quinta-feira, 3 de novembro de 2011

I Encontro Regional da Juventude Negra Metodista

I Encontro Regional da Juventude Negra Metodista
      
 
 
     Superando o Racismo em Cristo!! Podemos esperar alguma coisa da Juventude Negra Cristã?  
 
Texto de reflexão: João 1:46.
                         
 
 
  
 
Data: 19/11/2011
     Horário: a partir das 15 horas.
     Local: Igreja Metodista em Honório Gurgel, Rua Américo Rocha nº980.
     
Programação:
     15 horas – Abertura – André Guimarães (Campo Missionário Metodista em Bacia de Anchieta) Dayse Gomis (Igreja Metodista da Penha);
     15h10min – Mesa redonda – Juventude Negra Cristã: desafios e possibilidades;
     Participantes:
 Rafael Fortunato - Membro da Igreja Metodista em Vila Isabel - Educador Social / Cientista Social (UFF)   
Amélia Costa - Integrante da Igreja Metodista de Cavalcante, Militante do Movimento Negro Unificado (MNU)

Thiago Campos – Secretário Distrital de Jovens da Igreja Metodista, membro da igreja Metodista da Bica.

Rolf Malungo de Souza – Doutor em Antropologia e pesquisador associado do LEECCC/UFF, Escritor, membro da Igreja Metodista.

Marcelo Dias – Superintendente da Promoção da Igualdade Racial do Estado do Rio de Janeiro, Advogado, Presidente da Comissão de Combate ao Racismo da OAB/RJ.     
19 horas – Culto;
     Dirigentes: Thiago Campos (Igreja Metodista da Bica) & Priscila Braz(Igreja Metodista de Parque Anchieta).
     Louvor – Grupo Chega Mais Pra Cristo -  Igreja Metodista da Cidade de Deus;
     Participação – Quarteto Ita – Igreja Batista Itacuruçá;
     Mensagem – Pr. André Antônio (Myshilin) – Igreja Batista de Volta Redonda; 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Igreja Local é uma Comunidade de Resistência

A IGREJA LOCAL É UMA COMUNIDADE DE RESISTÊNCIA

 

O Plano Nacional – Objetivos e Metas, aprovado pelo 17º Concílio Geral e incorporado pelo Plano Nacional Missionário aprovado pelo 18º Concílio Geral, incluem na pauta da Igreja o tema de uma comunidade de resistência. Este tema foi muito pouco refletido nestes últimos cinco anos e ele se destaca neste período do ano em que nos encontramos no meio de muitos acontecimentos em vários lugares do mundo e que indicam a necessidade de a Igreja de Cristo ser o sal da terra e luz do mundo. Por sermos uma Igreja formada por pessoas que vivem num contexto de violência, de deturpação das questões religiosas, de corrupção, de individualismo, de banalização dos valores da vida e da família, de diversas formas de discriminação e preconceitos, a vida de nossas igrejas locais são afetadas e muitas atitudes e movimentos intra-muros nascem em decorrência deste contexto globalizado. O Plano Nacional afirma: “a igreja local, contrariamente às tendências do mundo contemporâneo, entende-se como comunidade solidária, comunidade de luta por justiça, comunidade de denúncia profética, comunidade de paz”. Afirma ainda: “a comunidade de resistência é desafiada a saber separar o que convém e o que é incompatível com a dignidade do cristão e do ser humano”.

