Conselho Mundial de Igrejas se reunirá neste outubro para testemunhar ao mundo a unidade cristã e o desejo de Deus da justiça com paz
Magali do Nascimento Cunha
"Deus da Vida, guia-nos à justiça e à paz". A oração tema da 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, que será realizada neste outubro que se aproxima (30/10 a 8/11), em Busan, Coreia do Sul, expressa uma das mais destacadas demandas do tempo em que vivemos: justiça com paz e paz com justiça, fontes de vida, vontade de Deus. Na Assembleia Plena da mais importante organização do movimento ecumênico mundial, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), a certeza de que justiça e paz são dons de Deus, ministério do Cristo e de seus discípulos e discípulas no século XXI será o conteúdo que animará a quase uma centena de grupos de estudos bíblicos, as sessões plenárias temáticas, os 21 miniplenários de conversações ecumênicas, além dos momentos de oração e de celebração litúrgica.
A Assembleia do CMI: um mosaico de experiências
O CMI foi fundado há 65 anos, em 1948, por igrejas do mundo inteiro empenhadas em trabalhar pela unidade visível dos cristãos e das cristãs, motivadas pela oração do Cristo: "Que eles sejam um para que o mundo creia" (Jo. 17.21). A fundação já era resultado de esforços realizados, desde o século XIX, de tornar visíveis e mais articuladas experiências dos mais diversos grupos com diálogo e cooperação nos campos missionários, na edição de Bíblias e no trabalho com educação cristã, nas associações de jovens, na promoção da justiça e da paz, nos debates teológicos. Com a consolidação do movimento ecumênico foram várias as organizações formadas com este propósito mas a mais expressiva delas, e também aglutinadora de muitas tantas, é o Conselho Mundial de Igrejas. Desde 1948 foram realizadas inúmeras atividades para concretizar o esforço conjunto das igrejas em várias frentes. Foram nove as assembleias plenas, a última delas realizada em Porto Alegre/Brasil, em 2006, a primeira na América Latina. Em 2013, será primeira vez que o CMI terá o seu encontro maior no continente asiático. A assembleia é a expressão viva das 345 igrejas-membro que se reúnem para orar, celebrar, refletir e tomar decisões. A 10ª Assembleia deverá receber 825 delegados das igrejas e mais de 4 mil participantes, entre organizações associadas e representantes de outras igrejas cristãs. Será a primeira assembleia em toda a história com mais de 90% de inscrições confirmadas, o que representa um significativo engajamento das igrejas-membros e outros associados.
Fundamentalmente, a assembleia é um espaço que permite às igrejas membros e aos sócios ecumênicos avançarem para uma visão e entendimento comum do mundo daquilo que o Evangelho anuncia; celebrar o Deus da vida e refletir em torno da Palavra de Deus. É um momento, também, quando se avalia o trabalho dos programas do Conselho e se fixam prioridades de ação para os próximos anos.
O programa
Cada dia de encontro na assembleia começará e finalizará com orações e celebrações litúrgicas. Também haverá quase cem grupos de estudos bíblicos focados na temática da assembleia, centrados em períodos da história bíblica em que a vida se viu ameaçada, e nos momentos em que, por meio da graça de Deus, prevaleceram a justiça e a paz.
Em Busan serão realizadas oito sessões plenárias temáticas. Quatro delas apresentarão as dificuldades mundiais com as quais as igrejas podem confrontar de maneira conjunta e darão conta de que maneira os interlocutores ecumênicos trabalham juntos para vencer esses desafios. Uma série de 21 “conversações ecumênicas”, destinadas a fomentar o debate sobre questões de interesse comum, terão a finalidade de contribuir para a configuração de uma agenda ecumênica comum para o período posterior à Assembleia de Busan. Clique aqui para conhecer os 21 temas.
Com o fim de possibilitar o intercâmbio de dons e experiências entre os participantes a Assembleia terá o “Madang”- palavra de origem coreana que denota reunião, encontro, comunidade, celebração, família, mas que ao mesmo tempo tem uma conotação de espaço físico, na mesma linha do que foi o “Mutirão” na Assembleia de Porto Alegre. O Mandang será constituído de oficinas, exposições, atividades especiais, atuações, obras de teatro, artes visuais, espaços de debate, encontros culturais preparados por igrejas e grupos ecumênicos de todo o mundo.
