segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Por que tornar-se igreja foi a pior coisa que poderia acontecer ao Metodismo


POR QUE TORNAR-SE IGREJA FOI A PIOR COISA QUE PODERIA ACONTECER AO METODISMO



Este é o quarto numa série de textos sobre seguir Jesus na Igreja Metodista Unida. Estou revendo a estrutura tripartite de discipulado de João Wesley buscando sugestões e pistas de como Metodistas devem orar, planejar e agir no futuro.
(nota do blog: os três textos anteriores podem ser acessados, em inglês, no site The New Methofesto: http://newmethofesto.wordpress.com )

Terminei meu último texto perguntando: “É hora de trazer de volta a socieadade?”

Alguém respondeu que ela esperava que pudéssemos pensar num nome mais sexy. Verdade. Uma “reunião de sociedade” soa pitoresco, antigo.

Tenho certeza que podemos melhorar isso, mas este não é o ponto central. O ponto é que reuniões de sociedade foram criadas para fomentar e insuflar as chamas do desejo de seguir Jesus mais de perto. Não tenho certeza se e onde isso acontece hoje na Igreja Metodista Unida, ao menos de uma forma sistemática e intencional.

Nesta atual série de postagens no blog, estou construindo o argumento de que não apenas precisamos de reuniões de sociedade, mas também reuniões de classes e bandos, porque essas três categorias eram cruciais a todo o sistema de discipulado de  João Wesley. Cada uma tinha seu objetivo e sua função.

Tentarei explicar de outra forma. No livro Lauching Missional Communities (Lançando Comunidades Missionais), Mike Breen e Alex Absalom introduzem o conceito de quatro espaços que todos nós habitamos: público, social, pessoal e íntimo. Cada um desses espaços corresponde a um certo aspecto da vida da igreja.

Espaço público: onde compartilhamos uma experiência comum e conectamos através de uma influência externa, tipicamente em grupos de mais de 100 pessoas, para inspiração, embalo e pregação; na igreja, isso acontece no culto público.
Espaço social: onde compartilhamos um verdadeiro “instantâneo” de quem somos, tipicamente em grupos entre 20 e 50 pessoas, a fim de construir comunidade e treinar para a missão; isso é o que Breen e Absalom chamam de “comunidades missionais”.
Espaço pessoal: onde compartilhamos experiências privadas, pensamentos e sentimentos, tipicamente em grupos de 3 a 12, objetivando apoio, proximidade e desafio pessoal; na igreja, isso acontece nas classes de Escola Dominical, grupos de Estudo Bíblico e outras formas de pequenos grupos.
Espaço íntimo: onde compartilhamos informação “nua” sobre quem somos e não temos vergonha, algo que é experimentado entre 2 ou 3 pessoas; Breen e Absalom afirmam que isso brota espontaneamente.

Os autores usam essa moldura basicamente para enfatizar a necessidade de comunidades missionais (espaço social), mas me impressionou como esse esquema corresponde bem à estrutura de Wesley.

Espaço público: Culto matutino dominical na paróquia local da Igreja da Inglaterra.
Espaço social: Reunião da Sociedade no prédio Metodista local.
Espaço pessoal: Reunião da Classe.
Espaço íntimo: Reunião do Bando.

Wesley focou mais nos últimos três porque sabia que nesses espaços é que ocorria o verdadeiro discipulado. Ele não ignorava a importância do culto público, mas não via isso como seu chamado primordial. Então deixou os espaços de encontros públicos para o clero. Mas aqui é exatamente onde invertemos tudo – nós agimos como a Igreja da Inglaterra e focamos primariamente no clero, formas institucionais da igreja, e culto público.

Se vamos realmente tentar recapturar o gênio do Movimento Metodista, não ordenaríamos clérigos para dirigir cultos públicos, não colocaríamos tanta importância na experiência dominical matutina, com suas vestimentas e liturgia. Deveríamos talvez orientar nosso povo a frequentar a Igreja Episcopal no fim da rua, ou a Igreja Presbiteriana na esquina, ou a Megaigreja não-denominacional na via expressa.

Deveríamos, sim, começar Sociedades Metodistas com o objetivo de atrair pessoas para uma vida de discipulado, talvez ao longo das linhas das reuniões dos Alcóolicos Anônimos. Convidaríamos pessoas para casas e bibliotecas e lanchonetes. Começaríamos muitos desses grupos, onde quer que fossem necessários. Equiparíamos pregadores leigos para serem líderes desses grupos, e então passarem à frente, abrindo outros. Usaríamos cada oportunidade para falar com, ouvir e cuidar dos outros.

Tudo mudou quando o Metodismo se tornou uma “igreja” e nos tornamos responsáveis por ordens clericais e cultos dominicais. Agora que as pessoas na nossa cultura não parecem muito interessadas nesses eventos, talvez a oportunidade para nos tornarmos Metodistas novamente esteja à nossa frente.

Ironicamente, tornar-se “igreja” foi a pior coisa que poderia nos acontecer. E deixar a “igreja” para trás talvez seja o caminho para o avanço.

Escrito por Wes Magruder, Presbítero ordenado da Igreja Metodista Unida, servindo na Conferência do Norte do Texas.
(Tradução de James Goodwin Junior. Publicado originalmente em: 

Um comentário:

luis fernando disse...

Confesso que esse texto é um tanto quanto instigante e provocativo. Mas também reconheço que a barreira cultural norte-americana e sul-americana é bastante significativa. Nem, sei como seria uma adaptação desse texto para refletirmos em nossa realidade...