Por João Wesley Dornellas
Com extrema pontualidade, foi dada a partida pela conquista do poder em nossa Igreja. Concílios locais estão sendo convocados para eleger delegados aos concílios regionais e escolher candidatos a delegados ao Concílio Geral, que serão eleitos no final deste ano nos concílios regionais. O Concílio Geral reunir-se-á somente no ano de 2011. Os leigos constituem metade do Concílio Geral e seus votos são muito importantes.
No passado, do 2º Concílio Geral, em 1934, ao 11º, em 1978, o critério de eleição dos delegados era muito democrático, isto é, leigos elegiam os delegados leigos e os clérigos, por sua vez, elegiam os delegados clérigos. Sem aprovação do Concílio Geral de 1974, que não estudou nem discutiu o assunto, os Cânones, no entanto, por esquecimento ou por incompetência da comissão de revisão do texto e preparação para a impressão, e a complacência dos bispos, cancelou o parágrafo da lei que obrigava a duas eleições distintas. Como delegado leigo àquele Concílio Geral, tenho plena convicção de que houve má fé na retirada da lei de um dispositivo altamente democrático, retirada essa que, ao lado de outros fatores, tem contribuído para a extrema politização e luta de interesses que têm ocorrido nas últimas eleições episcopais.
Explico porquê. Pela imensa maioria que detêm no plenário dos concílios regionais, são os clérigos que acabam tendo o poder de compor a delegação ao Geral. Os leigos são absoluta minoria. Na hora da votação, é claro que os clérigos preferem eleger aquele tipo de leigo mais suscetível de seguir desejos ou imposições dos clérigos. Ou seja, aquele tipo de leigo que o Bispo Paulo Ayres já chamou, em artigo, de “leigos clericalizados”.
Os próprios sistemas de escolha muito antecipada de candidatos a delegados leigos, com candidatos de todas as igrejas locais, acabam facilitando a cooptação de leigos para dar lastro às pretensões dos clérigos. Ou seja, a representação leiga no Geral, embora legal, não é autêntica e nem representativa do laicato da Igreja.
No quinquênio 1965-1970, a função episcopal passou por séria crise, que culminou no fechamento da Faculdade de Teologia. Dos membros do Colégio Episcopal, dois haviam sido reitores dela. O próprio Concílio Geral Extraordinário, reunido em setembro daquele ano, acabou não resolvendo bem as coisas. Já em função da escolha de Dom Hélder Câmara para paraninfo dos formandos no ano de 1967, que os bispos não engoliram, o próprio ecumenismo da Igreja Metodista foi quase a knock-out, o que acabou acontecendo em Aracruz em 2006.
Motivado por diversos problemas causados especialmente pelos bispos (pela primeira vez em nossa história um bispo sofreu processo disciplinar), o Concílio Geral de 1970, que só acabou em 1971, reformou a Constituição e reduziu, em muito, os poderes episcopais, que tiveram que dividir com os leigos em Conselhos Gerais. É claro que os bispos não gostaram disto nem um pouco. E começaram a sua luta pela reconquista dos poderes perdidos. Na edição do Expositor Cristão da segunda quinzena de junho de 1981, os bispos deram o seu grito pela retomada do poder. Na realidade, pela boca torta, deformada pelo uso do cachimbo, como diz a sabedoria popular, eles não perderam tanto poder assim mas o queriam todo, sem repartir com ninguém.
A reprodução da 1ª página do “Expositor”, em que os bispos vestem a fantasia de time de futebol, mostra uma manchete que reproduz, de maneira muito criativa, o teor das entrevistas do miolo. Os bispos da foto são Paulo Ayres (1º R.E.), o goleiro, Messias Andrino (5ª), Sadi Machado (2ª), , Richard Canfield (6ª), Moacyr Louzada (4ª) e Nelson Luiz Campos Leite (3ª). Só no Concílio Geral de 1987 a Constituição foi reformada, extinta a administração por Conselhos e os bispos retomaram o poder total.
Isto é história e, como os órgãos da Igreja, ou seja, o Expositor Cristão e o site da Igreja, não discutem a questão, o JORNAL DA VILA, com o lastro de 1425 edições e quase 30 anos de atividades, abre a discussão sobre os problemas do episcopado.
O Expositor deste mês traz dois artigos a respeito do assunto. Um deles, de autoria do Bispo Honorário Nelson Luiz Campos Leite, cujo título é “Não nos deixes cair em tentação”.
