estruturas, pensando de forma mesquinha em como somos bonitos e estamos crescendo.

Prefiro estudar a Bíblia e falar e pensar sobre os problemas do mundo, os mesmos pelos quais o Evangelho foi pregado por um galileu – Jesus Filho de José - da pequena aldeia de Nazaré, situada a 6 km de uma antiga capital, Séforis, que fez missão de forma obstinada e que, muito mais pelo amor que demonstrou do que pelas curas e milagres que fez, foi reconhecido como o Messias, Filho de Davi, o Salvador, o Príncipe da Paz, o Filho de Deus. Mas pregar sobre ele dessa forma não dá ibope, é pregação fraca; evidenciar o amor é coisa de frouxo, num mundo de espertos. Mesmo assim prefiro falar e pensar sobre os problemas do mundo à luz do Evangelho de Jesus o Cristo.

O problema é que passei os últimos dias lendo e ouvindo palavras arrebatadoras de pastores de alma, e quando olho ao redor, o uivo que ouço dos lobos vestidos de cordeiros e as fanfarronices dos ladrões e salteadores me incomodam bastante. Por isso tenho que falar.

É assim que a Igreja Evangélica está crescendo no Brasil, como uma turba desenfreada, insana, um restolho do bom senso que não aceita o diferente, que alimenta o ódio e desrespeita a todos, menos aos líderes, esses sacrossantos seres que deixaram de ser pastores para se tornarem gerentes, com títulos que vão de Pastor a Paiapóstolo. São pessoas levadas pela ganância sórdida, sem nenhuma boa vontade (1 Pd 5.2). Como Jeremias profetizou – no sentido correto do termo, em que uma pessoa analisa criticamente, à luz da vontade divina, a realidade que a cerca, e não como adivinhação ou determinação de vontade própria – contra os pastores (Jr 23) que dispersam as ovelhas, não cuidando delas. Na verdade, ele diz que tais pastores se tornaram estúpidos (Jr 10.21). Também o profeta Ezequiel afirmou: “profetiza contra os pastores de Israel”.

Questionar essa liderança é rebeldia; pensar é deixar o diabo agir; discordar é estar endemoninhado. Mas vejam, quanta ironia: não são esses os antiecumênicos, que chamam a Igreja de Roma de Anticristo, Babilônia e tantas coisas mais? Como a chamam assim, se eles agem da mesma forma que acusam-na de agir? Agem como se o ministério pastoral fosse sacerdócio sacramental; ignoram a presença leiga na Igreja, por considerar massa de manobra e apenas para suprir as “necessidades” financeiras da Igreja; admitem e incentivam as crendices mais insanas, sob o pretexto de que a libertação precisa de um processo – não no sentido de uma elaboração, de uma reflexão, mas da repetição e da forçosa presença em sete semanas de unção, sem o quê o nome de Jesus – O NOME DE JESUS! – não terá efeito. Falam em salvação pela fé, mas impõem sobre os crentes cargas pesadas de ativismo religioso, condição básica para serem salvas.

Até quando, Senhor, subsistirão tais criaturas? Sei que tenho falhas, mas a mais hedionda de todas é se fazer de superior, trazer para si a glória que pertence somente a Deus, e deixar de lado o serviço, o amor ao próximo – não é amor ao crente, por favor!!! -, a humildade. Temo que estamos gerando o Anticristo, pelo fato de alimentarmos uma atmosfera tão doentia e insalubre – foi uma atmosfera parecida que permitiu a ascensão de Hitler, na Alemanha; as conseqüências ainda estão presentes hoje.

Essa Igreja Evangélica Brasileira é suis generis: usa a tecnologia da comunicação moderna, mas pensa e age como a Igreja medieval, que acusa de ter saído da direção divina. Não sei se esse texto muda alguma coisa, mas sem dúvida o desabafo me faz bem. Na verdade fiquei pensando se devia ou não lançar esse texto, mas depois escutei a voz do bom senso: se ninguém clamar, as pedras clamarão. E para quem acha que não falei do Metodismo Brasileiro, eu digo: ele não sai de minha cabeça. E infelizmente, acho que já foi contaminado por essa praga que infestou o Brasil.

