“Demolição não combina com educação”: Carta aberta à COREAM- RS e demais interessados
Nós do movimento pró-Tombamento do IPA e do Colégio Americano, Juntos Somos Mais, vimos a público para alguns esclarecimentos sobre acontecimentos ocorridos na última semana, que envolvem nossos esforços pela preservação patrimonial destas instituições e a continuidade das mesmas.
Desde que iniciamos a caminhada do pró-Tombamento do IPA e do Colégio Americano, desde aproximadamente há sessenta dias, manifestamos que para nós o Tombamento é, antes de tudo, ato de reconhecimento simbólico do legado material e imaterial construído por gerações de educadores. Seus pais fundadores eram homens e mulheres abnegados pela causa da educação crítica e integral da pessoa, em prol da justiça e bem comum. “Hoje fazemos uma escolha clara pela vida, em oposição à morte e a todas as forças que a produzem” –Diretrizes para Educação da Igreja Metodista.
Entramos nessa luta acreditando no que nos ensinaram: “Educar é ensinar a viver”, “Liberdade com responsabilidade” e tantos outros valores que foram impressos em nosso caráter e em nossa formação cidadã. Por tal razão, não nos sentimos constrangidos de lutar por instituições educacionais centenárias.
Tendo o Tombamento e a continuidade das instituições como foco, nos dedicamos a entender as causas que levaram instituições estáveis para um quadro de instabilidade financeira e jurídica a ponto de levar a leilão uma instituição consagrada como o Colégio Americano. Por sua vez, INDAGAMOS SOBRE O PAPEL DA MANTENEDORA ESTABELECIDA EM SÃO PAULO NESTE CONTEXTO DE CENTRALIZAÇÃO.
O movimento pró-Tombamento nasceu de maneira relativamente espontânea nas redes sociais e é nossa bandeira comum o Tombamento com a continuidade educacional e a abertura para o diálogo comunitário. Trabalhamos com a diversidade de talentos e a disponibilidade voluntária dos simpatizantes pela causa educacional e cultural.
Portanto, não partilhamos da política do pensamento único e divergimos não de pessoas, mas de ideias sobre o equacionamento da crise do IPA. DIVERGIMOS ESPECIALMENTE DA ARTICULAÇÃO DA MANTENEDORA SEDIADA EM SÃO PAULO, QUE QUER IMPOR UMA CHAMADA “PARCERIA” ENTRE O IPA E UMA INCORPORADORA IMOBILIÁRIA NACIONAL. Pelo que se sabe por notícias tal parceria ocuparia 65% do terreno do IPA com torres e estacionamentos, segundo o modelo já conhecido de concreto armado e elitização da cidade.
A MANTENEDORA, ESQUECENDO-SE DA SUA FUNÇÃO PRINCIPAL, NÃO AVALIOU EFETIVAMENTE AS CONSEQUÊNCIAS DE TAL PROJETO. Em primeiro lugar, esse negócio não se trata propriamente de uma venda, pois o terreno já consta como bem em hipoteca. E fala-se em “parceria” e que tal “parceria” resultaria num aporte de R$ 40 milhões para o IPA, valor supostamente necessário para minimizar os impactos trabalhistas e/ou diminuir juros das dívidas bancárias da instituição.
VALE PERGUNTAR QUE GARANTIAS A MANTENEDORA DARIA AO IPA DE QUE TAL DINHEIRO SERIA EFETIVAMENTE COLOCADO PARA EQUACIONAR SUAS DÍVIDAS. Pelo histórico da mantenedora, tudo o que ela fez até o presente momento foi enxugar a folha de pagamentos e não dar a devida atenção ao departamento jurídico – do qual nasce grande parte da instabilidade do IPA e do Colégio Americano, assim como das demais instituições como o União em Uruguaiana, o Colégio Centenário em Santa Maria e do Instituto Educacional de Passo Fundo, que está em território da Segunda Região mas não faz parte da Rede Sul há um bom tempo.
