segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Professora da FATEO participa de oficina de promoção de direitos humanos em Brasília

Professora da FATEO participa de oficina de promoção de direitos humanos em Brasília

Lideranças pentecostais se reúnem por movimento por direitos (humanos) de crianças e adolescentes














Magali do Nascimento Cunha

Mobilizar e qualificar a ação de comunidades religiosas pelos direitos (humanos) das crianças e adolescentes é o objetivo do Movimento Paz & Proteção, União e Fé pelas Crianças e Adolescentes, que realizou oficina nesta sexta-feira (6/12), no Palácio do Planalto, em Brasília., com promoção da Unicef em parceria com a Secretaria-Geral da Presidência da República e Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, com o apoio do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), da Visão Mundial, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro) e a KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço. A oficina deste 6 de dezembro foi voltada para lideranças pentecostais e contou com a participação de cerca de 50 delas, representando 15 estados, atuantes em projetos de assistência e de garantia de direitos com crianças e adolescentes.

A sessão da manhã, coordenada pelo Secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral Paulo Maldos, contou com a presença do Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho, da Secretária Nacional de Promoção dos Direitos das Crianças e Adolescentes Angelica Goulart e da Chefe de Proteção à Criança na Unicef no Brasil Casimira Benge. O ministro Gilberto Carvalho e o pastor e professor de Teologia da Universidade Mackenzie Ricardo Bitun  apresentaram reflexões sobre “Defesa de Direitos, ação e participação social: o papel das comunidades religiosas”. Na sessão da tarde os participantes receberam orientações sobre campanhas para garantir o registro civil e documentação básica e de enfrentamento à violência, além de terem chance de compartilhar suas próprias ações em torno da defesa dos direitos (humanos) de crianças e adolescentes e de conhecer mais sobre o Movimento Paz & Proteção.

Portas abertas

 
Foto: Gilmar Caetano Tomáz


O ministro Gilberto Carvalho ressaltou em sua fala que é tarefa da Secretaria-Geral da Presidência garantir as portas abertas do Palácio do Planalto para diálogo e cooperação com os diferentes segmentos da sociedade civil. Ao contrário do que muitos apregoam, disse o ministro, o Governo Federal não é inimigo das igrejas e este evento é um retrato da disposição para o diálogo e a cooperação com vistas ao bem comum da população brasileira. O Estado é laico, continuou Gilberto Carvalho, e por isso mesmo deve trabalhar pela garantia do direito à liberdade religiosa e ter as religiões como parceiras.

Este esforço, segundo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, tem muitos obstáculos, já que há o reconhecimento desde o Governo Lula que, "ao chegar ao poder máximo, se deparou com uma máquina e um aparato legal preparadas para servir à acumulação e não aos pobres". Segundo o ministro, há uma cultura entre os diferentes estratos da máquina governamental, inclusive no funcionalismo público, de atuar nesse sentido - servir a quem sempre teve privilégios. Buscou-se, então, atuar "contra este padrão de Estado em busca de um Estado brasileiro como motor de igualdade e não de exclusão". A partir disso, Gilberto Carvalho avalia que conseguiu-se brechas que mostram que muita coisa mudou no Brasil, mas que ainda cabe ao Estado a tarefa, que classifica como imensa, de se "alcançar uma democracia verdadeira, por isso, é preciso contar com a ação cidadã de entidades sociais, como as igrejas. O ministro reconhece que se as entidades sociais cruzarem os braços o país pára e, portanto, cabe ao Estado apoiá-las".

O teólogo Ricardo Bitun expressou o desafio da responsabilidade social das igrejas à luz da Bíblia, tanto nos Antigo e Novo Testamentos que sempre chamam a um cuidado com o que chamou de "quadrilátero dos excluídos": órfãos, viúvas, pobres e estrangeiros".

Orientações pelos direitos (humanos) das crianças e adolescentes

As lideranças pentecostais participantes da Oficina do Movimento Fé e Proteção receberam orientações da equipe da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal/Secretaria Nacional de Proteção dos Direitos das Crianças e Adolescentes quanto às prioridades assumidas em busca de paz e proteção para este segmento da população brasileira. Uma delas é a Mobilização Nacional pela Certidão de Nascimento que afirma a certidão de nascimento e a documentação básica das crianças como um direito humano. Com a campanha o Governo Federal espera superar muitos processos de exclusão e violência contra crianças e adolescentes que ocorre pelo simples fato de elas/eles não serem registrados como cidadãos brasileiros. Dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostram que desde que a mobilização começou, a média nacional de crianças sem registro de nascimento caiu mais de 50% em cinco anos. O índice era de 20,9% em 2002, recuou para 12,2% em 2007 e caiu para 6,6% em 2010. Entre 2009 e 2010 a redução foi de 19,5%, ou seja, um das maiores da série histórica. Qualquer pessoa ou grupo pode se engajar na mobilização: informações e materiais aqui.