Delegados/as das igrejas membros e representantes oficiais de organizações associadas dedicarão uma parte importante do tempo ao trabalho institucional, como possíveis mudanças no sistema de governo do CMI, eleições para as comissões, acolhimento de relatórios do que foi realizado de 2006 a 2013 e avaliação do trabalho dos comitês da assembleia.
Busan, Coreia do Sul: o espaço de encontro
Com 3,7 milhões de habitantes, Busan é a segunda maior cidade da Coreia do sul, situada na costa sudeste do país, a 325 km da capital. A cidade é um importante centro industrial, comercial e cultural, onde está localizado o maior porto do país, no estreito do vale do Rio Nakdong. A Coreia do Sul foi motivação para a realização da Assembleia do CMI por conta da grande diversidade de igrejas cristãs e do contexto inter-religioso do País, a força de congregações locais e a esperança de unidade entre os países da península. A igreja tem crescido rapidamente na Coreia, onde quase um quarto da população é cristão. O contexto inter-religioso da Coreia destaca a crescente experiência de diálogo que outras igrejas ao redor do mundo têm vivido.
A Coreia continua a ser uma península dividida politicamente. A esperança de que o povo coreano seja um dia reunido é forte para muitos coreanos. As igrejas na Coreia, juntamente com o movimento ecumênico, têm sido encorajadores dos esforços de reunificação por décadas. A esperança para a reconciliação e o testemunho comum para a reunificação marcará significativamente a 10ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas. Por isso, o comitê organizador, junto com a liderança do CMI, convidaram as igrejas da Coreia do Norte para o processo de organização do evento e para promover o diálogo e a cooperação. Os organizadores também convidaram igrejas evangélicas e pentecostais coreanas não participantes do movimento ecumênico e outros grupos religiosos para terem uma presença na assembleia.
O tema do encontro é "Deus da vida, conduza-nos à justiça e à paz". Mais do que nunca, a península coreana precisa de uma mensagem de paz, afirmou o secretário geral do CMI Olav Tveit. A situação na península é uma preocupação do CMI que vem de longa data, também pelo impacto que um eventual conflito provocaria em suas igrejas membro na Coreia do Sul e pelas relações iniciadas com a Federação Cristã da Coreia do Norte. A realização da Assembleia em Busan, argumentou Tveit, é uma expressão da esperança da Igreja em todo o mundo às congregações das Coreias na construção da paz e reconciliação. "Convidamos todos os cristãos a orarem pela península da Coreia e que a vontade de Deus, pela justiça e a paz, seja feita", disse.
Desde 1996, o Conselho Nacional de Igrejas da Coreia do Sul e Federação Cristã da Coréia do Norte têm trabalhado juntos a cada ano para realizar orações conjuntas em um processo iniciado pelo CMI. A oração para a Páscoa de 2012 foi elaborada em uma reunião na China, de representantes de igrejas coreanas.
Eventos prévios
Historicamente, alguns grupos se reúnem previamente à Assembleia do CMI para tratar de temas que lhe são específicos dentro dos desafios ecumênicos: mulheres (desta vez junto com homens), jovens, pessoas com deficiência e indígenas. Um Instituto Teológico Ecumênico Global também acontecerá em Seul previamente, com continuidade durante a assembleia em Busan.
