Nossa avaliação e proposta de alternativa
Avaliação:
1. Entendemos que o atual desequilíbrio
estrutural em nossa Igreja é por demais evidente. A espiritualidade de matiz
neopentecostal se torna hegemônica e os ocupantes de praticamente todas as
instâncias de poder alinham com o neopentecostalismo por convicção ou
conveniência. Pratica uma espiritualidade que busca o céu (com afirmações
indemonstráveis do “senhorio do Senhor Jesus sobre a cidade, a nação, o
mundo”), exercitando essa espiritualidade sem chão na realidade humana,
desenvolvendo uma “liturgia que busca alcançar o céu”, cultivando uma
experiência de salvação traduzida nos êxtases (momentâneos) dessa adoração
“transcendental”. Pratica uma evangelização autoritária (travestida de amor ao
próximo), cujo alvo é “arrancar do mundo” para a vivência desta adoração
“celestial”. Estas práticas tradicionais são comumente presentes, sem os
exageros das manifestações neopentecostais, em praticamente todas as nossas
congregações.
2. Observamos que a prática ecumênica
com entidades católicas, negada em Concílio (apesar da posição contrária do
Colégio Episcopal de então, que não conseguiu exercer sua liderança sobre suas
respectivas representações provavelmente face ao necessário compromisso
político pela reeleição), vem penetrando as comunidades pelas portas dos
fundos.
Proposta de Alternativa:
1. Para os confessantes esta percepção
pode indicar rumos possíveis. Os espaços de interferência nas macropolíticas
atuais parecem extremamente reduzidos, senão momentaneamente inacessíveis. Não
obstante, na medida que representamos a indispensável “obras de misericórdia”,
parece possível desenvolver este espaço de testemunho e sobrevivência na
importante comunidade de fé, com a consciência de que este lugar não é
concessão do poder vigente, mas direito no interior da herança que desfrutamos
com legitimidade.
2. Enquanto wesleyanos, podemos cultivar
estes espaços da legítima espiritualidade wesleyana, com ênfase nas “obras de
misericórdia” articuladas com os agudos problemas, agruras e temáticas de nossa
sociedade local, brasileira e universal, sem a pretensão de sermos
diferenciados. Enquanto tal, somos naturalmente metodistas. Se estes espaços
inexistem em nossas comunidades, podemos desenvolvê-los com metodistas para os
quais estas práticas tenham valor. Duas referências merecem destaque:
- a primeira está relacionada à visão
missionária tanto dos Planos Quadrienais como no PVMI de que a missão não é da
Igreja, mas de Deus. De fato, o missionário é Deus, processo que se traduz pela
expressão “Missio Dei”. A partir desta referência, a consequência natural é
retomarmos o compromisso explícito no PVMI com o trinômio “Deus-Mundo-Igreja”.
Se o mundo é o centro do amor de Deus, entendemos que cabe à Igreja segui-lo e
servi-lo neste processo de “encarnação”. Isto requer que tomemos os diferentes
temas e problemas específicos do mundo como ocupação de Deus, a saber, como
temas e problemas relacionados à nossa fé. A causa dos direitos humanos, o
direito à vida, é causa de Deus (como afirma o PVMI de modo abrangente:
“direito à terra, habitação, alimentação, saúde, educação, lazer, participação
na vida comunitária, política, artística, direito à preservação da natureza,
direito à humanização do trabalho, melhor distribuição da riqueza, organização
e proteção do trabalhador, direito à segurança, oportunidade para todos de
salários e empregos”. Aí está um sumário incompleto que aponta a direção do
amor do Deus missionário, definindo prioridades para o exercício de nossos
“atos de misericórdia” no coração do mundo, “fora das quatro paredes do
templo”).
- a segunda está relacionada ao tema
fundamental do processo de santificação do metodista, “as obras de
misericórdia”, que necessariamente acompanham os “atos de piedade”. No interior
da tradição wesleyana não é possível identificar “misericórdia” apenas com sentimentos
de solidariedade para com distantes crianças órfãs vítimas das guerras
africanas, pelas quais se ora piedosamente, solicitando a boa intervenção de
Deus, por exemplo. Como mencionado acima, “obras de misericórdia” se traduzem,
por exemplo, em ações políticas a favor de direitos humanos, como o
envolvimento de John Wesley em sua luta contra a escravidão africana nos
processos produtivos da Inglaterra ou das Américas. Estas “obras” têm muito a
ver com a afirmação de Wesley: “o mundo é nossa paróquia“. “Obras de
misericórdia” podem traduzir-se em atos de solidariedade por pessoas em crise
de várias sortes, mas, na perspectiva de nossa participação na construção do
Reino de Deus (que o PVMI traduz como a emergência de uma nova sociedade justa,
radicalmente a favor da vida e contra todas as forças que geram a morte em
todas as suas formas), “obras de misericórdia” precisam manifestar-se em ações
que contribuam para a construção da nova sociedade de justiça e paz. “Obras de
misericórdia” têm muito a ver com ações que se direcionem às estruturas da
sociedade para a libertação da pessoa de forças que geram a morte. Esta é
também a direção do amor e da atenção do Deus missionário. Estruturas da sociedade
são, também, entidades que abrem ou fecham possibilidades para a felicidade
humana. Na perspectiva do Reino de Deus ações políticas integram a “prática da
misericórdia”, como ocorreu na vida e obra do missionário H.C.Tucker em nosso
país, na segunda metade do século XX.
5 comentários:
Estou tentando fazer parte do grupo e não estou tendo sucesso.
Meu nome é Marco Antônio Gonçalves de Souza, fui Presidente dos Homens da Igreja Metodista do Jardim Oceanico na Barra da Tijuca, sou atual Presidente dos Homes da Igreja de Três Rios/RJ (voltei para o interior), tenho o prazer de ter amigos como os irmãos Wesley (Rio de Janeiro) o saudoso João, Helio Gulard, Pastor Timis, Diacono Livistong, dei algumas referencias pois tenho o desejo de participar de um grupo que trata a nossa Igreja na ótica da Tradição Metodista.
Prezado Marco.
Envie um e-mail para mim que eu o incluirei no grupo: listobserver@yahoo.com.br
Att.
Oxalá, que essa espiritualidade buscasse o céu e não a terra. O que acontece hoje, é uma preocupação neurótica com a terra, imbuída de interesses extremamente materialistas. Visando "prosperidade" e quase nunca exercício do amor ao próximo. È o exercício de uma piedade vazia de compaixão e revestida de farisaísmo que emite sentença de condenação aos "publicanos e pecadores", tudo isso com sorriso no rosto.
Apoio totalmente esta iniciativa. É uma vergonha ver que a igreja metodista está se tornando serva de meia dúzia de bispos e pastores "abençoados" com cargos em instituições com salários que passam das dezenas de milhares de reais. Quanto poderia estar sendo investido na obra de Deus?? Ao invés está indo para o bolso de meia dúzia de privilegiados rodeados de cães de guarda que os protegem contra tudo e todos.. Um dia vão prestar contas a Deus. Muitos até já estão prestando contas com toda a sorte de misérias em suas vidas.. Deus não é burro e querer passar Ele para traz é loucura!!
Apoio totalmente, especialmente sou a favor de que se vendam todas as escolas metodistas e se acabem assim este "cabide de empregos" sem fim. Muito melhor é investirmos todos estes recursos em plantar igrejas! Nosso galardão está nos céus!
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