sexta-feira, 27 de julho de 2012

TUCKER E O CONCÍLIO MUNDIAL DE IGREJAS


TUCKER E O CONCÍLIO MUNDIAL DE IGREJAS

E. C. 1 e 8 de Junho de 1943 (p. 2 – 3)




O conselho Mundial de Igrejas 

(em formação)



(Texto apresentado no 5º Encontro Nacional de Metodistas Confessantes)

Pedimos vênia ao Sr. Redator do Expositor Cristão para oferecer aos seus leitores mais algumas noticias dos movimentos ecumênicos. O ultimo número da revista “Christedom”, informa que 77 igrejas (diversas entidades eclesiásticas) de 28 diversos países já aderiram ao Conselho Mundial de Igrejas( em formação) , sendo as três ultimas: A convenção Nacional Batista dos Estados Unidos (a sessão dos cidadões de cor), a Igreja Metodista do Brasil ,  a primeira Igreja na América do Sul a tornar-se membro) e a Igreja anglicana de Nova Zelândia.


As comissões executivas das duas seções, a Americana e a Européia, continuam a funcionar regularmente, não obstante as grandes dificuldades em se viajar, resultantes da guerra mundial. Na reunião outonal da seção Americana realizada em outubro p. p. foram prestadas importantes informações sobre vários assuntos; pelo Secretary Tracy Strong da Associação Cristã de Moços, sobre o trabalho entre os prisioneiros de guerra; pelo Dr. Forrest Knapp, da Associação Mundial Escolas Dominicais sobre suas impressões da vida das Igrejas nos países Sul Americanos; pelo Dr. Walter Vankirk, secretario do Concílio  Federal das Igrejas de Cristo na América sobre o movimento ecumênico na Inglaterra, que acabou de visitar; pelo Dr. William Adams Brown sobre a relação futura de Seção Americana do Conselho Mundial com o movimento cooperativo organizado na América, e vários outros.


A seção européia realizou a sua seção no mês de setembro. A revista “Christedom” noticia que a seguinte forma de orações intercessorial  foi usada:


“Até que todos cheguemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do filho de Deus, o estado do homem da estatura da plenitude de Cristo.


Oremos


Pela Igreja de Cristo em todo o mundo, pelos ministros e membros, para que todos sejam cheios de seu espirito;


Ó Cristo ouve-nos:


Para que a Igreja não busque sua própria segurança mas a salvação do mundo, procurando em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça:


Ó Cristo, ouve-nos:


Para que a Igreja leve a verdade e o poder do evangelho aos corações aflitos;


Ó Cristo, ouve-nos:


Para que a Igreja mostre ao mundo a solicitude do mestre pelos fracos e oprimidos e seu zelo pela verdade e justiça;


Ó Cristo, ouve-nos:


Para que a Igreja seja o seu exemplo na persistência em fazer a vontade de Deus e permanecer fiel a pesar de todas as vicissitudes;


Ó Cristo, ouve-nos;


Oremos pelo crescimento e aperfeiçoamento da unidade da Igreja de Cristo; por todos os que planejam e administram o governo da Igreja; por todos os que preparam o ministério da Igreja; por todos os que cuidam das almas dos homens e constróem o corpo de Cristo; por todos os que professam a religião cristã; para que cresçamos conjuntamente na grada de Nosso Senhor Jesus Cristo, e mostremos seu espirito em nosso amor uns pelos outros.


Ouve-nos, nós te suplicamos.


Oremos – para que sejamos informados sobre faltas e erros em nos mesmos, que entravam o crescimento da unidade, e assim, nos libertemos deles;


Ouve-nos, nos te suplicamos.


Para que oremos e trabalhemos sem cessar pela unidade perfeita da Igreja de Cristo;


Ouve-nos, nós te suplicamos:


“ó Deus todo poderosos, que enviaste teu filho, Jesus Cristo ao mundo, para que por sua cruz e paixão as nações fossem remidas para a tua gloria, envia, te suplicamos, tua Igreja no poder de sua incarnação a proclamar a mensagem de ignorância, toda presunção e falta de caridade, de modo que por teu amor derramado em nossos corações e pela verdade que procede de ti, possamos recear a toda humanidade o salvador do mundo, teu filho Jesus Cristo, nosso senhor. Amem”.