Foram destacados dois temas em relação à violência contra crianças e adolescentes: a campanha Proteja Brasil e a discussão sobre a redução da maioridade penal. A campanha de proteção à criança e adolescente,  que prevê combate à exploração sexual e outras formas de violência como a do trabalho infantil, em especial durante os grandes eventos, como o Carnaval e a Copa do Mundo. É a Campanha Proteja Brasil - saiba mais aqui e aqui.

Sobre a redução da maioridade penal, campanha de pessoas e grupos, inclusive evangélicos, para que adolescentes que cometem crimes sejam punidos da mesma forma como adultos, a própria Secretária Nacional de Promoção dos Direitos das Crianças e Adolescentes Angelica Goulart apresentou uma reflexão. Ela explicou que é um tema difícil que mexe com emoções por isso tem proposto, inclusive em audiência com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, a qualificação do debate, defendendo mudanças estruturais para que os direitos de crianças e dolescentes sejam garantidos. Segundo dados da secretaria 0,09% dos total da população adolescente comete ato infracional e dos atos cometidos cerca de 17% são gravosos. “Assistir o assassinato de um jovem ou de uma moça que estava trabalhando dentro de seu consultório dá a impressão para todos os brasileiros que isso vai acontecer todo dia e que são centenas de adolescentes que saem por aí assassinando as pessoas. Isso não é real”, afirmou Angélica Goulart. Ela lembrou que este tema sempre se reforça quando alguém branco e da classe média sofre com algum crime. "Claro que não é correto e quem praticou deve ser devidamente punido", disse, "no entanto, e aquelas crianças e adolescentes negros, da periferia que morrem todos os dias, quem clama por eles?" A secretária mostrou dados que revelam que mais de 20 crianças e adolescentes morrem assassinados todos os dias no País. Para ver os dados que a secretária Angélica Goulart apresentou à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados clique aqui.

Angelica Goulart lembrou que não é verdadeira a afirmação que crianças e adolescentes que cometem crimes ficam impunes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê as punições e a internação. Ela recordou a lei que criou o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei (Sinase, 12.594/12), aprovada em 2011 pelo Congresso. Segundo ela, só 6% das unidades de internação adequaram suas instalações aos parâmetros previstos na lei, mas 74,78% já atenderam parcialmente as exigências. O objetivo é que se tornem próprias para a ressocialização desses jovens e não uma reprodução do sistema prisional.

Foi afirmado entre os participantes do encontro que o tema da redução da maioridade penal é crucial em todo este contexto de paz e proteção e deve ser oposto pelas igrejas como testemunho de fé e misericórdia. Afirmou-se que a violência resultante do crime é uma dura realidade da sociedade brasileira e que as crianças e adolescentes não podem ser colocados como "bodes expiatórios" e perderem de vez a vida, já que são usados por adultos criminosos e correm o risco de serem tratados da mesma forma que eles em suas punições. Mais sobre este assunto aqui.

Outros assuntos foram abordados na Oficina como o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil e indicados caminhos de ação.

O Movimento Paz e Proteção


O Movimento Paz e Proteção faz parte de uma ação global que a UNICEF vem realizando para mobilizar organizações seculares e religiosas, unindo a fé e os esforços de todos e todas. Essa aliança é baseada no que foi estabelecido pela Convenção sobre os Direitos da Criança, na legislação brasileira e em princípios e valores comuns. 

O Movimento Paz e Proteção busca unir pessoas, organizações e comunidades religiosas ou de fé para a salvaguarda dos direitos, da integridade e da dignidade de crianças e adolescentes. O objetivo é garantir a sobrevivência, desenvolvimento, proteção e bem-estar de meninas e meninos por meio de ações de prevenção da violência e promoção do registro de nascimento.  Para participar do Movimento, as organizações e instituições assinaram um Termo de Adesão, concordando com a implantação das ações previstas. As lideranças pentecostais presentes foram convidas a assinar o Termo, que pode ser assinado por outras organizações que desejem  se integrar. Veja aqui.

Esta foi a terceira oficina do Movimento Paz e Proteção em Brasília, desde maio de 2013, com lideranças religiosas para discutir o plano conjunto para proteção de crianças e adolescentes. “Aproximar as igrejas diferentes em favor de um objetivo comum é um testemunho claro de que podemos acreditar de maneiras distintas, mas que nosso compromisso último é o mesmo, ou seja, trabalhar em favor da promoção de uma cultura de paz”, disse numa das oficinas  Romi Márcia Bencke, Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).

O Diretor Nacional da Visão Mundial João Helder Diniz também declarou,  quando presente em outra oficina, que a parceria poderá potencializar os trabalhos que as igrejas já realizam e fazer com elas contribuam com outros desafios, como o da violência doméstica contra meninos e meninas. “As igrejas já realizam coordenam diversas iniciativas na área da infância e adolescência mas, muitas vezes, esses esforços são realizadas de forma isolada dentro de um determinada área ou território”, afirmou.

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