Graça e Paz. A quem quiser receber.
Marcelo Carneiro - pastor

terça-feira, 21 de junho de 2011

Não vamos deixar pessoa alguma para trás

Não vamos deixar pessoa alguma para trás 



 Por mais que todos nós lutemos contra a estrutura de pensamento maniqueísta – que divide o mundo entre o bem e o mal –, sempre nos debatemos no cotidiano com essa tônica em  nossas discussões e falácias. Invariavelmente, buscamos separar ovelhas de bodes e assim, quem sabe, estabelecermos diferenças em relação a si e ao outro.


Entretanto, agir dessa forma somente provoca mais cisões e separações. De alguma forma, precisamos compreender que não há uma luta entre bem e mal, mas sim, uma luta entre princípios, pois como bem sabemos, nós pensamos diferente em relação a quase todos os temas inerentes à vida. E é bom que seja assim.


Numa modernidade como a nossa, quem sabe líquida, para usar aqui a expressão de Zygmunt Bauman, fechamentos de ideias não cabem. Embora seja evidente o fato de que muitas comunidades procuram determinar zelosamente seus limites, compreendo que o campo das ágoras continua a ser o terreno fértil onde as possibilidades mais criativas podem surgir. E elas surgem dos relacionamentos e da boa resolução destes. Por isso, acho que o melhor caminho é sempre a harmonização dos sentimentos, quando possível, é claro.


Ora, todos somos sínteses de contradições. Pessoa alguma pode ab-rogar o direito de ser pura ou isenta de paradoxos. Pessoa assim não existe e todos nós sabemos disso. Então, como sínteses de contradições, pendulamos entre as paixões e as razões e, muitas vezes, nos perdemos em ambas. Por isso, não concordo com as argumentações que polarizam as pessoas, sendo que sempre é mais sensato polarizar as ideias. Digo isso porque recentemente passei por uma situação de julgamento das minhas ideias e posturas. Claro que as ideias e posturas tinham a ver com pessoas. Entretanto, em algum momento as paixões falaram mais alto e as pessoas passaram a se ferir com palavras e com comportamentos. Eu, particularmente, quero afirmar meu compromisso com as pessoas e confirmar que na situação em que todos nós estamos envolvidos não há vencedores. Todos nós perdemos, infelizmente. Quero afirmar que em todo tempo em que estivemos atentos à nossa questão de apoio aos belenenses metodistas sempre entendi que era uma luta dos irmãos e das irmãs confessantes. Não era eu sozinho, mas todos nós que amamos essa igreja. Portanto, em nenhum momento me vi como solução ou salvador da pátria. Quem sou eu pra ambicionar isso? Um mero pastor que gosta de sê-lo. Eu, mesmo depois do veredito da comissão de disciplina, estou bem, somente preocupado com os rumos das minhas irmãs e dos meus irmãos da igreja metodista em Belém.


Agora, não é hora de nos engalfinharmos e nos debatermos em sentimentos difusos. Vamos aquietar o coração e continuar a nossa luta contra as hostes das ideias equivocadas, sem perder a ternura pelos outros. Nessa perspectiva, não lanço nenhum tipo de crítica aos colegas pastores que participaram da comissão de disciplina. Sinceramente, são meus amigos que, em outros momentos, me pastorearam. Entretanto, neste momento, foram passageiros em um processo que não criaram, mas precisavam salvaguardar de alguma forma. Tiveram razões para isso. Como pastor, eu sei que eles estavam aplicando a disciplina a eles também. Aprendi isso com um autor norte-americano chamado Eugene Peterson. Ele sempre disse que quando um pastor cai, todos caem com ele. Quando um pastor peca, todos pecam com ele. Quando um pastor é disciplinado, todos o são com ele, e assim por diante. Acho que ele tem razão. 