____________________



O arcebispo de Canterbury foi eleito presidente do conselho e pregou o sermão inaugural baseado no texto: - “Fala aos filhos de Israel que caminhem”. Entre outras ponderações importantes, disse: - “Não há dissolução de nossos princípios distintivos pelo fato de nos reunirmos neste conselho. Porém há uma escolha entre duas direções, dois pontes de ênfase. Nos dias em que o cristianismo em seus princípios fundamentais permaneciam inatacável parecia natural iniciar-se ênfase nos pontos em que se distingue uma comunidade de outra. Mas na atualidade quando largamente se desafiam os princípios básicos do cristianismo e em muitos lugares são repudiados – a necessidade fundamental é de um testemunho unido e claro do próprio cristianismo. A diferença entre os cristãos e não-cristãos, entre aqueles que crêem e os que não crêem que em Jesus Cristo, Deus visitou e reuniu seu povo”.


A Seção Européia do Conselho Mundial de Igrejas (em formação) na sua ultima reunião em Genebra endereçou aos cristãos em todo o mundo a seguinte carta de camaradagem cristã.

Prezados irmãos em Cristo: -


Nossos pensamentos e orações estão em torno de todas as igrejas que passam por terríveis provações. Ouvimo-las dizer o que S. Paulo escreveu de sua prisão, aos Filipenses: “ A maioria dos irmãos no senhor, animados pelas minhas prisões, estão muito mais encorajados em falar, sem temor, a palavra de Deus”. (Fil. 1:14).


Contudo, esta bênçãos não se dispensa unicamente as Igrejas sob a cruz, mas, a toda a comunhão dos crentes em Cristo. Através do testemunho das Igrejas que estão em provações, há um desafio a todas as Igrejas no sentido renovarem sua fé e vida. Dizemos as Igrejas sofredoras o que São Paulo escreveu aos Tessalonicenses:


“ Vós vos fizestes imitadores nossos e do senhor, tendo recebido a palavra do meio de muita tribulação com gozo do espirito santo, de sorte que vos tornastes modelo para todos os crente” (1. Thesc. 1:6-7)


Impressionamo-nos pela evidencia dos relatórios de muitas igrejas, as quais precisamente, por causa desse novo encontro com a realidade da cruz, a comunhão entre as igrejas tem se aprofundado. Essa é a razão por que temos tido liberdade para começar os preparativos para os dias em que a Igreja possa, novamente, com toda a liberdade manifestar o seu caráter ecumênico e iniciar a reconstrução do mundo, e da reconciliação das nações.


“O próprio Deus de toda a graça, que vos chamou em Cristo para a sua eterna gloria, depois que tiverdes padecido um pouco, vos há de aperfeiçoar, estabelecer, fortificar e consolidar. A ele seja dado o domínio pelos séculos dos séculos. Amem”. (1. Pedro 5-10-11)


Se os redatores dos outros jornais evangélicos no Brasil acharem de interesse para seus leitores – esta comunicação e quiserem fazer-nos o favor de transcreve-lá, toda ou em parte, ficar-lhe-emos muito agradecidos.


Acho que, pelo menos, trechos desta, podem ser lidos e comentados com grande proveito perante as congregações em cultos públicos.

H. C. Tucker

Sec. Geral de Ação Social.

12 Avenida Erasmo Braga

Rio de Janeiro.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Relato do 5º Encontro Nacional de Metodistas Confessantes

Relato do 5º Encontro Nacional de Metodistas Confessantes




De Fotos Oficiais - 5. Encontro Confessante





O encontro inicia-se no sábado por volta das 8h30. Enquanto as pessoas chegavam, muitas delas vindas diretamente da estrada, das rodoviárias, dos aeroportos, confraternizávamo-nos ao redor da mesa. Mesa do café da manhã e Mesa da Graça. Na mesa da graça, que é o local de compartilharmos as delícias das diversas regiões brasileiras havia doces do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Belém e Rio Grande do Sul, bem como bolos, biscoitos e outros quitutes compartilhados com muita alegria.


Por volta das 10h (a agenda já havia sido alterada para melhor atender aos que chegavam atrasados por causa do sempre caótico trânsito de São Paulo) iniciamos a devocional de abertura, cuja liturgia havia sido preparada e dirigida pelo rev. Stephen Newnum.