Sobre a eleição de delegados ao Geral, o Bispo Nelson nos diz no artigo que “ela tem levado em conta os objetivos,a as aspirações individuais e de grupos. Infelizmente, o foco de maior atenção e atração é o da eleição episcopal”. Ele lamenta no artigo que o último Geral, em face de tantos anseios por mudança, expressos logo depois das eleições, não tenha tomado providências para criar “uma forma mais clã, transparente, justa e coerente com os princípios e objetivos do Evangelho e da Igreja Metodista”.
Ele se pergunta, um pouco ironicamente: “Isto tem ocorrido? Você crê na veracidade e sinceridade do desenvolvimento desse padrão numa eleição episcopal? Nós, que participamos do último Concílio e da última eleição, temos a consciência de que o critério estabelecido pelos Cânones foi realizado fielmente?”. O Bispo Nelson acha que há até delegados que cumprem o seu dever mas ele pergunta: “mas será maioria?”.
O Bispo faz uma série de sugestões, entre as quais a de orar como no título, “porque há muita ´tentação´ nesse processo de eleição”. Ele chega até a sugerir mudança na lei, voltando às eleições regionais”, estipuladas nos Cânones de 1971. Aquela decisão foi realmente um “castigo” aos bispos, cujas escolhas, no nível regional, representaram, mesmo simbolicamente,uma redução do seu poder e da sua força. Trouxe, contudo, o problema da grande regionalização da Igreja, dividida entre as diversas igrejas (Regiões), cada uma seguindo as idéias de seus bispos. A Igreja, por mais tentativas através dos Conselhos Gerais, acabou perdendo um pouco de sua conexionalidade.
O outro artigo sobre o assunto no Expositor de junho é do Bispo Luiz Vergílio da Rosa, da 2ª Região, que tem o título de “Considerações sobre o Episcopado”. Reafirmando que o bispo tem realmente poder, ele cita João Wesley, que nunca foi bispo e não reconhecia ao episcopado como válido, preferindo o termo superintendente, que “preconizava, no santo ministério da Palavra, há que ter o Dom, há que ter a Graça e há que ter os Frutos”.
Ele menciona o filósofo Michael Foulcaut, que dizia que “o problema não é o poder em si, mas a forma como este é exercido”.
Para o Bispo Luiz Vergílio, “a visão ideológica do poder, interposta em nosso contexto social,, tem sido uma das responsáveis pelo esvaziamento do carisma de serviço, na medida em que o prestígio da função está diretamente ligado a uma provável concentração de poder individual que alguém passa a possuir, com direito à concessão dos possíveis privilégios institucionais dele decorrentes”.
A hora é crítica na vida de nossa Igreja Metodista. São crises em cima de crises. Nossa identidade de doutrina e prática está indo para o brejo. Cada Região é uma igrejinha e tem o seu próprio “Papa”, com todo o poder e força. A opinião pública da Igreja não é ouvida e nem dispõe de meios de se expressar. Uma das melhores invenções do Metodismo, a Escola Dominical, apesar dos comentários de Frei Beto nesta edição (de 21 de junho de 2009 - Ano XXIX - Nº 1425) está em crise. Nós, que fomos pioneiros no Brasil na produção de material de estudo na Escola Domnical, nem mais revistas de escola dominical nós temos hoje. As últimas produzidas tiveram os exemplares embargados, há quase um ano (8 de julho de 2008), na Justiça. Ninguém pode sequer imaginar quando o problema será solucionado.
Nas diversas regiões, há igrejinhas também. O neo-pentecostalismo já invadiu a grande maioria delas. Doutrinas estranhas às nossas estão sendo pregadas em todo canto.. Muitos pastores, além de batizarem por imersão, não batizam crianças. Livros quase não são mais publicados. Os Sermões de Wesley estão esgotados há muitos anos. Muito poucos pastores os conhecem. Nesse sistema de poder que temos, há muitos culpados. Quase todo o mundo acha, e com certa razão, que a culpa é dos bispos. Tenho certeza de que não é só deles mas de nós todos, porque temos enfiado, como avestruzes, a nossa cabeça na areia. Kyrie Eleison!
