segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Movimento dos Metodistas Confessantes




Quinta-feira, 24 de setembro de 2009



Reverendíssimos e reverendíssima bispos e bispa.



Somos um grupo formado por aproximadamente cento e cinquenta cristãos metodistas, leigos e leigas, clérigos e clérigas, de todas as Regiões Eclesiásticas e Missionárias, unidos no propósito comum de refletirmos sobre nosso papel como metodistas diante dos desafios espirituais e políticos que se nos apresentam nos dias atuais.

Reunimo-nos através da troca de mensagens eletrônicas a respeito das mais recentes questões que desafiam o metodismo brasileiro e a partir de então analisamos a atuação da Igreja Metodista em todas as áreas, tanto em ambiente eletrônico (internet) como presencialmente, com o objetivo de valorizarmos a herança wesleyana e a prática metodista histórica em nosso seio.

Através do documento anexo, chamado “Movimento dos Metodistas Confessantes – Identidade Confessante: Consolidar, Avançar e Agir” apresentamos os principais pontos que norteiam nossa reflexão e nossa atuação.

Colocamo-nos à disposição dos bispos e bispa e continuamente oramos pelo bem de todos nós e pelo bem da Igreja Metodista.
Rede Metodista Confessante.


Movimento dos Metodistas Confessantes

Identidade Confessante: Consolidar, Avançar e Agir.

1. Valorizando a Identidade Metodista.

O movimento de metodistas organizado na Rede Metodista Confessante é um desafio imenso, primeiramente porque tomamos de empréstimo o testemunho da Igreja Confessante, movimento dos e das que não se dobraram à aquiescência da Igreja Evangélica da Alemanha ao nazismo. (Saiba mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Confessante). Portanto, o principal critério de participação nesse movimento brasileiro deve ser o da disposição ao testemunho.

Dar testemunho em tempos de autoritarismo e de recusa à transparência, implica declarar que “Deus é Luz e não há nEle treva alguma”. Implica assumir o princípio republicano de que tudo o que não for compatível com a luz do dia atenta contra o interesse geral. Implica denunciar o obscurantismo não apenas como fanatismo, sua face mais declarada e menos perigosa, mas, principalmente, como a proibição do dissenso. Na afirmação do/a outro/a; do dissenso como necessário à saúde do corpo eclesial e na recusa a reduzir o/a outro/a a espelho de nós mesmos; firmamos nossa unidade.

Nisso cabe a expressão do bispo brasileiro Paulo Ayres Mattos: “A noção de equilíbrio, concebida pelo metodismo histórico, nada tem a ver com a balança com os pesos justapostos. Tem a ver com o trapézio e a corda do circo – o equilíbrio não como ponto de descanso, de segurança, mas de tensionamento permanente e contínuo, de movimento e criatividade”.

No sermão 120, John Wesley deixa evidente esse “tensionamento” quando pergunta:” Mas será que somos verdadeiros com relação aos nossos próprios princípios? Por enquanto não usamos fogo ou varas. Não perseguimos até à morte aqueles que não concordam com nossas opiniões. Graças a Deus, as leis do nosso país não permitem isso; (...)”. Fica aí evidente o reconhecimento de Wesley sobre o caráter (ou falta) de certos cristãos metodistas e a indicação que ele não jogava as coisas para baixo do tapete eclesial.

Outro desafio desse Movimento Confessante deve-se à nossa proposta de voltar ao “útero” do metodismo histórico. Ou seja, “redescobrir” quem nós fomos e quem somos hoje. Isso pode nos surpreender de duas maneiras: 1) Poderemos descobrir que estamos na Igreja errada; que por não conhecermos a História do Metodismo vivíamos um engano; ou 2) Poderemos descobrir o quanto estamos distantes de nossas raízes espirituais e missionárias.

