No dia 11 de dezembro de 1974, eu
fui convidado a testemunhar perante um comitê do Congresso dos EUA sobre minhas
experiências nas salas de tortura do Exercito Brasileiro. Neste testemunho
entre muitas outras coisas eu disse o seguinte:
“A
tortura embrutece e desumanize não apenas aqueles que são torturados mas
aqueles que torturam, aqueles que são intimidados pela tortura de outros, e
aqueles que se esforçam para ignorar o fato que tortura existe.
“A tortura desumaniza aqueles que são torturados os tratando como
menos-que-umano e, em muitos casos, por os forçar a sentir sentimentos
menos-que-umano e frequentemente a praticar atos menos-que-umano. Se uma pessoa é obrigada a trair amigos,
companheiros e família pela tortura, como acontece com muitos, o dano
psicológico e espiritual poderá ser irremediável, sem falar dos danos físicos
que frequentemente resultam.
“A tortura desumaniza aqueles que torturam. Além da psicopatologia induzida e encorajada
naqueles que praticam a tortura, pessoas e governos que torturam, por qualquer
motivo, traem o contrato social com seus semelhantes e efetivamente se retiram
da comunidade humana.
“A tortura desumaniza aqueles que são intimidados por ela. Líderes religiosos que deixam de proclamar o
Evangelho em sua plenitude por medo; estudantes que deixam de fazer a busca da
verdade por medo de represálias; trabalhadores que, por medo de repressão, não
se permitem a organizar para defender seus interesses; políticos que somente
podem carimbar propostas autoritárias de regimes ditatoriais, por medo das
conseqüências de ações de consciência—todos estes, e, de fato, toda a
comunidade humana participa na desumanização coletiva causada pela tortura.
“A tortura desumaniza aqueles que tentam ignorar sua existência, dizendo
que é ‘assunto interno,’ ou uma fase passageira. Tal indiferença resseca as fontes de simpatia
humana e compaixão e quebra o contrato social da comunidade mundial de estar
preocupada com toda a família humana.
Civilização e liberdade não são construídas e nem podem ser mantidas por
aqueles que adotam a postura de indiferença.”
Fred Morris
Rev.Fred
Morris foi missionário da Junta de Missões Globais da Igreja Metodista
Unida no Brasil entre 1969 e 1974 e foi o primeiro cidadão
norte-americano a ser torturado pelo regime militar brasileiro. Em 2008
ele foi julgado e anistiado pelo governo brasileiro.
Em 30 de setembro de 1974 o rev.Fred Morris foi sequestrado pelo
Exército Brasileiro. Em 29 de setembro de 2013 ele pregou este sermão na Igreja Metodista Unida Shandon.
Na presença de meus inimigos: http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2013/10/na-presenca-de-meus-inimigos.html
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