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Fonte: http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricaocolunas.asp?Numero=1641
Com extrema pontualidade, foi dada a partida pela conquista do poder em nossa Igreja. Concílios locais estão sendo convocados para eleger delegados aos concílios regionais e escolher candidatos a delegados ao Concílio Geral, que serão eleitos no final deste ano nos concílios regionais. O Concílio Geral reunir-se-á somente no ano de 2011. Os leigos constituem metade do Concílio Geral e seus votos são muito importantes.
No passado, do 2º Concílio Geral, em 1934, ao 11º, em 1978, o critério de eleição dos delegados era muito democrático, isto é, leigos elegiam os delegados leigos e os clérigos, por sua vez, elegiam os delegados clérigos. Sem aprovação do Concílio Geral de 1974, que não estudou nem discutiu o assunto, os Cânones, no entanto, por esquecimento ou por incompetência da comissão de revisão do texto e preparação para a impressão, e a complacência dos bispos, cancelou o parágrafo da lei que obrigava a duas eleições distintas. Como delegado leigo àquele Concílio Geral, tenho plena convicção de que houve má fé na retirada da lei de um dispositivo altamente democrático, retirada essa que, ao lado de outros fatores, tem contribuído para a extrema politização e luta de interesses que têm ocorrido nas últimas eleições episcopais.
Explico porquê. Pela imensa maioria que detêm no plenário dos concílios regionais, são os clérigos que acabam tendo o poder de compor a delegação ao Geral. Os leigos são absoluta minoria. Na hora da votação, é claro que os clérigos preferem eleger aquele tipo de leigo mais suscetível de seguir desejos ou imposições dos clérigos. Ou seja, aquele tipo de leigo que o Bispo Paulo Ayres já chamou, em artigo, de “leigos clericalizados”.
Os próprios sistemas de escolha muito antecipada de candidatos a delegados leigos, com candidatos de todas as igrejas locais, acabam facilitando a cooptação de leigos para dar lastro às pretensões dos clérigos. Ou seja, a representação leiga no Geral, embora legal, não é autêntica e nem representativa do laicato da Igreja.
No quinquênio 1965-1970, a função episcopal passou por séria crise, que culminou no fechamento da Faculdade de Teologia. Dos membros do Colégio Episcopal, dois haviam sido reitores dela. O próprio Concílio Geral Extraordinário, reunido em setembro daquele ano, acabou não resolvendo bem as coisas. Já em função da escolha de Dom Hélder Câmara para paraninfo dos formandos no ano de 1967, que os bispos não engoliram, o próprio ecumenismo da Igreja Metodista foi quase a knock-out, o que acabou acontecendo em Aracruz em 2006.
Motivado por diversos problemas causados especialmente pelos bispos (pela primeira vez em nossa história um bispo sofreu processo disciplinar), o Concílio Geral de 1970, que só acabou em 1971, reformou a Constituição e reduziu, em muito, os poderes episcopais, que tiveram que dividir com os leigos em Conselhos Gerais. É claro que os bispos não gostaram disto nem um pouco. E começaram a sua luta pela reconquista dos poderes perdidos. Na edição do Expositor Cristão da segunda quinzena de junho de 1981, os bispos deram o seu grito pela retomada do poder. Na realidade, pela boca torta, deformada pelo uso do cachimbo, como diz a sabedoria popular, eles não perderam tanto poder assim mas o queriam todo, sem repartir com ninguém.
A reprodução da 1ª página do “Expositor”, em que os bispos vestem a fantasia de time de futebol, mostra uma manchete que reproduz, de maneira muito criativa, o teor das entrevistas do miolo. Os bispos da foto são Paulo Ayres (1º R.E.), o goleiro, Messias Andrino (5ª), Sadi Machado (2ª), , Richard Canfield (6ª), Moacyr Louzada (4ª) e Nelson Luiz Campos Leite (3ª). Só no Concílio Geral de 1987 a Constituição foi reformada, extinta a administração por Conselhos e os bispos retomaram o poder total.
Isto é história e, como os órgãos da Igreja, ou seja, o Expositor Cristão e o site da Igreja, não discutem a questão, o JORNAL DA VILA, com o lastro de 1425 edições e quase 30 anos de atividades, abre a discussão sobre os problemas do episcopado.
O Expositor deste mês traz dois artigos a respeito do assunto. Um deles, de autoria do Bispo Honorário Nelson Luiz Campos Leite, cujo título é “Não nos deixes cair em tentação”.
