3. Ao passo devemos tolerar as diferentes expressões de fé dentro de nossa igreja e fora dela, é preciso sermos intolerantes com todas as formas de oportunismos, corrupções, desonestidades, autoritarismos e personalismos que permeiam as estruturas eclesiásticas. A esperteza mundana, a apropriação do espaço público da Igreja como ambiente particular de mando e manipulação; o domínio do aparato eclesiástico para fins escusos e para a censura ao diferente, precisa deixar de ser referendada pela nossa ingenuidade. Refletindo sobre o papel da juventude Tamara L. Walker diz: “... os sistemas sociais e políticos definem liderança em termos de 'auto-serviço' individual, status e poder. E nós nos conformamos com essa idéia dominante e dominadora de liderança.” (No artigo Papel de liderança da Juventude hoje. In: Juventude: ressuscitadora de Esperança - Caderno de Formação para Missão, p.14).
Nós, Metodistas Confessantes (e Metodistas mundiais), cremos que tod@s são ungid@s por Deus; que o sacerdócio é universal para tod@s @s crentes e que, portanto, não há entre nós, maiores nem menores. Conseqüentemente rejeitamos a idéia equivocada que há, entre nós, “autoridades incontestáveis”; aliás, esse é um dos pontos que nos difere de outros grupos religiosos. Quando certas “autoridades”, tomam para sí o trono de Jesus e delimitam para os demais a condição de suas “ovelhas” ou “discípul@s” e admoestam com textos bíblicos isolados: “Aí daqueles que se levantarem contra os ungidos do Senhor!”; havemos de ter senso crítico e maturidade espiritual para analisar com profundidade os textos bíblicos e, mais ainda, devemos com toda “autoridade” dada por Deus e referendada por nosso serviço e testemunho de vida, reagirmos e denunciarmos tais atitudes, porque elas contradizem o entendimento de autoridade revelado por Jesus e assumido por sua Igreja aqui na terra. Nos ilumina a jovem Tamara L. Walker da Igreja Metodista Unida: “Podemos escolher negociar nossos valores, e até perder nossos valores culturais. Podemos aceitar a cultura e os valores dominantes. Ou podemos cavar fundo na base dos ensinamentos bíblicos e viver uma liderança libertadora.” (No artigo Papel de liderança da Juventude hoje. In: Juventude: ressuscitadora de Esperança - Caderno de Formação para Missão, p.14).
Nós, Metodistas Confessantes, entendemos que é necessário recuperar a Igreja como comunidade “terapêutica”, espaço que propicia a acolhida e colabora para a conversão das pessoas e das estruturas sociais; comunidade que crê no poder do Evangelho de transformar pelo amor, graça e pela responsabilidade. Nossa Igreja brasileira tem perdido essa noção de ser Igreja. Por outro lado, assistimos a banalização do perdão à líderes inescrupulosos em sessões espetaculares na TV, com holofotes, choro e palmas da platéia. O artificialismo não muda a vida das pessoas. A graça não é barata, nem é tesouro da igreja, dizia o pastor Confessante Dietrich Bonhoeffer. (Livro: Discipulado, p. 9.)
Temos deixado de nos assumir como “sacerdotes e sacerdotisas”; e muitas vezes, nos colocado nos papéis de ovelhas cegas e, por isso, medrosas, obedientes e seguidoras de toda sorte de doutrina e de “falsos pastores”; alguns dos quais afirmam, sem corar a face, que “ovelha desobediente quebra-se a perna para que aprendam a ajoelhar e comer na mão de seu pastor”. No sermão número 1 Wesley diz: Sendo salvos da culpa, os homens são também salvos do temor. Não, em verdade, do filial temor de conceber qualquer ofensa, mas do medo servil que escraviza; ...” No protestantismo mundial há “escravos” ludibriados por mega-projetos missionários, mega-igrejas, mega-shows evangélicos, etc...; por confiarem cegamente nos “nos ungidos” submetem-se a eles como se o fizessem ao próprio Deus.
O Pastor Metodista José Carlos Barbosa diz: “Nós, os protestantes, temos uma sensível predisposição de olhar com mais simpatia para as denominações consideradas evangélicas, mesmo que sejam portadoras das mais estapafúrdias 'teologias'". (Trabalho sobre eclesiologia, apresentado no Concílio Regional da 5 RE, realizado em novembro de 2005). O Pastor Confessante Bonhoeffer faz um alerta: “Teremos de nos considerar como co-responsáveis na formação histórica, de caso em caso e em cada momento, tanto como vencedores como derrotado”. (Livro: Resistência e submissão, p. 20.)
Carlos Mesters, frei e biblista brasileiro, ao analizar a caminhada dos nossos irmãos e irmãs do passado diz o seguinte : “Caindo e levantando, o povo foi andando, procurando ser o povo de Deus e buscando atingir para si e para os outros os bens da promessa divina. Muitas vezes, porém, esquecia o chamado de Deus e se acomodava. Em vez de servir a Deus, queria que Deus servisse ao projeto que eles mesmos tinham inventado. Invertiam a situação. É nestas horas que surgiram os profetas para denunciar o erro e para anunciar de novo a vontade de Deus”. (Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do povo, p. 21.)
Se e quando assumirmos nossa condição de sacerdotes e sacerdotisas, vamos eventualmente, descobrir a nossa função profética dentro e fora de nossa igreja.