sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O caso Belém e a carta solicitando ação pastoral ao revmo.Bispo Adolfo

Desde o ano de 2004, o bispo da REMA vem promovendo uma campanha de uniformização na Igreja Metodista segundo seus critérios de santidade, e consequentemente há perseguições contra todos os que se desalinham com suas concepções de igreja. Seu comportamento não visa defender as posturas, decisões e orientações da Igreja Metodista, mas sim tolher a qualquer custo a ação de irmãos e irmãs que atuem no movimento ecumênico.


A Igreja Metodista da Pedreira é uma igreja com mais de três décadas de existência, referência na ação social da cidade, na atuação em prol dos direitos humanos e do diálogo ecumênico. Inclusive, no ano de 2005 seu pastor era o coordenador do conselho ecumênico regional. Contudo, devido aos problemas de manutenção da Metodista do Umarizal, após várias conversas e intervenções do bispo, houve uma fusão das igrejas, originando a Igreja Metodista Central de Belém. 


Ambas as igrejas, devido a suas constituições históricas e formação teológica, eram muito diferentes. A Metodista da Pedreira conhecia os documentos metodistas, realizava a Escola Dominical usando as revistas oficiais, tinha projetos sociais, era de periferia, mas não crescia satisfatoriamente em número de membros. Já a Metodista do Umarizal era uma comunidade formada por uma dissidência da Igreja Batista, localizada num bairro nobre, tendo muita dificuldade de entender sobre o funcionamento e a doutrina da Igreja Metodista, mas com um grande potencial evangelístico. 


 Este foi critério, o da possibilidade de dar, em progressão geométrica, crescimento numérico ao trabalho metodista na cidade, que motivou o plano de repressão total ao “jeito de ser metodista” da igreja da Pedreira. O bispo também se baseou nos novos rumos do metodismo brasileiro pós o último Concílio Geral. Segundo as próprias palavras do revmo.Adolfo, o metodismo praticado pela igreja da Pedreira era o “deserto” do metodismo brasileiro, “agora o metodismo está chegando à Terra Prometida”, logo era tempo de profundas mudanças.


 Deu-se início à repressão e expurgo de  qualquer rastro do metodismo considerado “atrasado”, “humanista”, “liberal”, “ecumênico”, da “teologia da libertação” e que não se traduzia em crescimento. Foi nomeado em 2008 o pastor João Coimbra, um ex-pastor batista, trazido ao metodismo pelo também ex-pastor batista que iniciou a igreja do Umarizal. Sua missão deveria ser contribuir para unidade daquelas duas realidades metodistas tão diferentes que optaram por trabalharem juntas, numa só comunidade. Porém, percebeu-se que o trabalho do rev.João Coimbra era o de impor a visão hegemônica e sufocar a espiritualidade existente na Igreja Metodista da Pedreira.

Entre as medidas repressivas aconteceu a cassassão de mais da metade dos membros da CLAM da IMCB. Como tal ato viola frontalmente os Cânones da Igreja Metodista, recorreu-se ao expediente de convocar o Concílio Local. Após duas sessões do Concílio Local, ambos com a presença do revmo.Bispo Adolfo Evaristo, a cassassão dos membros da CLAM não foi aprovada. Mas a situação de perseguição inviabilizou a possibilidade de que aproximadamente dez famílias continuassem a participar da vida comunitária na IMCB, passando a existir um grupo de metodistas exilados e peregrinos, expulsos de sua própria terra e lar.

Em outubro de 2009 um grupo de metodistas reunidos em Belisário expressaram sua preocupação em relação à situação em questão e redigiram uma carta pedindo ao bispo Adolfo Evaristo sua ação pastoral, amorosa e conciliatória, para que todos os membros da Igreja Metodista Central em Belém pudessem exercer suas vocações e vivência cristã em paz, harmonia, sob o pastoreio de Cristo. A carta foi enviada em 23 de novembro de 2009 e permaneceu sem resposta.

Em março de 2010 o professor Saulo Tarso Cerqueira Baptista, um dos membros originais da Igreja Metodista da Pedreira, foi excluído da sua condição de Suplente do Conselho Superior de Administração da Rede Metodista de Educação, a pedido do bispo da REMA e do SD do distrito de Belém, medida aprovada no Concílio Regional da REMA que não contou com a presença do acusado (Saulo) e nem lhe deu o canônico e democrático direito à ampla defesa.

Tem sido amplamente divulgado na REMA e na Igreja Metodista Central em Belém a intenção de excluir do rol de membros da igreja os irmãos e irmãs que, devido a ação pastoral repressiva e opressora, foram forçados a deixarem a comunidade. Em virtude de tal situação, a carta solicitando a ação pastoral foi novamente enviada ao revmo. Adolfo em 2 de agosto de 2010, desta vez recebendo a curta resposta do bispo presidente da REMA de que tal situação é de cunho interno e que está sendo resolvida internamente. Se a expulsão de membros da Igreja Metodista que são ativos, participam das instâncias regionais e gerais da Igreja, trabalham nos ministérios locais e nas instituições de ensino da Igreja Metodista se concretizar, um dos mais negros capítulos da história da Igreja Metodista terá sido escrito.

A Igreja Metodista é conexional, conciliar e episcopal. A autoridade episcopal em nossa igreja não tem o caráter monárquico como o episcopado exercido na Igreja Católica. Nem o escopo de sua atuação é ilimitado como em igrejas neopentecostais, cuja institucionalização não está consolidada e, portanto, é passível de ser administrada sob os moldes de empresa, com donos e gerentes. O episcopado na Igreja Metodista é uma função extraordinária, exercida através do poder emanado da própria igreja de maneira democrática e representativa que os elegem nos Concílios Gerais. Estes por sua vez formados por delegados eleitos nos Concílios Regionais, que representam todas as igrejas de suas regiões. As igrejas locais elegem seus delegados através de Concílios Locais que são as assembléias formadas por todos os membros leigos ativos na comunidade local. Em última análise os bispos e bispa foram escolhidos pela membresia leiga e clériga de toda a Igreja Metodista, não para representar esta ou aquela Região, mas para representar a Igreja Metodista como um todo. Desta forma entendemos que está havendo uma extrapolação da função episcopal, como ela é compreendida no metodismo brasileiro, em seus documentos, cânones e história.

 Segue abaixo o texto da carta solicitando a ação pastoral ao revmo. Adolfo Evaristo de Souza.

