terça-feira, 6 de novembro de 2012

Duas manifestações metodistas sobre questões indígenas e das populações em risco - Márcio Monteiro Rocha

Duas manifestações metodistas sobre questões indígenas e das populações em risco  - Márcio Monteiro Rocha


Após a manifestação da revda.Maria Imaculada, o irmão Márcio Monteiro Rocha, do Projeto Luz e Vida: Missão Amazônia também teceu importantes considerações sobre o tema.


Graça e Paz,
Sem dúvida, a Cogeam e o Colégio Episcopal jamais fundamentariam os alicerces missionários da Igreja Metodista em ordem de importância. Eles estão elencados no PNM 2012-2016 assim como no PNM 2007-2011, com mínimas diferenças, seguindo outra metodologia. Nossa maior alegria é ver a Igreja Metodista mantendo ações missionárias sobre todos os seus alicerces.
Com uma observação mais atenciosa, percebemos que estes alicerces assumiram uma organização tal que são apresentados naturalmente em ordem de alerta ou de urgência, e não de importância. Concordamos que nem sempre o mais urgente é o mais importante e que nem sempre o mais importante é o mais urgente.
Quando se fala em ênfase missionária, procura-se acentuar a urgência da ação metodista sobre determinado alicerce, o que pressupõe a existência de alicerces menos urgentes. Quando se fala em prioridade missionária, procura-se determinar o alicerce que vem em primeiro lugar, o que pressupõe haver alicerces de menor prioridade. Quando se fala em alicerce, sem a urgência promovida pela ênfase ou sem o destaque promovido pela prioridade, tem-se apenas o alicerce missionário, sem maiores considerações.
Observe, por exemplo, que alicerces missionários como Missão e Comunicação e Missão e Educação Musical e Artística, receberam maior prioridade que o alicerce "Missão, Igreja e o Clamor dos Povos do Campo", isto é, pessoas que dependem da agricultura familiar, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, movimentos populares da terra, etc...
** 1. Evangelização e Expansão Missionária.
* 2. Missão, Igreja e Discipulado.
* 3. Missão, Igreja e Meio ambiente.
* 4. Missão, Igreja e o Clamor do Desafio Urbano.
** 5. Missão, Identidade e Confessionalidade.
** 6. Missão e Igreja Local (ministérios pastoral, leigos e leigas e diaconal)
*** 7. Missão e Renovação da Experiência Religiosa
*** 8. Missão e Comunicação
*** 9. Missão e Educação Musical e Artística
**** 10. Missão, Culto e Liturgia
*** 11. Missão e Educação (cristã e EBD, teológica e secular)
**** 12. Missão e Santidade
**** 13. Missão e Dimensão Pública (cidadania, política nacional e antidrogas)
*** 14. Missão e Ação Social
**** 15. Missão e Escatologia
**** 16. Missão, Igreja e o Clamor dos Povos do Campo (agricultura familiar, quilombolas, indígenas, ribeirinhos e movimentos populares da terra, etc.)
* Valores classificados como "Ênfases Missionárias"
** Valores classificados como "Ênfases Missionárias" e como "Prioridades"
*** Valores classificados como "Prioridades".
**** Valores classificados como "Alicerces" (Cada item da lista também é um alicerce missionário).
O que não é admissível, sob qualquer pretexto, é deixar de enfatizar ou priorizar o Clamor dos Povos do Campo com a mesma abrangência e dedicação com que as seis ênfases e as nove prioridades são discutidas no PNM 2012-2016, visto ser um plano didático de orientação para as ações missionárias da Igreja, envolvendo todo o povo chamado metodista.
Na coluna lateral do PNM 2012-2016 surgem perguntas aos leitores como: "Qual destes fundamentos missionários são mais emergentes em sua realidade local?", "Que área tem maior fragilidade?" e "Como equilibrar estas questões na elaboração do Plano para o próximo período eclesiástico"? Obviamente que, para este quadriênio, determina-se que cada igreja local administre os alicerces missionários segundo a sua realidade local. A pergunta que fazemos aqui é a seguinte: isto é realmente possível à igreja local em termos de transformação social, libertação e salvação, tendo conhecimento do potencial e limite da ação missionária na realidade da área rural?
Prosseguindo, não podemos enfatizar um alicerce como Missão, Igreja e o Clamor do Desafio Urbano em um Plano Nacional Missionário com uma vigência de quatro anos sem o fazer de igual modo em relação ao alicerce Missão, Igreja e o Clamor dos Povos do Campo, ainda mais quando a base de argumentação daquela ênfase é o dado estatístico de que 90% da população brasileira está localizada em áreas urbanas, gerando problemas na saúde, educação, transporte, meio ambiente, etc... Porventura, estes problemas não são parte integrante e a razão do Clamor dos Povos do Campo?
O motivo do nosso questionamento dá-se em função de não haver qualquer ênfase ou prioridade colocada sobre o Clamor dos Povos do Campo composta por pessoas da agricultura familiar, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, movimentos populares da terra, etc... que não dispõe de quase nenhum serviço digno de saúde, educação, transporte ou de qualquer presença significativa do Estado e onde a presença missionária evangélica é absolutamente incipiente e onde os poucos voluntários são recebidos como verdadeiros anjos enviados do céu.
