sábado, 31 de maio de 2008

Teologia existencial





Por Ricardo Gondim*

Minha nova teologia não se restringe em preparar gente para ir para o céu, quero aprender experimentar, aqui e agora, a vida em abundância que Jesus prometeu.
Por anos, não me dei conta de que agi como um religioso obstinado. Hoje, lamento ter sido um inquisitorial que defendeu a “verdadeira doutrina”; renego ter me sentado na cadeira do fariseu intolerante que espezinhou pessoas simples; choro porque já calei diante de desmandos de gente “famosa” só para continuar bem quisto; tenho vergonha de já ter envernizado minha fala para angariar simpatias de um clero que hoje desdenho.
Para surpresa dos fundamentalistas, mas para alegria dos meus familiares, mudei bastante nos últimos anos. Adianto: não estou nem um tiquinho preocupado em ser bem falado pelos puritanos que tentam ressuscitar a ética vitoriana; não perderei meu sono com os que se escandalizam com meus textos pessimistas. Aliás, aconselho os piedosos que não visitem mais meu site, pois vou continuar escrevendo textos bem sombrios.
Amiga leitora, você não imagina como eu ri quando recebi mensagens eletrônicas de crentes escandalizados com meu arrebatamento profano. Lembra aquela noite quando me deliciei com a cananéia Mercedes Sosa?, foi aquele.
Minha nova teologia não é nova e nem é minha. Ela vem sendo vivenciada por teólogos latino-americanos que se distanciaram do cânon oficial – gente da estirpe de Juan Luis Segundo, Gustavo Gutierrez, René Padilla, Orlando Costas, Leonardo Boff e Jung Mo Sung.
As coisas degringolaram de vez quando me apresentaram Brian McLaren, Rob Bell e os malucos da “Emergent Church”. Realmente, não consigo gostar dos livros do Max Lucado e se não me sinto tentado a organizar minha igreja com os “propósitos” do Rick Warren.
Minha nova teologia carrega o anseio da liberdade. Aceito que sou um romântico desvairado sempre empolgado com essa palavra tão complicada. Eis o motivo porque concordo com Karl Rahner que “a liberdade é sempre mediada pela realidade concreta do espaço e tempo, pela corporalidade e pela história do homem”[1].Assino em baixo com Jürgen Moltmann quando ele diz que “liberdade é um movimento criador". Vibro quando ele afirma que: “Aquele que em pensamentos, palavras e ações transcende o presente em direção ao futuro, este é que é livre. O futuro é para ser entendido como o espaço livre para liberdade criadora”[2]
Não tenho como negar meu apreço por Paul Tillich e por seu conceito de liberdade como fundante do destino – “A liberdade é experimentada como deliberação, decisão e responsabilidade…
Á luz dessa análise de liberdade, torna-se compreensível o sentido de destino”[3]. Gosto das articulações de Jonathan Sacks quando ele afirma que o conceito de liberdade forma o alicerce do vínculo pactual entre Deus e o homem:
O conceito de um vínculo pactual entre Deus e o homem é revolucionário e não tem paralelo em nenhum outro sistema de pensamento. Para os antigos, o homem estava à mercê de forças impessoais que tinham que ser aplacadas...; no humanismo secular, o homem está sozinho num universo cego às suas esperanças e surdo às suas preces. Todas estas visões são coerentes, e cada uma tem seus adeptos. Mas somente no judaísmo encontramos a asserção de que, apesar da sua completa disparidade, Deus e o homem se encontram como “parceiros no trabalho da Criação”. Não conheço nenhuma outra visão que confira ao ser humano tamanha dignidade e responsabilidade “[4].
Minha nova teologia tem como ponto de partida não a teoria, mas a vida com suas ambigüidades e paradoxos. Não parto de premissas teóricas do arrazoamento “científico” da verdade; não me encanto com devaneios conceituais do mundo do "andar de cima"; quero trabalhar com a revelação da história onde ponho os meus pés. Quero perceber o amor de Deus no decorrer da vida com tudo o que ela apresenta de bom e de ruim.
Não pretendo interpretar o mundo, só quero modificá-lo para que nele se antecipe o Reino de Deus. Faço minhas as palavras de Moltmann em sua análise da Teologia da Libertação:“Ao contrário das teologias metafísicas, trancendentalistas ou personalistas, a Teologia da Libertação começa com a história como palco da manifestação de Deus e do encontro do homem com Deus. Com isto ela se liga às tradições bíblicas da história de Israel e da história de Cristo... “[5]. Nesse chão hermenêutico faço minha nova teologia, procurando criar práxis que desmonte estruturas injustas, opressoras e alienantes. Sem desmerecer a ortodoxia, procuro muito mais realizar ações transformadoras da realidade, do que tentar vingar minha exatidão conceitual – “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” João 13.35.
Minha nova teologia é a antiga “teologia da esperança”. Acho que foi por isso que vibrei tanto com Carlos Mesters quando me ensinou que o relacionamento de Deus com seu povo é um apelo ao dinamismo e não à resignação: A presença de Deus na vida era percebida [no relato bíblico], antes de tudo, como apelo, como dinamismo, como futuro, que atraía e chamava o povo a ultrapassar-se, não permitindo que se acomodasse na estrada. A frase tantas vezes repetida: “Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo (Ex 6.7), fazia saber que o relacionamento com Deus no presente era apenas uma amostra-grátis daquilo que ele seria no futuro.
A outra frase, igualmente freqüente despertava o povo a nunca contentar-se com o que já possuía, e a aprofundar onde estava escondido o germe de toda liberdade.Com outras palavras, a presença de Deus era percebida e vivida como o fundamento da esperança que os animava e os fazia caminhar. Ela era uma força que dinamizava a vida para a frente, levando o povo a conquistar-se e a conquistar o futuro que ele entrevia no contacto com esse Deus[6].
Minha nova teologia não se restringe em preparar gente para ir para o céu, quero aprender experimentar, aqui e agora, a vida em abundância que Jesus prometeu.
Por fim, acho que minha nova teologia tem uma pitada de existencialismo – não sei se Kierkegaard gostaria de saber disso - porque acredito que o Reino de Deus já está entre nós; peço que Ele me dê olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para sentir esta realidade
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Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, Orgulho de Ser Evangélico.Para ler mais acesse os arquivos do link: http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/