Solicitação de ação pastoral episcopal  

Revmo. Bispo Adolfo Evaristo de Souza

Região Missionária da Amazônia



Segue novamente correspondência anteriormente enviada em 23 de novembro de 2009, a qual não obtivemos resposta até o presente momento.


Prezado Bispo:

Entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro do corrente um grupo de líderes clérigos e leigos esteve reunido em Belisário, na Zona da Mata mineira, com o objetivo de discutir a caminhada de nossa amada Igreja, á luz de seus documento e bases históricas, na busca da valorização da identidade metodista.

Foram momentos riquíssimos, onde também pudemos tomar conhecimento e discutir muitas práticas que vêm sendo adotadas em igrejas locais diversas, inquestionavelmente distantes de nossa base doutrinária.

Também tivemos o privilegio de receber um representante da Igreja Metodista no Bairro da Pedreira, o irmão Tony Vilhena, da cidade de Belém-Pa e é esse o motivo que nos leva a dirigirmos ao Reverendíssimo Bispo, pois nos preocupou o testemunho a nós apresentado, que entendemos representar o pensamento da liderança daquela comunidade de fé.

Tivemos uma clara impressão de que não está havendo respeito àqueles queridos irmãos, que se mantêm coerentes na linha de pensamento e ação metodista, principalmente em relação à defesa das causas sociais e nas práticas ecumênicas que nos caracterizam ao longo de nossa história.

Dessa forma, solicitamos ao prezado Bispo, a adoção de ações amorosas que possam vir contornar as crises ali existentes, restaurando a harmonia entre aqueles irmãos animando-os a prosseguir nos projetos de implantação do Reino de Deus naquele sofrido local.

Antecipadamente agradecidos pela atenção que será dispensada a esse nosso pedido, subscrevemos.

Fabio Martelozzo Mendes
Coordenador do Grupo Metodistas Confessantes
 

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Carta de solicitação de informações ao revmo.Roberto Alves

A Igreja Metodista é conexional, conciliar e episcopal. A autoridade episcopal em nossa igreja não tem o caráter monárquico como o episcopado exercido na Igreja Católica. Nem o escopo de sua atuação é ilimitado como em igrejas neopentecostais, cuja institucionalização não está consolidada e, portanto, é passível de ser administrada sob os moldes de empresa, com donos e gerentes. O episcopado na Igreja Metodista é uma função extraordinária, exercida através do poder emanado da própria igreja de maneira democrática e representativa que os elegem nos Concílios Gerais. Estes por sua vez formados por delegados eleitos nos Concílios Regionais, que representam todas as igrejas de suas regiões. As igrejas locais elegem seus delegados através de Concílios Locais que são as assembléias formadas por todos os membros leigos ativos na comunidade local. Em última análise os bispos e bispa foram escolhidos pela membresia leiga e clériga de toda a Igreja Metodista, não para representar esta ou aquela Região, mas para representar a Igreja Metodista como um todo.

Desta forma, dentro de um espírito de democracia, conciliarismo, conexionalidade e respeito, conexionalismo refletido inclusive no próprio colégio episcopal, que tem bispos que foram presbíteros ativos de regiões atuando como supervisores em outras regiões que não as suas de origem, os Metodistas Confessantes, reunidos em Belisário (MG) expressaram sua preocupação com fatos que supostamente estariam acontecendo na Quarta Região e procuraram o bispo presidente da Quarta Região com o intuito de esclarecer e solucionar dúvidas e mal-entendidos. A correspondência foi enviada, juntamente com cópia para o bispo presidente do Colégio Episcopal, no dia 23 de novembro de 2009. Após não haver resposta a carta foi reenviada no dia 02 de agosto de 2010 desta vez com cópia a todo o Colégio Episcopal e até o momento não houve resposta ou manifestação.

Causa tristeza e preocupação ver que o conciliarismo e conexionalismo que faz parte da herança wesleyana desde os primórdios de nossa denominação esteja aos poucos dando lugar a um modelo de episcopado que prescinde do diálogo, da inter-responsabilidade e da presunção de que o poder emana de Deus através das instâncias democráticas canônicas. Ainda mais em nosso metodismo brasileiro que não reconhece no bispo a autoridade monárquica vista em outras denominações e confissões cristãs mas o vê como um pastor-presbítero desempenhando extraordinariamente a função de supervisor.

Segue abaixo a cópia da carta enviada em 23/11/2009 e reenviada em 02/08/2010. 


São Paulo, 23 de novembro de 2009.







Revmo. Bispo Roberto Alves de Souza

4ª Região Eclesiástica


Prezado Bispo:


Entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro do corrente um grupo de líderes clérigos e leigos esteve reunido em Belisário, na Zona da Mata mineira, com o objetivo de discutir a caminhada de nossa amada Igreja, á luz de seus documento e bases históricas, na busca da valorização da identidade metodista.

Foram momentos riquíssimos, onde também pudemos tomar conhecimento e discutir muitas práticas que vêm sendo adotadas em igrejas locais diversas, inquestionavelmente distantes de nossa base doutrinária.

Trouxe preocupação aos que ali estiveram presentes informações de que alguns pastores estariam condicionando a presença de leigos no exercício de ministérios e docência de classe de Escolas Dominicais de algumas igrejas locais á participação no projeto EMPACTO.

Se verdadeira tal prática não tem amparo canônico e contraria orientação já emanada do Reverendíssimo Bispo Presidente do Colégio episcopal, através de correspondência expedida nesse sentido.

Tem dessa forma o presente ofício o objetivo de alertar ao prezado Bispo para tal fato para que possam ser evitadas situações constrangedoras que apenas contribuem para a divisão do corpo de Cristo.

Antecipadamente agradecidos pela atenção que será dispensada a esse nosso ofício, agradecemos.


Fabio Martelozzo Mendes
Coordenador do Grupo Metodistas Confessantes




C/c - Bispo João Carlos Lopes
Presidente do Colégio Episcopal da Igreja Metodista

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Para que todos sejam um



Para que Todos Sejam Um - A perspectiva metodista para a Unidade Cristã

Baixe a Carta Pastoral do Colégio Episcopal sobre ecumenismo e unidade cristã.
Aqui

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Manifesto ao 19º Concílio Geral da Igreja Metodista

Manifesto ao 19º Concílio Geral da Igreja Metodista

À Igreja Metodista Reunida no 19º Concilio Geral
 
"Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas antigas passaram; eis que uma realidade nova apareceu. Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação. Pois era Deus quem reconciliava com ele mesmo o mundo por meio de Cristo, não levando em conta os pecados dos homens e colocando em nós a palavra da reconciliação" (II Co 5.17-19).
 