Para dar uma amostra do que poderemos descobrir fazemos uso das palavras de Duncan Reily: “Talvez a primeira coisa a estabelecer é que o Metodismo faz parte integrante do movimento protestante. Somos herdeiros da Reforma, mediante a Igreja da Inglaterra, cujos Trinta e Nove Artigos formam a base dos Artigos de Religião do Metodismo e cuja liturgia (O Livro de Oração Comum) exerceu muito mais influência na liturgia metodista do que muitos metodistas imaginam. Segundo Duncan Reily, podemos dizer que o Metodismo aceitou as três colunas principais da Reforma, a saber:
— A autoridade das Escrituras,
— a Justificação pela Fé
— e o Sacerdócio Universal dos crentes”. E Reily completa: “Tendo dito isso, temos que notar que, pela ênfase wesleyana na Santificação e Perfeição Cristã, o Metodismo também tem uma afinidade básica com o Catolicismo.” (In Revista Em Marcha: História da Igreja. Extraído das lições de nº. 15, 16 e 17).

No mesmo estudo Reily aponta cinco chaves para compreender nossa Herança Metodista:
1. A experiência religiosa de Aldersgate;
2. A evangelização;
3. O povo
4. A ênfase na santificação/perfeição cristã;
5. A ênfase missionária do metodismo wesleyano.

Localizar a evidência ou ausência desses cinco elementos da tradição no metodismo atual e refletir sobre as implicações missionárias e institucionais, sãos alguns dos objetivos dos/as Metodistas integrados à Rede Metodista Confessante.

Com a finalidade de corrigir as confusões dos pregadores e seguidores Wesley escreveu As Marcas de um Metodista; na página 2 ele diz: “Não desejamos ser também reconhecidos por ações, usos e costumes que sejam de natureza inconseqüente. Nossa religião não consiste na maneira em que nos vestimos, na postura do nosso corpo ou no cobrir de nossa cabeça; nem ainda em abstermo-nos do casamento, do comer carne ou bebidas, que são todas as coisas boas, se recebidas com ações de graça.“

Divulgar os documentos de Wesley, desafiar o estudo de seus sermões; unir e reunir o Povo Chamado Metodista em encontros fraternos será uma das atividades da Rede Metodista Confessante. Juntos/as vamos consolidar, avançar e agir. Junte-se à Rede!


2. Convite à união

À luz do protestantismo promotor da razão e da crítica - protestantismo esse que orientou John Wesley; convidamos homens, mulheres, jovens e juvenis Metodistas do Brasil a se juntarem ao Movimento Metodista Confessante a fim de que juntos/as possamos enfrentar com “equilíbrio” as “tensões” que precisam ser encaradas de frente; considerando inclusive que essas “tensões” não provêm apenas de causas internas e nacionais mas, inclusive, das transformações e dos desvios ocorridos no protestantismo mundial.

Nós, metodistas, sempre fomos do dissenso na experiência, do pluralismo no pensar e deixar pensar, mas nos reconhecíamos intensamente na vida comunitária e na disposição de caminhar juntos/as. Somos de origem diferente na mesma Igreja que nos acolheu um dia: pietistas, puritanos, crentes pentecostais, carismáticos, da tradição litúrgica, da transformação social, da denúncia profética, do trabalho pela justiça no mundo.
Recuperar o dissenso na experiência e a unidade (diferente de hegemonia) na vida comunitária e nos propósitos de ser Igreja é a principal motivação da Rede Metodista Confessante. Não temos dificuldade em caminhar junto com irmãos/ãs metodistas de experiência de fé diferente da nossa. É chegado o tempo de percebermos, de uma vez por todas, que as divisões e cortes dentro de nossa Igreja não decorem das questões relacionadas às formas como cada indivíduo expressa sua espiritualidade. Mas, por nossos compromissos íntimos ou pela ausência deles. É importante entendermos que o contrário de intolerância não é tolerância, mas, respeito ao diferente, seja ele ou ela quem for.

Se não conseguirmos testemunhar o mínimo de união e respeito mútuo dentro de casa cristã, como pensar em sermos “sal e luz” no mundo?

3. No cristianismo todos sãos sacerdotes e sacerdotisas

Ao passo devemos tolerar as diferentes expressões de fé dentro de nossa igreja e fora dela, é preciso sermos intolerantes com todas as formas de oportunismos, corrupções, desonestidades, autoritarismos e personalismos que permeiam as estruturas eclesiásticas. A esperteza mundana, a apropriação do espaço público da Igreja como ambiente particular de mando e manipulação; o domínio do aparato eclesiástico para fins escusos e para a censura ao diferente, precisa deixar de ser referendada pela nossa ingenuidade. Refletindo sobre o papel da juventude Tamara L. Walker diz: “... os sistemas sociais e políticos definem liderança em termos de 'auto-serviço' individual, status e poder. E nós nos conformamos com essa idéia dominante e dominadora de liderança.” (No artigo Papel de liderança da Juventude hoje. In: Juventude: ressuscitadora de Esperança - Caderno de Formação para Missão, p.14).