Desta forma, indicamos alguns aspectos que compreendem a vida de uma igreja de resistência:

1. Resistir à sociedade desumana e injusta. O livro de Apocalipse conclama o povo de Deus a resistir e lutar. A mensagem de João quer despertar a fé e a esperança do povo de Deus em meio a muitas lutas e perseguições. Trata-se, portanto, de um livro atual, pois também vivemos num mundo opressor e gerador de morte. Um mundo onde a injustiça e a morte têm mais força que a Justiça e a Vida. Hoje também há muitos “impérios” que tentam impedir o povo de Deus viver e celebrar a vida. Mas vale a pena resistir e lutar acreditando que a sociedade pode ser transformada, pelo testemunho e pelo serviço cristão. Esta esperança deve levar nossas igrejas a uma ação mais concreta, consciente e comprometida com a justiça do Reino de Deus. O futuro depende da maneira como nós cristãos encaramos as lutas da vida, os problemas que surgem e os movimentos que atentam contra esta vida que é dom de Deus. Resistir e lutar. Esta foi a mensagem do Apocalipse para os cristãos do século I da nossa era. Esta é a mensagem para nós hoje. A Igreja de Cristo tem a força da fé e da esperança, o poder do amor e da paz, a presença constante do Espírito Santo e os valores do Reino de Deus que dão a sustentação para que o “ser sal da terra e luz do mundo” se concretize. Quando a Igreja perder esta dimensão ela deixará de ter o seu lugar como comunidade missionária.

2. Resistir à minimização da presença da Igreja como comunidade de pastoreio. A Igreja que vai permanecer cumprindo com os propósitos bíblicos, teológicos, missionários, pastorais e doutrinários, é aquela que desenvolver o cuidado pastoral para com os seus membros. Neste sentido, a igreja é  sacerdotal, terapêutica, acolhedora, comunidade de amor e de amparo. Mas, ao contrário disto, a igreja que seguir o caminho da massificação, do crescimento como fim em si mesmo, da promoção da auto-ajuda no lugar da reflexão bíblica, teológica e pastoral, do culto destituído de atos de arrependimento, confissão e dedicação a Deus, da falta de ética, do individualismo, da discriminação e da exclusão, estará minimizando a sua presença na sociedade e, conseqüentemente, deixando de ser o sal da terra e a luz do mundo. A relação entre fé e vida cristã deve ser fortalecida. A igreja não é meramente um ajuntamento de pessoas que encontraram pontos comuns, mas sim a comunhão de entre aqueles e aquelas que alcançados pela graça de Deus aprenderam a importância e o valor da fé cristã e a convicção de que esta fé deve ser agente de transformação na vida pessoal, familiar, social, profissional, no exercício da cidadania e na prática dos mais altos valores do Reino de Deus. Os metodistas afirmam em sua doutrina social a “responsabilidade cristã pelo bem-estar integral do ser humano como decorrente de sua fidelidade à Palavra de Deus expressa nas Escrituras do Antigo Testamento e Novo Testamento”. Neste sentido, a Igreja de Cristo deve promover, além do cuidado pastoral, os direitos humanos, pois a vida é um dom de Deus.

3. Resistir aos movimentos neopentecostais. A Igreja é pentecostal, no sentido de que ela é movida pela ação e pela dinâmica do Espírito Santo de Deus. Mas ela não segue o curso dos movimentos denominados de neopentecostais, que apresentam eclesiologias, práticas ministeriais e ações pastorais que não combinam com a identidade doutrinária e a confessionalidade que fundamentam a organização da Igreja. Movimentos como G12, pré-encontros, encontros e pós-encontros, onde impera o segredo e a promoção de conceitos doutrinários diferenciados daqueles que são confessados pela Igreja, são maléficos e divisionistas. Além destes, outras tendências que surgem como ondas que vêm e vão embora, mas que deixam marcas na vida daqueles/as que foram alcançados/as por tais práticas. Resistir é legitimar nossas doutrinas, nossos costumes, conservando assim a sã Palavra de Deus.