“A reconciliação do mundo em Jesus Cristo é a fonte da justiça, da paz e da liberdade entre as nações; todas as estruturas e poderes da sociedade são chamados a participar dessa nova ordem. A Igreja é a comunidade que exemplifica essas relações novas do perdão, da justiça, e da liberdade, recomendando-as aos governos e nações como caminho para uma política responsável de cooperação e paz.”(CREDO SOCIAL , III - A ORDEM POLÍTICO-SOCIAL E ECONÔMICA).
 
Amados/as irmãos/ãs, saúde, graça, paz e bem! 
  
Sabemos que o 18º Concílio Geral da Igreja Metodista realizado em 2006, deliberou a retirada da Igreja Metodista de organismos ecumênicos de que a Igreja Católica Apostólica Romana participasse como membro. Por considerarmos que esta decisão fere princípios fundamentais do Evangelho e da tradição Metodista, defendemos veementemente que o 19º CG anule essa decisão, por entender que ela afronta não tão somente o testemunho histórico do Metodismo de espalhar a "santidade bíblica por sobre a terra, a começar pela Igreja" mas também a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso, ela insere a Igreja anacronicamente em um ambiente de exclusão de pessoas por seu credo, ferindo princípios civis já consagrados pelos avanços da vida moderna de respeito aos direitos humanos.
 
Ademais, é sabido que Nosso Senhor Jesus Cristo intercedeu ao Pai não só por seus discípulos, mas por todos que viessem a crer nele, quando disse: "A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles nós; para que o mundo creia que tu me enviaste" (João 17.21) 
  
O artigo número cinco, dos Artigos de Religião do metodismo expressa que "As Santas Escrituras contêm tudo que é necessário para a salvação, de maneira que o que nelas não se encontre, nem por elas se possa provar, não se deve exigir de pessoa alguma para ser crido como artigo de fé, nem se deve julgar necessário para a salvação".
 
Entendemos que as Santas Escrituras expõem ser parte do projeto salvífico de Deus, revelado em Jesus Cristo, que persigamos a unidade da Igreja e que a divisão desta é um escândalo à Fé Cristã pois "há uma só fé, um só Espírito e um só Batismo (Ef. 4,5). 
 
O Plano de Vida e Missão, adotado em 1982, ao tratar da Herança Wesleyana e ao expressar os Elementos Fundamentais da Unidade Metodista, afirma ser "o metodismo parte da Igreja Universal de Jesus Cristo" e que ele "procura preservar o espírito de renovação da Igreja dentro da unidade conforme a intenção da Reforma Protestante do século XVI e do Movimento Wesleyano na Igreja Anglicana do século XVIII, que, por circunstâncias históricas, resultaram em divisões. Por isto, dá sua mão a todos cujo coração é como o seu e busca no Espírito os caminhos para o estabelecimento da unidade visível da Igreja de Cristo (Jo 17.17-23)".
 
No sermão 39, "O Espírito Católico", fundamentado em 2 Rs 10.15-16, João Wesley enfatiza as expressões: "Tens tu reto o coração para comigo, como o meu o é para contigo? ...Então dá-me a mão." Salienta que, ter o "coração reto" não significa ter as mesmas opiniões, as mesmas formas de culto, concordância sobre o modelo de estrutura eclesiástica, sobre as formas de batismo ou de celebração da Ceia do Senhor, entre outros. A rigor, não exige nada em termos de ritos, práticas e costumes que exteriorizem quaisquer tipos de posturas comuns; o que se exige é sentimento de compromisso de amor a Deus e à humanidade. Ele chega a dizer: "Se não podemos pensar igual por que não podemos amar igual?"
 
Entendemos que "unidade visível" não significa a reunião de todas as Igrejas em uma única estrutura eclesiástica e nem a adoção de posturas hegemônicas em questões de ritos ou dogmas, mas uma capacidade dialogal típica da que foi defendida por João Wesley, de forma mais intensa, após a sua experiência de 24 de maio de 1738, alicerçada, entre outros, em Mt 5.45-48, que desafia os seguidores(as) de Jesus a uma prática parecida com a do Pai, que envia o sol e a chuva sobre todos(as): "bons e maus, justos e injustos"...Se amardes os que vos amam, que recompensa tendes?...Se saudardes somente os vossos irmãos , que fazeis de mais?
 
O Plano de Vida e Missão reitera ainda que nossa opção ecumênica, além de ser obediência ao mandamento de Cristo, é resultado prático da vivência na frente missionária, onde todos são irmanados na fé apesar das diferenças teológicodoutrinárias. Ou seja, o ecumenismo nasce da fé em missão pois ao indicar como uma da área de atuação a de Promoção da Unidade Cristã, conceitua que: “A busca e vivência da unidade da Igreja, como parte da Missão, não é optativa, mas uma das expressões históricas do Reino de Deus. Ela procede do Senhor Jesus Cristo e é realizada por meio do Espírito Santo, pela rica diversidade de dons, ministérios, serviços e estruturas que possibilitam aos cristãos trabalhar em amor na construção do Reino de Deus até a sua concretização plena (Jo 10.17;1.17-23; 1 Co 1.10-13; 12.4-7, 12 e 13; Ef 4.3-6; Ef 2.10-11).”
 
Pelo exposto, confessamos que nossa incapacidade de obedecer à decisão do 18º CG, não decorre de indisciplina ou insubmissão, mas da liberdade à qual somos chamados e que em Cristo nos foi outorgada. Ela nos constrange a declarar que "Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos" (Da Liberdade Cristã, Martinho Lutero). Assim sendo, pedimos que "mantenhamos, entre nós, laços de paz, para conservar a unidade do Espírito. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a vocação nossa nos chamou a uma só esperança: há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos e está presente em todos" (Ef. 4.3-6).
 
Os abaixo assinados representam somente uma parte dos Metodistas Confessantes. Muitos pastores e pastoras não o assinam devido à possibilidades de represálias que têm ocorrido em algumas de nossas regiões eclesiásticas.  
 