Após a celebração cúltica reunimo-nos na sala de reuniões. Cada um de nós teve a oportunidade de se apresentar, pois muitos se conhecem apenas pela interação virtual. Dedicamos o período da manhã para a apresentação do prof.Ely Eser Barreto César, que fez uma análise das linhas teológicas da Igreja Metodista a partir da década de 60 até os dias de hoje. Durante a apresentação do prof.Ely, intervínhamos em sua fala produzindo não uma palestra, mas um produtivo debate.


http://metodistaconfessante.blogspot.com/2012/07/teologia-e-pratica-metodista-partir-dos.html


Saímos para almoçar em um restaurante próximo e ao nos reunirmos novamente na sala de reuniões, após cantarmos algumas canções e hinos, retomamos a apresentação/debate.


Depois de um intervalo para o café, houve um relato sobre a caminhada da comunidade de Belém até o presente momento. Todas as angústias, preocupações e também alegrias e esperanças foram compartilhadas. Decidiu-se pela busca de soluções pastorais e soluções institucionais de acordo com o que se julga adequado e para que se mantenha a caminhada à luz da herança teológica wesleyana.


Foi dedicado um tempo para o debate e reações à fala do prof.Ely, onde buscou-se refletir sobre a situação atual da igreja e as formas que como Metodistas devemos agir junto à igreja instituída e junto às comunidades locais.


Terminamos a reunião do dia 21/07 numa celebração cúltica, preparada e dirigida pelo rev.Paulo Bessa, onde reafirmamos nosso compromisso mútuo e compromisso com a Igreja Metodista. Compromisso que envolve coragem, desprendimento e convicção.




Na manhã do dia 22/07 reunimo-nos, tomamos o café da manhã e nos congregamos juntos à comunidade da Igreja Metodista em Itaim Bibi. Participamos do culto matutino, dirigido pelo rev.Octávio Alves Filho, pastor local. O responsável pela mensagem foi o rev. Moisés Abdon Coppe, que trouxe uma palavra consoladora e desafiadora, que nos impele à caminhada conjunta.



Nas reuniões plenárias refletimos sobre a construção constante da identidade metodista, da contribuição que cada um de nós tem a dar em suas comunidades locais e sobre como essa contribuição deve estar enraizada na herança wesleyana latinoamericana.


Estabeleceu-se uma série de princípios com os quais nos comprometemos, que reconhece a pluralidade existente no seio da Igreja Metodista,  autenticamente wesleyanos, profundamente enraizados no conceito de "missio Dei", missão de Deus, e do trinômio Deus-Mundo-Igreja, no qual, como igreja, integramo-nos no mundo para o estabelecimento do Reino de Deus à luz da tradição wesleyana e latinoamericana, materializado no Plano para a Vida e Missão da Igreja.


Por fim nos reunimos para um Culto de Ação de Graças, cuja liturgia fora preparada pelo rev. José Carlos de Souza e dirigida pelo rev.Adahyr Cruz. Celebramos o culto conforme o ritual da Igreja Metodista e a Palavra e a Mesa ficaram a cargo do revmo. Paulo Ayres Mattos, que nos desafiou à caminhada profética e anunciadora do Reino de Deus e celebrou a Eucaristia junto a todos nós. Neste culto houve uma emocionante homenagem a João Wesley Dornellas, onde cada um pode expressar sua amizade, admiração, carinho e saudades desse grande metodista, que foi um rebelde e um amante da igreja, amando-a e lutando por ela mesmo reconhecendo que em vários momentos sua caminhada não fora de acordo com os valores evangélicos. O irmão Carlos Wesley Dornellas pode expressar sua gratidão a Deus pela vida do irmão e pela vida do pai, o saudoso rev.Sebastião Dornellas e transmitirá à esposa, dona Alice, o carinho e solidariedade de todos nós.




Esperamos ver muito mais metodistas, homens e mulheres, de todas as regiões brasileiras, no 6º Encontro de Metodistas, Confessantes, no Rio de Janeiro em 2013.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

TEOLOGIA E PRÁTICA METODISTA A PARTIR DOS ANOS SESSENTA


TEOLOGIA E PRÁTICA METODISTA A PARTIR DOS ANOS SESSENTA

(IDAS E VINDAS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE METODISTA)

De Reuniões 21/07


(Apresentação efetuada por ocasião do 5º Encontro Nacional de Metodistas Confessantes, em 21 de julho de 2012 na IM em Itaim Bibi - SP)




1.      PRELIMINARES

1.1  DE QUE LUGAR REALIZO A ANÁLISE?

a)      Fui um dos atores no processo de avaliação crítica das dimensões teórico/práticas do conceito de “missão” nos anos 60, a partir do novo enfoque da “missão para o mundo”.

b)      Participei do processo que viabilizou a transição entre a prática do projeto missionário estadunidense e o desafio da encarnação da tradição wesleyana à realidade brasileira e latinoamericana.

c)      Fui testemunha atuante da emergência e construção dos Planos Quadrienais de 1974 e 1978 e do Plano para a Vida e Missão (1982)

d)      Fiz parte da liderança que introduziu, antes do Concílio de 1987, o novo modo de ser Igreja dos “Agentes da Missão” (transmudado em Igreja dos Dons e Ministérios no Concílio).