quinta-feira, 15 de maio de 2008

OVELHAS, PASTORES E A COLHEITA

Por Derrel Homer Santee*

Quando Jesus viu a multidão,
ficou com muita pena daquela gente
porque eles estavam aflitos e abandonados,
como ovelhas sem pastor.
Então disse aos discípulos
-A colheita é grande mesmo,
mas os trabalhadores são poucos.
Mateus 9.36-37 (leia 9.35-10.8) - BLH

586 anos antes de Cristo o Profeta Ezequiel declarou: “Vocês, autoridades, são os pastores de Israel. Ai de vocês, pois cuidam de vocês mesmos, mas nunca tomam conta do rebanho!” (34.2) e “Por não terem pastor, as minhas ovelhas foram atacadas, mortas e devoradas por animais ferozes. Os meus pastores não foram procurá-las. Eles estavam cuidando de si mesmos e não das ovelhas.” (8) Isaías acrescenta: “Os pastores do meu rebanho não entendem nada; todos seguem os seus próprios caminhos e procuram os seus próprios interesses.” (56.11) Os profetas descreviam o povo como abandonado e explorado pelas lideranças, usando a figura do “pastor”. Isto causava sofrimento e desespero. Havia necessidade de esperança. Ezequiel trouxe junto com a denúncia uma mensagem de esperança: “Livrarei as minhas ovelhas do poder de vocês para que vocês não possam devorá-las.”

Com Jesus a história se repete. Ele “ficou com muita pena daquela gente porque eles estavam aflitos e abandonados, como ovelhas sem pastor”. O povo estava lançado a sua própria sorte e sujeito a negligência e abuso pelos seus governantes e outras autoridades (pastores). Havia injustiça, carência que resultava em “todo tipo de enfermidades”. Igual aos profetas, Jesus trouxe uma esperança. Com palavras e gestos concretos, Ele enfrentava os males que afligiam o seu povo.

No capítulo 10, Mateus relata as medidas específicas que Jesus tomou para enfrentar o desafio de “ovelhas sem pastor”. Escolheu discípulos e os enviou como “ovelhas entre lobos” para uma tarefa árdua contra a maldade dos poderes dominantes. Foram mandados, sem proteção e sem recursos, a percorrer as aldeias e ir até onde o povo estava. Jesus não escondeu o preço que eles teriam que pagar para cumprir a missão: perseguição dos inimigos, traição dos próprios irmãos e a entrega à morte.

Hoje, o povo continua a ser “ovelhas sem pastor”, abandonado pelas autoridades. A corrupção, criminalidade e exploração econômica fazem vítimas da grande multidão. O resultado é o sucateamento do sistema educacional, da saúde e da segurança. A violência e a banalização da vida estão se tornando “norma”.

O desafio nunca foi tão grande. “A colheita é grande mesmo, mas os trabalhadores são poucos”. Esquecemos o contexto desta frase. Dentro do contexto a colheita representa a missão de lutar pela justiça do Reino no meio do povo. Para nós, a colheita ganhou outro sentido, ganhar adeptos e fazer igrejas que procuram se afastar do mundo injusto e cruel. Achamos que Deus é glorificado com cânticos de louvor e uma religiosidade intensa e festiva. Confundimos grandes concentrações e entusiasmo com o Reino.

Nós, os discípulos modernos, evitamos confrontar o mal no mundo onde ele opera. Fazemos tudo para não sermos odiados e perseguidos. Procuramos ser ovelhas entre ovelhas. Ficar entre lobos é pecado. Não representamos uma ameaça para ninguém. Os lobos nos aprovam porque praticamos a nossa religião na segurança dos templos e os deixamos livres para praticar o mal e cuidar de si às custas de todos. “A colheita é grande mesmo, mas……….”
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* Derrel Homer Santee é pastor e Missionário aposentado. Para ler outros artigos acesse o Blog do Autor:http://sementesbiblicas.blogspot.com

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Uma fé em transformação: Entrevista com Magali Nascimento Cunha



Pesquisadora metodista diz que o movimento gospel está mudando o modo de ser evangélico.