• PAULO SILAS JORGE DE LARA Igreja Metodista Em Água Fria - 3ª RE.
• Paola Vargas Barbosa - Igreja Metodista Em Goiabeiras, Vitória/ES 4a RE.
• Fabio Martelozzo Mendes - Congregação Em Santana De Parnaíba/Igreja
Metodista Em Itaberaba - 3ª Região.
• Tony Welliton Da Silva Vilhena - Igreja Metodista Central Em Belém / REMA
• Francisco Thiago De Almeida – Franca/SP 5ª Região
• Lucas Lima Camargo Escobar Bueno – Sorocaba – SP 3ª RE
• Jaider Batista Da Silva, Igreja Metodista Do Bairro Santa Helena Em Governador
Valadares, MG.
• Elza Maria Robin Zenkner - Presbítera (Aposentada) - 2ª Região
• Elena Alves Silva - Pastora Na Igreja Metodista Em Jardim Colorado - 3ª RE
• João Luiz De Barros Teixeira - Presbítro - 1ª Regiao
• Carla Pereira Nonato – Igreja Metodista Em Monte Belo – 3ª Região
• Isaias Laval - Água Fria - SP
• KELLER APOLINARIO ROSA DA SILVA- IGREJA METODISTA DE CONSELHEIRO
PENA
• Adahyr Cruz
• Dalva Dianim Berzoini Igreja Metodista Em Bela Aurora - Juiz De Fora - 4ª
Região
• Cibele Paradela - Igreja Metodista De Botafogo - Rio De Janeiro - RJ
• Arthur Emílio Dianin - Igreja Metodista De Bela Aurora - Juiz De Fora/MG
• Anivaldo Padilha, Leigo, Igreja Metodista Em Vila Mariana, São Paulo, 3a.
Região.
• Clésio De Oliveira Paradela - Igreja Metodista Em Venda Nova-BH (MG)
• Darlene Barbosa Schützer - Catedral Metodista De Piracicaba.
• Saulo De Tarso Cerqueira Baptista, Igreja Metodista Central De Belém, Pará.
• Octavio Alves Dos Santos Filho - Pastor Na Igreja Metodista No Itaim Bibi (SP)
• Sydney Farias Da Silva
• Diná Da Silva Branchini, Membro Igreja Metodista Em Suzano,São Paulo- 3RE
• Paulo Barbosa - Igreja Metodista em Goiabeiras – Vitória – ES
• Cléber De Oliveira Paradela
• Miriam Vargas Barbosa Da Igreja Metodista Em Goiabeiras – Vitória – ES
• Cristina Engels Rodrigues, Membro Da Igreja Metodista No Ipiranga
• Messias Valverde - Presbítero 4ª Região
• Carolina Cislaghi Rivero - Catedral Metodista De Piracicaba.
• Dilson Julio Da Silva
• Washington Luiz Silva Santos - Membro Leigo Da Igreja Metodista Em
Aricanduva.
• Sérgio Marcus Pinto Lopes - Presbítero
• Dilene Fernandes De Almeida, Presbítera, Igreja Metodista Em Guaianazes, São
Paulo, 3a RE
• Juarez Reinaldo De Souza Lima - Igreja Metodista Em Água Fria 3ª RE
• Erika Schützer - Igreja Metodista Central De Piracicaba.
• Emília Maria Garcia Dos Santos, Membro Leigo Da Igreja Metodista No Itaim
Bibi.
• Jair Alves - Pastor Metodista Em Santo Estevão
• Wesley Silva dos Santos, leigo da Igreja Metodista em Vila Medeiros (SP)
• Rev. Luciano José de Lima, pastor na Igreja Metodista em Jundiaí (SP).
• James William Goodwin – 4ª Região
• Francisco Cetrulo Neto
• Cilas Ferraz de Oliveira - Presbítero - Izabela Hendrix - Belo Horizonte-MG
• Eunice Nazareth Nonato, Igreja Metodista Bela Vista – Governador Valadares,
MG
• Martinho Luthero de Souza Junior, I.M. em Salgado Filho - BH, IV Região
• Waldecy Louback da Cunha - Igreja Metodista em Goiabeiras – Vitória – ES
• Marcelo Pereira Louback - Igreja Metodista em Goiabeiras – Vitória – ES
• Marislene Pereira Louback - Igreja Metodista em Goiabeiras – Vitória – ES
• Elias César Louback - Igreja Metodista em Goiabeiras – Vitória – ES
• Wagner Silva dos Santos
• Raquel Moraes Gaia - Igreja Metodista Central em Belém
• Jesus Anacleto Rosa, Presbítero aposentado- 3RE
• REV. Robert Stephen Newnum – 6ª RE
• Maria Newnum – 6a RE
• Victor Cláudio Paradela Ferreira - membro da Igreja Metodista em Bela Aurora -
Juiz de Fora – MG
• Klaus Schützer - Igreja Metodista de São Carlos-SP
• Rudolf Schützer - Igreja Metodista Central de Piracicaba
• Eloisa Geraldi - Catedral Metodista de Piracicaba_SP
• Julio Augusto Toledo Veiga - Catedral Metodista de Piracicaba – SP
• Victor José Ferreira - Igreja Metodista de Botafogo Rio de Janeiro – RJ
• Paulo Roberto Ramos Caiuá (Membro da Catedral Metodista de Piracicaba)
• Gérson Mendes Ferreira - Igreja Metodista Central de Campinas.
• Nicanor Lopes – Pastor da IM em Jardim Pacaembu – Campinas - 5ª. Região
Eclesiástica
• Leila de Castro Louback Ferraz - Igreja Metodista Izabela Hendrix - Belo
Horizonte - MG (4a RE)
• SILVIA EUNICE BORGHI CEPEDA GIUSTI - Igreja Metodista Central de
Campinas
• Filipe F. Ribeiro Maia, 5 RE, Piracicaba, SP.
• Sílvia Vilhena Antunes Amaral - Igreja Metodista Izabela Hendrix
• Yara Lígia Pacini - Igreja Metodista Central de Campinas.
• Sheila Christine Freire de Matos Hussar, membro da Catedral Metodista de
Piracicaba.
• Susana Fernandes Ribeiro Maia - Catedral Metodista de Piracicaba- SP. 5ª RE
• Augusto Campos de Rezende Igreja Metodista Izabela Hendrix
• Alexandre Bomfim Rodrigues - Igreja Metodista do Izabela Hendrix BH
• Gerson Mattos. Leigo da Igreja Metodista em Arthur Alvim.
• Shirlei Debussi Pissaia - Igreja Metodista Central de Piracicaba
• Marcos Seir Andrino - Igreja Metodista Central Campinas SP - 5a Região
• Bernardeth Talasse Andrino - Igreja Metodista Central Campinas SP - 5a Região
• Rev, Luiz Ferraz dos Santos-pastoral AMAS-Catedral Metodista - Piracicaba.
• Tiago Bicudo
• Débora Bicudo de Faria – Igreja Metodista Central de Campinas
 
Aqueles e aquelas que desejarem subscrever o presente manifesto poderão fazê-lo
através da petição online no seguinte endereço:
http://www.ipetitions.com/petition/manifesto19cg/

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Carta de solicitação de informações aos pastores da IMCJF, ao SD e ao bispo

Após recebermos informações de membros da Igreja Metodista Central de Juiz de Fora a respeito de práticas que contrariam o ethos e a praxis metodistas, nós Confessantes, dentro da mais legítima e respeitosa prática democrática de se ouvir todos os lados antes de chegar a qualquer conclusão, pedimos aos pastores da IMCJF e ao Superintendente Distrital (coincidentemente, um dos pastores da igreja) que eles nos informassem do que está acontecendo para que não houvesse margem para boatos, rumores ou conversas que não acrescentem e não edifiquem o corpo de Cristo.