1.2  Fiz cedo a transição entre a postura geral definida como “liberal” para uma postura radical, que enfatiza a práxis, a saber, associa dialeticamente prática e teoria como entidades distintas, valorizando perspectivas históricas. Estas novas bases orientaram meus estudos das Escrituras (ex. o Jesus da história, o Jesus de Nazaré, se manifesta com maior amplitude a partir de sua prática, requerendo subordinação de seu ensino à sua prática).



2.      ANTECEDENTES DA IGREJA METODISTA DE MATRIZ NORTEAMERICANA

2.1  O projeto: “o destino manifesto”

Este projeto é fundamentalmente político (a democracia nos moldes da experiência democrática norteamericana é o horizonte da suprema realização para o mundo: o “american way of life”).

As Igrejas estadunidenses, herdeiras da fé no destino manifesto, a aproximaram da noção de “evangelização” (que se confunde também com a democratização das nações; aqui se articulam as fidelidades religiosa e estatal) (ex clássico “maravilhas grandiosas outros povos têm (os EEUUAA), bênçãos venham semelhantes, sobre nós (os brasileiros) também”).

2.2  A evangelização anticultura

a)      No modelo missionário de nossas origens, a cultura brasileira é, em geral, rejeitada como obscurantista e retrógada

b)      O “mundo” é visto como lugar a fugir para o refúgio da Igreja, a nau segura

c)      Evangelizar = americanizar

d)      A sociedade protestante no país é vivida próxima à experiência do “ghetto”

e)      Exceções surgiram a partir dos missionários relacionados ao “evangelho social” (ex Tucker)



3.      INFLUÊNCIAS PROVOCADORAS DE MUDANÇAS (a ordem abaixo não é cronológica, pois estas novas perspectivas se mesclavam; ela é “descritiva”)

3.1   A leitura marxista da sociedade e da economia (marxismo como instrumento de análise)

a)      A concentração do capital como injusta e desestruturante da sociedade

b)      A pobreza como construção social e histórica; o conflito de classes

c)      A aproximação do evangelho de processos revolucionários

d)      A emergência da Teologia da Libertação e a valorização/descoberta do movimento profético do AT

e)      A opção preferencial pelos pobres

3.2  O Concílio Mundial de Igrejas reavalia conceitos de missão.

a)      Evangelização como “propaganda” que difunde um modelo, descaracteriza os neoconversos, tornando-os piores que “seus evangelizadores”.

b)      A crítica ao modelo tradicional “Deus-Igreja-Mundo” pela constatação de ser o mundo o alvo do amor de Deus. O novo modelo “Deus-Mundo-Igreja” (ou “Missiodei”, adotado pelos Planos Quadrienais e o PVMI. A agenda da Missão deriva também do mundo.

3.3  A redescoberta do projeto do “Reino de Deus”

a)      resultante da práxis do Jesus de Nazaré (redescoberta do Jesus histórico e sua prática), como desafio de prática missionária que se encarna na história.

b)      Participar na construção do Reino de Deus aqui e agora requer priorização da prática do amor em todas as fronteiras, independente das fronteiras da Igreja

c)       O pobre como o bemaventurado do Reino

d)      O novo chão para práticas ecumênicas

3.4  A redescoberta de John Wesley como fonte inglesa da tradição wesleyana

a)      A constatação da mediação enviesada da tradição wesleyana original face às distorções processadas nos EEUUAA. (Ex. A centralidade da espiritualidade wesleyana no evento do “coração aquecido” e suas consequências para o desvirtuamento do conceito de “santidade” e concentração no individualismo, ignorando que, para Wesley, “o cristianismo é essencialmente uma religião social e torná-lo em religião solitária é destruí-lo”)

b)      A nova percepção do conceito original de santidade e santificação: a fusão radical e orgânica entre atos de piedade (dimensão transcendente) e a prática da misericórdia (organização e materialização de obras a favor dos pobres e desvalidos), como o coração da tradição wesleyana original

c)      O pobre como quem suscita o amor misericordioso em função de suas carências (em vez de um amor que brota do amor de Deus em nós e se dirige ao pobre com viés autoritário, do tipo “eu sei o que é bom para você, ou seja, o evangelho que anuncio”)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Somos pastores com ovelhas e ovelhas com pastores.

