O perfeito amor lança fora todo o medo
Em maio de 2012 o material de divulgação da Primeira Parada LGBT de Maringá causou revolta e indignação na comunidade cristã e católica da cidade por retratar a Basílica Nossa Senhora da Glória (Catedral Menor) em seus cartazes de divulgação.
Em reuniões convocadas pelo arcebispo Anuar Battisti e por Luiz Modesto, organizador da Parada LGBT de Maringá, foram convidadas diversas pessoas de ambos os grupos, com a participação do rev.Robert Stephen Newnum convidado a mediar o encontro. Na ocasião, como fruto dos diálogos entre a comunidade católica e LGBT concluiu-se sobre a necessidade de que ambos os grupos devessem parar de demonizarem-se mutuamente e devessem impedir que a mídia continuasse a estimular a animosidade entre eles. Além do canal de diálogo estabelecido, a Igreja Católica decidiu pelo aprofundamento nos estudos e diálogos e passou a estudar a criação de uma Pastoral da Diversidade Sexual.
Todavia, como o recrudescimento dos ânimos ainda era uma realidade e que um pastor evangélico de Maringá convocava os fiéis a uma "guerra santa contra os gays" para a Marcha para Jesus de Maringá, realizada em 19 de maio de 2012, o rev.Robert Stephen Newnum e a esposa irmã Maria Newnum resolveram participar de ambas as marchas, tanto da Marcha Para Jesus quanto da Parada LGBT, com o objetivo de enfatizar o ministério salvífico e reconciliatório de Jesus e servir como exemplo de convivência pacífica e de ponte de diálogo. A participação do irmão e da irmã metodistas certamente chamou a atenção da mídia e repercutiu tanto na cidade quanto nacionalmente.
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A repercussão nos veículos jornalísticos veio a levantar dúvidas em pessoas que participam da comunidade da Igreja Metodista Central de Maringá e a convite do pastor titular da igreja, rev.Eliel Cordeiro Silvestre, a irmã Maria Newnum escreveu uma carta, enviada para o pastor titular da IMCM, para o Superintendente Distrital e para o bispo da 6ª Região, que agora reproduzimos abaixo.
O perfeito amor lança fora o medo: Carta à Igreja Metodista Central de Maringá
A/c: Rev. Eliel Cordeiro Silvestre
C/c: Rev. Cláudio Luiz Freire dos Santos, Superintendente do Distrito Noroeste
C/c: Revmo. Bispo João Carlos Lopes, Presidente da 6a R.E. e Vice-presidente do Colégio Episcopal, no exercício da Presidência
Em função da preocupação de alguns irmãos e irmãs metodistas com a minha saúde espiritual escrevo, primeiramente, para expressar minha gratidão por todo cuidado e solidariedade que eu e Steve recebemos de nossa amada igreja, do Rev. Eliel Cordeiro Silvestre e do SD Rev. Cláudio Luiz Freire dos Santos.
Algumas dessas preocupações decorrem da minha participação junto aos movimentos que atuam contra a violência e a favor dos direitos humanos. Dentre as últimas ações está o atendimento a um chamado do Sr. Luiz Modesto, representante da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT, para nos reunirmos junto com o Arcebispo Dom Anuar Battisti e conhecermos o mapa da violência decorrente da homofobia em Maringá e região.
Espantou-nos saber que, em muitos casos, os primeiros sinais da violência decorrentes da homofobia são deixados nos corpos e na alma dos adolescentes e jovens por pessoas das próprias famílias e todas elas, nos casos apresentados a nós, de famílias cristãs.
Em um ano foram 39 agressões (a última da artista plástica Elisa Riemer) e, dentre elas, 15 foram cometidas pelos pais, segundo dados do site Maringay, que registrou ainda 2 casos de suicídios, 12 tentativas de suicídio, 6 assassinatos de travestis e 45 adolescentes expulsos de casa. Segundo informações do Rev. Célio Camargo da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), alguns desses jovens são encontrados pelas ruas das cidades em estado lastimável de degradação humana. O Rev. Célio Camargo, ao que sabemos, é o único pastor que acolhe, na casa abrigo da ICM, alguns desses jovens, e os aproxima do amor e da graça de Jesus Cristo.
Diante desse quadro causou-nos tristeza e espanto saber da convocação de um pastor evangélico de Maringá para uma “guerra santa contra os gays”, antecedendo a primeira parada contra homofobia, popularmente chamada de “Parada Gay”, em Maringá. De imediato nos veio um conselho que sempre damos aos nossos alunos de teologia; diante de algo que você não sabe o que fazer pergunte: em meu lugar o que Jesus faria?
Nunca vimos na Bíblia Jesus tomando o lado do violento. Jesus sempre aparece defendendo os mais fracos, os mais pobres, os que não tinham voz. Assim, depois de orarmos a Deus, chegamos à conclusão que Jesus iria para a linha de frente da “guerra santa” e, caso houvesse qualquer tentativa de violência, sairia em defesa dos gays. Não nos restou alternativa, senão imitá-lo.
Evidentemente que nos lembramos ainda da orientação dos bispos e da bispa: “Ressaltamos que a Igreja não aceita a homofobia e abomina toda e qualquer perseguição à qualquer ser humano por conta do seu estilo de vida, da mesma forma que não podemos nos calar diante de qualquer situação que agrida a dignidade da vida.” (Pronunciamento do Colégio Episcopal sobre a PL 122/2006 - 2011).
Foi nesse sentido que concedi uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, reafirmando a minha crença de que a Igreja é imitadora do amor e da bondade de Jesus e não propagadora do ódio e da violência. Algo que, infelizmente, a imprensa ajuda a solidificar ao dar ênfase às manifestações decorrentes de ações isoladas de indivíduos cristãos.
Meus irmãos e irmãs, eu e Steve somos constantemente tentados a ficarmos reclusos em nosso lar, celebrando nossos cultos domésticos, bem à moda da família Wesley dos primórdios do século dezoito. Mas em nosso peito bate dois corações missionários que nos impulsionam para vermos o mundo, como via o fundador do metodismo, como uma grande paróquia. De fato nossa maior angústia é percebermos o quão pouco temos feito nessa grande paróquia onde há tantas vidas em sofrimento, em especial por causa do desamor de nós, os cristãos.
Enquanto Deus nos conceder saúde e graça, seguiremos sem medo das pessoas diferentes de nós, pois como diz 1 João 4.18, “o perfeito amor lança fora o medo”. Além disso, é mandamento de Jesus que amemos o próximo como a nós mesmos.
Compartilho com os irmãos e irmãs um texto que orienta a nossa caminhada de fé - Mateus 25.31-46. A cada vez que o lemos, encontramos novos sentidos e novos desafios que ainda temos pela frente.
Pedimos sempre que Deus nos ajude a nunca envergonharmos o nome da nossa amada Igreja Metodista, mas antes, revelá-la como ela é: uma comunidade missionária à serviço do povo.
Que a graça, o amor e a paz permaneçam com o Rev. Eliel Cordeiro, que tão cuidadosamente nos pastoreia e, com todos os irmãos e irmãs da amada Igreja Metodista Central de Maringá.
Maria Newnum – Maringá, 9 de setembro de 2012
Disponível - http://newnum.org/mblog/2012/10/17/o-perfeito-amor-lanca-fora-o-medo-carta-a-igreja-metodista-central-de-maringa/
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