4. Resistir ao hasteamento de bandeirolas. O certo é que vivemos num país e num contexto latinoamericano marcado pela dor, pela divisão, pela violência, pelo desamor, pelas injustiças, pela pobreza, pela mendicância, pela falta de diálogo, pela marginalização, pela discriminação, pela religiosidade que legitima o status quo, pelo mercantilismo religioso, pela exacerbação da intolerância, pela dominação das drogas e dos traficantes, pela ditadura da corrupção, etc. Vamos, como Igreja, encontrar a força para levantar bem alto nossas bandeiras, sobretudo a bandeira da santidade bíblica, e deixarmos as bandeirolas, que não passam de disputas entre nós mesmos, de somenos importância para o Reino de Deus e para o momento atual da missão da Igreja em terras brasileiras e contexto latino-americano. Este é desafio do metodismo: “manter-se em constante avivamento, o qual quer dizer renovação interior, porém evitando cair nos meandros de um sentimentalismo infecundo e até psicopatológico. Manter seu entusiasmo sem desvinculá-lo do regime da inteligência e da cultura, ao mesmo tempo precavendo-se de um intelectualismo congelador. Prosseguir ardentemente seu labor de evangelização, sem trocá-lo por estratégias de ordem político-partidário e de táticas violentas, e acompanhando um intensificado trabalho pastoral, motivado pela dinâmica do amor, da justiça e do serviço. E em seu regime interior, mostrando como é possível governar e conviver sem imposições autocráticas nem demagogias desintegradoras”.1

5. Resistir mas com submissão à ação do Espírito Santo. Temos o desafio de nos submetermos a ação soberana e dinâmica do Espírito Santo. O Plano de Vida e Missão nos afirma que “o metodismo proclama que o poder do Espírito Santo é fundamental para a vida da comunidade da fé, tanto na piedade pessoal como no testemunho social (Jo 14.16-17). Somente sob a orientação do Espírito Santo, a Igreja pode responder aos imperativos e exigências do Evangelho, transformando-se em meio de graça significativo e relevante às necessidades do mundo (Jo 16.7-11; At 1.8, 4.18-20)”. Que a ação, o poder e a dinâmica do Espírito de Deus nos leve a reconhecer o Senhorio de Jesus Cristo em todas as áreas da nossa vida.

Reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a terra. Esta é nossa maior “bandeira”. A “santidade bíblica” como expressão básica da salvação, pela vivência da fé e das obras de piedade e misericórdia, continua a ser o desafio missionário do povo chamado metodista”.2 Que a força do Evangelho, que mobilizou e impulsionou pregadores/as leigos/as e pastores/as, ao longo destes 265 anos, que levou a expandir o metodismo e a espalhar a semente do Evangelho e do Reino de Deus, continue a operar em nossos corações, “para que o mundo creia que Deus nos enviou” (João 17.21). Recordemos sempre que Deus nos chamou para abençoar e fazer discípulos em todas as nações (Mt 28.18-20), empunhemos as “bandeiras” do metodismo histórico e contemporâneo e ajudemos nosso povo a ser sal da terra e luz do mundo. Que esta resistência seja marcada pela esperança e pela “paz de Deus, que excede todo o entendimento” ( Fl 4.7), mas que guarda o nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus.

Bispo Josué Adam Lazier

1 Camargo, Justo Báez, Gênio e Espírito do Metodismo Wesleyano, São Paulo, Imprensa Metodista, 1986, pg. 82.
2 Colégio Episcopal, Plano Nacional – objetivos e metas, São Paulo, Biblioteca Vida e Missão, 2001, pg. 42.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A propósito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2011

 SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS 2011



MENSAGEM PROFERIDA NA IECLB DE CARIACICA-ES


TEXTO: ATOS 2.42 “UNIDOS NO ENSINAMENTO DOS APÓSTOLOS, NA COMUNHÃO FRATERNA, NA FRAÇÃO DO PÃO E NAS ORAÇÕES”.


Introdução


Vemos nos quatro evangelhos várias maneiras de agir dos cristãos do primeiro século.

Costumamos dizer as comunidades de Mateus, de João, de Marcos e a de Lucas. Lugares e pessoas diferentes. E as muitas Igrejas fundadas por Paulo e vários outros, jovens e mulheres. Uma variedade de dons e ministérios.