Somos pastores com ovelhas e ovelhas com pastores.



De Culto Matutino 22/07



Sermão pregado no Culto Matutino de 22 de julho de 2012 na Igreja Metodista do Itaim Bibi, por ocasião do 5º Encontro Nacional de Metodistas Confessantes.


Primeira Leitura: Jeremias 23.1-6
Segunda Leitura: Efésios 2.13-18
Terceira Leitura: Marcos 6.30-34

Os que são chamados ou pelo menos reconhecidos pela alcunha de discípulos(s), encontram-se envolvidos numa ação evangelizadora no mundo e na sociedade onde estão inseridos. De fato, o discipulado é uma tarefa de pastoreio de vidas e confronto das injustiças. É uma ação cotidiana que parte daqueles(as) que desejam ou almejam parecer-se com Jesus e espalhar a solidariedade aos outros na dimensão do cuidado.

As narrativas do Evangelho de Marcos, escritas após o ano 70, afirmam que o(s) primeiros(as) discípulos(as) enfrentaram o referido desafio. Aliás, além da perspectiva do cuidado, Rikk Watts salienta que este mesmo Evangelho possui em seu bojo três perguntas chaves:

1. Como o Reino de Deus se manifesta entre nós?
2. O que significa ser cristão?
3. O que significa, de fato, seguir a Jesus?


Além dessas perguntas, os discípulos tiveram também que se esforçar para a vivência da compaixão segundo os moldes da pregação impulsionada pelo mestre de Nazaré.
No relato evangélico destacado, nos deparamos com os discípulos retornando de uma missão. O contexto dessa missão segue-se ao relato da morte de João Batista, numa clara alusão ao fato de que a ação evangelizadora precisava continuar. João é morto, mas a mensagem que transforma vidas não está morta. E os discípulos agora são os portadores da mensagem de boas novas. Ora, depois das andanças, das partilhas, dos encontros e desencontros, os discípulos estavam cansados e exaustos e Jesus os chama para o descanso em um lugar tranquilo. Esse descanso, merecido por sinal, era essencial para os peregrinos do Caminho e o mestre sabia disso. 

O ritmo alucinante de vidas envolvidas com vidas, na esfera da ação evangelizadora, acaba provocando cansaços, os mais diversos e até mesmo a exaustão. Porque essa ação é um corredor aberto onde pessoas e suas histórias transitam, impelindo-as a saírem de suas mediocridades com a finalidade de alcançar novas possibilidades na espiritualidade encarnada do evangelho. Dessa forma, então, nos deparamos com um ciclo onde as vivências no referido corredor exige também o descanso e vice-versa.

E nesse ponto cabe-nos uma observação, pois há um perigo constante quando nos envolvemos em demasia numa frente que visa a promoção da vida. Enquanto o sangue está aquecido pelo empenho, as coisas caminham bem, entretanto é igualmente necessário, num momento segundo, nos protegermos em uma caverna qualquer, sob os cuidados da graça de Deus. Jesus sabia disso, e por isso, convida seus discípulos ao descanso num lugar silencioso.

De igual modo, o lugar de silêncio é sempre um lugar que oportuniza escutarmos, uma vez mais, a voz de Deus através da oração e da interpretação da sua palavra. Não existe ação desvinculada de devoção, assim como não existe devoção desvinculada de ação. E nesse ponto de nossa reflexão, somos novamente chamados ao viver equilibrado, tão preconizado por João Wesley. Encontramos a mesma dinâmica do equilíbrio nas linhas reflexivas de William Barclay: “O ritmo da vida cristã é a alternância entre o encontro com Deus em um lugar secreto e o serviço aos homens na praça”.

Jesus, então atravessou o lago em uma pequena nau, juntamente com seus discípulos para o merecido tempo de descanso.