Nas letras do Hino 293 – Grande Amor:
Ó Senhor, não te separes do rebanho terrenal,
Une a igreja estreitamente, dá-lhe vida fraternal;
Abençoa todo crente, ilumina-lhe o andar,
E que todos se comprazam em teu nome proclamar.

Eu ainda acredito que é por intermédio do amor responsável que todos nós poderemos fazer diferença em nossa vida e em nossa igreja, o Senhor nos ajudando.


Assim, pensando em todo esse processo, acho que agora é hora de nos recolhermos à caverna com o intuito de nos sararmos ou de sararmos uns aos outros. Essa é hora de aliviarmos as tensões e estendermos os nossos braços em direção ao outro, mesmo o outro que pensa opostamente diferente. Não é essa a nossa causa?


Continuaremos a lutar pelo que acreditamos, mas não vamos deixar pessoa alguma para trás.


Abraços fraternos a todos.


Moisés Abdon Coppe


Texto publicado originalmente no blog In Ludere

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Testemunho de um ato público de cidadania

Testemunho de um ato público de cidadania
Suzel Tunes








No dia 14 de junho, a Faculdade Metodista de Teologia da Universidade Metodista, a FaTeo, esteve no Ato Público de Repatriação dos documentos do projeto Brasil: Nunca Mais, coordenado pelo pastor presbiteriano Jaime Wright e pelo Cardeal Evaristo Arns, da Arquidiocese de São Paulo, entre 1979 e 1985. Financiado pelo Conselho Mundial de Igrejas, o projeto Brasil Nunca Mais teve por objetivo documentar o que ocorria nas prisões polític as do regime militar brasileiro. Para que esses documentos não fossem destruídos pelos agentes da repressão, eles foram enviados para o exterior. O Ato Público oficializou a entrega de um milhão de páginas microfilmadas que estavam no Center for Research Libraries, de Chicago, e 10 mil páginas inéditas da correspondência entre Dom Paulo e o Rev. James Wright, além de marcar o início do Projeto Brasil Nunca Mais Digital, pelo qual toda essa documentação ficará disponível a qualquer pessoa, pela Internet.


Entenda a importância deste momento histórico e veja também o site do projeto e a repercussão na mídia:


O convite para participar do Ato Público de repatriação dos documentos do Projeto Brasil Nunca Mais foi recebido como um privilégio por professores/as, alunos/as e funcionários/as da FaTeo. A professora Margarida Ribeiro, zelosa coordenadora do Programa de Extensão, cuidou pessoalmente da organização de uma verdadeira caravana à sede da Procuradoria Regional da República da 3ª Região em São Paulo, recrutando quem tinha carro e organizando as caronas.


Fomos com alegria, sabendo que se cumpria mais uma etapa para a consolidação da democracia brasileira. Lá no auditório da Procuradoria, um triste mural com fotos de jovens presos políticos desaparecidos e assassinados contrastava com o clima festivo do evento. Mas, de esperança em esperança, a vida persiste. As vítimas da repressão que conseguiram ter os seus cabelos embranquecidos pelo tempo atestavam isso.


Para muitas pessoas, foi um momento de reencontros, abraços, lágrimas e risos. E como havia gente naquele auditório! O Procurador Regional da República, Marlon Alberto Weichert, até se desculpou pela falta de acomodações e muito simpático, aboliu as formalidades, deixando os presentes à vontade para se sentarem no chão se quisessem.