Nós, Metodistas Confessantes (e Metodistas mundiais), cremos que todos/as são ungidos/as por Deus; que o sacerdócio é universal para todos/as os/as crentes e que, portanto, não há entre nós, maiores nem menores. Conseqüentemente rejeitamos a idéia equivocada que há, entre nós, “autoridades incontestáveis”; aliás, esse é um dos pontos que nos difere de outros grupos religiosos. Quando certas “autoridades” tomam para si o trono de Jesus e delimitam para os demais a condição de suas “ovelhas” ou “discípulos/as” e admoestam com textos bíblicos isolados: “Aí daqueles que se levantarem contra os ungidos do Senhor!”; havemos de ter senso crítico e maturidade espiritual para analisar com profundidade os textos bíblicos e, mais ainda, devemos com toda “autoridade” dada por Deus e referendada por nosso serviço e testemunho de vida, reagirmos e denunciarmos tais atitudes, porque elas contradizem o entendimento de autoridade revelado por Jesus e assumido por sua Igreja aqui na terra. Ilumina-nos a jovem Tamara L. Walker da Igreja Metodista Unida: “Podemos escolher negociar nossos valores, e até perder nossos valores culturais. Podemos aceitar a cultura e os valores dominantes. Ou podemos cavar fundo na base dos ensinamentos bíblicos e viver uma liderança libertadora.” (No artigo Papel de liderança da Juventude hoje. In: Juventude: ressuscitadora de Esperança - Caderno de Formação para Missão, p.14).

Nós, Metodistas Confessantes, entendemos que é necessário recuperar a Igreja como comunidade “terapêutica”, espaço que propicia a acolhida e colabora para a conversão das pessoas e das estruturas sociais; comunidade que crê no poder do Evangelho de transformar pelo amor, graça e pela responsabilidade. Nossa Igreja brasileira tem perdido essa noção de ser Igreja. Por outro lado, assistimos a banalização do perdão a líderes inescrupulosos em sessões espetaculares na TV, com holofotes, choro e palmas da platéia. O artificialismo não muda a vida das pessoas. A graça não é barata, nem é tesouro da igreja, dizia o pastor Confessante Dietrich Bonhoeffer. (Livro: Discipulado, p. 9.)

Temos deixado de nos assumir como “sacerdotes e sacerdotisas”; e muitas vezes, nos colocado nos papéis de ovelhas cegas e, por isso, medrosas, obedientes e seguidoras de toda sorte de doutrina e de “falsos pastores”; alguns dos quais afirmam, sem corar a face, que “ovelha desobediente quebra-se a perna para que aprendam a ajoelhar e comer na mão de seu pastor”. No sermão número 1 Wesley diz: Sendo salvos da culpa, os homens são também salvos do temor. Não, em verdade, do filial temor de conceber qualquer ofensa, mas do medo servil que escraviza;...” No protestantismo mundial há “escravos” ludibriados por mega-projetos missionários, mega-igrejas, mega-shows evangélicos, etc.; por confiarem cegamente nos “nos ungidos” submetem-se a eles como se o fizessem ao próprio Deus.

O Pastor Metodista José Carlos Barbosa diz: “Nós, os protestantes, temos uma sensível predisposição de olhar com mais simpatia para as denominações consideradas evangélicas, mesmo que sejam portadoras das mais estapafúrdias 'teologias'". (Trabalho sobre eclesiologia, apresentado no Concílio Regional da 5ª. RE, realizado em novembro de 2005). O Pastor Confessante Bonhoeffer faz um alerta: “Teremos de nos considerar como co-responsáveis na formação histórica, de caso em caso e em cada momento, tanto como vencedores como derrotado”. (Livro: Resistência e submissão, p. 20.).