Entretanto, nesse tempo surge a compaixão. A multidão os esperava. O tempo urge e as pessoas têm suas necessidades. É curioso notar como as pessoas se alinham a um fio de esperança, seja ele qual for. É curioso notar como as pessoas seguem líderes, os mais diversos, quando percebem a oportunidade de mudar de vida, quem sabe, para melhor. É curioso notar como a ansiedade gestada em uma alma desesperada pode se tornar um terreno passível de transformação, sejam elas boas ou ruins. No caso de Jesus, as pessoas sabiam que se tratava de uma gloriosa transformação.

Diante da multidão, Jesus faz uma constatação chocante: “São como ovelhas que não têm pastor”. Diante dessa constatação, não há lugar para fenecer. O descanso dos discípulos é interrompido e a ação evangelizadora recomeça.

Mas o que significa essa expressão chocante de Jesus:

Significa, primeiramente, que a vida apresenta suas complexidades e sempre nos conduz para o terreno da obscuridade. Todos enfrentamos problemas, os mais diversos, e nos perdemos em devaneios e pensamentos. Em múltiplos instantes do nosso cotidiano, tememos e precisamos do ombro amigo para a sustentação e redirecionamento da vida. As pessoas, entre a multidão, precisavam do ombro amigo de Jesus.

Em segundo lugar, precisamos nos deparar com alguém que nos inspire e nos dê a possibilidade de avançarmos. De fato, para aquela multidão e para nós, Jesus é a fonte de inspiração. Num mundo onde a lógica de Mamon organiza a vida social, torna-se urgente e importante a manifestação de uma inspiração que nos oportunize uma outra lógica. O cristianismo é desafiado pelos ventos dos sete Espíritos de Deus a viver no mundo sem ser do mundo, ou seja, viver outra lógica confrontando a que está presente diante de nossos olhos, visando uma sensibilidade solidaria. Nessa mesma linha de pensamento, Hugo Assmann e Jung Mo Sung no livro co-escrito: Competência e sensibilidade solidária” apontam para a necessidade de negar o olhar para os valores da cultura dominante e ver o que ainda não pode ser visto pela força interior do desejo. Dessa forma, criando um horizonte de esperança e utopia,

"que ainda não existe e que talvez nunca venha a existir, mas que dá um sentido às ações que nascem do nosso desejo de um mundo melhor. Este horizonte de utopia e esperança nasce juntamente com este desejo de vivenciar a sensibilidade solidária para além das relações pessoais, ou em um pequeno grupo, o desejo de que toda a sociedade, toda a realidade seja invadida e ‘grávida’ desta solidariedade mais genuína. E é este horizonte utópico que alimenta este desejo e dá sentido a esta sensibilidade solidária” [ASSMANN & SUNG, 134 E 135]. 

A sensibilidade solidária é, de fato, uma outra lógica frente ao mundo hermeticamente fechado em suas verdades sem amor.

E finalmente, uma ovelha sem pastor está desprovida de cuidado e segurança. Se um sistema que existe para favorecer o bem estar das pessoas não o efetua, então, se torna necessário abraçar um outro sistema, quem sabe, marcado por pequenas comunidades de vida, onde a manifestação do Reino de Deus seja mais concretizada em versos, prosas, boa comida, saborosa bebida e justas amizades. Aliás, em 2011, pensando nos desafios que nos levam ao anúncio do Reino, veio-me intuitivamente um poema. Eis aqui o relato:

O Reino de Deus é uma coisa modesta
É sinal de vida, num mundo de cão
É força que brota da simplicidade
De quem tem no peito um bom coração

O Reino de Deus é um grão de mostarda
Que cresce, que murcha, dá flor e dá fruto
Mas faz diferença no cotidiano
De quem tá cansado e só quer relaxar


O Reino de Deus é viúva que acha
Moeda perdida num canto qualquer
E reúne as amigas pra uma festinha
É o riso e alegria querendo chegar


O Reino de Deus é acontecimento
Que ocorre aqui, que ocorre acolá
É Deus sempre junto da história da gente
Mandando as tristezas pras bandas de lá

E nas metáforas desse singelo poema chegamos à conclusão de que o Reino é sempre maior que a igreja e que as pessoas, igualmente, são maiores que as instituições e seus líderes. Sendo assim, mais do que a valorização da instituição ou da figura personalista de um determinado líder, o pastoreio é sempre um nicho comunitário de pessoas que querem viver bem, viver melhor. Na perspectiva do que Jesus constatou, não há espaços para personalismos, mas um lugar, em um canto qualquer onde mestre e discípulos(as) se organizam numa comunidade sem patentes e sem hierarquias, onde Deus é tudo em todos.