O evangelho de hoje remete-nos para a comunidade Lucana.  Em Jerusalém concentrava-se a maior parte dos apóstolos. Lucas diz (atos 1. 12-14) dessa  primeira comunidade cristã e fala dos 11 apóstolos que se reuniam lá, juntos com muitos irmãos e irmãs, inclusive a mãe de Jesus e “ eram assíduos na oração no templo “.


Lucas é médico, pertencia a um grupo de famílias com mais posses e escolaridade no meio de muitos de menores rendas e também de pobres e necessitados.


1.      1. A comunidade de Jerusalém

Essa igreja de Jerusalém podemos chamá-la de igreja da utopia cristã, no sentido que é tudo que queremos e esperamos e trabalhamos para viver uma comunidade de fé e esperança.

Uma igreja de intensa vida comunitária, onde os encontros no templo, as celebrações e eucaristia como as orações se completavam nas visitas às casas, no conhecimento das necessidades das famílias, no suprimento das necessidades básicas e ainda mais na divisão de seus bens, de maneira que ninguém possuía mais do que o outro.


As orações nessa comunidade de fé não eram meras palavras, mas se transformavam em ações de solidariedade.


Era uma manifestação de alegria e sentimento de que o Espírito Santo conduzia na verdade o povo e por isso saíram e dispersos (diáspora) criaram muitas comunidades e transformaram o mundo da época. Tudo isso debaixo de grande perseguição.



Pergunta-se:

Como é possível a convivência numa comunidade parecida com as nossas igrejas e nossas cidades, com ricos, pobres, miseráveis, mendigos, migrantes, trabalhadores/as de todos os níveis e escravos ?  É bom lembrar que em certas cidades do primeiro século, quase a metade da população era de escravos.



Na comunidade de Jerusalém tem muitos pobres como hoje, pessoas que  foram impedidos de ter posses, de quem tudo foi tirado, como nossos irmãos afro-descendentes, que libertos pela LEI ÁUREA, da princesa do nosso império, permanecem na luta por seus direitos a terra como os quilombolas e à moradia digna. Esses nossos irmãos na quase totalidade enchem as vielas e favelas das cidades que ajudaram a construir. Milhões deles como o Lázaro da parábola do rico e o pobre que Jesus contou. Os que, absolutamente, nada tinham e precisavam do pão e teto como são os mendigos de todas as nossas cidades.


 As cidades antigas tinham muito em comum com as cidades atuais em desigualdades sociais, embora tempos e contextos tão distantes.


Nessa visão dos tempos de hoje não podemos esquecer os pequenos trabalhadores do campo, os trabalhadores sem terra, os trabalhadores dos períodos das colheitas, que deixam suas famílias na busca da sobrevivência.



Ainda sobre a comunidade Lucana diz o grande profeta de Deus dos nossos tempos e que já não está entre nós, José Coblin, 1988, em seu comentário de Atos dos Apóstolos: “ ... Ricos e pobres são para Lucas os que aparecem na cidade. Os agricultores explorados que fornecem a base da riqueza dos grandes não estão representados. Na cidade vivem os proprietários ; aí gastam o dinheiro que tiram do campo. Nas cidades estão também as classes inferiores que prestam os seus serviços aos ricos: artesãos, transportadores, domésticos, além dos escravos... Na cidade está  concentrada toda uma população desempregada  ou subempregada.... de pequenos agricultores expulsos de suas terras  e de todos os vencidos na luta pela vida”.


Todo esse quadro mostra alguma semelhança com as nossas cidades, respeitados os contextos sócio-econômicos e culturais.



2.       2. A Igreja de Jerusalém e sua proposta
 A   A vida em comunidade de fé promovida pela igreja de Jerusalém é uma proposta simples, de grande eficácia, revolucionária e transformadora das pessoas e da sociedade do seu tempo e do nosso tempo. É um grande desafio, pode não ser novidade, mas precisa, urgentemente, ser recuperado.