Carlos Mesters, frei e biblista brasileiro, ao analisar a caminhada dos nossos irmãos e irmãs do passado diz o seguinte: “Caindo e levantando, o povo foi andando, procurando ser o povo de Deus e buscando atingir para si e para os outros os bens da promessa divina. Muitas vezes, porém, esquecia o chamado de Deus e se acomodava. Em vez de servir a Deus, queria que Deus servisse ao projeto que eles mesmos tinham inventado. Invertiam a situação. É nestas horas que surgiram os profetas para denunciar o erro e para anunciar de novo a vontade de Deus”. (Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do povo, p. 21.).

Se e quando assumirmos nossa condição de sacerdotes e sacerdotisas, vamos eventualmente, descobrir a nossa função profética dentro e fora de nossa igreja.

4. As Instituições Metodistas devem ser Meios da Graça

Num tempo marcado pela realidade social e religiosa carente de transformações Wesley tentou explicar o por que, no seu entendimento, Deus havia levantado os pregadores metodistas. A frase deve ser recuperada na sua inteireza: “Não para formar uma nova seita; para reformar a nação, em especial a Igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre a terra”.

Nós, Metodistas Confessantes, cremos que é essencial não deixarmos que nas comunidades, seja suprimida a mesa da Santa Ceia, aberta a todos/as cristãos/ãs a começar pelas crianças. Essa é a face mais pública da nossa abertura como Igreja e de nossa recusa a sermos seita. Na mesma direção, não podemos perder de vista a razão missionária de nossas instituições educacionais. Há autoridades que desejam tornar a Igreja Metodista numa “mega-igreja”; mas pouco se ouve falar missão como serviço aos pobres que seria a face mais visível do esforço para impedir que nossa igreja seja uma “seita grande”.

Como Confessantes, jamais devemos deixar que reduzam o significado da rede de universidades, centros universitários, faculdades e colégios; pois está aí a qualidade e potencialidade para se exercer influência social e testemunhar o Evangelho e as crenças metodistas. As instituições de ensino (apesar dos problemas administrativos e financeiros atuais) são as mais consolidadas, qualificadas e influentes entre todas as igrejas evangélicas do país e devem ser vistas como “instrumentos/vasos” missionários e não como “negócio”.

A educação para nós, metodistas, é meio de graça; porque a educação propicia a libertação das pessoas em várias perspectivas, inclusive e especialmente, da miséria. As Instituições Metodistas também ajudam nossa Igreja a não se comportar como seita. Elas são espaços de arejamento intelectual e de capacitação permanente de lideranças para a Igreja e para a sociedade. Porém há alguns anos, dirigentes da Igreja têm estabelecido uma relação venal entre a Igreja Metodista e as instituições de ensino. Em vez de mantenedora, a Igreja Nacional e algumas regiões, são por elas mantidas. Em vez de ofertar no altar, colhem mensalidade de estudantes. Em vez de as instituições de ensino serem agências missionárias, são, muitas vezes, espaços de promiscuidade e favoritismos; e isso explica parte das crises atuais.

Paul Tillich, um dos teólogos que deixou marcas profundas no século XX, definia o falso profeta como aquele que, vendo um muro com rachaduras decide pintá-lo e dá-se por satisfeito. A Bíblia adverte-nos sobre os perigos dos sepulcros caiados. Entre nós, confessantes, o princípio bíblico e doutrinário do Sacerdócio Universal de todos/as os/as crentes é o antídoto contra o que desvia nossa Igreja Metodista dos meios visíveis da graça e também contra o culto à personalidade promovido por alguns líderes de nossa Igreja, que se comportam como “gurus” espirituais e reduzem a participação leiga à obediência cega. Só encontramos um nome para isso: Abuso espiritual. A distinção no comportamento dos que ocupam cargos de caráter religioso deve ser rigorosamente mais elevada que os de caráter secular; quando não o é, fica implícito o “abuso de um poder sagrado”.

De igual modo e de grande importância, destacamos e defendemos a presença pública e missionária da IM através de suas entidades e instituições sociais que exercem uma articulação entre atos de piedade e obras de misericórdia, que se integram em redes de movimentos sociais em favor de pobres e oprimidos, e de grupos marginalizados e discriminados.