Então, em tom de conclusão, afirmamos que as pausas para o descanso e a compaixão que visa o cuidado das vidas se misturam na lida diária. Num e noutro espaço, é a graça de Deus que nos ajuda na conciliação, quem sabe, numa mesa farta com risos e riscos, onde pessoas concretas que sofrem dramas concretos se cuidam umas das outras sem peso ou ressentimento. É como Dom Hélder Câmara, saudoso bispo de Olinda, afirma: “As pessoas te pesam? Não as carregue no ombro. Leve-as no coração”. De alguma forma, seja assim a tônica de nosso mútuo pastoreio, de uns com os outros, de uns para com os outros, pelos outros, pois ao final das contas, somos pastores uns dos outros e ovelhas com pastores(as), os mais diversos(as). Que o Senhor nos ajude. 

Fotos do 5º Encontro Nacional dos Metodistas Confessantes - 21 e 22 de julho de 2012

Fotos do 5º Encontro Nacional dos Metodistas Confessantes - 21 e 22 de julho de 2012




Momentos antes do início do encontro.





Oração da Manhã - 21 de julho.





Liturgia da Oração da Manhã: http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2012/07/oracao-da-manha-21-de-julho-de-2012.html


Reuniões de 21 de julho.





Oração da Noite - 21 de julho.





Liturgia da Oração da Noite: http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2012/07/oracao-da-noite-21-de-julho-de-2012.html

Culto Matutino de 22 de julho.




Reuniões de 22 de julho.





Culto de Ação de Graças - Encerramento.





Liturgia do Culto de Ação de Graças: http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2012/07/culto-de-acao-de-gracas-22-de-julho-de.html




domingo, 22 de julho de 2012

Culto de Ação de Graças - 22 de Julho de 2012 - Encontro Nacional dos Metodistas Confessantes

Culto de Ação de Graças - 22 de Julho de 2012 - Encontro Nacional dos Metodistas Confessantes


Clique aqui e baixe a liturgia em pdf.


“mesmo o ler, ouvir e orar devem ser omitidos, ou serem adiados, ‘diante do poderoso chamado da caridade’, quando somos chamados a aliviar a aflição de nosso próximo, quer no corpo, quer na alma” (John Wesley. Sermão 92: Sobre o zelo, II, 9).

Como Igreja...

... Adoramos a quem nos congrega como seu povo

·         Preparação
·         Acolhida:
Dir: Regozija-te, ó povo de Deus! Celebra a vida que há em ti e a presença de Cristo ao teu redor.
Todos: Nossos olhos serão abertos! O presente terá novo sentido e o futuro brilhará com esperança.
Dir: Regozija-te, ó povo de Deus! Inclina-te diante do Único que é nossa sabedoria e fortaleza.
Todos: Apresentamo-nos diante do nosso Deus, com a mente e o coração abertos para ouvirmos a sua voz e sermos fortalecidos pelo seu Espírito.
·         Hino nº 104: Louvor ao Trino Deus



Santo! Santo! Santo! Deus onipotente!
Cantam de manhã nossas vozes com ardor.
Santo! Santo! Santo! Bom e verdadeiro!
És Deus triuno, excelso Criador!
         Santo! Santo! Santo! Todos os remidos,
         Juntos com os anjos, proclamam teu louvor.
         Antes de formar-se o firmamento e a terra
         Eras e sempre és, e hás de ser, Senhor.
Santo! Santo! Santo! Nós, os pecadores,
Não podemos ver tua glória sem tremor.
Tu somente és santo; só tu és perfeito,
Deus soberano, imenso em teu amor!
         Santo! Santo! Santo! Deus onipotente!
         Tuas obras louvam teu nome com fervor.
         Santo! Santo! Santo! Justo e compassivo!
         És Deus triuno, excelso Criador!
·         Oração de Adoração

... Reconhecemos nossas faltas e buscamos o perdão


·         Chamado à Confissão: A Igreja não é clube religioso ou simples instituição resultante do espírito associativo do ser humano. A origem e o fundamento da Igreja encontram-se na convocação que Deus em Cristo dirige a todas as suas criaturas para que, na força do Espírito, constituam o seu povo amado. Nós somos Igreja: a comunidade que preserva, na palavra e na ação, a memória dos grandes atos de salvação. Mas, às vezes, nós covardemente nos acomodamos e deixamos de ser a presença de Deus no mundo. Nessa hora, necessitamos do seu perdão.
·         Oração de confissão silenciosa
·         Cântico:
Ouve, Senhor! Eu estou clamando,
Tem piedade de mim e me responde!
·         Proclamação de Perdão: 1Pedro 2.9-10