Sobre a eleição de delegados ao Geral, o Bispo Nelson nos diz no artigo que “ela tem levado em conta os objetivos,a as aspirações individuais e de grupos. Infelizmente, o foco de maior atenção e atração é o da eleição episcopal”. Ele lamenta no artigo que o último Geral, em face de tantos anseios por mudança, expressos logo depois das eleições, não tenha tomado providências para criar “uma forma mais clã, transparente, justa e coerente com os princípios e objetivos do Evangelho e da Igreja Metodista”.
Ele se pergunta, um pouco ironicamente: “Isto tem ocorrido? Você crê na veracidade e sinceridade do desenvolvimento desse padrão numa eleição episcopal? Nós, que participamos do último Concílio e da última eleição, temos a consciência de que o critério estabelecido pelos Cânones foi realizado fielmente?”. O Bispo Nelson acha que há até delegados que cumprem o seu dever mas ele pergunta: “mas será maioria?”.
O Bispo faz uma série de sugestões, entre as quais a de orar como no título, “porque há muita ´tentação´ nesse processo de eleição”. Ele chega até a sugerir mudança na lei, voltando às eleições regionais”, estipuladas nos Cânones de 1971. Aquela decisão foi realmente um “castigo” aos bispos, cujas escolhas, no nível regional, representaram, mesmo simbolicamente,uma redução do seu poder e da sua força. Trouxe, contudo, o problema da grande regionalização da Igreja, dividida entre as diversas igrejas (Regiões), cada uma seguindo as idéias de seus bispos. A Igreja, por mais tentativas através dos Conselhos Gerais, acabou perdendo um pouco de sua conexionalidade.
O outro artigo sobre o assunto no Expositor de junho é do Bispo Luiz Vergílio da Rosa, da 2ª Região, que tem o título de “Considerações sobre o Episcopado”. Reafirmando que o bispo tem realmente poder, ele cita João Wesley, que nunca foi bispo e não reconhecia ao episcopado como válido, preferindo o termo superintendente, que “preconizava, no santo ministério da Palavra, há que ter o Dom, há que ter a Graça e há que ter os Frutos”.
Ele menciona o filósofo Michael Foulcaut, que dizia que “o problema não é o poder em si, mas a forma como este é exercido”.
Para o Bispo Luiz Vergílio, “a visão ideológica do poder, interposta em nosso contexto social,, tem sido uma das responsáveis pelo esvaziamento do carisma de serviço, na medida em que o prestígio da função está diretamente ligado a uma provável concentração de poder individual que alguém passa a possuir, com direito à concessão dos possíveis privilégios institucionais dele decorrentes”.
A hora é crítica na vida de nossa Igreja Metodista. São crises em cima de crises. Nossa identidade de doutrina e prática está indo para o brejo. Cada Região é uma igrejinha e tem o seu próprio “Papa”, com todo o poder e força. A opinião pública da Igreja não é ouvida e nem dispõe de meios de se expressar. Uma das melhores invenções do Metodismo, a Escola Dominical, apesar dos comentários de Frei Beto nesta edição (de 21 de junho de 2009 - Ano XXIX - Nº 1425) está em crise. Nós, que fomos pioneiros no Brasil na produção de material de estudo na Escola Domnical, nem mais revistas de escola dominical nós temos hoje. As últimas produzidas tiveram os exemplares embargados, há quase um ano (8 de julho de 2008), na Justiça. Ninguém pode sequer imaginar quando o problema será solucionado.
Nas diversas regiões, há igrejinhas também. O neo-pentecostalismo já invadiu a grande maioria delas. Doutrinas estranhas às nossas estão sendo pregadas em todo canto.. Muitos pastores, além de batizarem por imersão, não batizam crianças. Livros quase não são mais publicados. Os Sermões de Wesley estão esgotados há muitos anos. Muito poucos pastores os conhecem. Nesse sistema de poder que temos, há muitos culpados. Quase todo o mundo acha, e com certa razão, que a culpa é dos bispos. Tenho certeza de que não é só deles mas de nós todos, porque temos enfiado, como avestruzes, a nossa cabeça na areia. Kyrie Eleison!
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Fonte: http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricaocolunas.asp?Numero=1641
Um comentário:
Irmão,
parabéns pelo blog. Temos o mesmo propósito. Visite o meu blog http://brasilmetodista.blogspot.com/
Fica com Deus,
Mary
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