Comentários à Carta Aberta do Revmo. José Carlos Peres (bispo da 3ª Região da Igreja Metodista) ao Governador Geraldo Alckmin.
Baixe aqui a carta escrita pelo revmo.José Carlos Peres: http://www.metodista.br/fateo/noticias/carta-do-bispo-peres-ao-governador-de-sp
"Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados." Provérbios 31.8-9
Gostaria de felicitar o revmo.José Carlos Peres, bispo da 3a.Região da Igreja Metodista, pelo pronunciamento contra a violência policial cometida contra a a população.
Todavia, lamento que este pronunciamento tenha se dado tão tardiamente. O pronunciamento foi feito apenas após a violência policial ter extrapolado e atingido indiscriminadamente toda a população, não apenas os manifestantes, como havia sido o caso das três primeiras manifestações, também reprimidas violentamente sem que os manifestantes tivessem provocado situações que desencadeassem a violência. Lamento que a carta aberta seja tardia e que o bispo não tenha percebido a justiça nas reinvindicações feitas nas manifestações. Pedido de justiça contra a opressão, corrupção e autoritarismo por parte dos governos federal, estaduais e municipais.
Também lamento que a Igreja Metodista, outrora engajada nas lutas sociais e na defesa das populações desfavorecidas contra os que detém o capital e o aparato estatal esteja sistematicamente desmobilizado suas pastorais e ministérios voltados à defesa dos direitos humanos.
Lamento que Regiões Eclesiásticas estejam extinguindo suas pastorais indigenistas, mesmo com uma crise sem precedentes nas populações indígenas, cujas terras são cobiçadas por ruralistas e grileiros. Lamento que as pastorais indigenistas que não estão sendo extintas recebem tão pouco apoio institucional que sua atuação fica restrita e impossibilitada. Lamento que as pastorais da Terra da Igreja Metodista, que em um passado recente caminhavam em busca da reforma agrária sejam atualmente mera lembrança e história.
Lamento que algumas regiões eclesiásticas estejam desmobilizando os ministérios de Ações Afirmativas Afrodescendentes, muito embora a valorização da cultura africana e sua influência na cultura brasileira e evangélica seja cada dia mais reconhecida e muito embora a luta contra a desigualdade social no Brasil esteja apenas começando.
Lamento o fato de que a cada dia acontecem mais e mais ataques físicos contra pessoas homossexuais e a igreja repete o ato de Pilatos de lavar as mãos e dizer que "ama o pecador mas abomina o pecado". Muito embora seu discuros seja o do amor, seus atos são os de abominar aquele cuja orientação não seja compreensível pela maioria da população e a igreja fecha suas portas baseando-se em uma hermenêutica cristalizada em conceitos de meados do século passado, desta forma excluindo, perseguindo e alijando da vida denominacional as vozes que clamam por uma abertura nos estudos bíblicos para a compreensão das novas interpretações bíblicas. Interpretações tão novas como um dia o metodismo foi novo, como um dia o protestantismo foi novo, como um dia o cristianismo foi novo.
Lamento que uma igreja surgida entre mineiros e operários, cuja história na Inglaterra está ligada ao surgimento dos sindicatos, à luta contra a escravidão, à reforma penitenciária e nos Estados Unidos hoje apóia a revisão da legislação injusta contra os imigrantes, a integração da população homossexual na vida e ministério da igreja e contra a influência das corporações tenha, no Brasil, tornado-se tão burguesa e encastelada que simplesmente ignora e desconhece a luta e o labor diário de sua população.
Fabio Martelozzo Mendes
membro da I.M. na Lapa - 3ª Região
3 comentários:
Caro Fabio, sejamos honestos. O neopietismo da Igreja Metodista a afastou totalmente das causas populares. Povo agora é número para discipulado, não é mais alvo e agente da Missão. Aliás, os metodistas adotaram o jargão "missões", tal e qual os batistas, numa dimensão exclusivamente proselitistas. Por outro lado, avaliando sinceramente nosso patrono João Wesley, confesso que tenho dúvidas se ele apoiaria manifestações desse porte. Uma das coisas que mais ouvi sobre o metodismo inglês é que ele impediu uma revolta "sangrenta" na Inglaterra. Não sei até que ponto isso é fato, mas sei que Wesley ficou contra os metodistas americanos que apoiavam a independência dos Estados Unidos, chamando-os de traidores da coroa. Até o fim da vida ele foi Anglicano, e isso significava obediência ao rei. Sim, Wesley era monarquista. Foi contra a escravatura, como toda a Inglaterra já o era no século XVIII, porque não atendia aos interesses comerciais ingleses (tanto que no tratado de 1850 com Pedro II, fiscalizaram a costa brasileira à procura de navios negreiros). Em suma, o metodismo não é de fato uma pureza esquerdista, nem tão popular assim. Adaptamos a novas realidades e procuramos atualizar sua essência, mas na atual conjuntura pessoas que pensam como nós remam contra a maré. Apenas um desabafo...
MArcelo CArneiro - Metodista por amor
Olá Marcelo Carneiro. Sobre a questão da Igreja Metodista no Brasil, não há mesmo o que acrescentar. Missão virou números, não importa que esses números não façam a menor diferença no mundo.
Sobre Wesley e o metodismo ingês. Sim. Wesley era conservador. Mas isso não o impediu de em certos momentos posicionar-se em favor do povo em diversas situações, como em sua obstinada oposição ao acúmulo de riquezas, além da sua posição expressa nos "Pensamentos sobre a atual falta de alimentos". Wesley abriu nas sociedades metodistas diversos fundos de empréstimos para os pobres, que nunca conseguiam recursos nos bancos comerciais. Abriu enfermarias e farmácias para os pobres que não tinham recursos para pagar por tratamento médico e também abriu escolas para pobres que não tinham dinheiro, já que na época não havia ensino gratuito e universal na Inglaterra.
Além do mais, não podemos confundir "movimento metodista" e depois "igreja metodista" com John Wesley. Afinal, de uma forma ou de outra o movimento metodista também foi responsável por avanços sociais, inclusive no processo de formação de sindicatos na Inglaterra e também na formação do partido trabalhista.
Concordo com esses aspectos, Fabio. Realmente Wesley e os metodistas do século XVII implementaram muitos programas fantásticos, a partir da "Fundição". ME referia ao apoio em grandes manifestações populares que questionam o governo.
Mesmo assim, sabendo de nossa vocação junto aos pobres, devemos pensar neles...
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