 A   Igreja de Jerusalém apresenta uma proposta de evangelização, baseada na vivência comunitária.

O    OS QUATRO SUSTENTÁCULOS DE FÉ E AÇÃO COMUNITÁRIA foram desafios que geraram crescimento em todos os sentidos para igreja de Jerusalém e o Reino de Deus se expandiu por muitos lugares.

S    São grandes indicativos para nossa maneira de sermos cristãos e igreja nos tempos atuais e sempre: O ENSINO DA PALAVRA DE DEUS, A COMUNHÃO FRATERNA, A EUCARISTIA/SANTA CEIA OU REPARTIR O PÃO E A ORAÇÃO.




 “ERAM ASSÍDUOS AO ENSINAMENTO DOS APÓSTOLOS”


               Os apóstolos eram pessoas simples, mas de fé inabalável, na experiência do convívio com Cristo, sua morte e ressurreição. A autoridade dos apóstolos não vinha de sua escolaridade, pois eram de pouca instrução, mas advinha de seu testemunho e sinais realizados no meio do povo. Podemos dizer em linguagem Wesleyana nos seus atos de piedade e nas obras de misericórdia.


 A COMUNHÃO


Ninguém é dono do que possui. Deus é o Senhor de tudo e todos.  Somos administradores de tudo que é de Deus, inclusive os nossos bens.  E somos chamados para o dom de repartir com os outros os bens e todos os demais dons recebidos.


Os primeiros cristãos colocavam tudo em comum uso, a ponto de não haver mais necessitados entre eles.


Se os cristãos no Brasil tomassem uma decisão desta, com certeza, não haveria mais pobres.

 Reconhecemos os esforços políticos para a redução da desigualdade social e nos avanços de políticas públicas, mas há muito por avançar.


 As igrejas e o povo cristão não podem ficar a reboque do que pode acontecer, mas agentes atuantes e provocadores de mudanças.


A FRAÇÃO DO PÃO


Lembra, antes de tudo, a eucaristia ou a santa comunhão, a Santa Ceia, a memória da morte e ressurreição de Cristo.  Também a referência à fração do pão vem das refeições judaicas onde a comida era levada nas casas dos que nada tinham.


Jesus partiu pão para a multidão, após o gesto de uma criança oferecendo pães e peixes, instigando o grande milagre da partilha.


AS  ORAÇÕES


Através das orações os cristãos mantinham-se unidos, contra as tentações de egoísmo e indiferença, mas para suportar as perseguições religiosas também.


Esses cristãos nos deram exemplos como deve ser a vida no templo e o relacionamento com o próximo.


Unidos na oração, mostramos nossa pequenez e fragilidade, bem como nossa dependência de Deus.


Unidos na oração mostramos nossa humildade e lançamos fora a arrogância.


Unidos na oração anunciamos que um mundo melhor e para todos é possível, de amor, respeito, solidariedade e tolerância de uns com os outros.


Unidos na oração ganhamos forças para desenvolver projetos e atividades concretas, que levantem a vida do ser humano para uma vida plena, inclusiva, como os Senhor nos disse no evangelho de João 10.10: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundancia”.


Unidos na oração temos forças para denunciar a maldade e ação dos corruptos da sociedade, políticos ou outros como líderes religiosos que querem devorar o rebanho.





 CONCLUSÕES E OUTROS INDICATIVOS


Do texto em Atos 2.42-47, no final diz que os apóstolos (entenda-se homens e mulheres ) eram estimados  pelo povo e o Senhor acrescentava mais gente  à comunidade.


A Igreja e os cristãos são chamados a revelarem a graça de Deus à humanidade, através de gestos e sinais concretos de amor a todas as pessoas.


A credibilidade de todo o povo para o anúncio do evangelho pelos cristãos:


Não será pelo proselitismo, ou conversões de conveniência, pessoas pulando de igrejas, como macacos pulando de galho em galho.