Além das várias autoridades federais e estaduais presentes (o Senador Pedro Taques, o Procurador Geral da República Roberto Monteiro Gurgel Santos, o coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo Carlos de Almeida Prado Bacellar, dentre outros) havia muitos representantes de organizações não governamentais e organismos eclesiais. Tantos que o mestre de cerimônias, responsável pelo anúncio dos convidados, até se atrapalhou com as siglas! CMI, CLAI, CONIC, CIEMAL... Muitas igrejas cristãs também estavam ali representadas e, com o risco de deixar alguém de fora, destaco as igrejas Anglicana, Luterana, Católica, Presbiteriana e, é claro, Metodista. A professora Margarida começou a contar o s metodistas um a um e chegou a umas 35 pessoas, a maioria delas vinculada de alguma maneira à FaTeo. Não podemos esquecer que a Faculdade de Teologia também foi uma vítima da intolerância e do autoritarismo que caracterizavam os tempos da ditadura militar.


Para que não se esqueça




No decorrer da cerimônia, foi ficando cada vez mais evidente que nós não participávamos simplesmente de um evento festivo, mas de um ato público de enorme significado: preservar a memória é lutar contra a impunidade, não apenas daqueles que cometeram atrocidades no passado, mas também dos criminosos do presente. A frase “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça” – de D.Paulo Evaristo Arns, um dos lemas do projeto Brasil Nunca Mais -- foi lembrada várias vezes. Como disse o presidente da OAB do Rio de Janeiro, Dr. Wadih Damous, o silêncio sobre esses crimes do passado reforça a prática da tortura no país, agora não mais sobre perse guidos políticos, mas sobre jovens negros, favelados, milhões que vivem sem cidadania. “A decisão do Supremo Tribunal Federal (que negou a punição) sinaliza que os torturadores do presente podem continuar matando que nada vai lhes acontecer”, ele disse, sob fortes aplausos.


Aliás, sempre que algum dos oradores se referia à necessidade de desvendar toda a verdade dos crimes políticos no país, reações inflamadas se ouviam: bem atrás de nós sentava-se um grupo de senhores, vítimas da ditadura que ainda esperavam pelo restabelecimento da justiça por meio da instalação de uma Comissão da Verdade. Eles não conseguiam se conter: ora aplaudiam os oradores, ora teciam comentários e, às vezes, simplesmente buscavam, nos cartazes de desaparecidos, antigos colegas de cela.


Houve um momento que foi especialmente significativo para mim: a homenagem aos religiosos que, clandestinamente e sob enorme risco, desenvolveram o projeto Brasil Nunca Mais. D. Paulo Evaristo Arns não quis ser homenageado, enviando um pedido de desculpas no qual dizia não se julgar merecedor. Mas, quando o rosto dele apareceu no vídeo, mais uma vez ouvi uma voz emocionada atrás de mim: “esse foi o único que teve coragem de me visitar na prisão!” Logo em seguida assistimos a um vídeo com o pastor James Wright inaugurando o Monumento Tortura Nunca Mais em Recife, em 1993, com palavras contundentes e a mesma atitude firme que teve ao assumir o projeto de documentação em plena ditadura. Exemplos de uma fé corajosa e comprometida com o próximo, que recebeu longos aplausos de pé.


Representando uma equipe de mais de 30 integrantes trabalhando em sigilo, além do pastor James e dom Paulo foram homenageados também Paulo Vannuchi, ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e a advogada Eny Raimundo Moreira, que foi a pessoa responsável pelo pontapé inicial no projeto Brasil Nunca Mais. Ela contou que trabalhava no escritório do advogado Sobral Pinto e sempre o ouvia se lamentar do desaparecimento da documentação acerca da ditadura Vargas. A história do Dr. Sobral plantou a ousada ideia em seu coração. Eny apresentou o projeto ao pastor Charles Harper, então Secretário do Conselho Mundial de Igrejas, e recebeu uma resposta animadora: o CMI financiaria o projeto se ela obtivesse a aprovação de Arns e Wright. Assim se fez. “A luta contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”, disse a Dra. Eny.


E para que essa história nunca caia no esquecimento, ouvimos os dois depoimentos mais marcantes do ato público. O metodista Anivaldo Padilha, associado da organização ecumênica Koinonia e a luterana Eliana Rolemberg, diretora executiva da CESE contaram como sua experiência como jovens militantes do movimento ecumênico, na luta por direitos sociais, e as torturas que sofreram ao serem presos pela Operação Bandeirantes (Oban), um braço clandestino da repressão.