A Igreja Metodista, como parte do Corpo de Cristo que desde os primórdios adotara o conciliarismo e a democracia como princípios de governo, além de ser uma igreja conexional, tem o direito de saber o que acontece em uma de suas igrejas mais representativas e importantes.

A carta solicitando informações foi enviada ao pastor titular, rev.Osman de Oliveira Ferraz e ao pastor coadjutor e Superintendente Distrita, rev.Luis Carlos Costa Rampinelli no dia 25/09/09. Como o e-mail do reverendo Rampinelli havia devolvido a mensagem, a mesma foi reenviada para o endereço eletrônico da Igreja Metodista Central em Juiz de Fora em 30/09/09. Passadas várias semanas sem que tivéssemos recebido a gentileza da resposta, reenviamos a mensagem em 05/11/09. Após os clamores terem sido ignorados de maneira pouco democrática e consequentemente pouco metodista, reenviamos a mensagem mais uma vez no dia 23/11/09, desta vez com cópia para o bispo presidente da 4ª Região, revmo.Roberto Alves de Souza.

O pastor local, o superintendente distrital e o bispo, autoridades investidas pelo poder de Deus que emana do povo, de maneira estranhamente anti-democrática preferem ignorar o que um grupo de crentes em Cristo Jesus, irmãos e membros da mesma igreja perguntam. A prática da sonegação de informações é recorrente na 4ª Região, pois nos ultimos cinco anos os relatórios de atividades da COREAM também deixaram de ser, inexplicavelmente, divulgados ao povo metodista através dos veículos oficiais da região, site e jornal.

Segue abaixo cópia da carta enviada aos pastores e bispo que até agora estão sem resposta oficial.

Carta de solicitação de informações - Igreja Metodista Central em Juiz de Fora

Rev. Luiz Carlos Costa Rampinelli e Rev. Osman de Oliveira Ferraz.

Prezados Pastores:

Integramos um grupo de crentes em Cristo Jesus , que se identifica como Movimento Metodista Confessante, que visa a preservação da identidade metodista, composto de clérigos e leigos militantes do metodismo nas suas diversas regiões eclesiásticas, inclusive de membros da cara “família centralina” que tiveram, e outros que ainda têm, o privilégio de integrar o rol dessa respeitável comunidade, de grande importância na história do metodismo em solo brasileiro, cujo templo, desde à sua construção, tem sido instrumento de copiosas bênçãos de Deus para a vida de milhares de pessoas, e de grande importância também pela sua riqueza arquitetônica, sendo, inclusive, alvo de tombamento pelo competente órgão público local, como garantia de sua conservação.

Nessa qualidade, à medida que crescemos em nossa caminhada, cada vez mais nos convencemos da necessidade de conhecermos a realidade das noticias que nos chegam. Seja para evitarmos a formulação de juízos precipitados e enganos, que ofendem e dividem a família metodista, seja para orarmos e agirmos em beneficio das comunidades metodistas, que devem formar, como de sua história, “uma linha de esplendor sem fim”.

Com essa identificação e propósitos, vamos ao fato pelo qual o procuramos.

Soubemos que a Igreja Metodista Central de Juiz de Fora pretende retirar os tapetes do templo, para que sejam afastadas maldições nas tábuas por eles forradas, untando-as com óleos, bem como eliminar da respectiva fachada possíveis símbolos de maldição.

A notícia trouxe profunda preocupação aos metodistas que integram o referido grupo e assim, vimos por bem recorrermos ao senhor, como autoridade maior da Igreja Metodista na cidade de Juiz de Fora, para que nos informe se procedem ou não tais notícias. Sendo, de fato verdadeiras, solicitamos também nos informar quais as razões embasadoras desse procedimento e, ainda, se houve manifestação desse intento ao órgão público responsável pelo mencionado tombamento, no que diz respeito à fachada do templo.

Convictos do pronto atendimento ao nosso pedido agradecemos-lhe, desde já, a acolhida e firmamo-nos.

Atenciosamente,

Em Cristo Jesus

Fabio Martelozzo Mendes
coordenador

C/C bispo Roberto Alves de Souza
 

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Recriando o Metodismo a partir do Pentecostes

