Por Domingo Riorda
(transcrito de Prensa Ecuménica, 28/09/2013)
“Hoje puseram fogo nas instalações da Igreja Norte”, declarou o pastor Américo Dario Jara Reyes, referindo-se à Igreja Metodista da Rua San Lorenzo 2722, na cidade de Rosário, Província de Santa Fe (Argentina) onde se encontrava a sede do MEDH (Movimento Ecumênico pelos Direitos Humanos).
Jara Reyes explicou que o MEDH utilizava este lugar como para desenvolver seu trabalho e que com o incêndio “o MEDH perdeu sua preciosa biblioteca, já que puseram fogo em todos os livros”
O pastor metodista detalhou que “(eles) deram-se ao trabalho de levar os livros ao altar e ali pôr-lhes fogo”, uma atitude premeditada que ao mesmo tempo possui uma carga de simbolismo realista: os livros que se ocupam dos Direitos Humanos devem ser queimados e para isso é preciso escolher um lugar muito especial, nesta ocasião o altar.
A interpretação não é forçada. Os responsáveis pelo incêndio “deram-se ao trabalho de levar os livros ao altar e ali pôr-lhes fogo”, isto é, os livros estavam em outro espaço das instalações e para sua queima os levaram até o lugar que eles consideravam sagrado.
Por outro lado, na mesma linha do imaginário, trata-se de um templo da Igreja Metodista que foi muito ativa na defesa dos Direitos Humanos durante a ditadura cívico-militar e continua a sê-lo no presente. Ou seja, não arriou sua bandeira.
Ao detalhar o que se perdeu no incêndio – na sexta-feira, 27 de setembro – o pastor Américo Darío Jara Reyes o resumiu dizendo: “Perdemos um belo piano, os bancos... enfim, tudo o que se poderia queimar no templo.” E acrescentou: “uma dor imensa pelo que se perdeu, especialmente pelos sonhos que o MEDH havia preservado em relação a este lugar como base de operações...” Isto delineia com clareza que se perdeu tudo, especialmente os sonhos de uma visionária defensora dos Direitos Humanos.
Chama atenção o fato de que há uma semana - sexta-feira, 20 – o jornal La Nación publicou um artigo intitulado “Falam de 30.000 desaparecidos, mas sabem que isto é falso”, desprezando os defensores dos Direitos Humanos, assinado por Ceferino Reato, antecedido por uma crítica semelhante do jornalista Jorge Lanata, da TV.
Ceferino Reata foi o editor chefe do jornal Perfil de 2005 a 2010 e anteriormente redator de política nacional do jornal Clarín. Atualmente dirige a revista econômica Fortuna, que na recente concessão dos Prêmios Fortuna às maiores e melhores empresas de 2013, outorgou o premio especial à trajetória empresarial aos irmãos Carlos e Alejandro Bulgheroni, proprietários do Grupo Bridas, porque “explicam tudo o que é preciso saber para se ter êxito nos negócios”.
Ainda que uma prestigiosa quantidade de pessoas tenha saído a desmentir as calúnias de Reato, é de se perguntar porque La Nación e outras mídias semelhantes publicam estas notas nestes momentos e se encadeiam a outros artigos similares, que têm por matiz uma campanha de desprestigio da defesa dos Direitos Humanos.
Uma resposta para isto é que se sentem fortes para publicar estes temas para em seguida armar o aparato de desestabilização. Exemplos como Honduras, Haiti e Paraguai dariam o aval para que se utilizem de caminhos novos, já que não podem usar as forças militares para os golpes de estado.
É preciso resgatar a frase do pastor metodista Jara Reyes: “Oremos para que ninguém perca sua fé mas que antes se redobrem em seus esforços!” e manter lubrificados os neurônios e abertos os olhos.
Tradução: Sérgio Marcus Pinto Lopes
Publicado originalmente em: http://ecupres.wordpress.com/2013/09/28/rosario-incendiaron-templo-metodista-sede-del-medh/
Organismos ecumênicos pedem rigor na apuração das causas do incêndio em templo metodista
ROSÁRIO - Em carta dirigida ao ministro do Interior da República da Argentina, Aníbal Florencio Randazzo, o presidente e o secretário geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), respectivamente pastores Felipe Adolf e Nilton Giese, exigem uma acurada investigação das causas do incêndio que consumiu o templo da Igreja Evangélica Metodista “Norte”, de Rosário, na noite de sexta-feira, 27.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
A Federação Argentina de Igrejas Evangélicas (FAIE) repudiou “esse ato vândalo que deve ser visto como mais um atentado contra a liberdade de culto e de discriminação religiosa e social”. O ataque que atinge uma igreja e um escritório de direitos humanos não foi inocente, alegam o presidente e secretário da Federação, Federico Schäfer e Néstor Míguez.
Eles também lamentam que o incêndio do templo metodista não tenha recebido a mesma atenção que a mídia dispensou ao ataque sofrido pela Igreja San Ignacio, de Buenos Aires.
O coordenador do Movimento Ecumênico pelos Direitos Humanos (MEDH) da Regional de Rosário, Luis Gonzalo Vásquez, informou que o fogo destruiu inteiramente a biblioteca acadêmica e uma parte da documentação do organismo.
Vásquez recordou o esforço empreendido para instalar o escritório do MEDH junto ao templo metodista, que ficou meses sem água, gás e eletricidade por causa da demolição de prédio em terreno ao lado. A construtora cortou esses serviços e pouco se preocupou em restabelecê-los.
Publicado originalmente em: http://www.alcnoticias.net/interior.php?lang=689&codigo=24697
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