Desde que o movimento pentecostal brasileiro tornou-se fenômeno de massa, no último quarto do século 20, especialistas das mais diversas áreas têm se debruçado sobre a Igreja Evangélica com lupas de pesquisador. O espantoso crescimento do segmento, que pulou de um traço estatístico para a posição de segundo maior grupo religioso do país, tem sido discutido e explicado de muitas maneiras – quase todas, diga-se de passagem, incompletas ou mesmo parciais. Por isso, trabalhos como o da professora Magali do Nascimento Cunha ganham relevância. Jornalista, doutora em Ciências de Comunicação e mestre em Memória Social e Documento, ela é docente em diversos cursos da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista da Universidade Metodista de São Paulo e atua ainda como palestrante e conferencista. Mas observa o cenário evangélico nacional com ainda mais conhecimento de causa, já que é membro da Igreja Metodista do Brasil e do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Ninguém pense, contudo, que Magali faz algum tipo de concessão ao corporativismo. Ao contrário – a pesquisadora não poupa as críticas que julga necessárias à Igreja contemporânea. No seu mais recente livro, A explosão gospel – Um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil (Mauad Editora), Magali constrói uma tese segundo a qual esse movimento chamado gospel fundamenta-se não apenas na lógica do mercado, mas também numa série de novos comportamentos e maneiras de enxergar e praticar o Evangelho. “Vivemos o surgimento de uma cultura religiosa nova”, afirma a professora. Segundo ela, a explosão gospel criou tantas demandas que afetou até mesmo a teologia cristã deste século 21. Entender este multifacetado universo de fé e todos os seus desdobramentos talvez seja tarefa para gerações. Mas nesta entrevista, Magali Cunha aponta alguns caminhos.


CRISTIANISMO HOJE – Como a senhora define a cultura gospel?

MAGALI DO NASCIMENTO CUNHA – Vivemos o surgimento de uma cultura religiosa nova, um jeito de ser diferente daquele construído pelos evangélicos brasileiros ao longo de sua história. Novos elementos foram adicionados como resposta ao tempo presente, que é fortemente marcado pelas culturas da mídia e do mercado, e pelo crescimento de novos movimentos evangélicos, principalmente o pentecostalismo. O movimento musical chamado gospel resultou deste processo sócio-religioso e abriu caminho para outras expressões. Isso quer dizer que testemunhamos uma ampliação, sem precedentes, do mercado religioso e de formas religiosas mercadológicas. Há também uma relativização da negação do mundo, tão cara aos evangélicos brasileiros – o corpo é valorizado, assim como a diversão. Com isso, temos uma nova cultura experimentada, um novo modo de ser evangélico: privilégio à expressão musical, envolvimento no mercado e espaço para o lazer e o entretenimento.


O termo “gospel” não é abrangente demais para abrigar tantos elementos e manifestações? Na verdade, podemos dizer que as diferenças que existem entre os grupos evangélicos estão bastante “sufocadas” por essa forma cultural. Uso o termo “gospel” para definir esse modo de vida porque ele emerge do fenômeno que ganhou corpo nos anos 90 – o movimento musical que detonou um processo e configurou algo muito maior. Surgiu uma forma cultural, um modo de vida gospel. Ele não é uma expressão organizada, delimitada; mas resulta do cruzamento de discursos, atitudes e comportamentos entre si e com a realidade sociopolítica e histórica.

Mas existem traços comuns entre todas essas manifestações?

Há, principalmente, três elementos. Em primeiro lugar, a busca de modernidade e inserção dos evangélicos na lógica social da tecnologia, da mídia, do mercado e da política. Numa segunda perspectiva, tivemos as transformações na forma de cultuar e na ética de costumes de um significativo número de igrejas. Veja que atualmente não é mais possível identificar o que é um culto batista, ou um culto metodista, ou um culto presbiteriano. Identificamos, em nossas pesquisas, uma só forma de cultuar com as mesmas características. E, em terceiro lugar, um discurso comum que privilegia temas como “vitória” e “poder”, com ênfase no aqui e agora, bem diferente da tradição evangélica, cuja pregação privilegiava temas como o céu e a segunda vinda de Cristo como compensação pelos sofrimentos do presente. Essa produção de cultura alcançou uma amplitude que perpassa, senão todas, a grande maioria das igrejas e denominações evangélicas brasileiras.

O louvor tem importância cada vez maior nos cultos. Por que as igrejas têm dado tanto valor à música?

Quem é Deus e quem é Jesus na maioria das canções? A maior parte das composições traz imagens da teofania monárquica do Antigo Testamento. Assim, Deus e Jesus são intensamente relacionados a imagens de reinado, majestade, glória, domínio e poder. Nesta linha, ganha novo sentido a figura dos levitas, que passam a ser destacados e traduzidos na contemporaneidade como “os ministros de louvor”, terminologia assumida nas igrejas. Disso resulta também o estabelecimento de uma hierarquia de ministérios. Há maior destaque aos levitas, e isso pode ser observado no lugar que ocupam no culto. Quem toca e canta é considerado ministro; já quem realiza outras atividades de serviço raramente é apresentado e destacado dessa maneira.

Essa nova cultura gospel tem espaço para a ética cristã?

