segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Conselho Mundial de Igrejas se reune para testemunhar ao mundo a unidade cristã e o desejo de Deus da justiça com paz

Conselho Mundial de Igrejas se reune para testemunhar ao mundo a unidade cristã e o desejo de Deus da justiça com paz

Magali do Nascimento Cunha

"Deus da Vida, guia-nos à justiça e à paz" foi o tema da assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) realizada de 30/10 a 8/11, em Busan, Coreia do Sul. É uma oração que expressa uma das mais destacadas demandas do tempo em que vivemos: justiça com paz e paz com justiça, fontes de vida, vontade de Deus. Na Assembleia Plena da mais importante organização do movimento ecumênico mundial, a certeza de que justiça e paz são dons de Deus, ministério do Cristo e de seus discípulos e discípulas no século XXI foi o conteúdo que animou o encontro de quase cinco mil cristãos e cristãs de todo o mundo. "Essa reunião é um milagre do Espírito Santo: tanta gente de tantos lugares diferentes, de línguas diferentes, culturas diferentes, realidades sociais diferentes, consegue se reunir com uma mesma perspectiva e se entender... há divergências, claro, mas há muita concordância" disse o moderador do CMI, o pastor luterano brasileiro Walter Altmann.


A Assembleia do CMI: um mosaico de experiências

O CMI foi fundado há 65 anos, em 1948, por igrejas do mundo inteiro empenhadas em trabalhar pela unidade visível dos cristãos e das cristãs, motivadas pela oração do Cristo: "Que eles sejam um para que o mundo creia" (Jo. 17.21). Desde então foram realizadas inúmeras atividades para concretizar o esforço conjunto das igrejas em várias frentes. A  assembleia é a expressão viva das 345 igrejas-membro entre evangélicas e ortodoxas de todos os continentes, que se reúnem para orar, celebrar, refletir e tomar decisões. Busan recebeu 825 delegados das igrejas e mais de 4 mil participantes, entre organizações associadas e representantes de outras igrejas cristãs.

Cada dia de encontro iniciava e finalizava com orações e celebrações litúrgicas. Também houve dezenas de grupos de estudos bíblicos focados na temática da assembleia. Foram realizadas seis sessões plenárias temáticas: sobre o tema da Assembleia; sobre a realidade da Ásia; sobre Missão; sobre Unidade; sobre Justiça; sobre Paz. Uma série de 21 “conversações ecumênicas”, destinadas a fomentar o debate sobre questões de interesse comum, foram realizadas a finalidade de contribuir para a configuração de uma agenda ecumênica comum para o período posterior a Busan. Foi aprovado que o próximo período entre Assembleias do CMI será pautado por uma Peregrinação pela Justiça e a Paz, com um  convite para que todas as igrejas se engajem.

Foi nas plenárias administrativas que as/delegadas/os tiveram chance de avaliar o trabalho dos programas do CMI e discutir novas propostas para ele com prioridades de ação para os próximos anos. Nessas plenárias ainda aconteceram eleições: foram eleitas/os oito presidentes para as regiões do mundo e para as tradições ortodoxas. Para a América Latina e o Caribe foi eleita a pastora presbiteriana da Colômbia Gloria Nohemy Ulloa Alvarado. Também foi eleita a nova delegação latino-americana no Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas. Ela fica bem mais representativa com a participação de três mulheres, dois leigos e um jovem: Ana Maria Velilla de Medio (leiga, da Igreja Discípulos de Cristo da Argentina), Aída Consuelo Sanchez-Navarro (pastora, da Igreja Episcopal de Honduras), Cora Luisa Antonio Matamorros (pastora da Igreja Morava da Nicarágua), Daniel Angel Favaro (pastor metodista da Argentina), Thomas Hyeono Kang (leigo, jovem, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil). Estes agora são os representantes do continente latino-americano no período entre as assembleias do CMI. O novo Comitê Central - órgão máximo do CMI - elegeu ainda, pela primeira vez na sua história, uma moderadora (presidenta) Agnes Abuom, uma mulher negra leiga africana da Igreja Anglicana no Quenia. Ela substitui o brasileiro luterano Walter Altmann pelo próximo período entre Assembleias. Ela atua no Quenia como consultora de projetos de desenvolvimento social e é ativista nos campos da economia justa, paz e reconciliação. Como vice-moderadores (vice-presidentes) foi eleita a bispa Metodista dos EUA Mary Ann Swenson, que tem atuado como presidente da Comissão Geral da Igreja Metodista Unida para Unidade Cristã e questões inter-religiosas, e continua por mais um período o ortodoxo, professor de Teologia em Istambul Gennadios de Sassima.

Com o fim de possibilitar o intercâmbio de dons e experiências entre os participantes a Assembleia teve o “Madang”- palavra de origem coreana que denota reunião, encontro, comunidade, celebração, família. No Madang era possível participar, em horários alternativos,  de oficinas, exposições, atividades especiais, atuações, obras de teatro, artes visuais, espaços de debate, encontros culturais preparados por igrejas e grupos ecumênicos de todo o mundo.

A realidade da Coreia do Sul e suas igrejas foi tema destacado na assembleia. Os/as participantes fizeram visitas a igrejas e projetos ecumênicos e uma parcela teve chance de participar da Peregrinação pela Paz, quando momentos de reflexão e oração aconteceram na Zona Desmilitarizada que divide as duas Coreias.

