terça-feira, 21 de junho de 2011

Não vamos deixar pessoa alguma para trás

Não vamos deixar pessoa alguma para trás 



 Por mais que todos nós lutemos contra a estrutura de pensamento maniqueísta – que divide o mundo entre o bem e o mal –, sempre nos debatemos no cotidiano com essa tônica em  nossas discussões e falácias. Invariavelmente, buscamos separar ovelhas de bodes e assim, quem sabe, estabelecermos diferenças em relação a si e ao outro.


Entretanto, agir dessa forma somente provoca mais cisões e separações. De alguma forma, precisamos compreender que não há uma luta entre bem e mal, mas sim, uma luta entre princípios, pois como bem sabemos, nós pensamos diferente em relação a quase todos os temas inerentes à vida. E é bom que seja assim.


Numa modernidade como a nossa, quem sabe líquida, para usar aqui a expressão de Zygmunt Bauman, fechamentos de ideias não cabem. Embora seja evidente o fato de que muitas comunidades procuram determinar zelosamente seus limites, compreendo que o campo das ágoras continua a ser o terreno fértil onde as possibilidades mais criativas podem surgir. E elas surgem dos relacionamentos e da boa resolução destes. Por isso, acho que o melhor caminho é sempre a harmonização dos sentimentos, quando possível, é claro.


Ora, todos somos sínteses de contradições. Pessoa alguma pode ab-rogar o direito de ser pura ou isenta de paradoxos. Pessoa assim não existe e todos nós sabemos disso. Então, como sínteses de contradições, pendulamos entre as paixões e as razões e, muitas vezes, nos perdemos em ambas. Por isso, não concordo com as argumentações que polarizam as pessoas, sendo que sempre é mais sensato polarizar as ideias. Digo isso porque recentemente passei por uma situação de julgamento das minhas ideias e posturas. Claro que as ideias e posturas tinham a ver com pessoas. Entretanto, em algum momento as paixões falaram mais alto e as pessoas passaram a se ferir com palavras e com comportamentos. Eu, particularmente, quero afirmar meu compromisso com as pessoas e confirmar que na situação em que todos nós estamos envolvidos não há vencedores. Todos nós perdemos, infelizmente. Quero afirmar que em todo tempo em que estivemos atentos à nossa questão de apoio aos belenenses metodistas sempre entendi que era uma luta dos irmãos e das irmãs confessantes. Não era eu sozinho, mas todos nós que amamos essa igreja. Portanto, em nenhum momento me vi como solução ou salvador da pátria. Quem sou eu pra ambicionar isso? Um mero pastor que gosta de sê-lo. Eu, mesmo depois do veredito da comissão de disciplina, estou bem, somente preocupado com os rumos das minhas irmãs e dos meus irmãos da igreja metodista em Belém.


Agora, não é hora de nos engalfinharmos e nos debatermos em sentimentos difusos. Vamos aquietar o coração e continuar a nossa luta contra as hostes das ideias equivocadas, sem perder a ternura pelos outros. Nessa perspectiva, não lanço nenhum tipo de crítica aos colegas pastores que participaram da comissão de disciplina. Sinceramente, são meus amigos que, em outros momentos, me pastorearam. Entretanto, neste momento, foram passageiros em um processo que não criaram, mas precisavam salvaguardar de alguma forma. Tiveram razões para isso. Como pastor, eu sei que eles estavam aplicando a disciplina a eles também. Aprendi isso com um autor norte-americano chamado Eugene Peterson. Ele sempre disse que quando um pastor cai, todos caem com ele. Quando um pastor peca, todos pecam com ele. Quando um pastor é disciplinado, todos o são com ele, e assim por diante. Acho que ele tem razão. 


Nas letras do Hino 293 – Grande Amor:
Ó Senhor, não te separes do rebanho terrenal,
Une a igreja estreitamente, dá-lhe vida fraternal;
Abençoa todo crente, ilumina-lhe o andar,
E que todos se comprazam em teu nome proclamar.

Eu ainda acredito que é por intermédio do amor responsável que todos nós poderemos fazer diferença em nossa vida e em nossa igreja, o Senhor nos ajudando.


Assim, pensando em todo esse processo, acho que agora é hora de nos recolhermos à caverna com o intuito de nos sararmos ou de sararmos uns aos outros. Essa é hora de aliviarmos as tensões e estendermos os nossos braços em direção ao outro, mesmo o outro que pensa opostamente diferente. Não é essa a nossa causa?


Continuaremos a lutar pelo que acreditamos, mas não vamos deixar pessoa alguma para trás.


Abraços fraternos a todos.


Moisés Abdon Coppe


Texto publicado originalmente no blog In Ludere

Um comentário:

Anônimo disse...

Que conforto nesses dias de trevas! Eu conheço esse pastor, pois estudamos juntos na FATEO e afirmo que ele não perdeu “aquela paixão” tão bem traduzida por Isabel Allende no vídeo enviado por Paola. “A verdade se comprova pela História”, como bem disse Allende. O Pastor Moisés tem História, e, a está expandindo dia a dia. Que ele inspire a nós, a Igreja Metodista e em especial os Bispos da IMB. Sobre uma História de ternura e senso de justiça, não há argumentos “tolos” que possam destituí-la da verdade. A verdade se faz pela História de cada homem e mulher. O Rev. Moisés não está escrevendo uma História nova de vida; ele apenas a continua escrevendo sobre quem ele é. Sigamos seus passos e seu exemplo.. Paz, amor, justiça e esperança. Maria Newnum – 6ª RE – Maringá – Pr – Brasil