Nesse ano em que o Credo Social chega ao centenário, doutrina social da IM, temos o desafio identificatório metodista para que toda a igreja seja de fato comunidade missionária em serviço com o povo brasileiro e, sentido, todas as instituições eclesiásticas de diversas ordens devem se tornar, mais que aparato e símbolos de poder, devem se tornar fortemente e publicamente servas.

O “poder”, tanto institucional como espiritual só faz sentido se vislumbrar o “serviço” fecundo, respondendo de forma integral as carências presentes em nossa sociedade brasileira; inclusive as carências educacionais.

5. Poder é serviço

O sentido do Sacerdócio Universal de todos/as os/as crentes deve ser antídoto também para a tentação ao governo eclesial despótico. É preciso relembrar que o metodismo é conciliar, conexional e até episcopal; nessa ordem. Em muitos lugares mundo afora o metodismo não é episcopal (Inglaterra, igrejas do esforço missionário inglês e outras como a do Uruguai) ao contrário, mas defende o princípio de que o poder na Igreja é exercido a partir dos concílios e que as igrejas devem viver em conexão. Não é o episcopado que une o metodismo universal, mas a missão e o serviço. Nos países em que compusemos Igrejas Unidas a primeira coisa de que aceitamos abrir mão foi do episcopado: Canadá, Índia, Japão, etc.

Vale lembrar que o próprio Wesley era contra o regime episcopal. A adoção desse regime aconteceu à sua revelia nos Estados Unidos, através do sistema do voto conciliar; que era e continua sendo o lugar de mudanças.

Algumas vozes afirmam que o 18° Concílio Geral recente tornou o episcopado mais forte. O que faz uma instituição ser forte são as pessoas que a encarnam e os sinais que ela deixa na sociedade. O episcopado não é palavra mágica que tornará forte quem é fraco ou tornará exemplar quem tem conduta reprovável.

Deve chamar-nos atenção a idéia de episcopado vitalício que há muito ronda nossos Concílios. O 18° Concílio resolveu de forma leniente e culposa dar, a bispos sem voto, o título de bispos honorários. Obviamente não negamos o reconhecimento aos bispos que foram intitulados, o que chama atenção é que hoje na Igreja Metodista brasileira, parece vergonhoso ser pastor, humilhação voltar à igreja local; quando tudo deveria se legitimar a partir da igreja local. Em vez de bons pastores após um tempo de episcopado, na legítima alternância que a vida republicana exige, bispos eméritos ou honorários.

Houve quem saísse a buscar argumentos a um suposto “múnus episcopal”, como se o episcopado para nós fosse ordem, como se crêssemos que desde Pedro, o episcopado tem se perpetuado em linha de sucessão. O Mais interessante é que isso tenha acontecido no mesmo momento em que se rompiam relações com a Igreja Católica.

Lembremos: para nós metodistas a ordem é presbiteral e o episcopado deve ser o humilde exercício extraordinário do presbiterato; é poder para servir, nada mais.

Em carta, Wesley adverte John Trembath um dos pregadores: “... Quer você goste disso ou não, leia e ore diariamente. Isto é para sua vida; não há outro meio, do contrário você se tornará uma pessoa frívola a vida inteira, e um pregador afetado e superficial. Seja justo com sua própria alma; dê-lhe tempo e meios para crescer. Não continue a se matar de fome.” (Seleções das cartas de João Wesley, p.6).

Para o bem da Igreja e da democracia interna, é importante termos uma ordem presbiteral forte, bem formada, valorizada e, no essencial, coesa (diferente de homogênea). Episcopado é condição temporária e especial; e a depender dos abusos do poder e da irrelevância para o caminhar da Igreja, pode vir a ser abolido pelo Concílio, que é o lugar onde leigos/as e clérigos/as, através do voto, fazem as mudanças que julgam necessárias à vida da Igreja. Daí a importância que conheçam com “profundidade” a tradição, os documentos, a estrutura e funcionamento e os propósitos missionários da Igreja Metodista, bem como, possuam uma visão, ao menos parcial, da realidade que cerca as diversas comunidades brasileiras.

6. Os grandes almejam relevância...

Para o Pastor Metodista José Carlos Barbosa “O metodismo entrará em declínio não por ser refutado ou perseguido, mas quando se tornar irrelevante, insensível, opressivo e insípido.” (Trabalho sobre eclesiologia, apresentado no Concílio Regional da 5ª RE, realizado em novembro de 2005).