Depois de uma saudação especial aos jovens presentes, Padilha pediu licença para mencionar o nome de alguns companheiros mortos pela repressão: Paulo Wright (irmão do pastor James Wright), Heleni Guariba, os jovens metodistas Celso Cardoso e Fernando Cardoso.


Anivaldo e Eliana foram presos em 28 de fevereiro de 1970. Anivaldo era, então, secretário regional para o Brasil da União LatinoAmericana de Juventude Ecumênica e redator de revista metodista Cruz de Malta. Logo ao chegarem ao Oban, Anivaldo recebeu um golpe no estômago que o deixou sem ar. A partir daí, começou uma sucessão de torturas físicas que o fizeram até pensar em suicídio. Afinal morrer parecia inevitável e ele não conseguiria viver com a culpa de delatar companheiros. Mas não havia nada na cela com que se matar. “Nem a opção de suicídio me era disponível”, disse. “Iniciei um processo de revisão de minha vida, sobretudo de meu envolvimento pessoal na Igreja Metodista, basea do na espiritualidade encarnada no mundo. Foi essa espiritualidade que me levou a dedicar-me à solidariedade dos oprimidos. Percebi que minha vida não me pertencia, eu a tinha entregue a Deus. Isso me deu forças para continuar”.


Anivaldo se perguntava como havia tantos homens para espancá-lo, sendo ele tão franzino. “Percebi que moralmente eu era mais forte e tinha condições de resistir”. Do auge do desespero, lentamente Anivaldo foi invadido por tranqüilidade e adormeceu. Quando acordou, percebeu que estava sofrendo de amnésia. Não conseguia se lembrar dos nomes de seus companheiros. Em pouco tempo, os torturadores perceberam que força nenhuma o faria falar. “Foi um fenômeno para o qual nunca consegui explicação a não ser pela fé”, disse ele.


Após ser solto, mas ainda correndo risco de vida, Anivaldo recebeu ajuda do Conselho Mundial de Igrejas para ir ao Uruguai, de onde se mudou para os Estados Unidos e, depois, Genebra, sede do CMI. Só pode conhecer seu filho, o atual ministro da saúde Alexandre Padilha, quando o menino tinha 8 anos de idade. Com a lei de anistia, pôde, enfim, voltar ao Brasil. Mas demorou ainda muitos anos para que ele superasse o trauma. Por seis anos seguidos sonhava com as torturas. “Os torturadores continuavam dentro de mim. Eu tinha que vencê-los”. O perdão foi o caminho da superação, mas Anivaldo fez questão de explicar que o perdão, relação interpessoal que cura aquele que perdoa, não elimina a necessidade de justiça. “Os crimes cometidos não foram apenas contra mim, mas contra a sociedade. Romper o ciclo da impunidade é a única maneira de evitar que isso se repita. Quero terminar citando o profeta Jeremias. Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. Minha esperança é que a memória sirva para que Brasil, Nunca Mais!”


Ao receber a palavra, Eliana Rolemberg disse que havia feito um “treinamento” para não chorar naquele momento. Não conseguiu. Mas ela não foi a única. Estava acompanhada de todo o auditório. O depoimento dela também foi muito doloroso. Eliana tinha uma filhinha de oito meses quando foi presa. Ficou numa cela junto com uma moça chamada Damares, que tinha acabado de ver o marido ser assassinado em frente aos três filhos do casal. Damares não sabia o que seria feito das crianças. Eliana também não sabia como estava a filha. Uniram-se no sofrimento.


Além das torturas físicas, os torturadores submetiam Eliana ao mais cruel dos sofrimentos, ameaçando sua filha. Brincavam com seu desespero: “Eles diziam que tinham comprado um pau-de-arara da Trol (famosa fábrica de brinquedos da época) e que viriam com ela”.