RECRIANDO O METODISMO A PARTIR DO PENTECOSTES

ENCONTRO CAIPIRA EM BELISÁRIO
Por Moisés Coppe

Segundo o cientista social Boaventura de Souza Santos, em sua obra A Crítica da Razão Indolente (Cortez: 2002): “Há um desassossego no ar. Temos a sensação de estar na orla do tempo, entre um presente quase a terminar e um futuro que ainda não nasceu”.
Ora, o que Santos evidencia é o fato de que o desassossego é paradoxal, pois revela-nos os excessos do determinismo e dos indeterminismos. Os primeiros estão relacionados à aceleração da rotina. Os segundos à desestabilização das expectativas. Dessa constatação, surge a ocorrência de rupturas e a eventualidade de catástrofes pessoais e comunitárias. O desassossego é, para Santos, a resultante da desorientação dos mapas cognitivos. Os mapas que sempre nos foram familiares deixaram de ser confiáveis, de onde decorre a nossa sociedade intervalar (Santos, p. 41). Assim, se decantarmos nossas intenções a uma razão indolente (preguiçosa), então, aceitaremos o futuro como ele se configura e nenhuma ação decorrerá. Mas, se ao contrário, não aceitarmos a experiência decorrente desse tempo de transições – embora seja muito obsoleto falar de transições – então alguma utopia precisa permear nossas possibilidades em mutações.
Num mundo marcado pelas demandas do esquisito e inusitado, constatações seguras precisam ser formuladas com o intuito de cunhar nossas utopias ou paradigmas. Um breve olhar sobre a vida social denota a todos nós que o egoísmo e a cobiça crescem de forma assustadora. As mega-corporações batem, mês a mês, recordes nas produções. Pessoas se entregam diariamente à amizade virtual através dos micro-computadores e note book´s. Os relacionamentos tornam-se paulatinamente mais frios e calculistas. A natureza geme ante a agressividade dos poderosos que vêem matéria bruta com os olhos da lucratividade. Não se importam com os meios desde que o fim seja o enriquecimento.
Quanto ao ambiente religioso, nunca se falou tanto de Deus, mas também de formas equivocadas. O número dos novos movimentos religiosos que surgem, mostram-nos a fragilidade da fé e dos milhares de “cultos”. Ora, fé, entendida nos diversos movimentos presentes neste chamado mundo pós-moderno, é na verdade um sentimentalismo emocionado na vivência daquele(a) que sente um arrepio no “culto”. Ademais, busca-se prioritariamente a satisfação das necessidades básicas. Busca-se o sagrado, mas ao mesmo tempo este sagrado deve alimentar, curar, vestir, enfim, dar prazer. A ausência do Estado dá margem à religiosidade agressiva.
Um importante desafio para os cristãos do presente século tange à recriação da igreja e de suas organizações secundárias – grupos societários, ministérios, associações etc., a partir da lógica do pensamento peregrino de John Wesley, o fundador da Igreja Metodista. Frisamos, de antemão, que Wesley nunca escreveu um tratado sobre a igreja. Ele era um teólogo do caminho. Por isso, sempre buscou a renovação e o equilíbrio entre fé e obras. Por exemplo: certa feita Wesley reclamou dos pregadores que “se esquecem de suas obrigações morais, desprezam a santidade como se fosse lixo, ensinam às pessoas esse caminho fácil para alcançar os céus, a fé sem obras”. (BARBOSA. Adoro a Sabedoria de Deus, p. 373). Ainda, em consonância com a argumentação anterior, Wesley atesta: “Não reconheço como tendo um grão de fé a pessoa que não faz o bem, que não está disposta a empregar toda oportunidade que tenha em fazer o bem a todos os homens” (idem, p. 373). Finalizando, diz que “o peso de nossa religião, como nós entendemos, reside na santidade de coração e da vida. (...) Não queremos gastar o tempo com disputas, queremos gastar o nosso tempo e nos gastarmos no anúncio da religião autêntica e prática” (idem, p. 373). Mas a renovação eclesiástica praticada por muitos líderes é outra, marcada pelo sensacionalismo, pelo emocionalismo e pelas promessas metafísicas.
O que muitos líderes religiosos têm feito com a igreja é banalização. É claro que em muitas épocas da história eclesiástica, essa atitude de tratar a igreja como objeto factível de desenvolvimento dos ideais personalistas sempre esteve presente. Mas, o que se vê hoje é uma religiosidade coligada às estruturas espoliantes do mercado. O Evangelho tornou-se, para estes, mero produto dos projetos de marketing. Paulo, na epístola à Roma escreveu: “Não me envergonho do Evangelho, pois ele é a força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita, do judeu em primeiro lugar, mas também do grego”. (Rm. 1: 16). Em contraposição ao argumento paulino, esta estirpe de “evangelho” baseado na prosperidade e nas ansiedades da atualidade causa espanto e vergonha.
O cenário político também é suspeito. A qualidade dos nossos “poderes” tripartites e da estrutura bicameral revelam-nos como estão “preparados” nossos governantes. Bem sabido é por nós que Antônio Gramsci sempre afirmou nos seus escritos filosóficos, a saber, os “Cadernos do Cárcere”, que toda atividade é, em suma, atividade política. Se aceitarmos essa afirmação, então nossa prática de fé e de vida também é atividade política. Nosso relacionamento pessoal e familiar também se constitui como atividade política. A sexualidade é atividade política. Nossas decisões e escolhas são, em última instância, atividades políticas. Até mesmo, o lugar que escolhemos para nos assentarmos dominicalmente no templo é espaço de manifestação política. Por outro lado, evidenciando uma contraposição esquizofrênica, sempre afirmamos que não “discutimos política”. Talvez, por causa dessa lacuna gerada pela nossa indiferença, políticos medíocres, inclusive “evangélicos”, estejam assumindo cargos da elite no cenário brasileiro.
Nossa vida social também se encontra castigada por informações de todos os tipos, para todos os gostos. Notícias de outros continentes nos chegam rapidamente e em tempo real. Por certo, a tecnologia avança de forma assustadora e veemente. Vale ressaltar, assim como Júlio de Santana, que em um mundo dotado de uma tecnologia capaz de erradicar a fome de todo o planeta, é inconcebível a idéia de pessoas morrendo de inanição. Mas, de qualquer forma, a tecnologia midiática extrapola todas as possibilidades do raciocínio.
E o que dizer da anorexia e da bulimia, reflexos de um mundo esquisito, marcado pela ditadura da estética. Uns morrem porque não têm o que comer, outros ficam doentes e até morrem porque, mesmo tendo o que comer, por causa dos padrões de beleza vigentes no “mundo” da moda, assumem a postura irresponsável do culto ao corpo em detrimento do próprio corpo.
Diante deste quadro crítico, visualizado sucintamente, reafirmamos que a teologia wesleyana pode nos apresentar algumas pistas significativas. A consistente e persistente busca pela salvação, sempre evidenciada por Wesley centralizou, sem sombras de dúvidas, a doutrina da perfeição cristã. A vontade e empenho em entregar “todo o coração e toda a vida a Deus” (RUNYON. Nova Criação, p. 125), possuía duas vertentes: a primeira, talvez influenciada pela leitura dos místicos católicos, levava Wesley a considerar que o comprometimento com a perfeição cristã estava ligado diretamente a uma condição de santidade marcada pela obediência à Lei de Deus, bem como à prática de obras visando o prêmio final. Em segundo lugar, a perfeição cristã entendida como dom de Deus (KLAIBER, Viver a Graça, p. 313), fruto da manifestação da graça sobre o ser humano (conforme sermão 83,9).
Essas duas características, aparentemente opostas, são argumentadas pelo próprio Wesley, em seu tratado: “O caráter de um metodista”:
Não estabelecemos a totalidade da religião (como fazem muitos e Deus sabe muito bem) em não fazer o mal, nem em fazer o bem ou em seguir os mandamentos de Deus. Nem tampouco todos esses aspectos juntos, porque sabemos por experiência que uma pessoa pode dedicar-se a isso por muitos anos e no final não possuir uma religião verdadeira, nada melhor do que tinha antes. (Obras de Wesley. Tomo VIII, p. 28ss).