O declínio do metodismo brasileiro pode ser facilmente evidenciado pelo esforço extremado de crescimento rápido, proposto por alguns líderes, por sua invisibilidade e falta de influência na sociedade brasileira (ainda nos confundem com os adventistas) e pela “sensação” opressiva que paira, mais fortemente desde o 18° Concílio Nacional, sobre ecumênicos/as, teólogos/as e especialmente, sobre os/as não “alinhados/as” ao perfil da liderança nacional.

Opressivo também tem sido a cobrança ao ministério pastoral e igrejas por crescimento a todo custo, criando uma atmosfera de ganho por produção, desestabilizando ministérios e gerando mal-estar psicológico em liderança e suas famílias, por não se alinharem a abordagens estranhas ao anúncio simples do evangelho.

Nesse sentido, a “IM deve tratar-se pelo evangelho e divã de Cristo, de seu “complexo de pequenês” adquirida ao longo dos anos e atualmente diante do crescimento de outros grupos religiosos”. Seu tamanho e qualidade deve ser aferido a partir de uma identidade relevante no país em relação ao Evangelho somente.

“Há na verdade, pouca dúvida, de que o cidadão inglês do século dezoito, de maior importância para o mundo não era um político nem poeta, nem soldado ou marinheiro, mas o pequeno itinerante a cavalo – O grande cavaleiro, como eu o chamaria – que ainda está cavalgando para novas conquistas”; disse em 1928 o historiador J. Ernest Ratlembury ao escrever sobre o Legado de Wesley para o Mundo. (Seleções das cartas de João Wesley; p.5).

O que será escrito sobre os atuais líderes do metodismo brasileiro? Como eles (elas?) têm usado seus cargos, seus títulos e suas posições de poder? Que legado eles e (elas?) deixarão para o mundo?

Se almejarmos ser Igreja discípula de Jesus, sendo sal da terra e luz do mundo, precisamos enfrentar as questões do mundo atual à luz da caminhada de Jesus. É necessária a firme defesa dos Direitos Humanos, contribuindo para “eqüidade” das mulheres, dos negros e dos pobres. E isso, obviamente, só será possível através de intervenções contundentes que garantam que as políticas públicas e o dinheiro subtraído, especialmente dos pobres através dos impostos, sejam de fato, revertidos em prol dos que precisam. Os discursos ideologicamente equivocados, ditos nos púlpitos de nossas comunidades, que afirmam que “os/as crentes não devem se envolver em política”, precisa ser encarado como nítido desvio ou total falta de entendimento do ministério de Jesus aqui na terra.
A entrada triunfal em Jerusalém e sua morte precisa ser lida e relida à luz do contexto brasileiro onde os líderes, políticos e religiosos, exploram o povo sofrido de nossa Pátria. Ser sal e Luz imitando Jesus significa, nesse sentido, inclusive contribuir para a formação política nas comunidades a fim que os membros saibam como fiscalizar e denunciar as corrupções e as injustiças a sua volta, bem como compreenderem a importância do voto na política e na igreja.

Mais que nunca é preciso empoderar (através do voto, mas sobretudo através de reflexões e ações sociais práticas) homens e mulheres que realmente tenham em seus corações o entendimento que a posição de poder na igreja e na sociedade só faz sentido quando tem o propósito de servir e promover à eqüidade; nada mais é que o esforço de aproximar os injustiçados da justiça, os doentes do cuidado, os famintos da mesa... Isso é fazer o Reino aqui na terra como nos céus, tal como Jesus nos ensinou.

7. A mesa é de Cristo

Ao orientar os primeiros pregadores e seguidores/as do movimento metodista Wesley escreve: ”De modo algum, porém, queremos nos distinguir dos cristãos reais – qualquer que seja sua denominação – como também daqueles que, sinceramente, buscam aquilo que reconhecem ainda não possuem. 'Pois quem quer que faça a vontade de meu Pai, que está no céu, este é meu irmão e irmã ou mãe'”. (João Wesley, As Marcas de um Metodista; p.8).