Não será pela construção de grandes templos ou de grandes mercados de compra de objetos religiosos, como “curas”, “ expulsão de demônio”, “descarrêgos” ou outras magias e fantasias.

Também não será pelas campanhas de crescimento numérico, no vale tudo do mercado religioso.


A credibilidade não será pelo acúmulo de bens e riquezas.


Também não será por organizações políticas com marcas religiosas ou lobys de evangélicos ou religiosos, para defender seus grupos no Congresso Nacional, nas assembléias Legislativas e Câmaras Municipais.


MAS SERÁ PELA VIDA SIMPLES DO EVANGELHO DO AMOR, PARTILHA E FIDELIDADE AOS ENSINOS DE CRISTO.




















                                                                    rev  Adahyr Cruz – pastor metodista

                                                                    10 de junho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

No Brasil, as pedras clamam pelo povo negro brasileiro


No Brasil, as pedras clamam pelo povo negro brasileiro


Eu lhes digo, se eles se calarem, as pedras clamarão

Lc 19:40
  

Rolf Malungo de Souza[1]




Falar sobre racismo no Brasil é falar de um tema tabu. Este assunto tido como inaceitável, cria constrangimentos, podendo, inclusive, gerar reações violentas. E, embora tenhamos informações objetivas produzidas por órgãos de pesquisa do Governo Federal[2] que demonstrem que as diferenças entre negros/as e brancos/as no Brasil são escandalosas, quem insiste em denunciar estas injustiças, mesmo utilizando estas informações é acusado/a de tentar trazer para o Brasil algo que não existe, de criar um racismo ao contrário, ou de querer imitar os EUA, país que tem seu passado marcado pela discriminação e pela segregação racial e que no presente mantém excluídos dos benefícios plenos da cidadania os negros/as daquele país[3]. No Brasil, a questão racial, que já foi questão de segurança nacional[4] por colocar em xeque a identidade nacional, foi construída a partir do mito da democracia racial que procura mostrar a excepcionalidade brasileira[5], onde haveria uma relativa tolerância nas relações raciais desde os tempos coloniais, apesar de ter havido inúmeras revoltas e lutas sangrentas contra a escravidão que foram sempre reprimidas de forma igualmente violenta. Até hoje negras e negros lutam cotidianamente contra uma estrutura de poder que nega o racismo, mas ao mesmo tempo, massacra o povo negro, com atenção especial para as mulheres e jovens negros. Os dados ilustram o quanto a sociedade brasileira é racialmente injusta[6]:


Segundo o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, publicado pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER/UFRJ), os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 77,9 % da população pobre é negra, enquanto 72,9% da população mais rica da população é branca. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos negros em 2005 era equivalente à 95ª posição no ranking mundial, já o IDH da população branca respondia à 51ª posição no ranking. O detalhamento das mortes por causas externas do Mapa da Violência de 2011[7] mostram que os negros são vítimas preferenciais da violência. Nos estados mais ricos do Brasil a situação é a seguinte:




Mesmo com a diminuição gradual do número geral de homicídios, o número de negros mortos continua sendo maior que os números de brancos como mostram os números e se repetem quando olhamos os dados sobre jovens com idades entre 15 e 24 anos:




Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confirmou em 2010 que o percentual de negros mortos, com idades entre 15 e 24 anos, é maior do que o de brancos. A faixa etária representa quase 10% dentre as mortes anuais de homens negros, enquanto que esse número não chega a 4% para os brancos. Nas duas raças, a principal causa de óbitos são as doenças do aparelho circulatório – cerca de 28,5% dentre as mortes do sexo masculino na população branca e 25%, na negra. As causas externas (assassinatos e acidentes) estão em segundo lugar entre o que mais mata os homens negros. Entre os homens brancos, vem em terceiro lugar. Pesquisas produzidas pelo Centro de Estudos Sociais (CESeC)[8] apontam a polícia do Estado do Rio de Janeiro e os traficantes de droga como os principais algozes de negros adultos e jovens. Estes são apenas alguns dados sobre mortes por causas externas. Os dados sobre saúde e educação também não são melhores.