Eliana contou também que, ainda hoje, emociona-se ao ouvir uma música do Dorival Cayimmi que os presos políticos cantavam para animar os que eram chamados da cela à sala de torturas:


Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer
Só que muitos não voltavam....


Anos depois, já no Brasil, Eliana Rolemberg recebeu do governo um pedido formal de perdão. Foi nesse dia que ouviu da filha: “Agora que o Estado te pediu perdão, acho que vou conseguir ser brasileira”.
Suzel Tunes






Saiba mais:


www.prr3.mpf.gov.br/bnmdigital> - site do projeto Brasil Nunca Mais Digital

http://www.armazemmemoria.com.br/ - site do Armazém Memória

http://www.koinonia.org.br/comunicacao-noticias-detalhes.asp?cod=1601 - site de Koinonia




REPERCUSSÃO NA GRANDE IMPRENSA:


Documentos brasileiros sobre tortura durante a ditadura são repatriados http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/06/documentos-brasileiros-sobre-tortura-durante-ditadura-sao-repatriados.html


Documentos revelam bastidores da ditadura no Brasil http://www.band.com.br/jornaldaband/


Ministério Público coloca arquivos da época da ditadura militar na internet http://noticias.r7.com/brasil/noticias/ministerio-publico-coloca-arquivos-da-epoca-da-ditadura-militar-na-internet-20110615.html


Procuradoria vai colocar documentos da ditadura na internet http://www1.folha.uol.com.br/poder/930087-procuradoria-vai-colocar-documentos-da-ditadura-na-internet.shtml


ONU faz apelo para que Brasil inicie investigação imediata sobre a tortura nos anos da ditadura http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,onu-faz-apelo-para-que-brasil-inicie-investigacao-imediata-sobre-a-tortura-nos-anos-da-ditadura,732160,0.htm

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Depoimento do rev.Fred Morris sobre a questão dos metodistas em Belém.

Com a repercussão internacional das notícias sobre as perseguições a Metodistas em Belém, o rev.Fred Morris, missionário que serviu no Brasil por dez anos deu seu testemunho sobre a ação do revmo.Adolfo Evaristo de Souza.




Igreja Metodista no Brasil



Queridos colegas e amigos,




 Entre 1970 e 1974 tive a infelicidade de ter Adolfo Evaristo de Souza como colega em Recife. Ele provou não apenas ser incompetente, mas presunçoso a tal ponto de crer que ele era o presente de Deus ao mundo em todas as maneiras.



Após uma curta participação na “Equipe Fraterna”, a fraternidade ecumênica que tínhamos em Recife, ele se retirou para “fazer o trabalho do Senhor.” Quando fui seqüestrado em 1974, o Adolfo simplesmente não foi visto. Lauro Cruz, outro colega nosso, pelo menos mostrou seu rosto e veio ver o que poderia fazer por mim.



Alguns anos depois, o Adolfo anunciou a todos em sua Região Eclesiástica, em São Paulo, que o Espírito Santo o visitara e revelara-lhe que ele seria eleito bispo. Isso não aconteceu no Concílio Geral seguinte, mas ele continuou sua propaganda ad nauseum até que no Concílio Geral seguinte ele se elegeu – e foi enviado para servir na Terceira Região. Todavia, sua incompetência lá foi tão grande que ele foi mandado para a Região da Amazônia, onde ele tem feito estrago com os Metodistas de lá. Não sei o que pode ser feito, mas essa declaração dos Metodistas que padecem sob sua perseguição exige algum tipo de ação – que suspeito não virá da Igreja Metodista brasileira.



Paz a todos.





Fred Morris.





Methodist Church in Brazil






Dear colleagues and friends, 



 From 1970 to 1974 I had the misfortune to have Adolfo Evaristo de Souza as a colleague in Recife. He proved himself to be not only incompetent, but much convinced that he was God's gift to the world in every way. 