Além do mais, quando se fala de empobrecidos, por exemplo, não se fala de indígenas, ribeirinhos e pessoas em situação de rua porque não fazem parte do cadastro único, que é a base de dados para a construção do mapa da pobreza, já que não são pessoas domiciliadas. Portanto, não se está deixando de enfatizar ou priorizar os 10% da população que está localizada em áreas rurais, mas um contingente estimado em milhares de pessoas que estão à margem da sociedade (o grifo é meu!).
Sabemos que há mais de 616.000 indígenas no Brasil distribuídos entre mais de 340 etnias, além de mais de 33.000 comunidades carentes somente na Amazônia brasileira com pouca ou nenhuma presença estatal ou eclesiástica. Há mais de cem etnias indígenas, no Brasil, sem presença missionária, e mais de cento e oitenta sem uma Igreja local entre eles.
Em termos mais específicos, há mais de dezessete mil comunidades ribeirinhas e indígenas sem nada do evangelho no Norte do nosso país, e falamos aqui apenas de pessoas domiciliadas, que aparecem no mapa da pobreza e que fazem parte dos 10% não enfatizados e não priorizados entre os alicerces missionários metodistas no PNM 2012-2016.
Depois da ampla discussão sobre o Clamor do Desafio Urbano, encontramos uma frase escrita como pouco ou quase nada se soubesse acerca do Clamor dos Povos do Campo: "Alertar sobre a urgente necessidade de análise dos aspectos que envolvem os Povos do Campo". E nada mais. ( o grifo é meu!)
Se deixássemos de colocar ênfase ou prioridade sobre o ensino bíblico acerca dos 10% que representam os dízimos a Deus ou se deixássemos de atribuir ênfase ou prioridade sobre os 10% da população economicamente dominante, logo sentiríamos que algo está errado em nosso planejamento. Longe de qualquer juízo de valor perguntamos: em uma perspectiva bíblica, teológica, pastoral, ética e cidadã esta falta de ênfase ou prioridade sobre os 10% da população que vive em áreas rurais é justa?
Resumindo na prática...
  1. A falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que maravilhosos empreendimentos missionários metodistas como o Barco-Hospital Missionário não tenha recursos financeiros suficientes para avançar além de algumas cidades satélites de Manaus, levando milhares de comunidades ribeirinhas e indígenas a esperar ainda mais para saber que dias melhores virão.
  2. A falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que extraordinários projetos metodistas como a Missão Maruwai, no extremo norte de Roraima, não disponha de todas as condições necessárias para atender aos clamores dos indígenas macuxis no tocante à educação,saúdetransporte e evangelização das comunidades vizinhas.
  3. A falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que as comunidades indígenas tukanas e tukanizadas como os dessanas e ticunas dos derredores de Manaus e Alto Rio Negro clamem pelo ingresso ao sistema de ensino, cursos profissionalizantes que contribuam para sua empregabilidade, condições mínimas de saúde, habitação e agricultura familiar em reservas ambientais.
  4. Finalizando, porém longe de esgotar o assunto, a falta de ênfase ou prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo contribui significativamente para que iniciativas Metodistas como a Missão Tapeporã não tenha a amplitude necessária para influir no fim do processo de extermínio, autoextermínio e suicídio coletivo de Guaranis-Kaiowá no Mato Grosso do Sul.
Damos Graças a Deus por haver atividades missionárias metodistas sobre todos os seus alicerces, mas questionamos a falta de ênfase e prioridade sobre o Clamor dos Povos do Campo no PNM 2012-2016. Primeiro porque as igrejas do campo não têm condições de atender à demanda de suas respectivas realidades locais sem intenso apoio da comunidade metodista como um todo. Segundo porque se trata de um Plano que orientará as ações missionárias metodistas de clérigos e leigos durante os próximos três anos. Terceiro, porque o PNM 2012-2016 se trata de uma estratégia missionária de suma importância amplamente fundamentada no Plano para a Vida e a Missão da Igreja, canonicamente doutrinário em termos de Vida e Missão.
Se a cristandade urbana, a começar pelas igrejas que estão em regiões mais ricas, não influírem sobre o desenvolvimento missionário do campo, levando consigo sua identidade e confessionalidade, mas também a consciência da necessidade de trabalhar junto às demais frentes missionárias, independentemente de suas denominações, oferecendo a nossa disponibilidade e voluntariedade às iniciativas das Organizações da Sociedade Civil, dos Estados e Municípios e, em casos específicos, até da marinha, exército e aeronáutica no que compete ao apoio a seres humanos em situação de vulnerabilidade, em um futuro próximo lamentaremos o fato de não termos sido mais determinados na execução dos nossos planos, estando em nós o poder fazê-lo. Podemos escolher ser fiéis a Deus e a sua Palavra ou fiéis a inércia religiosa que caracteriza os nossos dias.
"Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?" (Lc 18.7,8)
Em relação às Diretrizes Pastorais para a Ação Missionária Indigenista, há dois volumes apenas na biblioteca da Fateo e a irmã Renilda Santos possui um exemplar. Não existe exemplares a venda no momento. As edições estão esgotadas. Não tenho a versão online para enviar pelo e-mail, mas com a devida autorização fizemos uma cópia dele para você e aguardamos um endereço postal para que possamos enviá-la pelos Correios.
À Disposição
Um Grande Abraço!
Márcio Monteiro Rocha
Projeto Luz e Vida: Missão Amazônia

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