Num mundo em que o mapa das guerras e conflitos armados aponta as religiões organizadas como maior fator de ódio entre os povos, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso estão entre as mais importantes afirmações de busca da Paz. “Eu não acredito na existência de uma espiritualidade que não seja solidária e que não veja na outra pessoa o reflexo de Cristo.” (Richarlls Martins, Igreja Metodista do Brasil, no artigo O mundo é minha paróquia. In: Juventude: ressuscitadora de Esperança - Caderno de Formação para Missão, p. 27).

Somente a crença equivocada de que somos donos da mesa de Cristo e, portanto, mais especiais que os outros, pode explicar nossa intolerância. Por isso Wesley, ao falar das marcas dos metodistas escreve: “... Eu gostaria que toda gente entendesse que eu, e os que me seguem (os Metodistas), veementemente nos recusamos a sermos distinguidos dos outros homens a não ser pelos princípios do Cristianismo – o simples, o velho cristianismo é o que eu ensino, renunciando e detestando a todos os demais sinais que sirvam para a distinção. Qualquer pessoa que seja o que eu proclamo (qualquer que seja a denominação que prefira, pois nomes não mudam a essência das coisas) é um Cristão (...).” (João Wesley, As Marcas de um Metodista; p7.).

O compromisso com o ecumenismo e com o diálogo inter-religioso indica nossa recusa de ser seita; nossa recusa em aceitar que as religiões sejam usadas por líderes políticos/religiosos para fomentar o ódio. Por causa deles, há muita gente no mundo disposta a morrer ou matar em nome de Deus. Por isso, em nosso país devemos estar atentos aos líderes religiosos que pregam e agem contra essas e outras afirmativas para a Paz; como se Deus fosse patrimônio de certos os grupos. Ao falar das Marcas de um metodista Wesley afirmou: “Quanto, porém, a todas as opiniões que não atingem à raiz do cristianismo, nós pensamos e deixamos pensar, pois quaisquer que sejam, certas ou erradas, não são as marcas distintivas de um metodista, como também não o são palavras ou frases de qualquer espécie.” (João Wesley, As Marcas de um Metodista; p.2)

Não é só a Igreja, instituição, que deve perguntar por sua relevância; cada individuo deverá perguntar que legado deixará nesse mundo.

Quando o missionário metodista Stanley Jones e outros cristãos arriscavam suas vidas para seqüestrar mulheres viúvas que seriam mortas na cerimônia fúnebre de seus maridos, conforme a tradição em determinados lugares da Índia, demonstraram a importância da “rebeldia”. Não podemos ser reféns da cultura, como não podemos ser reféns de um “Mercado religioso” orientado por conveniências de momento. É conveniente que líderes religiosos aceitem pressões moralistas a favor da homofobia, contra o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, contra maçonaria, etc.; quando assim agem, escondem medos pessoais e apequenam-se em seus oportunismos eleitoreiros, cujo desejo primário se evidencia apenas pela manutenção de seus cargos e salários. Procure os/as “Stanleys Jones” da Igreja Metodista brasileira. A presença ou a ausência deles/as é um forte indicativo se estamos, ou não, sendo sal e luz como igreja.

Na mesa que tem Cristo como anfitrião todos são acolhidos com amor, respeito e tolerância. Como discípulos/as somos livres para "não aceitar", mas, tolerância, amor e respeito está além de nossos valores particulares; é peculiar de nossa ética cristã.

8. O Espírito Santo sopra onde quer.

Há outros grupos metodistas, que como nós Confessantes, estão preocupados com o abandono da Identidade Wesleyana. Alguns apontam como evidencia disso a ausência da ordem litúrgica: o louvorzão, (ou karaokê evangélico como brincam os saudosistas) a “pentecostalização” das mensagens e das orações, a forte presença da teologia da prosperidade, a opção pela apresentação do Deus sem graça e a visível manipulação das pessoas através do terror, etc.

Com bom senso, alguns desses grupos têm entendido, como nós Confessantes, que o que se vê nos cultos é resultado da (des)orientação na condução teológica e espiritual da gente honesta que compõem nossas comunidades. Com o discurso gasto que “o culto não é para nós, é para Deus”, vai-se fecundando toda sorte de doutrinas.

