O Ministério AA-Afro foi criado em 2005 seguindo a tradição metodista brasileira de refletir sobre a caminhada da igreja e da sociedade e de atuar contra as práticas racistas, valorizando a cultura africana.
Em 2005 o AA-Afro promoveu a Consulta Nacional da Igreja Metodista sobre Racismo, em conjunto com as Pastorais regionais de combate ao racismo e com a Secretaria Nacional de Ação Social (hoje extinta). Em 2006 o AA-Afro ajudou a organizar o Encontro Bi-Distrital, juntamente com a 5ª Região, no qual se produziu o documento "Carta de Piracicaba", com recomendações para o Concílio Geral. Este documento afirma: "Constatamos que, devem ser ampliadas as iniciativas que ajudem a desconstruir o preconceito e racismo, e por outro lado, valorizem a cultura, liturgia e musicalidade negra nas igrejas locais, como também nas instituições metodistas. Solicitamos que a Igreja Metodista, por meio das diversas instâncias, particularmente o corpo clérigo, apoie a criação de ministérios locais que trabalhem a superação do racismo, propiciando experiências de diversidade cultural do povo brasileiro nas igrejas locais e incentivando as ações socioeducativas e celebrações cúlticas com a inclusão de conteúdos bíblicos, históricos, teológicos e musicais da cultura afro-brasileira."
O Ministério AA-Afro realizou, em conjunto com outros organismos ecumênicos, cinco encontros Afro-Cristãos, em geral no campus da UMESP, nos quais negros e negras das mais diversas confissões religiosas se reuniam para refletir sobre o cristianismo e o compromisso com as populações negras, indígenas e quilombolas, além de promover a espiritualidade e a liturgia de matriz africana.
http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2012/03/5-encontro-afro-cristao.html
No ano de 2013 o Ministério AA-Afro não recebeu nomeação de obreiras e obreiros para a continuidade do frutífero trabalho realizado até então. Em contato com o revmo.José Carlos Peres fomos informados que o Ministério AA-Afro não foi extinto, mas encontra-se "a suprir" até o ano de 2014, quando o bispo pretende encontrar um irmão ou irmã para assumi-lo.
Todavia, no Relatório Episcopal a ser apresentado ao 41º Concílio Regional da 3ª Região, o revmo. bispo José Carlos Peres afirma não mais se justificar a continuidade do Ministério de Ações Afirmativas Afrodescendentes.
Lamentamos e afirmamos que se constituirá um grande retrocesso caso a 3ª Região descontinue este ministério que tem atuado fortemente junto às comunidades para a construção de uma espiritualidade livre do racismo e com mais reflexão sobre a presença dos negros e negras na Igreja e sua contribuição para a formação da identidade evangélica e metodista. Também é lamentável pois tal decisão afronta de maneira direta as orientações do Colégio Episcopal, expressas na Pastoral sobre Racismo, emitida em 2011 e assinada pelos bispos e bispa da igreja, que diz o seguinte:
ORIENTAÇOES PASTORAIS
É tempo de restauração da Igreja! Para
esta tarefa, convocamos nossas Igrejas Locais e Instituições Metodistas a desenvolver
um movimento contra o pecado do racismo, que tem causado grandes prejuízos e
sofrimentos às populações negras. Recomendamos o apoio e a promoção de ações
afirmativas, como caminho para esse processo de restauração, tais como:
- Realizar estudos bíblicos voltados para a ação libertadora de Deus no cotidiano dos grupos historicamente desvalorizados, e sobre a presença geográfica e cultural da África na Bíblia e seu valor diante do amor de Deus.
- Promover campanhas de oração, atos de confissão e ações de solidariedade a movimentos sociais que lutam pela eliminação do racismo.
- Realizar o dia da confissão e purificação de pensamentos, palavras e atos que manifestam o pecado do racismo.
- Promover cultos, encontros, exposições e feiras, teatro, filmes e outras atividades que tragam à memória:
- ações de resistência contra o sistema escravista;
- personagens negros/as relevantes na história, literatura, artes, músicas;
- personagens negros/as que contribuíram na propagação do evangelho e da Igreja Metodista.
6. Promover atividades e ações nas datas nacionais e
internacionais referentes à luta contra o preconceito, discriminação e racismo.
7. Praticar ações inclusivas de pessoas negras nos diversos
segmentos e níveis da Igreja, como no pastoreio, administração, educação
cristã, Escola Dominical, sociedades, ministérios ...
8. Utilizar figuras, brinquedos - bonecas pretas, indígenas,
orientais, etc.-, histórias, músicas e outros símbolos que valorizam a
diversidade humana e, em especial, os grupos afrobrasileiros e indígenas.
9. Criar, na igreja local, um ministério voltado para o
enfrentamento ao racismo e ao fortalecimento do grupo negro.
10. Trabalhar, a partir dos valores do Reino de Deus, para que:
- as oportunidades sociais sejam distribuídas com equidade, respeitando as diferenças, promovendo igualdade de condições no acesso a oportunidades, para que todos e todas usufruam os mesmos direitos.
- a inferiorização e exclusão social e econômica não ocorram devido ao racismo e à discriminação étnica.
Baixe aqui a Pastoral sobre Racismo.
Um comentário:
Muito boa a matéria e a provocação feita pelo Blog Metodistas Confessantes. Estive na coordenação do Ministério desde sua fundação em 2005 e pela Graça de Deus e empenho de um pequeno grupo pudemos desenvolver várias atividades e propostas para a superação do racismo, o qual permanece camuflado, perverso e forte dentro do segmento religioso cristão, e, particularmente metodista. Em setembro do ano passado, após sete anos na coordenação, enviei uma mensagem ao Bispo Peres, comunicando o meu afastamento da coordenação deste Ministério, ao que ele respondeu que aceitava e agradeceu o o tempo que fiquei nesta atividade. Hoje após um ano parece que não houve uma comunicação oficial sobre meu desligamento e ainda pairam dúvidas sobre a continuidade do Ministério AA-AFRO-3RE. Penso que, se este Ministério fosse valorizado pela sua importância, como um braço da igreja atuante nas questões de direitos humanos, ele seria ocupado com brevidade. Existiria a preocupação de uma nomeação seguida ao afastamento da coordenadora. Vale dizer que na esfera nacional ocorreu esta substituição já no mês seguinte ao meu afastamento. Neste mês da Consciência Negra, esta manifestação do blog Metodistas Confessantes levanta a necessidade deste Ministério. No entano, minha sensação é de que existe apatia ou desinteresse, desejo, por parte das membresia, especialmente a membresia negra. Isto me leva a pensar que este Ministério não foi abraçado por esta membresia, ele se tornou quase que um ministério pessoal e não do corpo metodista. (nem do corpo negro metodista). Também considero que nestes sete anos de atuação a igreja manteve ouvidos e olhos fechados à este Ministério. Foi um tempo muito profícuo no trabalh o e articulação com a sociedade, com outros grupos antirracistas e grupos alvo de racismo como quilombolas e indígenas urbanos que participaram de nossos encontros afrocristãos -de 2008 a 2011. Estes tiveram repercussão e participação nacional e internacional. Meu desejo é que este Ministério, mais do que receber uma nomeação de coordenador/coordenadora, venha a ser um compromisso metodista com a causa de enfrentamento ao racismo institucional, pessoal, religioso, cultural, etc. Diná da Silva Branchini
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