Apesar destes dados, o Movimento Negro na sua luta contra o racismo tem conseguido alguns avanços, um deles foi a implantação de políticas de Ações Afirmativas em várias instituições públicas, em especial a adoção de cotas nas universidades públicas para afrodescendentes se configurando uma das maiores conquistas e também principal alvo de crítica dos setores reacionários[9] que, mais uma vez, insistem em negar as injustiças conta o povo negro no Brasil. Estes setores são os mesmos que se beneficiam do poder público há gerações, alegam que a discussão sobre igualdade racial é negar que todos os brasileiros/as são iguais e reconhecer estas diferenças poderia dividir o Brasil, baseando seus discursos de que na realidade o que há é uma discriminação por classe, quando os dados e as experiências cotidianas comprovam que uma vez superada a barreira econômica isso não significa a superação da barreira étnico-racial.


Outro argumento utilizado por estes grupos é não haver sentido falar sobre diferenças raciais já que a Ciência diz que não existem raças entre os seres humanos, mas somente uma raça, a raça humana, assim além de ser perigosa, estas discussões não têm fundamentação científica, entretanto, o que estas pessoas fazem é se utilizar de um sofisma para mascarar a realidade. O conceito de raça utilizado pelos grupos anti-racistas é um conceito antropológico, ou seja, raça é construída sobre valores atribuídos à cor da pele, tipo de cabelos, nariz, etc. e estes fenótipos criam estereótipos racializados que estruturam as relações de poder no Brasil, pois eles servem para criar e manter a hegemonia branca.

Entre os setores mais impermeáveis a qualquer discussão sobre a questão racial, a igreja evangélica brasileira é um pilar de insensibilidade. Com o argumento de que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10:34) e que na igreja somos todos irmãos/ãs e que esta discussão poderia “trazer um problema do ‘mundo’ para dentro da igreja”. Criam-se obstáculos que fazem com que seja praticamente impossível discutir a questão racial nas igrejas evangélicas no Brasil, salvo raríssimas exceções. Entretanto, em conformidade com este mesmo “mundo” que a igreja quer negar, as diferenças são reconhecidas e afirmadas, mas através de péssimos testemunhos, pois as relações de poder são as mesmas dentro e fora da igreja. As lideranças nas igrejas são masculinas e brancas. Os negros/as quase sempre estão nos ministérios da música, nas cantinas e cozinhas, nos estacionamentos e portarias. Não raro, ouve-se que sonhar com um homem negro é mau presságio, que o pecado é negro e a África, um lugar amaldiçoado desde os templos bíblicos.


Um exemplo recente deste tipo de pensamento foi a declaração de um pastor chamado Marco Feliciano, que também é deputado federal, e conhecido por suas declarações homofóbicas, sexistas e racistas. Em abril deste ano, este pastor publicou na sua página de uma rede de relacionamento que “A maldição de Noé sobre Canaã toca seus descendentes diretos, os africanos”. Tais afirmações racistas ditas como se fossem verdades bíblicas ignora o quando Deus ama a toda a criatura humana igualmente e que, inúmeras vezes, nosso Senhor declara seu amor aos mesmos africanos que são chamados por ele de malditos, contrariando a Palavra de Deus. Neste episodio, mas uma vez, as pedras clamaram pelo povo negro brasileiro. Os movimentos sociais pediram satisfações e processaram o pastor/deputado. No meio evangélico somente o Movimento Negro Evangélico se manifestou publicamente. As igrejas cristãs, evangélicas e católica se calaram. Estes testemunhos fazem com que o diálogo entre as igrejas evangélicas e o Movimento Negro seja muito difícil. Os negros e negras cristãos são vistos com desconfiança pelos militantes, mesmo os que são do chamado movimento negro evangélico, pois são rotulados como traidores da história e das tradições africanas, por estarem em um espaço branco e eurocêntrico. Somado a isso, o fato de que no Brasil um número significativo de membros das igrejas evangélicas é oriundo da umbanda e do candomblé e após sua conversão assumem uma postura de total rejeição a qualquer símbolo ou referenciais africanos, relacionando-os as religiões de matriz africanas.



