Conselho Mundial de Igrejas se
reune para testemunhar ao mundo a unidade cristã e o desejo de Deus da justiça
com paz
Magali do Nascimento Cunha
"Deus da Vida, guia-nos à justiça e à paz" foi o tema da
assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) realizada de 30/10 a 8/11, em
Busan, Coreia do Sul. É uma oração que expressa uma das mais destacadas
demandas do tempo em que vivemos: justiça com paz e paz com justiça, fontes de
vida, vontade de Deus. Na Assembleia Plena da mais importante organização do
movimento ecumênico mundial, a certeza de que justiça e paz são dons de Deus,
ministério do Cristo e de seus discípulos e discípulas no século XXI foi o
conteúdo que animou o encontro de quase cinco mil cristãos e cristãs de todo o
mundo. "Essa
reunião é um milagre do Espírito Santo: tanta gente de tantos lugares
diferentes, de línguas diferentes, culturas diferentes,
realidades sociais diferentes, consegue se reunir com uma mesma perspectiva e
se entender... há divergências, claro, mas há muita concordância" disse o
moderador do CMI, o pastor luterano brasileiro Walter Altmann.
A Assembleia do CMI: um mosaico de experiências
O CMI foi fundado há 65 anos, em 1948, por
igrejas do mundo inteiro empenhadas em trabalhar pela unidade visível dos
cristãos e das cristãs, motivadas pela oração do Cristo: "Que eles sejam
um para que o mundo creia" (Jo. 17.21). Desde então foram realizadas
inúmeras atividades para concretizar o esforço conjunto das igrejas em várias
frentes. A assembleia é a expressão viva das 345 igrejas-membro entre
evangélicas e ortodoxas de todos os continentes, que se reúnem para orar,
celebrar, refletir e tomar decisões. Busan recebeu 825 delegados das igrejas e
mais de 4 mil participantes, entre organizações associadas e representantes de
outras igrejas cristãs.
Cada dia de encontro iniciava e finalizava com orações e
celebrações litúrgicas. Também houve dezenas de grupos de estudos bíblicos
focados na temática da assembleia. Foram realizadas seis sessões plenárias
temáticas: sobre o tema da Assembleia; sobre a realidade da Ásia; sobre Missão;
sobre Unidade; sobre Justiça; sobre Paz. Uma série de 21 “conversações
ecumênicas”, destinadas a fomentar o debate sobre questões de interesse comum, foram
realizadas a finalidade de contribuir para a configuração de uma agenda
ecumênica comum para o período posterior a Busan. Foi aprovado que o próximo
período entre Assembleias do CMI será pautado por uma Peregrinação pela Justiça
e a Paz, com um convite para que todas
as igrejas se engajem.
Foi nas plenárias administrativas que as/delegadas/os tiveram
chance de avaliar o trabalho dos programas do CMI e discutir novas propostas
para ele com prioridades de ação para os próximos anos. Nessas plenárias ainda
aconteceram eleições: foram eleitas/os oito presidentes para as regiões do
mundo e para as tradições ortodoxas. Para a América Latina e o Caribe foi
eleita a pastora presbiteriana da Colômbia Gloria Nohemy Ulloa Alvarado. Também foi eleita a nova delegação latino-americana no
Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas. Ela fica bem mais representativa
com a participação de três mulheres, dois leigos e um jovem: Ana Maria Velilla
de Medio (leiga, da Igreja Discípulos de Cristo da Argentina), Aída Consuelo
Sanchez-Navarro (pastora, da Igreja Episcopal de Honduras), Cora Luisa Antonio
Matamorros (pastora da Igreja Morava da Nicarágua), Daniel Angel Favaro (pastor
metodista da Argentina), Thomas Hyeono Kang (leigo, jovem, da Igreja Evangélica
de Confissão Luterana do Brasil). Estes agora são os representantes do
continente latino-americano no período entre as assembleias do CMI. O novo
Comitê Central - órgão máximo do CMI -
elegeu ainda, pela primeira vez na sua história, uma moderadora
(presidenta) Agnes Abuom, uma mulher negra leiga
africana da Igreja Anglicana no Quenia. Ela substitui o brasileiro luterano
Walter Altmann pelo próximo período entre Assembleias. Ela atua no Quenia como
consultora de projetos de desenvolvimento social e é ativista nos campos da economia
justa, paz e reconciliação. Como vice-moderadores (vice-presidentes) foi eleita
a bispa Metodista dos EUA Mary Ann Swenson, que tem atuado como presidente da
Comissão Geral da Igreja Metodista Unida para Unidade Cristã e questões
inter-religiosas, e continua por mais um período o ortodoxo, professor de
Teologia em Istambul Gennadios de Sassima.