Vivemos hoje uma forte crise de ética cristã quando privilegiamos um modo de ser baseado no “eu” e na experiência. Isso é totalmente incompatível com o Evangelho. E a coisa se agrava quando aprendemos que ser cristão é consumir bens e serviços religiosos e divertir-se não como mera assimilação da cultura do mercado, mas como expressão religiosa. Quer dizer, a cultura gospel permitiu aos evangélicos brasileiros a inserção de elementos profanos na forma de viver sua fé e de relacionar-se com o sagrado.


Em seu livro Explosão gospel, a senhora diz que o fenômeno mercadológico mudou o jeito de ser evangélico no país. Afinal, o que mudou?


Mercado religioso não é novidade. A oferta de produtos relacionados à religião e à fé sempre existiu. O que ocorre hoje é que o mundo vive um momento em que o mercado é o centro da vida socioeconômica, determina políticas e relações. E esse momento tem reflexos no cristianismo quando, por exemplo, experimentamos um crescimento sem precedentes do mercado religioso e os cristãos se tornam segmento de mercado.

Qual o efeito disso sobre a teologia evangélica?

Observamos hoje o surgimento de teologias que resultam deste predomínio da lógica do mercado na cultura dos povos. A teologia da prosperidade, que apregoa o sucesso material, especialmente o financeiro, como resultado da bênção de Deus, é fruto disso. A confissão positiva, do “eu que tudo pode” – então, a bênção passa a ser resultado do esforço pessoal –, e a noção da guerra espiritual, que combate as forças espirituais malignas que prejudicam o homem, também. Mas não é só isso. Existe a idéia de que, ao comprar um produto de orientação cristã, o crente não está só adquirindo um bem, mas chegando mais perto de Deus. Ou seja, o caráter sagrado atribuído aos produtos cristãos os tornam uma espécie de mediadores entre Deus e o consumidor. Por isso, as pessoas compram adesivos para que seu carro seja protegido do mal ou adquirem camisetas que vão guardá-las de infortúnios. Isso sem falar em gente que compra um CD daquele cantor “abençoado”, acreditando que ouvir as músicas pode até proporcionar uma cura.

O individualismo é uma marca do cristianismo contemporâneo?

Ocorre hoje uma exacerbação desse individualismo porque a cultura do mercado que predomina entre os povos bebe dessa fonte, o que se reflete na religiosidade evangélica. Por isso, as canções nunca trouxerem tanto o predomínio do “eu”, do gozo espiritual intimista; ao mesmo tempo, muito pouco ou quase nada se fala do valor do outro, do serviço, da partilha e da mutualidade.

O surgimento das chamadas comunidades evangélicas, cujo apogeu ocorreu nos anos 1980, foi determinante para o surgimento da cultura gospel?

As igrejas alternativas surgem como uma reação ao protestantismo tradicional e ao seu comportamento restritivo. Por isso eram, e ainda são, majoritariamente jovens e modernas. Esse fenômeno contribuiu, sim, para a formação da cultura gospel, mas não podemos dizer que é responsável. Foi um elemento a mais. Mas vale dizer que este vanguardismo das igrejas alternativas nunca abdicou dos elementos básicos da cultura evangélica no Brasil – apenas deu-lhes nova roupagem.

Hoje, é comum as igrejas copiarem modelos eclesiásticos considerados de sucesso, sobretudo os grandes ministérios liderados por dirigentes carismáticos. Qual o papel da mídia nisso?

A cultura da mídia, que é um elemento forte nas sociedades contemporâneas, promove uma padronização de discursos e práticas. Temos um padrão para cantar, para se comportar, para falar de Deus e da Bíblia. Isso porque as grandes igrejas e os grupos mais expressivos, com suas respectivas lideranças, conseguem espaço na mídia e viram modelos a serem copiados ou adaptados para a realidade de um sem-número de comunidades.

Qual a crítica que a senhora faz ao uso que os evangélicos têm feito da mídia no Brasil?

A mídia evangélica é extremamente comercial. Ela reproduz a lógica da mídia secular e não faz diferença no meio. É diferente de mídias cristãs de outros países, que produzem documentários, lideram campanhas de cunho social, exibem mensagens bastante criativas relacionadas ao calendário cristão. Ainda não assisti a nenhuma programação desta natureza em nosso país. O programa mais criativo que assisti nos últimos tempos saiu do ar – era o 25ª hora, da Igreja Universal, que debatia temas da conjuntura com especialistas e pessoas cristãs que os relacionavam ao desafio do Evangelho. Os poucos programas de debates nas rádios ou TVs evangélicas de hoje são apenas doutrinadores do grupo que os lidera. O debate já tem conclusão antes de terminar. O tom evangelístico, de buscar a adesão de novos fiéis à proposta evangélica, é coisa do passado na mídia. Os programas não são mais dirigidos aos não-cristãos, mas sim a quem é crente, ligado a qualquer igreja, para receber doutrinação que corresponde ao discurso da cultura gospel e as ofertas dos produtos de quem lidera aquele veículo. A divulgação dos locais de reuniões públicas dos grupos condutores da programação é apenas um apêndice à veiculação massiva de conteúdo musical, já que o mercado fonográfico do segmento é uma força. Os demais aspectos da programação – debates, sessões de oração, estudos e sermões – não têm aquele cunho proselitista clássico, mas é carregado de ênfase doutrinária para conquistar novos espectadores e consumidores para os produtos oferecidos.