After a very shortwhile of participating in the Equipe Fraterna, the ecumenical fellowship that we had in Recife, he withdrew to "do the Lord's work." When I was kidnapped in 1974, Adolfo was nowhere to be seen. Lauro Cruz, our other colleague, at least showed his face and came to see what he might do for me. 



A few years later, Adolfo announced to one and all at his Annual Conference inSao Paulo, that the Holy Spirit had visited him and revealed that the would be elected bishop. It didn't happen at the next General Conference, but he kept announcing it ad nauseum to the point that at the next General Conference he was elected bishop--and appointed to serve the Third Region. However, his incompetence there was so great that they then sent him to the Amazonas Region,where he has been wreaking havoc with the Methodists there. I don't know what can be done, but this statement by the Methodists suffering under his persecutions calls for some kind of action--which I suspect will not be forthcoming from the Brazilian Methodist Church. 



Peace to you all.

Fred Morris 

O rev.Fred Morris atuou no Brasil entre os anos de 1964 a 1974 como missionário da Igreja Metodista dos Estados Unidos, tendo sido preso em 1974 por seu envolvimento na luta de Dom Helder Câmara em favor dos pobres e por uma reportagem da revista Times, da qual era colaborador no Brasil. Foi torturado pelos militares e posteriormente expulso. Em 2008 recebeu compensação do governo brasileiro pela sua prisão ilegal, tortura e expulsão.


http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricaocolunas.asp?Numero=1402

Este é o texto que está circulando na mídia ecumênica internacional, relatando o abuso de autoridade que acontece na Igreja Metodista.

Persecuted Methodists find Sanctuary 

Some members of the Methodist Church in the city of Belém, in Brazil’s  northern state of Pará, have congregated from house to house each Sunday for more than a year. Many have been Methodists since the beginning of the church, which is located in the Pedreira neighborhood. Nevertheless, because of their ecumenical positions and their participation in community initiatives in which the Methodist institution doesn’t act formally, they have been victims of persecution by Bishop Adolfo Evaristo de Souza, responsible for shepherding the Methodist people in the Amazon. The persecution reached the point where they were forbidden to participate in the ministries of the local church, which meant that they could only attend worship services. 

At least one case has been formally denounced to the College of Bishops of the Methodist Church, but it did not receive the College’s attention, nor did it generate compassion or actions to stop abuses.The situation of the Church in Belém is not an isolated case, for in recent years there have been reports, in messages circulated through the internet, of other people who have suffered attacks, directly or indirectly, from certain leadership of the Methodist Church.The difference, in the case of the Belém Church, is that instead of being demobilized, it was kept alive in family meetings, but it lacked pastoral support. With the support of the Confessing Methodists’ Network, which has challenged the authoritarianism that has characterized certain individuals in the leadership of the Methodist Church, the Methodists from Belém asked for asylum and were received by transference to the Methodist Church of Bela Aurora (Beautiful Dawn) in the city of Juiz de Fora, in the state of Minas Gerais, 3100 kilometers (1925miles) from their hometown.A special program was held for the reception, which took place on the 27th and 28th of November of 2010. Eight members of the church in Belém represented the totality of the seventeen members that had asked for their transference.Now these families in Belém constitute a missionary point of the Bela Aurora Church, receiving pastoral support and  the sacraments. In addition to the ones who traveled to Juiz de Fora, the gathered church in Belém participated in the worship, interacting in a virtual conference through the internet, with the images shown on a screen inside the temple.

The unique decision of the Bela Aurora community was grounded in the connectionality regulated by the Book of Discipline, the greater law that guides administrative rules and missionary guidelines in Brazilian Methodism,but, above all, was rooted in the biblical orientation and the living Christian faith, marked by the welcome and support for those persecuted for the sake of Christ’s cause. The realization that believers were persecuted by their own family certainly led to the eruption in the heart of the Bela Aurora community,its leadership and pastor, the Reverend Moisés Abdon Coppe, of the urgent need to react, receiving the Belém believers.It was a great symbolic moment on the path of the faithful in Belém, Bela Aurora and the Confessing Methodists’Network, promoter of the event.The Confessing Methodists’ Network is a group that desires the rehabilitation of historical Methodism which, in Brazil, has undergone inglorious moments, where there are people suffering persecutions,exclusions and destitutions of their ministerial functions and offices indifferent instances, both in the local communities and in the Methodist Church’s regional and national institutions. 