Um evento relacionado à Assembleia de Busan que já está acontecendo é o Trem da Paz: uma iniciativa das igrejas coreanas para chamar a atenção para a necessidade de paz e reunificação da península coreana. Trata-se de um trem que sairá, em 6 de outubro, de Berlim/Alemanha, onde um muro que dividia o País foi superado em 1989, com direção a Busan, onde chegará em 28 de outubro, passando por Moscou, Irkutsk, Beijing, Pyongyang, Seul. Os participantes, vários pagando suas próprias passagens, outros com selecionados para receber subsídios do CMI terão oportunidade de intercambiar experiências de promoção da paz e da reconciliação e orar pela derrubada do muro que divide a Coreia, mas também pela derrubada de outros muros como o que isola os palestinos e separa dos irlandeses. Sobre o Trem da Paz veja: http://www.peacetrain2013.org/index.html
A participação metodista
37 Igrejas Metodistas presentes em 60 países mais o Concílio Mundial Metodista são membros do CMI. Os/as metodistas são uma forte presença no movimento ecumênico historicamente: além de reconhecidos líderes de diversos processos relacionados ao ecumenismo mundial (também no âmbito latino-americano e brasileiro), três dos sete secretários-gerais do CMI desde 1948 até hoje foram metodistas (veja a lista e a biografia dos sete secretários em http://www.oikoumene.org/es/about-us/organizational-structure/general-secretary/since-1948/since-1948?set_language=es)
A Igreja Metodista no Brasil, seguindo a vocação dos metodistas em todo o mundo, é membro-fundadora do CMI, tendo participado com um delegado na primeira assembleia, a de 1948, em Amsterdan/Holanda. Na última assembleia do CMI em Porto Alegre (2006), a delegada leiga Magali do Nascimento Cunha foi eleita membro do Comitê Central do organismo, segmento formado por 150 representantes de igrejas e continentes, que se reúne para tratar da vida do conselho no interregno das assembleias. Ela representou a Igreja Metodista no Brasil e as igrejas-membro do CMI na América Latina no período juntamente com outros quatro membros (do Brasil, da Bolívia e da Argentina), tendo contribuído também com uma nomeação específica para a Comissão Especial de Consenso e Colaboração (diálogo entre protestantes e ortodoxos no comitê central). O mandato se encerra na Assembleia de Busan, onde Magali Cunha participará como membro do Comitê Central que se encerra, na liderança de um grupo de estudo bíblico, na facilitação de uma das conversações ecumênicas e nas reuniões da comissão especial. A delegação da Igreja Metodista no Brasil para a Assembleia de Busan será composta pelos bispos Adonias Pereira do Lago e Stanley da Silva Moraes e pelos leigos Lucas Pereira do Lago e Magali do Nascimento Cunha. Outros/as metodistas do Brasil servirão à Assembleia do CMI: o jovem Alexandre Quintino, da Igreja Metodista em Vila Mariana foi selecionado para participar como parte do staff ("steawards") que atuará nos serviços de apoio da assembleia; as Revdas. Rosângela Soares de Oliveira e Nancy Cardoso Pereira atuarão na Pré-Assembleia de Mulheres, nos estudos bíblicos e plenários temáticos. O jovem Lucas Pereira do Lago se inscreveu e foi selecionado como participante subsidiado pelo CMI para o Trem da Paz.
Todos/as podem participar à distância
Para saber mais sobre a 10ª Assembleia do CMI em Busan veja o site oficial: http://wcc2013.info/es. Nele se pode ter acesso ao programa completo (inclusive das pré-assembleias), aos documentos de referência, aos estudos bíblicos, ao livro com as liturgias e músicas, e ao relatório com as realizações do CMI desde a Assembleia de 2006 em Porto Alegre. Há também reflexões sobre o tema, canções (em MP3 e com partituras) que podem ser acessadas e reproduzidas nas comunidades locais - basta clicar em: http://wcc2013.info/en/resources
A seção do website "Peregrinação para Busan" (http://wcc2013.info/es/es/resources/pilgrimage-to-busan) convida cada congregação cristã espalhada pelo mundo a estudar temas e se preparar para acompanhar a Assembleia com estudos específicos em: unidade cristã, chamado ao testemunho, vida entre pessoas de outras fés, trabalho pela justiça de Deus, oração pela paz e espiritualidade transformadora para o discipulado.
Há também um vídeo didático contando a história de todas as assembleias do CMI até Busan: http://www.oikoumene.org/es/resources/videos/the-assemblies-of-the-world-council-of-churches-on-the-road-to-busan?set_language=es
Magali do Nascimento Cunha, leiga metodista, jornalista professora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, membro do Comitê Central do CMI de 2006 a 2013. Fontes: CMI, ALC, Stanet, Presbyterian Record. Fotos: site da Assembleia.
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