... Louvamos a deus porque nos concedeu a sua graça

·         Afirmação de Fé: Credo da Esperança
Cremos em Deus, o Pai,
Que criou o mundo do nada,
As coisas que existem do inexistente:
O Autor de nossa esperança.
Cremos em Jesus, o Cristo,
O qual, contra todos os fatos,
Confiou na promessa do Pai,
Afirmando a vida e ressurgindo dos mortos.
Cremos no Espírito, o Paráclito,
O qual, agindo sobre a frágil humanidade, impulsiona a história em direção à concretização da Esperança.
Cremos no Reino dos Céus,
Chegada, sentido,
Razão de ser de nossa existência.
Cremos na Missão da Igreja,
que nos impede de parar na caminhada,
E nos empurra para a Ação. Amém.
[elaborado pelos pastores José Carlos de Souza, Marcos Antonio Garcia,
Paulo Roberto Garcia e Octavio Alves dos Santos Filho, em 1984]


·         Hino nº 133: Grata Memória [adap. Carlos Cunha]






Ó Mestre, nunca cessarão meus lábios
De bendizer-te, de entoar-te glória;
Pois eu conservo, de teu bem imenso,
Grata memória!
Quando perdido no val deste mundo
Só me cercava nevoeiro escuro;
Dos céus mandaste providente raio
Brilhante e puro
Oh! nunca, nunca cessarão as vozes
De tua Igreja a cantar-te glória.
Nós celebramos teu amor presente
Em nossa história!

... Ouvimos as boas-novas de libertação

·         Leitura Bíblica
·         Mensagem: Revmo. Bispo Paulo Ayres Mattos

... Renovamos o nosso compromisso com o Reino

·         Cântico Eucarístico: Grão [Armindo Trevisan & Flávio Irala]
Se o grão não morrer
Debaixo da terra,
Não virá a espiga
Alegrar a mesa.
Se o grão resistir
Ao vento e à chuva,
Não terá o vinho
O vigor da uva.


Se o grão não morrer
Na mó do moinho,
O corpo estará
Cada vez mais sozinho.


Se o grão se entregar
À força do pão,
Convívio haverá
Na ressurreição.



·         Celebração da Ceia do Senhor
·         Oração pela Igreja:
A - Ó Deus, oramos pela tua Igreja, que se acha hoje perplexa, no meio de intensa transformação social, e face a face com uma nova e grande tarefa. [...]
B - Quando a comparamos com todas as demais instituições humanas, alegramo-nos porque não há uma que lhe seja igual.
A - Mas, quando a julgamos com o espírito de seu Mestre, inclinamo-nos com piedade e contrição. Oh! Reveste-a de novo com o espírito de vida de Jesus!
B - Concede-lhe novo nascimento, mesmo que seja com a angústia do arrependimento e da humilhação. Dá-lhe mais imperiosa responsabilidade no dever, mais viva compaixão pelo sofrimento e mais completa lealdade para com a tua vontade.
A - Põe nos seus lábios e corações o Espírito do seu Senhor. Ajuda-a a proclamar ousadamente a vinda do Reino de Deus e a ruína de todos os que lhe resistem.
B - Enche-a com o escárnio que tiveram os profetas pela tirania, e com a ternura de Cristo pelos esmagados e sobrecarregados.
A - Dá-lhe fé para abraçar a causa do povo e para reconhecer, nas mãos que tateiam à procura de liberdade e luz, as ensangüentadas mãos de Cristo.
B - Ordena-lhe que cesse de procurar a sua própria vida com o risco de perdê-la.
Todos - Faze-a corajosa para dar a sua vida à humanidade a fim de, como seu Senhor crucificado, possa ela subir, pelo caminho da cruz, à glória mais elevada. Por Cristo Jesus, nosso Senhor. Amém.
(Oração adaptada de Walter Rauschenbusch)
·         Bênção Apostólica
·         Bênção Cantada

Liturgia elaborada por rev.José Carlos de Souza para o 5º Encontro Nacional dos Metodistas Confessantes. Ilustração retirada do site http://www.cruzblanca.org/hermanoleon/index.htm