The persecution happens because these people disagree with models that are alien to the Methodist identity. The models hurt the spirituality of members converted to the principles that have marked Methodism: “think and let think”.

Some witnesses confirm the reality lived out in today’s Methodist Church in Brazil:“We have suffered much violence from the church. Our first reaction was of perplexity. The alternative was to appeal to the judicial instances of the Church, without the conviction that it would have any result. The Bishop of the Missionary Region of the Amazon loves confrontation, likes to quarrel, and looks for fights. But the group now dreams of one day being able to return to normality. The present model of the church is crushed under the tyranny of bishops. Many pastors want to stop being nails and become hammers. That’s why there are many ‘revelations’ and‘denouncements’, no one feels safe.” (Saulo Baptista);

“I suffered abandonmentwhen I was in the city of Benfica with my wife, from where we were excluded. I fear for the future of the church in Bela Aurora. Some Methodist leaders have been very cruel to those who don’t go along with the present line of thinking.”(Mazinho, layman from Bela Aurora);

“I know this crisis  won’t be solved here. I saw the possibility of bringing the Belém group to Bela Aurora, even without having laid a plan for this; I followed the suggestion of the members. Notwithstanding, I feel very happy with this  decision. I feel the power of God is acting. The moment calls us to welcome and protect and pay the price. I am at ease and will keep on the path of my beliefs.” (Reverend Moisés Abdon Coppe,presiding minister at  Bela Aurora).

“With my mother I learned how much the Methodist Church values the gift of love. It was not a rebellion, but because of this gift, that we decided to welcome the people of Belém. The church  taught me this, through my mother.” (Denis, layman from Bela Aurora)

The creation of the Confessing Methodists’ Network revealed that there existed much unknown grief. It was discovered that, after the General Council held in 2005, many members simply left the Methodist Church. But the community in Belém constituted a “resistance group”. Therefore their cry for help was received as an act of love, fraternity and knowledge of the missionary role by the community at Bela Aurora.The event at Bela Aurora serves as an example to other“resistance groups” in Brazil. In a search through the World Wide Web one will discover the existence of virtual communities, especially composed by youth,dissatisfied with the ways of the Methodist Church in Brazil.

The worship service to receive the persecuted members that now make up a missionary point in Belém of the Church of Bela Aurora will certainly open an important historical precedent in the Methodist Church in Brazil. This “event” sheds a beacon of light upon the connectionality of the church, expressed in the Disciplines and, at the same time, brings to mind that the Holy Spirit blows where it wills, and that wherever two or three or more are gathered in the name of Jesus, He shall be present.

We recall the final words of the sermon preached by Reverend Adahyr Cruz at Bela Aurora: “The Word of God, brothers and sisters,calls us to resist any kind of injustice against us and our neighbor. We cannot hide our witness, as a lamp under the table, even when persecuted, so that justice may come and love may be proclaimed”.

By the good Grace of God and the guidance of John Wesley’s life, founder of Methodism, some of the persecuted have been welcomed by Bela Aurora. Now we need to know what will happen to Rev.Moisés Abdon Coppe, who shone upon Methodism in Brazil the light of Dawn for life, love and the essence of the Good Shepherd, the one that looks after the sheep, especially those that have been cast out from the flock.The Confessing prayer is that God, in God’s Grace, takes care of Pastor Moisés and all of those who suffer any kind of persecution.. Even in times of darkness, love casts out all fear.

Rede Metodista Confessante 
(Confessing Methodist’s Network) http://www.metodistaconfessante.blogspot.com
http://br.groups.yahoo.com/group/metodista_confessante/