Com o fim de possibilitar o intercâmbio de dons e experiências
entre os participantes a Assembleia teve o “Madang”- palavra de origem coreana
que denota reunião, encontro, comunidade, celebração, família. No Madang era
possível participar, em horários alternativos, de oficinas, exposições, atividades especiais,
atuações, obras de teatro, artes visuais, espaços de debate, encontros
culturais preparados por igrejas e grupos ecumênicos de todo o mundo.
A realidade da Coreia do Sul e suas igrejas foi tema destacado na
assembleia. Os/as participantes fizeram visitas a igrejas e projetos ecumênicos
e uma parcela teve chance de participar da Peregrinação pela Paz, quando
momentos de reflexão e oração aconteceram na Zona Desmilitarizada que divide as
duas Coreias.
A participação metodista em
Busan
37 Igrejas Metodistas presentes em 60 países mais o Concílio Mundial
Metodista são membros do CMI. Os/as metodistas são uma forte presença no
movimento ecumênico historicamente: além de reconhecidos líderes de diversos
processos relacionados ao ecumenismo mundial (também no âmbito latino-americano
e brasileiro), três dos sete secretários-gerais do CMI desde 1948 até hoje foram
metodistas.
A Igreja Metodista no Brasil, seguindo a vocação dos metodistas em todo
o mundo, é membro-fundadora do CMI, tendo participado com um delegado na
primeira assembleia, a de 1948, em Amsterdan/Holanda. A delegação da Igreja Metodista no Brasil
para a Assembleia de Busan foi composta pelos bispos Adonias Pereira do Lago e
Stanley da Silva Moraes e pela leiga Magali do Nascimento Cunha; o jovem Lucas
Pereira do Lago participou como assessor da delegação e foi participante
subsidiado pelo CMI para o Trem da Paz - uma
iniciativa das igrejas coreanas para chamar a atenção para a necessidade de paz
e reunificação da península coreana. Trata-se de um trem que saiu, em 6 de
outubro, de Berlim/Alemanha, onde um muro que dividia o País foi superado em 1989,
com direção a Busan, onde chegou em 28 de outubro, passando por Moscou, Irkutsk, Beijing, Seul. Os participantes tiveram
oportunidade de intercambiar experiências de promoção da paz e da reconciliação
e orar pela derrubada do muro que divide a Coreia, mas também pela derrubada de
outros muros como o que isola os palestinos e separa dos irlandeses.
Outros/as metodistas do Brasil
serviram à Assembleia do CMI: o jovem Alexandre Quintino, da Igreja Metodista
em Vila Mariana foi selecionado para participar como parte da equipe de apoio
("stewards"), tendo atuado com a equipe de culto que teve a expressão
musical liderada pelo Rev. Tércio Junker; a Revda. Rosângela Soares de Oliveira
representou o Dia Mundial de Oração e atuou na Pré-Assembleia de Mulheres e nos
estudos bíblicos; a Revda. Nancy Cardoso Pereira atuou em workshops com os
grupos Oikotree e Kairós Palestina, os quais assessora.