Meu povo foi destruído por falta de conhecimento.

Oséias 4:6


No ano de 2001 o então presidente Lula assinou uma lei que incluiu no currículo oficial da rede de ensino brasileira a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, uma antiga reivindicação do Movimento Negro Brasileiro. Depois da promulgação da Lei surgiram alguns desafios um deles foi a resistência de parte dos profissionais da Educação que não viam relevância na implementação desta disciplina, o que foi resolvido pela própria obrigatoriedade desta. Outro desafio, e talvez o mais complicado, foi a falta de pessoal qualificado para disciplina, uma vez que as universidades brasileiras não oferecem nos seus currículos, tanto nas licenciaturas quanto no bacharelado, disciplinas que qualifiquem profissionais para ministrar História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Este cenário deve mudar em poucos anos com os primeiros concursos abertos nas universidades para professores de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, porém, sem tempo a perder, mais uma vez o Movimento Negro se fez presente. Organizou cursos de pós-graduação e extensão em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana para qualificar os profissionais de educação para ocuparem as vagas abertas para esta disciplina.


E nos cursos de Teologia? Em uma rápida pesquisa em algumas importantes faculdades e universidades de Teologia, verifica-se que não há disciplinas sobre a questão étnico-racial nos programas, nem mesmo tópicos especiais que façam com que os/as alunos/as se familiarizem com as questões ligadas a História e Cultura Africana e Afro-brasileira. Há uma preocupação com a cultura em um sentido mais amplo, generalizante, quase superficial, sem discutir ou pensar em estratégias de combate e superação do racismo no Brasil. Talvez uma forma de modificar este cenário fosse adotar estratégias semelhantes as do Movimento Negro, reunir pessoas qualificadas e com conhecimentos sobre a discussão dentro e fora do espaço eclesiástico para formar grupos de trabalho com duas frentes: sensibilização de diretores/as dos seminários e cursos de Teologia e lideranças para a relevância da temática e; preparar cursos que qualifiquem os profissionais de educação nos seminários e escola dominical.






[1] Rolf Malungo de Souza é membro da Igreja Metodista do Brasil e doutor em Antropologia, pesquisa gênero masculino e relações raciais, tendo publicado livros e artigos sobre o tema.


[2] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).



[4] Um dos mais conhecidos militantes do Movimento Negro no Brasil, Abdias Nascimento, saiu do Brasil por ser um militante e discutir a questão racial durante a ditadura militar


[5] Medeiros, idem.


[6] É claro que no Brasil há injustiças com os pobres, mulheres, etc., mas quanto estes são negros, as injustiças se agravam.


[7] http://www.sangari.com/mapadaviolencia/


[8] http://www.ucamcesec.com.br/


[9] Estes setores são compostos por parte pessoas eminentes de academia brasileira, como antropólogos, sociólogos, geógrafos e importantes jornalistas das mais poderosas redes de TV brasileiras, alguns que fizeram suas carreiras justamente discutindo a questão racial. Há também deputados e senadores de partidores de direita, que alias entram na justiça para barrar qualquer decisão que tente criar mecanismos que tentem diminuir as desigualdades ente negros/as e brancos/as, as cotas raciais, por exemplo.


LA REALIDAD DEL RACISMO HOY EN AMERICA LATINA Y EL CARIBE Y SUS DESAFIOS A NUESTRAS IGLESIAS Y ORGANISMOS ECUMENICOS.  CONFERENCIA DEL CMI EN HERMANDAD CON EL CLAI. NICARAGUA, JUNIO 22-25 DEL 2011