A casa de PROFETAS ou a CASA de profetas?
Intervenção do Colégio Episcopal na autonomia universitária da UMESP e nos atos arbitrários cometidos contra docentes da Faculdade de Teologia? Mas sempre foi assim!
Os bispos, os pastores, os amigos sempre resolveram entre si quem iria ou não pra Faculdade de Teologia... em todos estes anos o processo nunca foi objetivado na forma de concurso ou processo seletivo, nem se esquematizou mecanismos de avaliação que correspondessem aos critérios de qualificação da área de teologia/filosofia. Eram decisões internas, contas de chegar, indicações e capitanias hereditárias. Problemas aqui e ali... uma vaga da Faculdade de Teologia sempre era uma possibilidade para se resolver uma questão ou outra.
O que acontece agora é que os bispos, pastores e seus amigos... mudaram! Já não há quase resquícios de “nossos bispos e amigos” e aí que a informalidade e a falta de ferramentas acadêmicas vão cobrar um preço altíssimo agora.
A Casa de Profetas sempre vai estar aparelhada ao centro de poder... a não ser que a Profecia seja mais saudável que a Casa, isto é que os interesses confessionais, administrativos e de homossociabilidade não se imponham na estrutura mesmo da produção e socialização do conhecimento.
No texto bíblico esta tensão é muito clara e tem uma interferência teológica muito concreta nas nossas vidas e modos de culto e vida comunitária até hoje.
Os Profetas do Deuteronomista estão sempre envolvidos com a avaliação e o discernimento dos erros e acertos dos governantes e sua Casa. Por conta disso, vez e outra um Profeta vai ser preso e passar a pão e água... porque não confirmou o poder e autoridade do Rei de plantão.
Micaías (1 Reis 22) não omitiu a mensagem que Deus ordenara e falou contra o Rei, contradizendo todos os demais profetas do reino que o apoiavam (amém! amém!). Tem sempre alguém disposto a bajular para subir na vida, subir no púlpito. Mas para Micaías a Profecia importava mais do que a Casa. O resultado?
Colocai este homem na casa do cárcere, e sustentai-o com o pão de angústia, e com água de amargura.
Na lógica de produção da Profecia no âmbito do que chamamos de teologia deuteronomista a Profecia se alimentava de crítica e crise. Os poderosos tinham que ouvir o que não queriam, tratavam de negociar aqui e ali para manter uma relação aceitável com Profetas, procuravam pela profetisa na periferia em caso de aperto (Hulda),consultavam a profecia da mãe de santo (Saul 1 Samuel 28), eram derrubados por movimentos de inspiração profética (2 Reis 9)... a Profecia não cabia debaixo do braço do Rei... 'tava solta na vida do povo clamando por libertação, dignidade e respeito ao órfão, a viúva e o migrante.
Mas... no pós-exílio esta relação mudou radicalmente! Na teologia Cronista o lugar do Profeta é domesticado para os interesses do Poder. Impedidos de ter uma vida política e subordinados pelos acordos com os imperadores de fora (Pérsia!) as Crônicas colocam a Profecia dentro da Casa e modificam suas tarefas (1 Crônicas 25)
David e os responsáveis pelo tabernáculo nomearam homens para profetizarem acompanhados de harpas, alaúdes e címbalos.
E assim foi! A Casa, o Templo, o Sacerdócio se tornaram o centro de tudo e os Profetas agora eram funcionários do Templo e... louvavam! Harpas, alaúdes e címbalos! Nenhuma crítica aos Poderosos, cantem! Nenhuma crítica ao sistema opressivo, louvem!
E nessa estamos! Faz tempo a Igreja Metodista quer saber de Profecia domesticada e fazedora de lucro, aquela do “canta-canta”, aquela que se adapta aos interesses do mercado e que participa do processo de mercantilização da vida. Ah sim! milhares e milhares de espectadores, compradores de cd e massa de manobra da cultura gospel.
Eu fico com Amós! Com a profecia fora da Casa, a Profecia do camponês desbocado, expulso e exilado... mas verdadeiro de coração diante de Deus e do povo.
Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas assembléias solenes não tenho nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras. Antes corra o juízo como as águas; e a justiça, como o ribeiro perene" (Amós 5:21-24)
Resistir é necessário e urgente! Eu quero Profecia, aquela que distanciou Jesus das elites da Casa/Templo, aquela que leva pra Cruz e aquela que ressuscita nos braços das mulheres, @s pobres e as comunidades. Um dia, na História, a Igreja Metodista vai ser chamada a prestar contas de toda essa santarrice, por ter entregue o Evangelho ao mercado, abandonado as fidelidades do amor e so serviço @os pobres... e por ter sucateado e entregue a casa de Profetas aos cantores e gulosos senhores da prosperidade.
" Por isso, pastores, ouçam a palavra do Senhor: visto que o meu rebanho ficou sem pastor, foi saqueado e se tornou comida de todos os animais selvagens, e uma vez que os meus pastores não se preocuparam com o meu rebanho, mas cuidaram de si mesmos em vez de cuidarem do rebanho, ouçam a palavra do Senhor, ó astores/bispos:
Livrarei o meu rebanho da boca deles, e ele não lhes servirá mais de comida.
" ‘Porque assim diz o Senhor: Eu mesmo buscarei as minhas ovelhas e delas cuidarei.” Ezequiel 34:7-11
Nancy Cardoso Pereira é pastora metodista e teóloga.
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