(foto: Trem da Paz chega a Busan)
(foto: Participantes da Pré-Assembleia de Mulheres e Pré-Assembleia de Homens)
(foto: Peregrinação pela Paz)
(foto: Missão e Liderança)
Na penúltima assembleia do CMI, realizada no Brasil (Porto Alegre, 2006), a delegada leiga Magali do Nascimento Cunha foi eleita membro do Comitê Central do organismo, segmento formado por 150 representantes de igrejas e continentes, que se reúne para tratar da vida do conselho no interregno das assembleias. Ela representou a Igreja Metodista no Brasil e as igrejas-membro do CMI na América Latina no período juntamente com outros quatro membros (do Brasil, da Bolívia e da Argentina), tendo contribuído também com uma nomeação específica para a Comissão Especial de Consenso e Colaboração (diálogo entre protestantes e ortodoxos no comitê central). O mandato se encerrou na Assembleia de Busan, onde Magali Cunha participou, como membro do Comitê Central que se encerrou, na moderação de plenárias administrativas, na liderança de um grupo de estudo bíblico e na facilitação de uma das conversações ecumênicas.
Houve duas
reuniões de todos os metodistas presentes no evento. Houve uma oportunidade de
encontro por região do mundo para diálogo sobre conteúdos da Assembleia que
podem ser reforçados a partir da perspectiva específica do Metodismo.
O grupo da América Latina indicou: (1) o engajamento no tempo de “Peregrinação
pela Justiça e pela Paz” que deve ser aprovado amanhã, como programa do CMI, à
luz da perspectiva wesleyana de santidade social e da noção de que “o mundo é
nossa paróquia”; (2) a necessidade de reforçarmos em cada país tema como o da
desmilitarização, amplamente discutido na Assembleia, e muito próximo da
realidade latino-americana; (3) a relação dos temas de justiça e paz com a
teologia wesleyana da graça e a compreensão de que somos igrejas para o mundo;
(4) a importância do aprofundamento da temática do diálogo inter-religioso.
É impossível participar de uma Assembleia do Conselho Mundial de
Igrejas e não se sentir contagiada/o pelas possibilidades de superação das
divisões e unidade em torno do que é comum à fé cristã. Quem quiser ter acesso
a todos os materiais, inclusive ler a mensagem remetida a todas as igrejas pela
Assembleia, pode acessar: http://wcc2013.info/es/
Magali do Nascimento Cunha, leiga metodista, membro da Igreja Metodista
em Vila Floresta (3a RE), jornalista professora da Faculdade de Teologia da
Igreja Metodista.
Esta matéria foi originalmente publicada no jornal Expositor Cristão de Dezembro de 2013 em uma versão ligeiramente mais curta, devido às limitações de espaço que veículos de comunicação impressos tem. Ela pode ser lida aqui: http://issuu.com/expositorcristao/docs/expositor_crist__o_dezembro_2013
Para mais fotos e relatos sobre a participação metodista na Assembleia do Conselho Mundial de igrejas:
Relatório – 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/19/relatorio-10a-assembleia-do-conselho-mundial-de-igrejas/
Peregrinos do Caminho: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/10/peregrinos-do-caminho/
Metodistas brasileiros participam da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas - Relato de Alexandre Pupo Quintino (membro da IM em Vila Mariana - SP): http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2013/11/metodistas-brasileiros-participam-da.html
Para mais fotos e relatos sobre a participação metodista na Assembleia do Conselho Mundial de igrejas:
Relatório – 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/19/relatorio-10a-assembleia-do-conselho-mundial-de-igrejas/
Peregrinos do Caminho: http://sacrariopessoal.wordpress.com/2013/11/10/peregrinos-do-caminho/
Metodistas brasileiros participam da Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas - Relato de Alexandre Pupo Quintino (membro da IM em Vila Mariana - SP): http://metodistaconfessante.blogspot.com.br/2013/11/metodistas-brasileiros-participam-da.html
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