A Renovação Carismática Católica assemelha-se ao pentecostalismo pela espontaneidade litúrgica e na ênfase nos dons do Espírito Santo; contudo, é um movimento bastante conservador, por exemplo, na devoção a Maria. A senhora acredita que os pontos de identificação entre os dois grupos podem chegar ao ponto de superação das diferenças teológicas?

Ainda não tenho elementos para falar sobre este fenômeno de maneira mais sistemática, mas esta é uma realidade. O fato é que a Igreja Católica Romana têm perdido membros durante as últimas décadas para o pentecostalismo, assim como as igrejas evangélicas históricas. A Renovação Carismática Católica tem buscado práticas de inspiração pentecostal para preservar sua membresia, atrair de volta os fiéis perdidos e conquistar outros. Marcelo Rossi e os outros padres cantores, assim como a Rede Canção Nova, são fruto desta conjuntura. A liturgia é chave deste processo. Não é possível ainda fazer previsões, mas uma intuição me leva a dizer que não podemos esperar a superação das diferenças. Ao contrário, deve haver um reforço da competição, pois membresia e números são chaves motivadoras de tal processo. O tom da visita de Bento XVI ao Brasil em 2007 deixou isso claro.

A flutuação de membros é fenômeno comum nas igrejas evangélicas deste início de século, ao contrário da valorização do pertencimento que se observava até bem pouco tempo. Quais os motivos que levam a esta infidelidade denominacional?

Vários sociólogos da religião têm estudado este fenômeno e o denominado “trânsito religioso”. Eles indicam que é fruto deste fluxo de modernidade que experimentamos na contemporaneidade – o individualismo, a busca extrema da satisfação pessoal imediata, a valorização do descartável. As pessoas transitam por igrejas em busca da satisfação pessoal imediata. Descartam experiências em busca de outras mais intensas e interessantes, e o descompromisso dá o tom deste processo.

A senhora é membro da Igreja Metodista, denominação fortemente envolvida com o diálogo ecumênico. No Brasil, o ecumenismo é veementemente rechaçado por igrejas de linha pentecostal. Esta rejeição deve ser atribuída ao desconhecimento acerca do movimento ecumênico ou trata-se mesmo de preconceito?

Um dos mais fortes impedimentos para o ecumenismo é a indiferença ecumênica. Há, sim, o anti-ecumenismo, a manifestação contrária de gente que é contra e diz por quê. Mas o que é maior não é a oposição declarada, e sim a indiferença à necessidade da busca de unidade entre os cristãos. Podemos chamar isso de “convivência tranqüila” com as divisões. Entre as razões da rejeição ao ecumenismo, podemos fazer uma pequena lista. Existem, claro, as divergências teológico-doutrinárias que as igrejas enfrentam. Muita gente não sabe o que é ecumenismo, não conhece a sua história – preferem dizer que é “coisa da Igreja Católica”. Há ainda o preconceito, o exclusivismo religioso, o medo do diferente e a crise de identidade. Mas, se sabemos quem somos, temos certeza dos nossos valores e do que dá sentido à nossa fé, como podemos ter medo de sermos influenciados? Então, vou aprender e reter o que é bom.

Qual é a viabilidade do diálogo ecumênico em um universo religioso tão multifacetado como o brasileiro?

O diálogo ecumênico é algo de Deus. Pluralismo religioso sempre existiu e vai continuar existindo. Enquanto as religiões, principalmente as igrejas, não dialogarem e superarem suas divergências, o mundo não vai crer, como disse Jesus. Isso não quer dizer deixar de ser quem é e assumir outro jeito de ser. Diversidade é coisa boa. Deus permite isso porque quer que seja assim. A questão é sabermos lidar com isso e aprendermos. Precisamos que as igrejas dialoguem e cooperem entre si, a partir do que têm em comum, neste mundo tão dividido por natureza. As igrejas não podem ser mais uma fonte de divisão para este mundo esfacelado. O mundo não vai crer enquanto o crescimento evangélico for baseado em competição e divergências.


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Indicação de Leitura: História do Metodismo" por Paul Eugene

História do Metodismo", escrito por Paul Eugene Buyers e publicado pela Imprensa Metodista em 1945 é um dos melhores livros escritos sobre a história do metodismo na Inglaterra, Estados Unidos, Brasil e nos lugares onde a Igreja Metodista estava presente nos séculos XVIII e XIX e início do século XX. Para sermos bons cristãos precisamos conhecer a Palavra de Deus, mas para sermos cristãos metodistas precisamos conhecer nossa história e tomarmos posse dela, pois ela nos ensina a razão de Deus ter levantado os metodistas e da razão de respirarmos missão. Esse livro é uma volta ao tempo, é um ótimo instrumento para quem se importa com identidade, santidade e paixão missionária
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quarta-feira, 7 de maio de 2008

POR UMA TEOLOGIA DO CARÁTER CRISTÃO

*Por Bispo Josué Adam Lazier
Pensamentos e Abstrações
Introduzindo o assunto
Tenho pensado no costume de se colocar adjetivos em alguns conceitos ou entendimentos teológicos. Desta forma, há várias teologias professadas e proferidas nos discursos e nos movimentos eclesiásticos e para-eclesiásticos. Sempre surgem entendimentos ou conceitos teológicos que recebem, em função de suas características, um nome. Cito como exemplo, a teologia da prosperidade, teologia da esperança, teologia da guerra espiritual, teologia de missões, teologia do caminho, e assim por diante. Gostaria de refletir sobre um conceito teológico que se coloca, invariavelmente, quando se considera a vivência cristã num mundo secularizado e marcado por um fundamentalismo religioso extremamente individualizado, ou seja, o conceito de caráter cristão.

