O retorno do Santo Ofício ao Pará
Aqui em Belém, a igreja metodista surgiu na década de 70, no bairro da Pedreira, conhecido como "o do samba e do amor", e sempre atuou junto ao povo do local (projeto de carpintaria, escola de educação infantil, presidiu o Conselho Municipal de Assistência Social, etc.), destacando-se na atuação ecumênica, inclusive foi fundadora do Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs (CAIC).
Esta ênfase ecumênica sempre mereceu severo monitoramento das alas mais carismáticas que compunham o Colégio Episcopal, que, por sua vez, sempre pregavam que enquanto a Igreja da Pedreira adotasse esta postura da "teologia da libertação" o metodismo em Belém não teria futuro.
Então, tendo à frente o bispo Rozalino, um plano foi traçado no final da década de 90. Como não poderiam fechar a Igreja da Pedreira e iniciar do zero um novo trabalho metodista com uma outra orientação, aliaram-se a um pastor recém saído da Igreja Batista para fundar uma outra Igreja Metodista em Belém, daí nasceu a Igreja Metodista do Umarizal. O Umarizal é um bairro de classe média, bem diferente da realidade periférica da Pedreira.
A idéia era que esta nova Igreja do Umarizal, por ser mais central e ter um pastor militar que não "bebera" da teologia metodista, iria aos poucos suplantar o trabalho da Igreja da Pedreira, tornando-se a "verdadeira" referência do metodismo na cidade. Assim, a Igreja Metodista do Umarizal virou a "menina-dos- olhos" do poder metodista. Era uma "comunidade missionária a serviço do po...DER". Para lá foram destinados vários recursos e projetos. Enquanto isso na Metodista da Pedreira, até ficar sem pastor ficou.
Mas a obra não é dos homens, é de Deus. Assim, após quase dez anos de fracassos na tentativa de por fim à Igreja Metodista da Pedreira, por diversas crises internas, quem ruiu foi a abastarda Igreja Metodista do Umarizal, em plenas mãos do bispo Adolfo, já atual bispo da REMA, que, diga-se de passagem, sempre foi o bispo que mais vociferou contra a postura teológica e o histórico da Igreja Metodista da Pedreira.
Não conformado com a falência do metodismo a serviço do poder, o bispo Adolfo adotou uma nova estratégia. No início de 2008, inseriu os membros da igreja falida do Umarizal dentro da Igreja da Pedreira, provocando um desconforto imenso para os irmãos e irmãs das duas igrejas. Antes ele ainda teve a ousadia descarada de fazer a seguinte proposta: Os membros da Umarizal ficam com o prédio e a estrutura da Igreja da Pedreira e os membros da Pedreira que dão ênfase nas obras de misericórdia vão para um terreno comprado pela Igreja do Umarizal. Claro, esta proposta foi rejeitada. Hoje temos um templo e duas igrejas.
Para conduzir este "casamento arrumado", o bispo escolheu um outro pastor que também fora da Igreja Batista, trazido ao metodismo pelo pastor ex-batista que iniciou o trabalho no Umarizal. Pensaram, "agora pronto, foi dado o golpe final" no metodismo que prega a ação social, o diálogo ecumênico, a leitura dos documentos da Igreja, uma espiritualidade profunda. O próprio bispo Adolfo afirma sem nenhum pudor ou o mínimo de respeito aos irmãos e irmãs que caminham há anos no evangelho que o metodismo da Igreja da Pedreira faz parte do "deserto" do metodismo brasileiro que no último Concílio foi ultrapassado e agora chegou-se à terra prometida: ênfase no ganho de almas, no crescimento numérico e estruturação financeira da Igreja.
Bastou um ano para percebermos que este "casamento arrumado" não daria certo. Em novembro de 2008, no Concílio Local para a Avaliação da unificação das igrejas de Belém a maioria da Igreja votou pelo fim da união. Ainda mais, o Concílio pediu a urgente mudança de pastor local, relatando uma extensa lista de autoritarismos em apenas um ano de gestão. Para a surpresa de todo mundo, o bispo Adolfo desprezou a decisão da Igreja local e, bem ao seu estilo, decretou um Ato de Governo, decidindo a partir dos seus princípios de "inerrância e infalibilidade" pela continuação da pseudo-união da agora Igreja Metodista Central de Belém e permanência do atual pastor.
A intenção do bispo e de seu pastor, pupilo fiel, é fazer as irmãs e os irmãos metodistas da Pedreira "sangrarem" e chorarem até a última gota, e, assim, vencer pelo cansaço. Querem que estas pessoas saiam aos poucos da Igreja, deixando o espaço livre para a conclusão do plano iniciado na década de 90: acabar com a Igreja (pessoas, princípios, atuação, visão teológica, espiritualidade) da Pedreira. E isto eles já têm conseguido com muito mérito, visto que já se contam mais de vinte as pessoas, eu sou uma destas, que deixaram de comparecer nos cultos à noite para não se depararem mais com shows do Lázaro, expulsão de demônios, apelos absurdos e pregações que mais parecem indiretas ou recados.
Faço toda esta introdução na tentativa de mostrar o contexto em que se dá a notícia "Bispo Adolfo passará o mês de agosto em Belém". Esta visita é justificada pela necessidade de acompanhar este processo de transição forçada "do deserto para a terra prometida" e enquadrar aqueles que estejam fora desta "visão". O Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição terminou seus trabalhos no Pará há exatos 240 anos (1769), deixando um rastro de julgamentos e "Atos de Governos" baseados em fundamentalismos do Catolicismo Romano da época. A Inquisição era uma instituição da Igreja Católica Romana criada para combater quem não se alinhasse com os mandatários do poder eclesiástico e da Metrópole, estes foram acusados de hereges, de manter pacto com o diabo, de supersticiosos e de bruxos e bruxas. Falando em caça às bruxas, não podemos esquecer que estamos falando de um bispo que deixou a Igreja Metodista do Brasil num imenso constrangimento quando acusou de bruxaria uma pastora negra que desenvolvia trabalhos com mulheres carentes.
Agora teremos no mês de agosto de 2009 o Tribunal do Santo Ofício Metodista, com o bispo Adolfo acolhendo as denúncias e autuando contra aqueles e aquelas que têm resistido pela fé há anos de ataques ininterruptos. Sucumbirá enfim a Igreja Metodista da Pedreira? Não sabemos. Contudo, digo novamente, a obra não é dos homens, é de Deus. Logo, nossa esperança é que os conchavos humanos e as estratagemas do poder não resistam à coerência e a sinceridade de quem serve a Deus com ardor e alegria.
Embora com a esperança aguçada, ouso fazer este registro como um testemunho. Pois como diria Affonso Romano de Sant'Ana "o que não escrevi, calou-me". Por isso, compartilho com vocês estas doloridas palavras não por rebeldia ou insubmissão às autoridades, mas porque não agüentamos mais suportar calados. Ficar em silêncio neste caso é tornar-se cúmplice. Irmãs e irmãos do coração aquecido de todo o Brasil têm que saber o que se passa no metodismo por estas terras quentes e longínquas da Amazônia. Oração e informação, serão essas as nossas respostas às perseguições que o bispo nos impõe, mesmo sentindo a afumegação das fogueiras.
Tony Vilhena
Não se pode matar a idéia a tiros de canhão, nem tampouco acorrentá-la
Louise Michel (educadora e libertária, lutou na Comuna de Paris)
2 comentários:
Oque esta acontecendo aos gueridos e amados irmão metodista de Belém do Pará é um ultrage a irmãos que tem uma historia de grande singnificancia dentro do metodista da capital paraense, oro e torço para que vocês tenhão vitoria sobre todas essas coisas.
Um abraço do irmão e amigo metodista, agora aqui do DF.
Marcos Braga
oi me passar o endereço, estou em Blém, sou de Capitão poço..81838462
PAZ E GRAÇA..
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