A simples postura da observação dos mandamentos ou o seguir cego de orientações e regras é rechaçado por Wesley. Isso se confirma ainda na expressão: “Que o Senhor dos meus antepassados me preserve de uma religião tão miserável! (Obras de Wesley. Tomo V, p. 18 & 19).
Na seqüência, Wesley se opõe com veemência contra aqueles que criticam o ser metodista. Assim ela afirma:
Metodista é quem tem o amor de Deus derramado em seu coração pelo Espírito Santo que lhe foi dado; quem ama o Senhor seu Deus com todo seu coração com toda a sua alma e com toda a sua mente e com todas as suas forças. Deus é a alegria em seu coração e desejo de sua alma, que clama constantemente: “A quem tenho no céu senão a Ti? Fora de ti não desejo nada na terra! Meu Deus e meu tudo. Tu és a rocha em meu coração e minha porção para sempre!” (Obras de Wesley. Tomo V, p. 19).

Há, neste sermão de 1738, a conjunção conflituosa entre esforço humano e gratuidade de Deus. Entretanto, a aparente contradição se encerra quando o próprio Wesley atesta:
Guarda os mandamentos de Deus com toda a sua força, pois a obediência está em proporção ao seu amor, a fonte pela qual flui. Portanto, amando a Deus como todo coração, lhe serve com todo vigor. Continuamente, apresenta sua alma e corpo em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, completamente e sem reservas, entregando tudo o que possui e a si mesmo para a sua glória. Todos os talentos recebidos, todo poder, toda faculdade da alma e cada membro do corpo, emprega-os constantemente de acordo com a vontade do Mestre. (Obras de Wesley. Tomo V, p. 19).

A importância dada por Wesley ao tema da perfeição cristã se confirma claramente pela dedicação e estudos evidentes ao longo de cinqüenta e dois anos. As muitas revisões do seu estudo denotam que a mesma doutrina estava em evidência na sua formulação teológica. Mais que isso – consistia em ênfase centrada na salvação do ser humano, na nova criação provocada pelo novo nascimento e pela entrega completa da vida a Deus. A salvação alcançada provocaria uma nova vivência. O crente não seria salvo pelas obras, mas justificado mediante o Espírito com o fim de realizar boas obras entre todos os pobres e necessitados.
Então, é na perspectiva dessa ênfase wesleyana que adotamos um importante paradigma, ou seja, o de vivenciar a experiência da fé de forma mais audaciosa e servil. Só assim, podemos manifestar oposição ante ao atual contexto marcado pela proliferação de movimentos religiosos, os mais diversificados. A doutrina da perfeição é uma orientação espiritual das mais significativas e condizentes com os princípios e valores do evangelho genuíno. Mas, além disso, necessita de uma prática vital marcada pela tônica da dedicação ao outro em uma dimensão relacional.
E aqui, cabe-nos refletir um pouco sobre a obra O Cristo de Todos os Caminhos de Stanley Jones. Essa obra muitas vezes é interpretada erroneamente. A análise consistente da Teologia das Religiões ou mesmo a necessidade de um diálogo interreligioso conclama a reflexão atual a uma temática pluralista. Entretanto, a obra de Jones não se refere à urgente necessidade desse campo supracitado.
Jones elabora sua temática na direção de pensar a Igreja inserida na dimensão do Pentecostes. Para os incautos, uma observação: o Pentecostes para Jones nada tem a ver com o pentecostalismo. Segundo este autor: “Por que será que quando se fala à Igreja de hoje a respeito do Pentecostes as pessoas cultas sentem um calafrio percorrer-lhes a espinha dorsal?” E corrobora:

Bem, uma coisa é que o pentecostalismo tem causado um grande mal ao Pentecostes. Os ridículos ridicularizaram o Pentecostes. Fizeram-no de tal maneira que muitos procuram evitar o uso do termo. Mas as palavras, como as pessoas, devem ser redimidas. A Igreja é grandemente responsável por esta situação. Tendo negligenciado esta parte tão importante do Evangelho deixou almas famintas e estas agora são levadas por grupos mal orientados e exóticos. Nestes grupos o emocionalismo desenfreado tem sido identificado com o Pentecostes. E, realmente, a mente pensante do presente século não suporta a religião do puro emocionalismo. (JONES. Obra citada, p. 39).

Ora, Jones continua sua argumentação afirmando a impossibilidade de separar-se emoção da razão. Realmente, é possível concordar com Jones, pois a anulação de qualquer uma dessas duas esferas significa a mutilação da espiritualidade. Numa linguagem puramente wesleyana, pode-se falar que a boa resolução do Pentecostes na espiritualidade metodista depende, necessariamente, da experiência, da razão, da tradição, da criação e, claro, da Bíblia.
Então, ao pensar em qualquer movimento alternativo que queira a recriação de posturas que evidenciem a tônica do equilíbrio, torna-se fundamental a conscientização de que é na vida prática, aliada à teologia que se desfia no caminho no contexto da igreja local que a nossa palavra encontrará eco. Acho que a teorização bem elaborada de aspectos doutrinais ou o levante morto de liturgias cheirando a mofo não pode contribuir para o nosso propósito maior que é, em suma, sinalizar o Reino de Deus e sua justiça.
Mas então? O que fazer diante das desconstruções religiosas presentes em nosso contexto metodista?
Responder a essa questão não é tarefa fácil, mesmo porque todos estamos elaborando perguntas, fazendo análises e alcançando poucas, muito poucas respostas. Mas é inegável o fato de que alguma coisa precisa ser feita. E aqui não cabe o ditado popular que afirma: se não pode vencê-los, junte-se a eles. Em nossa concepção, é bem mais propício o que diz: Gato escaldado tem medo da água fria. Por certo, as experiências passadas que provocaram cisões e divisões continuam a provocar temores e calafrios.
Vale dizer ainda que o problema que enfrentamos não é novo. Os primeiros metodistas enfrentaram situações similares. Inclusive,

No verão de 1781, John Wesley recebe da sociedade metodista de Yorkshire uma carta assinada por diversos líderes, a respeito de uma questão bastante difícil. Já que Wesley incentivava e até exigia que todos os metodistas continuassem participando dos cultos da Igreja Anglicana, o que deveriam fazer quando ouvissem dos ministros anglicanos doutrinas falsas? [...] O que fazer: ouvir e engolir calado? [...] A questão foi colocada na conferência. Como o problema era comum a toda Grã-Bretanha, Wesley permitiu que os pregadores, membros daquele conclave, falassem a respeito. Depois do debate, decidiu-se unanimemente que “todos os metodistas, educados como metodistas, assistam aos serviços da Igreja Anglicana tão frequentemente quanto possível; porém, quando o ministro começar a pregar sobre os Decretos Absolutos ou ridicularizar a doutrina da perfeição cristã, eles devem, calada e silenciosamente, sair da igreja, retornando na próxima oportunidade”. (BARBOSA. Adoro a Sabedoria de Deus, p. 27).