Seria possível falar de uma “teologia do caráter cristão”? Seria possível caracterizar esta teologia e teria ela relevância na atual conjuntura e cultura eclesiástica? Para tratar deste assunto se faz necessário colocar algumas questões: Qual evangelho tem sido pregado em nossos dias? Quais são os frutos que acompanham a vida dos que proclamam o evangelho de Cristo? Como vivem os líderes da Igreja? Como a Igreja mede o sucesso de seus líderes? Qual o estilo de vida da liderança? Os líderes são avaliados pela sua fidelidade a Deus e aos compromissos assumidos ou pelos resultados obtidos numa perspectiva do mercado? Quem de fato é referência de vida cristã para os novos cristãos? A Igreja tem sido sal da terra e luz do mundo?

Ao definir caráter e caráter cristão, os bispos e bispa da Igreja Metodista assim se expressaram: “caráter é o conjunto de traços particulares relacionados ao aspecto moral do ser. O caráter cristão é o conjunto das características de que a Bíblia fala e que são inerentes a Jesus Cristo ou ao Espírito Santo e, conseqüentemente, deveriam ser parte da vida daqueles e daquelas que nasceram de novo e têm o Espírito Santo”.[1] Ao fazerem esta consideração esperam que todos os membros da Igreja evidenciem o caráter cristão.
Refletindo sobre os contornos de tal teologia
Gostaria de apresentar alguns contornos na busca por uma teologia do caráter cristão.

1. Uma teologia do caráter cristão deve levar em conta os referenciais bíblicos e teológicos que fundamentam a integridade da pessoa que exerce liderança e que vivencia o Evangelho de Cristo. Estes referências são encontradas nas cartas pastorais endereçadas a Timóteo e a Tito. O apóstolo, ao ensinar seus discípulos, elencou qualidades que devem acompanhar a vida dos líderes. Destaco as seguintes: irrepreensível, temperança, sobriedade, modéstia, hospitalidade, aptidão para ensinar, sem violência, sem contendas, sem avareza, vivência familiar equilibrada, maturidade, bom testemunho, respeitabilidade, sem ganância e sem arrogância, além de outras (I Tm 3.1-13).

2. Uma teologia do caráter deve considerar o referencial teológico e doutrinário deixado por João Wesley, ou seja, a santidade bíblica. Ele definia a santificação como amar a Deus de todo coração e ao próximo como a si mesmo. Considerava o amor como prova suprema da presença de Deus e da Sua Ação na vida do cristão. Portanto, uma santidade que se concretizava em atitudes em relação ao próximo, atitudes de respeitabilidade, dignidade, tolerância, solidariedade, consideração e apoio.
Falar de amor nos dias de hoje é repetir um chavão pejorativo e que tem a ver mais com a própria pessoa. Assim, prefiro falar de caridade que apresenta um apelo que vai em direção aos outros e, desta forma, chega no amor abnegado revelado por Cristo na cruz do Calvário.

3. Uma teologia do caráter cristão deve assinalar a integridade que acompanha a vida de uma pessoa transformada pela Graça de Deus. A Graça de Deus é transformadora, capacitadora e, portanto, forjadora da integridade cristã. Integridade vem do latim integritate e significa qualidade de íntegro; inteireza; retidão; pureza. Já o termo íntegro significa inteiro; completo; perfeito; reto; imparcial; brioso.
Desta forma, a integridade começa com o cuidado que a pessoa tem consigo mesma, com as atitudes que toma, com a vida daqueles que estão próximos e com a vida daqueles que estão ao seu alcance. É a integridade física, moral, ética, relacional, familiar, profissional, social, etc.

4. Uma teologia do caráter cristão tem como contorno a espiritualidade, que não pode ser a estereotipada, a da moda, a que promove o ibope pessoal, a que atrai os holofotes, a que apresenta uma imagem superficial e enganosa da pessoa, a da dominação, do grito, da enganação. A espiritualidade na perspectiva de uma teologia do caráter é aquela que se evidencia através do cuidado pastoral, da alegria em servir a Deus em toda e qualquer circunstância e do discernimento maduro e comprometido com os valores do Reino de Deus.

5. Uma teologia do caráter cristão deve levar conta a dimensão pública. Não há liderança que possa ser desenvolvida sem a perspectiva da coletividade, da comunidade e da sociedade em geral. O que a pessoa é enquanto ser vivente e transformado pela Graça de Deus tem que ter respaldo no público da vida, no enfrentamento das questões contraditórias da vida, no testemunho e na defesa do direito e da justiça. Não é porque a pessoa se apresenta como alguém que tem a Graça e o Espírito de Deus que pode se colocar acima da lei e dos direitos dos outros.