A participação metodista em Busan

37 Igrejas Metodistas presentes em 60 países mais o Concílio Mundial Metodista são membros do CMI. Os/as metodistas são uma forte presença no movimento ecumênico historicamente: além de reconhecidos líderes de diversos processos relacionados ao ecumenismo mundial (também no âmbito latino-americano e brasileiro), três dos sete secretários-gerais do CMI desde 1948 até hoje foram metodistas.

A Igreja Metodista no Brasil, seguindo a vocação dos metodistas em todo o mundo, é membro-fundadora do CMI, tendo participado com um delegado na primeira assembleia, a de 1948, em Amsterdan/Holanda.  A delegação da Igreja Metodista no Brasil para a Assembleia de Busan foi composta pelos bispos Adonias Pereira do Lago e Stanley da Silva Moraes e pela leiga Magali do Nascimento Cunha; o jovem Lucas Pereira do Lago participou como assessor da delegação e foi participante subsidiado pelo CMI para o Trem da Paz - uma iniciativa das igrejas coreanas para chamar a atenção para a necessidade de paz e reunificação da península coreana. Trata-se de um trem que saiu, em 6 de outubro, de Berlim/Alemanha, onde um muro que dividia o País foi superado em 1989, com direção a Busan, onde chegou em 28 de outubro, passando por Moscou, Irkutsk, Beijing, Seul. Os participantes tiveram oportunidade de intercambiar experiências de promoção da paz e da reconciliação e orar pela derrubada do muro que divide a Coreia, mas também pela derrubada de outros muros como o que isola os palestinos e separa dos irlandeses.
 Outros/as metodistas do Brasil serviram à Assembleia do CMI: o jovem Alexandre Quintino, da Igreja Metodista em Vila Mariana foi selecionado para participar como parte da equipe de apoio ("stewards"), tendo atuado com a equipe de culto que teve a expressão musical liderada pelo Rev. Tércio Junker; a Revda. Rosângela Soares de Oliveira representou o Dia Mundial de Oração e atuou na Pré-Assembleia de Mulheres e nos estudos bíblicos; a Revda. Nancy Cardoso Pereira atuou em workshops com os grupos Oikotree e Kairós Palestina, os quais assessora.


(foto: Trem da Paz chega a Busan)


(foto: Participantes da Pré-Assembleia de Mulheres e Pré-Assembleia de Homens)


(foto: Peregrinação pela Paz)


(foto: Missão e Liderança)

Na penúltima assembleia do CMI, realizada no Brasil (Porto Alegre, 2006), a delegada leiga Magali do Nascimento Cunha foi eleita membro do Comitê Central do organismo, segmento formado por 150 representantes de igrejas e continentes, que se reúne para tratar da vida do conselho no interregno das assembleias. Ela representou a Igreja Metodista no Brasil e as igrejas-membro do CMI na América Latina no período juntamente com outros quatro membros (do Brasil, da Bolívia e da Argentina), tendo contribuído também com uma nomeação específica para a Comissão Especial de Consenso e Colaboração (diálogo entre protestantes e ortodoxos no comitê central). O mandato se encerrou na Assembleia de Busan, onde Magali Cunha participou, como membro do Comitê Central que se encerrou, na moderação de plenárias administrativas, na liderança de um grupo de estudo bíblico e na facilitação de uma das conversações ecumênicas.

Houve duas reuniões de todos os metodistas presentes no evento. Houve uma oportunidade de encontro por região do mundo para diálogo sobre conteúdos da Assembleia que podem ser reforçados a partir da perspectiva específica do Metodismo. O grupo da América Latina indicou: (1) o engajamento no tempo de “Peregrinação pela Justiça e pela Paz” que deve ser aprovado amanhã, como programa do CMI, à luz da perspectiva wesleyana de santidade social e da noção de que “o mundo é nossa paróquia”; (2) a necessidade de reforçarmos em cada país tema como o da desmilitarização, amplamente discutido na Assembleia, e muito próximo da realidade latino-americana; (3) a relação dos temas de justiça e paz com a teologia wesleyana da graça e a compreensão de que somos igrejas para o mundo; (4) a importância do aprofundamento da temática do diálogo inter-religioso.

É impossível participar de uma Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas e não se sentir contagiada/o pelas possibilidades de superação das divisões e unidade em torno do que é comum à fé cristã. Quem quiser ter acesso a todos os materiais, inclusive ler a mensagem remetida a todas as igrejas pela Assembleia, pode acessar: http://wcc2013.info/es/


Magali do Nascimento Cunha, leiga metodista, membro da Igreja Metodista em Vila Floresta (3a RE), jornalista professora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista.

Esta matéria foi originalmente publicada no jornal Expositor Cristão de Dezembro de 2013 em uma versão ligeiramente mais curta, devido às limitações de espaço que veículos de comunicação impressos tem. Ela pode ser lida aqui: http://issuu.com/expositorcristao/docs/expositor_crist__o_dezembro_2013

Para mais fotos e relatos sobre a participação metodista na Assembleia do Conselho Mundial de igrejas:

Relatório – 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/19/relatorio-10a-assembleia-do-conselho-mundial-de-igrejas/

Peregrinos do Caminho: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/10/peregrinos-do-caminho/

Metodistas brasileiros participam da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas - Relato de Alexandre Pupo Quintino (membro da IM em Vila Mariana - SP): http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2013/11/metodistas-brasileiros-participam-da.html

Jornal Brasil de FaTo destaca participação de jovens na Assembleia do CMI: http://www.metodista.br/fateo/noticias/jornal-brasil-de-fato-destaca-participacao-de-jovens-na-assembleia-do-cmi/view

Nenhum comentário: