sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O caso Belém e a carta solicitando ação pastoral ao revmo.Bispo Adolfo

Desde o ano de 2004, o bispo da REMA vem promovendo uma campanha de uniformização na Igreja Metodista segundo seus critérios de santidade, e consequentemente há perseguições contra todos os que se desalinham com suas concepções de igreja. Seu comportamento não visa defender as posturas, decisões e orientações da Igreja Metodista, mas sim tolher a qualquer custo a ação de irmãos e irmãs que atuem no movimento ecumênico.


A Igreja Metodista da Pedreira é uma igreja com mais de três décadas de existência, referência na ação social da cidade, na atuação em prol dos direitos humanos e do diálogo ecumênico. Inclusive, no ano de 2005 seu pastor era o coordenador do conselho ecumênico regional. Contudo, devido aos problemas de manutenção da Metodista do Umarizal, após várias conversas e intervenções do bispo, houve uma fusão das igrejas, originando a Igreja Metodista Central de Belém. 


Ambas as igrejas, devido a suas constituições históricas e formação teológica, eram muito diferentes. A Metodista da Pedreira conhecia os documentos metodistas, realizava a Escola Dominical usando as revistas oficiais, tinha projetos sociais, era de periferia, mas não crescia satisfatoriamente em número de membros. Já a Metodista do Umarizal era uma comunidade formada por uma dissidência da Igreja Batista, localizada num bairro nobre, tendo muita dificuldade de entender sobre o funcionamento e a doutrina da Igreja Metodista, mas com um grande potencial evangelístico. 


 Este foi critério, o da possibilidade de dar, em progressão geométrica, crescimento numérico ao trabalho metodista na cidade, que motivou o plano de repressão total ao “jeito de ser metodista” da igreja da Pedreira. O bispo também se baseou nos novos rumos do metodismo brasileiro pós o último Concílio Geral. Segundo as próprias palavras do revmo.Adolfo, o metodismo praticado pela igreja da Pedreira era o “deserto” do metodismo brasileiro, “agora o metodismo está chegando à Terra Prometida”, logo era tempo de profundas mudanças.


 Deu-se início à repressão e expurgo de  qualquer rastro do metodismo considerado “atrasado”, “humanista”, “liberal”, “ecumênico”, da “teologia da libertação” e que não se traduzia em crescimento. Foi nomeado em 2008 o pastor João Coimbra, um ex-pastor batista, trazido ao metodismo pelo também ex-pastor batista que iniciou a igreja do Umarizal. Sua missão deveria ser contribuir para unidade daquelas duas realidades metodistas tão diferentes que optaram por trabalharem juntas, numa só comunidade. Porém, percebeu-se que o trabalho do rev.João Coimbra era o de impor a visão hegemônica e sufocar a espiritualidade existente na Igreja Metodista da Pedreira.

Entre as medidas repressivas aconteceu a cassassão de mais da metade dos membros da CLAM da IMCB. Como tal ato viola frontalmente os Cânones da Igreja Metodista, recorreu-se ao expediente de convocar o Concílio Local. Após duas sessões do Concílio Local, ambos com a presença do revmo.Bispo Adolfo Evaristo, a cassassão dos membros da CLAM não foi aprovada. Mas a situação de perseguição inviabilizou a possibilidade de que aproximadamente dez famílias continuassem a participar da vida comunitária na IMCB, passando a existir um grupo de metodistas exilados e peregrinos, expulsos de sua própria terra e lar.

Em outubro de 2009 um grupo de metodistas reunidos em Belisário expressaram sua preocupação em relação à situação em questão e redigiram uma carta pedindo ao bispo Adolfo Evaristo sua ação pastoral, amorosa e conciliatória, para que todos os membros da Igreja Metodista Central em Belém pudessem exercer suas vocações e vivência cristã em paz, harmonia, sob o pastoreio de Cristo. A carta foi enviada em 23 de novembro de 2009 e permaneceu sem resposta.

Em março de 2010 o professor Saulo Tarso Cerqueira Baptista, um dos membros originais da Igreja Metodista da Pedreira, foi excluído da sua condição de Suplente do Conselho Superior de Administração da Rede Metodista de Educação, a pedido do bispo da REMA e do SD do distrito de Belém, medida aprovada no Concílio Regional da REMA que não contou com a presença do acusado (Saulo) e nem lhe deu o canônico e democrático direito à ampla defesa.

Tem sido amplamente divulgado na REMA e na Igreja Metodista Central em Belém a intenção de excluir do rol de membros da igreja os irmãos e irmãs que, devido a ação pastoral repressiva e opressora, foram forçados a deixarem a comunidade. Em virtude de tal situação, a carta solicitando a ação pastoral foi novamente enviada ao revmo. Adolfo em 2 de agosto de 2010, desta vez recebendo a curta resposta do bispo presidente da REMA de que tal situação é de cunho interno e que está sendo resolvida internamente. Se a expulsão de membros da Igreja Metodista que são ativos, participam das instâncias regionais e gerais da Igreja, trabalham nos ministérios locais e nas instituições de ensino da Igreja Metodista se concretizar, um dos mais negros capítulos da história da Igreja Metodista terá sido escrito.

A Igreja Metodista é conexional, conciliar e episcopal. A autoridade episcopal em nossa igreja não tem o caráter monárquico como o episcopado exercido na Igreja Católica. Nem o escopo de sua atuação é ilimitado como em igrejas neopentecostais, cuja institucionalização não está consolidada e, portanto, é passível de ser administrada sob os moldes de empresa, com donos e gerentes. O episcopado na Igreja Metodista é uma função extraordinária, exercida através do poder emanado da própria igreja de maneira democrática e representativa que os elegem nos Concílios Gerais. Estes por sua vez formados por delegados eleitos nos Concílios Regionais, que representam todas as igrejas de suas regiões. As igrejas locais elegem seus delegados através de Concílios Locais que são as assembléias formadas por todos os membros leigos ativos na comunidade local. Em última análise os bispos e bispa foram escolhidos pela membresia leiga e clériga de toda a Igreja Metodista, não para representar esta ou aquela Região, mas para representar a Igreja Metodista como um todo. Desta forma entendemos que está havendo uma extrapolação da função episcopal, como ela é compreendida no metodismo brasileiro, em seus documentos, cânones e história.

 Segue abaixo o texto da carta solicitando a ação pastoral ao revmo. Adolfo Evaristo de Souza.

Solicitação de ação pastoral episcopal  

Revmo. Bispo Adolfo Evaristo de Souza

Região Missionária da Amazônia



Segue novamente correspondência anteriormente enviada em 23 de novembro de 2009, a qual não obtivemos resposta até o presente momento.


Prezado Bispo:

Entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro do corrente um grupo de líderes clérigos e leigos esteve reunido em Belisário, na Zona da Mata mineira, com o objetivo de discutir a caminhada de nossa amada Igreja, á luz de seus documento e bases históricas, na busca da valorização da identidade metodista.

Foram momentos riquíssimos, onde também pudemos tomar conhecimento e discutir muitas práticas que vêm sendo adotadas em igrejas locais diversas, inquestionavelmente distantes de nossa base doutrinária.

Também tivemos o privilegio de receber um representante da Igreja Metodista no Bairro da Pedreira, o irmão Tony Vilhena, da cidade de Belém-Pa e é esse o motivo que nos leva a dirigirmos ao Reverendíssimo Bispo, pois nos preocupou o testemunho a nós apresentado, que entendemos representar o pensamento da liderança daquela comunidade de fé.

Tivemos uma clara impressão de que não está havendo respeito àqueles queridos irmãos, que se mantêm coerentes na linha de pensamento e ação metodista, principalmente em relação à defesa das causas sociais e nas práticas ecumênicas que nos caracterizam ao longo de nossa história.

Dessa forma, solicitamos ao prezado Bispo, a adoção de ações amorosas que possam vir contornar as crises ali existentes, restaurando a harmonia entre aqueles irmãos animando-os a prosseguir nos projetos de implantação do Reino de Deus naquele sofrido local.

Antecipadamente agradecidos pela atenção que será dispensada a esse nosso pedido, subscrevemos.

Fabio Martelozzo Mendes
Coordenador do Grupo Metodistas Confessantes
 

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