Por outro lado, mesmo se o IPA vendesse parte de seu terreno, esses R$ 40 milhões representariam apenas uma fração de terreno do IPA e não 60% ou mais, tal como é falado. MAS O QUE É PREOCUPANTE NESSE MEGAPROJETO É O IMPACTO NA CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO, POIS A DEMOLIÇÃO DA PISCINA E DO GINÁSIO DE ESPORTES VAI ATINGIR PRATICAMENTE TODOS OS CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE DO IPA.
A área da piscina é um complexo pedagógico que engloba os laboratórios de Anatomia, Fisiologia, Biomolecular, Química, Bioquímica Clínica, Hemato-Uroanálise, Zoologia, Botânica, salas de apoio, estúdio de fotografia, sala de fisioterapia, sala de apoio para a Bioquímica Clínica e Química. Nesse complexo funcionam ainda a Universidade do Adulto Maior, a Academia de Dança e Ginástica, espaços para as coordenadorias e a própria piscina. É DE SE SUSPEITAR, ANTE O EXPOSTO, QUE NÃO HAJA CONTRAPARTIDA À ALTURA NEM PLANEJAMENTO QUE DÊ CONTA DE TÃO COMPLEXAS E EXIGENTES NECESSIDADES ACADÊMICAS.
Na prática, o megaprojeto imobiliário pode levar o Centro Universitário IPA ao desaparecimento, pois serão criados problemas de acesso aos alunos além de problemas com implicações nas avaliações do MEC no que diz respeito aos laboratórios disponibilizados aos alunos, entre outras questões que envolvem poeira e barulho de obras que podem durar mais de dois anos.
Entre tantas razões, esta é uma das que nos leva a divergir de determinados membros do movimento pró-Tombamento, os quais assumiram a bandeira da “parceria” entre a mantenedora e a incorporadora. OPTAMOS POR MANTER UM DISTANCIAMENTO CRÍTICO DA MANTENEDORA PORQUE TEMOS AFIRMADO QUE:
1. NÃO HÁ TRANSPARÊNCIA NO REFERIDO MEGAPROJETO.
2. Ele é desproporcional. A MANTENEDORA EXAGERA NA PALAVRA “CRISE” PARA IMPOR UM MEGAPROJETO QUE PELA FALTA DE CLAREZA FAZ SUSPEITAR DAS CONTRAPARTIDAS DA INCORPORADORA, principalmente em relação ao complexo educacional da piscina e ao ginásio de esportes. A bem da verdade, estes desaparecerão pela ação das britadeiras.
3. Num mercado educacional tão competitivo os transtornos de um megaprojeto deste porte, feito sem diálogo e planejamento, vão incidir diretamente na perda de alunos. NO MAIS, O QUE É DITO COMO UM “BOM NEGÓCIO” VAI RESULTAR NA PERDA DE RECEITAS OU MESMO NO FECHAMENTO DE VÁRIOS CURSOS SUPERIORES DO IPA.
Frente aos fatos, POSICIONAMO-NOS CONTRA A TENDÊNCIA DO PENSAMENTO ÚNICO que tenta veicular a ideia de que o IPA só teria uma alternativa: ou a instituição vende seu patrimônio líquido (cursos superiores) ou aceita o pacote pronto da “parceria” entre a mantenedora com a incorporadora.
Sabedores de que um representante da mantenedora viria de São Paulo para pressionar os representantes da Igreja Metodista com sede no Rio Grande do Sul, para conjuntamente avalizar o pacote matenedora-incorporadora, PROTOCOLAMOS NO DIA 6 DE JUNHO, NA SEDE REGIONAL DA IGREJA METODISTA GAÚCHA, UM PEDIDO DE AGENDAMENTO. Intencionávamos apresentar uma agenda propositiva para o possível equacionamento da crise para evitar o possível desmonte do Centro Universitário IPA. É NOSSO OBJETIVO LEVAR EM CONSIDERAÇÃO A INTEGRIDADE PATRIMONIAL E A CONTINUIDADE DO PROJETO EDUCACIONAL METODISTA. Infelizmente não obtivemos uma resposta oficial que fraqueasse nosso acesso a tais representantes.
Continuamos na luta e pela mobilização em favor do IPA e Colégio Americano, também não esquecendo agora as demais instituições localizadas na Região Sul. Queremos afirmar isto: “DEMOLIÇÃO NÃO COMBINA COM EDUCAÇÃO”.