6. Uma teologia do caráter cristão é alimentada na vivencia familiar e doméstica, onde a pessoa se desnuda e é conhecida pelas reações espontâneas e pelo que ela é “por dentro”. A teologia do caráter cristão começa no íntimo das relações familiares e conjugais, considerando que a família é um meio de graça.
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*Por Bispo Josué Adam Lazier é Bispo Emérito da Igreja Metodista no Brasil. Para ver na íntegra esse ensaio visite a Página do autor: http://josue.lazier.blog.uol.com.br/



Pelas costas... fale bem

*Por Maria Newnum

Falar mal pelas costas é uma “tentação” que persegue a humanidade. Os livros sagrados possuem tratados específicos para combater as línguas, consideradas “felinas”.

De qualquer modo, falar bem pelas costas é um dos elementos que distingue pessoas em todas as esferas da sociedade. Por trás desse gesto, independente se equivocado ou não, há sempre uma grandeza, por parte do que profere as boas palavras.


Conta-se que certa feita um general perguntou ao outro o que ele achava do capitão mor. Ele respondeu: - “Me parece um homem íntegro e gentil”. - “Como você pode dizer isso? Ele anda te difamando aos quatro ventos!” Replicou o outro. - “Ora, você perguntou o que eu pensava dele, não o que ele pensava de mim”; Disse sem pestanejar.

Recentemente liguei para minha amiga Lu agradecendo e dando uma pequena “bronca”, pois soube que ela me “pintou” maior do que sou. Certamente você já foi surpreendido com algo semelhante e constatado que as pessoas que falam bem pelas costas costumam exagerar nos adjetivos. Mas lembre-se, as pessoas que falam mal, exageram muito mais. Todavia, invista mais tempo corrigindo as do primeiro caso.


Não resta dúvida, a realidade marcada por corrupções na política, na sociedade e até nas comunidades religiosas, muitas vezes nos impulsiona a investir mais energia e tempo em destacar o que há de pior nas pessoas e a cairmos no terreno feio e deselegante da fofoca. Para fugir disso é preciso usar os meios e as formas corretas para “denunciar” o que precisa ser ventilado aos quatro ventos. O silêncio nem sempre é “ético”, pouco contribui para mudanças e quase sempre, ajuda a proteger indivíduos e os sistemas corruptos da sociedade.
Denunciar é preciso, é correto e revela os caráteres individuais, indispensáveis à uma sociedade carente de vozes “inconformáveis”.

Mas não esqueça: No limbo também se encontra flores e frutos. Procure-os com cuidado, encontre-os e depois faça um “bom” fuxico.

Face-a-face diga o que precisa ser dito, pelas costas, fale bem.

De Fort Wayne – Indiana – USA – Primavera de 2008.
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*Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, participa do Movimento Ecumênico de Maringá é Coordenadora do Café Teológico de Maringá.
Para comentar ou ler outros artigos acesse: http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/ e http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/

sábado, 3 de maio de 2008

Não Fazemos qualquer Negócio

Por Nilson da Silva Júnior

É mera repetição dizer que vivemos sobre a influência do mercado. Num dia desses assisti pela televisão uma reportagem sobre pais que remuneram os filhos para os pequenos serviços da casa – arrumar a cama, preparar a refeição, limpar o quarto e coisas afins. Segundo eles, esta prática desperta as crianças para a vida, à dinâmica do receber proporcionalmente pelo que se faz, do ganho e da perda.

O mercado permeia a vida. Dentro e fora de casa, vivemos como vítimas de suas tensões. De certa maneira, estamos cotados, diariamente, como que numa bolsa de valores, que pesa, remunera e cobra tudo o que fazemos. Entre créditos e débitos, existem poderes que nos regem… se temos, exigimos, se devemos, lamentamos. “Quem tem mais, chora menos”… esta é a lei. Isto nos confunde como um todo, inclusive nossa devoção.

A religião em tempos pós-modernos, serve como moeda de domínio e, pasmem, inclusive de Deus. Quem tem muita fé, obrigatoriamente, precisa ter resultados, porque a “fé de mercado” é regulamentada por certas normas, por exemplo: que quem “paga o preço”, exige. Se a pessoa paga a Deus seus débitos – orando, jejuando e participando de reuniões – ela tem o “direito” de alguns favores, afinal, o mercado se caracteriza por troca. A nova lógica é que o/a ‘crente’ acumula saldos diante do Altíssimo e, no devido tempo, cobra. O que coloca em cheque esse mercado da fé, são as provações. Diante delas, geralmente as pessoas encontram duas saídas: considerá-las como pecado – débito – ou como ameaça da concorrência – o diabo. Os imprevistos, na lógica do mercado, devem ser previstos. Mas na vida, e de forma mais evidente, na fé, existem causas imprevistas e inexplicáveis, não processáveis pela cartilha da “fé de troca”, de direitos adquiridos.

Quando fatos naturais a qualquer pessoa – afinal, segundo o próprio Cristo, Deus “… faz o sol nascer sobre maus e bons” (Mt 5.45) – surpreende os alicerces dessa fé que só vive por decretos e exigências, a “bolsa quebra” e os argumentos faltam.