Em respeito à fé sincera das comunidades, não nos cabe julgar nem fazer juízo da maneira que cada qual expressa “individualmente” sua espiritualidade. Todavia, devemos reagir com toda firmeza quando uma “forma” vira “modelo” e exigência (velada ou aberta) para todos/as metodistas; e quando pessoas são discriminadas e rotuladas de “frias” e sem o “fogo” do Espírito Santo porque não se enquadram ou não se submetem aos modelos espirituais impostos.

Ao escrever sobre As Marcas de um Metodista Wesley diz: “Nós não prendemos a nossa religião, no seu todo ou em parte, a qualquer modo peculiar de falar ou a qualquer conjunto de expressões extravagantes ou incomuns. Preferimos, antes que quaisquer outras, as palavras mais óbvias e mais simples, para comunicar o que temos a dizer, seja nas ocasiões comuns, seja quando falamos das coisas de Deus.” (As Marcas de um Metodista, p.2).

É oportuno o testemunho de um irmão Confessante da 4ª RE:
“Tenho necessidade dos credos, das antífonas, de muitos hinos, do coral, do café depois do culto. Fico encolhido diante dos abraços forçados pelo dirigente, ou de alguém que resolveu mandar Deus me abençoar com as mãos sobre a minha cabeça. Apavoram-me gritos do pregador, a exaltação do dízimo e das exigências financeiras para vaidade e não para o cuidado do próximo. Falta a referência nas Sagradas Escrituras como medida para a vida; sobra receituário de auto-ajuda no sermão. Sofrido é agüentar as duas horas de louvor, a desvalorização do estudo bíblico e da escola dominical, da visitação e de tudo que lembre a disciplina evangélica.”

Encerramos esse documento com o clamor de Wesley que revela seu esforço para que o Movimento Metodista não se tornasse uma seita; um de seus grandes temores.

“E assim vos rogo, meus irmãos, pelas misericórdias de Deus, que não sejais divididos entre vós. É o teu coração reto para comigo, assim como o meu o é para contigo? Eu nada mais pergunto. Se assim o for, dá-me a tua mão. Não destruamos a obra de Deus por causa de simples termos e opiniões. Tu serves e amas a Deus? Isto é o bastante. Estendo-te a minha mão direita em sinal de comunhão. Se há qualquer consolação em Cristo, se há qualquer conforto no amor, se há comunhão no Espírito, lutemos juntos pela fé evangélica, andando de maneira digna da vocação a que fomos chamados, com toda humildade e mansidão, assim também com longanimidade. Suportemo-nos uns aos outros em amor e esforcemo-nos para manter a unidade do Espírito, no veículo da paz, lembrando sempre que há um só corpo como também um só espírito, pois nossa vocação está em apenas uma esperança: um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que está sobre todos, age por meio de todos e está em todos”. (As Marcas de um Metodista, p.8).

É sempre bom lembrar: Wesley nasceu e morreu Anglicano.

O Movimento Metodista Confessante é uma Rede de amigos e amigas, jovens e adultos com o objetivo de:

Consolidar idéias e ideais e, através destes Avançar nos propósitos de integração e união entre as Regiões Eclesiásticas; e Agir para a valorização da identidade Metodista.

Junte-se a nós. Crie seu grupo de estudo: Um clube Santo ou quem sabe, um Caminho da Graça, onde pelo menos uma vez por mês você e seus amigos/as se reúnam para comunhão e conhecimento de nossas raízes.

“Perseverai na oração, velando nela com ações de graça. Orai também juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual estou preso. Orai para que o manifeste como devo fazer. Andai em sabedoria para com os que estão de fora, aproveitando bem cada oportunidade. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como deveis responder a cada um.” Colossenses 4. 2-6:

Graça e Paz,
Rede Metodista Confessante
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Para aprofundar os estudos desse documento Consulte:
BARBOSA, José Carlos. Ele é Pastor Metodista e Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Metodismo e Educação (CEPEME) IEP/UNIMEP. O texto citado aqui é parte de um trabalho sobre eclesiologia, apresentado no Concílio Regional da 5ª. RE, realizado em novembro de 2005.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. [Nachfolge]. 2a. ed. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1984.
REILY, Ducan. In Revista Em Marcha: História da Igreja. Lições nº. 15, 16 e 17. São Paulo: Imprensa Metodista, 1988 - Disponível em http://www.metodistaecumenico.blogspot.com/ - dia 25/03/08).
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