Bispo Josué Adam Lazier
Desta forma, indicamos alguns aspectos que compreendem a vida de uma igreja de resistência:
1. Resistir à sociedade desumana e injusta. O livro de Apocalipse conclama o povo de Deus a resistir e lutar. A mensagem de João quer despertar a fé e a esperança do povo de Deus em meio a muitas lutas e perseguições. Trata-se, portanto, de um livro atual, pois também vivemos num mundo opressor e gerador de morte. Um mundo onde a injustiça e a morte têm mais força que a Justiça e a Vida. Hoje também há muitos “impérios” que tentam impedir o povo de Deus viver e celebrar a vida. Mas vale a pena resistir e lutar acreditando que a sociedade pode ser transformada, pelo testemunho e pelo serviço cristão. Esta esperança deve levar nossas igrejas a uma ação mais concreta, consciente e comprometida com a justiça do Reino de Deus. O futuro depende da maneira como nós cristãos encaramos as lutas da vida, os problemas que surgem e os movimentos que atentam contra esta vida que é dom de Deus. Resistir e lutar. Esta foi a mensagem do Apocalipse para os cristãos do século I da nossa era. Esta é a mensagem para nós hoje. A Igreja de Cristo tem a força da fé e da esperança, o poder do amor e da paz, a presença constante do Espírito Santo e os valores do Reino de Deus que dão a sustentação para que o “ser sal da terra e luz do mundo” se concretize. Quando a Igreja perder esta dimensão ela deixará de ter o seu lugar como comunidade missionária.
A relação entre fé e vida cristã deve ser fortalecida. A igreja não é meramente um ajuntamento de pessoas que encontraram pontos comuns, mas sim a comunhão de entre aqueles e aquelas que alcançados pela graça de Deus aprenderam a importância e o valor da fé cristã e a convicção de que esta fé deve ser agente de transformação na vida pessoal, familiar, social, profissional, no exercício da cidadania e na prática dos mais altos valores do Reino de Deus. Os metodistas afirmam em sua doutrina social a “responsabilidade cristã pelo bem-estar integral do ser humano como decorrente de sua fidelidade à Palavra de Deus expressa nas Escrituras do Antigo Testamento e Novo Testamento”. Neste sentido, a Igreja de Cristo deve promover, além do cuidado pastoral, os direitos humanos, pois a vida é um dom de Deus.
3. Resistir aos movimentos neopentecostais. A Igreja é pentecostal, no sentido de que ela é movida pela ação e pela dinâmica do Espírito Santo de Deus. Mas ela não segue o curso dos movimentos denominados de neopentecostais, que apresentam eclesiologias, práticas ministeriais e ações pastorais que não combinam com a identidade doutrinária e a confessionalidade que fundamentam a organização da Igreja. Movimentos como G-12, pré-encontros, encontros e pós-encontros, onde impera o segredo e a promoção de conceitos doutrinários diferenciados daqueles que são confessados pela Igreja, são maléficos e divisionistas. Além destes, outras tendências que surgem como ondas que vêm e vão embora, mas que deixam marcas na vida daqueles/as que foram alcançados/as por tais práticas. Resistir é legitimar nossas doutrinas, nossos costumes, conservando assim a sã Palavra de Deus.
4. Resistir ao hasteamento de bandeirolas. O certo é que vivemos num país e num contexto latino-americano marcado pela dor, pela divisão, pela violência, pelo desamor, pelas injustiças, pela pobreza, pela mendicância, pela falta de diálogo, pela marginalização, pela discriminação, pela religiosidade que legitima o status-quo, pelo mercantilismo religioso, pela exacerbação da intolerância, pela dominação das drogas e dos traficantes, pela ditadura da corrupção, etc. Vamos, como Igreja, encontrar a força para levantar bem alto nossas bandeiras, sobretudo a bandeira da santidade bíblica, e deixarmos as bandeirolas, que não passam de disputas entre nós mesmos, de somenos importância para o Reino de Deus e para o momento atual da missão da Igreja em terras brasileiras e contexto latino-americano. Este é desafio do metodismo: “manter-se em constante avivamento, o qual quer dizer renovação interior, porém evitando cair nos meandros de um sentimentalismo infecundo e até psicopatológico. Manter seu entusiasmo sem desvinculá-lo do regime da inteligência e da cultura, ao mesmo tempo precavendo-se de um intelectualismo congelador. Prosseguir ardentemente seu labor de evangelização, sem trocá-lo por estratégias de ordem político-partidário e de táticas violentas, e acompanhando um intensificado trabalho pastoral, motivado pela dinâmica do amor, da justiça e do serviço. E em seu regime interior, mostrando como é possível governar e conviver sem imposições autocráticas nem demagogias desintegradoras”.
[1]
Reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a terra. Esta é nossa maior “bandeira”. A “santidade bíblica” como expressão básica da salvação, pela vivência da fé e das obras de piedade e misericórdia, continua a ser o desafio missionário do povo chamado metodista”.[2] Que a força do Evangelho, que mobilizou e impulsionou pregadores/as leigos/as e pastores/as, ao longo destes 265 anos, que levou a expandir o metodismo e a espalhar a semente do Evangelho e do Reino de Deus, continue a operar em nossos corações, “para que o mundo creia que Deus nos enviou” (João 17.21). Recordemos sempre que Deus nos chamou para abençoar e fazer discípulos em todas as nações (Mt 28.18-20), empunhemos as “bandeiras” do metodismo histórico e contemporâneo e ajudemos nosso povo a ser sal da terra e luz do mundo. Que esta resistência seja marcada pela esperança e pela “paz de Deus, que excede todo o entendimento” ( Fl 4.7), mas que guarda o nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus.
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