Talvez nesta hora seja necessário evocar o drama de Paulo, que admitiu ter um espinho incurável, a amargura de Jó, que viu sua vida ruir, ou mesmo a dor de Estevão, diante da morte. Existem momentos em que a fé foge à razão do mercado e, ao contrario dele, conclui-se que não fazemos qualquer negócio. Aliás, me parece que ter a noção de que não se faz qualquer negócio é a grande tônica do evangelho de Cristo. Quando mais consciência disso se tem, mais força e valor – que contradição com o “evangelho” que se escreve nos tempos atuais!A lei que contraria o mercado e nos lembra de nossa fragilidade é, no meu modo de ver, a possibilidade da dependência, da humildade, da disposição de andar segundas, terceiras milhas. Parece-me que é assim que nos livramos da arrogância do mais forte, do determinismo do intolerante, do devaneio do autoritário.

Quando leio sobre o Cristo da cruz e me lembro do mercado, fico em crise. Porque um me leva para o auto-sacrifício, o outro para a queda de braços, um me remete ao oferecimento, o outro para o ganho próprio… um para os outros, o outro, para mim mesmo.
Lamento que o mercado venha abarcando nossa vida de maneira tão poderosa e que não existam muitas esperanças de evitá-lo. Espero que a fé volte logo para a cruz e que voltemos a ser uma contracultura, tal como eram nossos pais… que voltemos a ter, novamente, nossas próprias referências… sem medo de ser sal – que mesmo em pouca quantidade, faz-se notar – e luz, que esclarece, que ilumina sem alardes.

Que tenhamos pudor para não fazer qualquer negócio em nome de nossa fé.
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Rev. Nilson da Silva Júnior é Pastor da Igreja Metodista. Para ler outros ensaios:http://www.revnilsonjr.wordpress.com/

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Jesus não estabelecia pontos de atendimento. Sua igreja era ambulante...

Por Derrel Santee
Jesus saiu dali e, no caminho, viu um cobrador de impostos,
chamado Mateus, sentado no lugar onde os impostos eram pagos. Mateus 9.9 (leia 9.9-13,18-26) – BLH

Jesus não ficava sentado, esperando os outros chegarem a ele. Não montava salões para onde encaminhava os necessitados a buscar socorro. Não marcava reuniões de cura e de bênçãos. Pelo contrário, ele era quem caminhava em direção aos necessitados e os encontrava onde eles estavam. As curas e as bênçãos aconteciam em qualquer lugar a qualquer hora!... Eram espontâneas, sem necessidade de “criar ambientes apropriados”. Os que o procuravam até tinham dificuldade em encontrá-lo! Jesus não estabelecia ponto de atendimento. Sua “igreja” era ambulante.

Também enxergava o que era despercebido por todos. Quantas pessoas passaram por Mateus sem realmente vê-lo? Para o povo, Mateus era uma pessoa a ser evitada. Representava o mal. Era o “bicho papão” do governo. Cobrava impostos. Para Jesus, Mateus era uma alma carente de amizades e de desafio maior na vida. Jesus simplesmente demonstrou amizade e propôs uma caminhada juntos por caminhos novos. Mateus topou e tomou novo rumo na vida.

Jesus não foi bem compreendido pelos fariseus que queriam conservar a pureza da religião. Para eles, pessoas santas não se misturavam com pecadores. Para Jesus a santidade só é válida na convivência com pecadores. Jesus se sentia melhor entre os pecadores do que entre os santos. Até hoje, os santos não conseguem entender isto e se empenham em permanecer separados dos pecadores. Os pecadores, por sua vez, sentem a rejeição dos santos.

Uma religião moralista é igual um hospital sem enfermos. O hospital é uma mistura de pessoas sadias e doentes. O hospital existe em torno de doentes – a igreja, de pecadores.

Mas, na prática, não é bem assim. Os hospitais têm sua equipe de obreiros sadios, mas internam somente pessoas enfermas. A finalidade é curá-las e lhes dar alta. São devolvidas à sociedade para fazer a sua contribuição como cidadãos sadios. Não dependem do hospital para manter a saúde. Em contraste, as igrejas têm sua “equipe de santos” para atender os pecadores, mas querem internar somente os santos e mantê-los internados para sempre. Para ser internada na igreja, a pessoa precisa demonstrar que não é mais pecadora. Se recair em pecado pode ser expulsa da igreja. O pecador “curado” precisa ficar na igreja para manter a sua saúde espiritual.
A religiosidade dos “perfeitos” era pedra de tropeço para os pecadores. Nada mudou. Mesmo hoje, a tendência da religião é sacrificar a bondade em favor de práticas religiosas que alienam os pecadores dos santos. Por exemplo, os santos consideram a Ceia como o privilégio dos bons, não como remédio para os pecadores. Nas igrejas, “pecadores” são barrados do ritual que simboliza o corpo e sangue de Jesus dado pelos pecados de todo o mundo. A ceia, somente para crentes, é uma ironia! Foge do propósito de Jesus.

Jesus continua ser um desafio para as pessoas que querem ser do bem. O convite de Jesus, “Venha comigo”, ainda está de pé e aguardando quem o aceite. Temos a coragem de romper barreiras, as nossas próprias barreiras?
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Derrel Santee é missionário aposentado veja outros artigos em http://sementesbiblicas.blogspot.com