 Acho interessante o posicionamento dessa conferência e entendo que nossa postura, de alguma forma, precisa ser similar a esta. Não vamos fazer oposição frente aos movimentos complexos desse tecido religioso conturbado, principalmente no nosso chão metodista, tampouco levantar bandeiras tresloucadas, mas nos posicionarmos politicamente dando as costas aos absurdos “terrológicos” presentes em muitas das nossas comunidades. Outrossim, a grande resposta que qualquer metodista pode dar na atualidade se expressa na lógica da kenosis e da diakonia, ou seja, do esvaziamento e do serviço. E esvaziamento e serviço se configuram de forma emblemática na igreja local. É na simplicidade de nossa dedicação na igreja local que a resposta dos metodistas e confessantes será indelével.

Indignação contra os beócios


INDIGNAÇÃO CONTRA OS BEÓCIOS



“Ó Deus, não fique longe de mim; ó meu Deus, apresse-se em ajudar-me (Sl 71.12). Envie relâmpagos e disperse os inimigos, atire suas flechas (Sl 144.6), e que todas as imaginações do Inimigo sejam confundidas. Recolha e faça seus estes meus sentidos; faça-me esquecer todas as coisas mundanas; conceda que eu lance fora bem depressa e despreze todos os espectros pecaminosos. Socorre-me, ó eterna Verdade, para que nenhuma vaidade me comova! Venha a mim, doçura celestial, e que toda impureza fuja de diante de sua face”.



Thomas à Kempis.



Vez por outra, sou tomado de extrema indignação. E não me indigno por causa de leviandades. Sei que elas são imaginações do inimigo e, certamente, possuem um endereço certo: minha repulsa. Indigno-me contra aqueles que, levantando a voz e com sutileza, demonstram sentimentos díspares cauterizados pelo desejo por poder. Ah! O poder, essa mísera palavra que mexe profundamente com toda a existência humana, que exalta o egoísmo embora a sede dos injustiçados seja por altruísmo. Pelo poder, mata-se; pelo poder abandona-se; pelo poder, trai-se; pelo poder, corrompe-se; pelo poder, anulam-se amizades e sonhos que outrora foram dignificantes. Perdem-se, assim, as possibilidades de um outro mundo possível.

Indigno-me com a busca pelo poder; do poder para o poder. Do poder para poder. E como se não bastasse esta ansiosa disputa insolente na esfera da vida, vislumbro ainda por parte de muitos a repartição dos despojos e a celebração com mordacidade, perante uma mesa inescrupulosa, dos restos de alguém outrora querido. E vale aqui o clamor de Kempis: recolha a Ti Senhor os meus sentidos. Isso porque meus sentidos querem trair-me ou mesmo levar-me a atitudes contestadoras de teor blasfemo. Mas que sentidos podem se expressar frente a situações sem sentido? Que resposta dar frente a questões que não possuem razão ou estrutura, só falcatruas, pois eivadas de comentários perniciosos daqueles que vociferam: “o meu Deus é maior”.

Indigno-me, sim, com a injustiça daqueles que, com o dedo em riste, insistem em expor mentiras, inventar causos e semear discórdias sem ao menos perguntar pela verdade. Tal como o salmista, anseio ecoar minha voz aos céus expressando: “se fosse o meu inimigo, eu suportaria, mas é tu, meu amigo e íntimo companheiro...”.

Entretanto, continuo a lutar para defender de forma muito precisa a minha honra, coisa última que me resta. E assim o farei com astúcia e coragem. Aprendi desde cedo, com aqueles que me geraram a vida que honra é um tesouro imensurável que se deve estampar na expressão do rosto. Honra é coisa de áulico e não de gente medíocre que teatraliza no real por medo de se assumir como é, como está, o que quer. Honra é um pedaço de pão embrulhado em um guardanapo, guardado em algum armário da despensa, mas conservado para a hora da necessidade, não para a vaidade. Honra é o fim último de todos aqueles que almejam fazer diferença na vida, com vida.

Indigno-me com os beócios, que de tão idiotas, acham que seu pequeno mundo de sentidos medíocres possui dimensões inimagináveis. Quão tolos são. Diante da imensidão deste universo com mais de 100.000.000 (cem milhões) de galáxias, acham-se possuidores das chaves dos céus e do inferno. Assim, imagino Deus dando as costas para os dados à tolice de suas briguinhas de fazer rir.

Não sou perfeito, tenho minhas contradições. Entretanto, anseio por justiça. Anseio por gente que aja com respeito, com o mínimo de responsabilidade social, com postura cristã. É muito triste saber que pessoas disseminam maledicências, em nome de Deus, por se julgarem melhores, por se considerarem superiores. Para estes (as), vale aquele conselho esquecido, oriundo de um velho livro de sabedoria, que evidencia: “considere o outro superior a você mesmo”.

Mas o pior é perceber que estes “santos homens” e “santas mulheres” usam de sua argúcia para conduzir gente crente e temente a Deus não pelas vias da santidade, mas pelas avenidas da insanidade eclesiástica. Dizem servir a Deus, todavia são condicionados por desejos que seguem a lógica do “outro”, com forte ênfase na expressão: “tudo isso te darei se prostrado me adorares”.

Enfim, indigno-me com os que semeiam discórdias nas caladas da madrugada num ambiente que existe para a “conciliação”. Indigno-me com os que não têm coragem de encarar os olhos ou com os que não têm a hombridade de revelar o que pensam. Indigno-me com os buchichos e conversinhas de bastidores que amealham a ética. Indigno-me com aqueles que não deslindam a verdade e se arvoram de fraudulentas argumentações ou mexericos de dar dó.

Mas, mesmo em meio a esse caudal de indignação, que venha a mim a doçura celestial e que toda a impureza fuja do meu coração, e de alguma forma, também da face do meu Senhor.

Moisés Coppe.