quinta-feira, 8 de maio de 2014

Vereadores ouvem comunidade e professores sobre tombamento do IPA e do Americano

Vereadores ouvem comunidade e professores sobre tombamento do IPA e do Americano

Foto:  Desirée Ferreira/ CMPA
Audiência foi mediada pelo presidente da comissão, João Derly (PCdoB) | Foto: Desirée Ferreira/ CMPA
A possibilidade de tombamento dos terrenos do Colégio Americano e da universidade Instituto Porto Alegre (IPA) foi discutida nesta terça-feira (6) em audiência na Comissão de Educação e Cultura (Cece) da Câmara de Vereadores. O reitor das instituições, Roberto Pontes, que ainda não se pronunciou publicamente sobre o caso, esteve presente, mas não manifestou sua opinião. Ele afirma que irá fazê-lo apenas na quinta-feira (8), quando o assunto será tratado no Plenário da Casa.
As discussões acerca do tombamento das instituições começaram com a publicação do edital de leilão do prédio do colégio Americano, que foi oferecido como garantia para dívidas trabalhistas, no início de abril. Sem o pagamento da multa cobrada, houve publicação de edital pela Justiça do Trabalho em jornais de Porto Alegre. Após o pagamento do valor, de R$ 163 mil, o leilão foi suspenso.
“O movimento começou com notícias veiculadas na mídia no início de abril, falando sobre o assédio ao IPA e o interesse pela área por parte da especulação imobiliária. Uma semana depois, foi veiculado um anúncio de um leilão da área do colégio Americano”, narrou Lisiane Collares, do movimento pró-tombamento. Ela, que é ex-aluna, foi uma das organizadoras do “Abraçaço” ao IPA e Americano, que aconteceu no dia 26 de abril.
Foto:  Desirée Ferreira/ CMPA
Lisiane Collares foi uma das organizadoras do abraçaço aos colégios | Foto: Desirée Ferreira/ CMPA
O diretor do Sindicato dos Professores de escolas particulares (Sinpro/RS), Marcos Fuhr, afirmou que a comoção da comunidade foi “absolutamente surpreendente” para os professores. “Nunca tivemos conhecimento de nada semelhante a isso. Tanto que dois dias depois a instituição pagou o que era devido”, ponderou.
O grêmio estudantil Rui Barbosa, do Americano, esteve representado pela atual presidente, Mariana Leite, que afirmou que os estudantes decidiram se unir à causa “pela preocupação de que a nossa história talvez fosse apagada da nossa cidade”. Durante as manifestações das pessoas presentes, a ex-diretora do colégio Vera Turk de Almeida demonstrou preocupação com a possibilidade de se conseguir outro lugar para que as instituições continuem, caso aconteça a venda daquela área. Ela também foi aluna e professora do Colégio Americano, onde sua neta atualmente estuda.
Tombamento e especulação imobiliária
Lisiane contou que a ideia do tombamento surgiu como alternativa possível para “preservar a história, a educação, a cultura que emana dessas duas instituições”. Ela também destacou que há uma grande área verde nas escolas, com espécies nativas que devem ser preservadas, e defendeu a perpetuação das áreas e o funcionamento das instituições. “Temos receio dessa especulação imobiliária desenfreada que pode destruir o que temos de mais precioso, não só as duas escolas, mas a cidade onde vivemos”, expôs.
Em suas manifestações, as vereadoras Any Ortiz (PPS) e Sofia Cavedon (PT) também demonstraram preocupação com a especulação imobiliária. O terreno dos colégios é localizado em uma área nobre na cidade, no bairro Rio Branco. Enquanto a petista ponderou que “educação não se trata como mercadoria”, a colega afirmou que “preservar os espaços externos nas escolas é muito valioso no ambiente escolar”. “O tombamento não evita que possa ser vendido, mas o terreno passa a valer muito menos porque não se pode mais ser demolido”, destacou Any.
A diretora da Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural da prefeitura (EPAHC), Débora Regina Magalhães, considerou a manifestação da comunidade “louvável”, e lembrou que a preservação de bens culturais da cidade nem sempre é valorizada pela comunidade. Ela afirmou que o departamento irá considerar as questões técnicas a respeito do tombamento e reiterou a importância de fazer uma manifestação formal ao prefeito para incluir no processo. Débora Regina lembrou, no entanto, que o tombamento permite apenas que o local não seja demolido, mas não garante que a atividade escolar permaneça ali.
Foto:  Desirée Ferreira/ CMPA
Marcos Fuhr criticou a falta de diálogo da atual gestão | Foto: Desirée Ferreira/ CMPA
Falta de diálogo
Marcos Fuhr resgatou que a dívida trabalhista foi adquirida em 2003, e a multa foi acumulada com os mais de dez anos de tramitação. “No início dos anos 2000, a instituição viveu períodos difíceis, de pagamentos em atraso”, contou. Ele também destacou que, enquanto a dívida era de R$ 163 mil, o prédio dado como garantia pela própria instituição tem valor de R$ 33 milhões.
A escola é atualmente criticada por não proporcionar espaços de diálogo com os professores. “Nós atribuímos isso a um distanciamento dos centros de decisão administrativa da decisão. A reitoria não nos recebe, não se dispõe a dialogar sobre nada e deixou chegar a essa situação”, lamentou. Fuhr explicou que atualmente é a Rede Metodista nacional, localizada em São Bernardo do Campo, em São Paulo, que administra as instituições.
“Há dez anos foi criada a Rede Metodista Sul, que foi então integrada à rede nacional. Isso tem o ponto positivo de que há mais recursos, mas também a educação acaba não sendo prioridade”, esclareceu o vereador Alberto Kopittke (PT), que é ex-aluno do colégio Americano e proponente da audiência.
Durante a audiência, o reitor Roberto Pontes não expôs a sua posição a respeito do caso. Ele chegou após os primeiros pronunciamentos e se sentou à mesa, mas apenas cumprimentou os presentes, não se manifestando. Ele foi procurado pelo Sul21 e por outros jornais após a audiência, mas afirmou que não iria se pronunciar até quinta-feira, quando deve participar de sessão plenária na Câmara.

Ao final do encontro, o vereador Kopittke lamentou a falta de abertura por parte do reitor. “Acho que a falta de diálogo ficou clara, só o que pedimos foi um diálogo tranquilo. Era uma grande oportunidade de esclarecimentos, e para a nossa surpresa o reitor não se manifestou”, disse. Para ele, é muito preocupante que Pontes não tenha nem afirmado que não pretende vender o colégio.


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