terça-feira, 25 de agosto de 2009

O feitiço da serpente


O feitiço da serpente


Desde a primeira fase do 18º concílio surgiram frases como: “A questão ecumênica é apenas a ponta do Ice berg; a questão é poder; os carismáticos querem assumir a Igreja Metodista...” Ora, é preciso começar dar nome aos leões. Não! Aqui não cabe a linguagem inclusiva.

Primeiro, é necessário traduzir o que significa, por exemplo, a questão de poder. Deve-se ir direto ao ponto: É o controle ideológico e o controle financeiro das instituições rentáveis da Igreja. Do contrário, a polêmica advinda dessa suposta “homérica” discórdia já teria levado há tempos à uma divisão. Por que não aconteceu? Por que certos indivíduos resistiriam tanto tempo? Não seria o caso de terem fundado outra igreja, como fizeram alguns?

Segundo, será que os carismáticos devem ser colocados num mesmo saco? Não estariam apenas sendo usados por certos leões raivosos?

Há sim carismáticos anti-ecumênicos, espiritualistas e ávidos pelo poder... Mas há carismáticos sinceros em sua fé e também há carismáticos ecumênicos. Nesses grupos, pode ser que haja pessoas com compreensões bíblicas e teologias díspares dos “intelectuais” e “liberais” da igreja, mas em absoluto, pode-se afirmar que a maioria almeje controlar seus recursos financeiros. Um caminho didático consiste em separar o joio do trigo.

É muito provável que a maioria carismática nem ao menos possua dimensão do que está acontecendo na igreja pós-18º Concílio. As compreensões equivocadas sobre ecumenismo e o desconhecimento acerca dos fundamentos históricos do metodismo, não fazem de todos oportunistas. S aber quem é quem, é um exercício que requer menos preconceito e mais amor.

Oportunismo é que o se assiste por parte de um grupo pequeno - conduzido por uma dúzia ou menos de líderes - que se valeu de um ponto nefrálgico da Igreja para construir um projeto que em absoluto tem a ver com espiritualidade dos carismáticos, com a preservação da tradição da igreja ou algo similar, defendida pelos “tradicionalistas” ou, “liberais” da Igreja Metodista brasileira.

É passada a hora de se analisar a dimensão do encantamento lançado sobre o ecumenismo que tal qual serpente balançando o guiso enfeitiçador, foi usado na certeza de encantar não apenas aos carismáticos desavisados, mas também paralisar toda igreja entorno de uma discussão que apenas esconde os reais propósitos dos “encantadores” de serpente.

Essa tática é comum entre líderes e regimes totalitários. Eles pegam um ponto nefrálgico de uma sociedade ou de um grupo e direcionam os holofotes, deixando à sombra os reais propósitos de suas agendas.

Na história da humanidade, esse feito se repetiu sucessivas vezes. Enquanto muitos se entregaram ao feitiço do que aparecia sob efeito da “luz”, na escuridão alguns brincavam de “deus,” varrendo para dentro de fornalhas corpos que garantiam o show macabro e lhes conferia credibilidade. Credibilidade essa, fruto do encantamento, do medo e do horror.

Há de se fugir das ingenuidades, dos encantamentos e perceber que em maior ou menor grau, a história de repete forjada pela “grandeza medíocre” dos que querem poder a todo custo. É só olhar para o projeto do presidente dos Estados Unidos, é só olhar a nossa volta.

Em A mosca azul, p. 122, Frei Beto diz: “Nos porões da humanidade aprendi por que na floresta os tigres se movem à noite. Não buscam a luz, nem se deixam inebriar pelos primeiros raios do alvorecer. Nutrem-se do que vislumbram em plena escuridão”.

Profetas e profetizas da história bíblica não se deixaram enfeitiçar por serpentes. Eles e elas, mesmo em tempos de perseguições e fornalhas trouxeram à luz o que precisava ser revelado.

E nós, temos sido profetas e profetizas, ou temos nos “alinhado” aos encantadores de serpente??

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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá.

Para comentar ou ler outros artigos acesse: http://br.groups. yahoo.com/ group/LittleThin ks/

Outros artigos de Maria em http://www.maringan ews.com.br/; www.alcnoticias. org/

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O retorno do Santo Ofício ao Pará

O retorno do Santo Ofício ao Pará

Aqui em Belém, a igreja metodista surgiu na década de 70, no bairro da Pedreira, conhecido como "o do samba e do amor", e sempre atuou junto ao povo do local (projeto de carpintaria, escola de educação infantil, presidiu o Conselho Municipal de Assistência Social, etc.), destacando-se na atuação ecumênica, inclusive foi fundadora do Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs (CAIC).

Esta ênfase ecumênica sempre mereceu severo monitoramento das alas mais carismáticas que compunham o Colégio Episcopal, que, por sua vez, sempre pregavam que enquanto a Igreja da Pedreira adotasse esta postura da "teologia da libertação" o metodismo em Belém não teria futuro.

Então, tendo à frente o bispo Rozalino, um plano foi traçado no final da década de 90. Como não poderiam fechar a Igreja da Pedreira e iniciar do zero um novo trabalho metodista com uma outra orientação, aliaram-se a um pastor recém saído da Igreja Batista para fundar uma outra Igreja Metodista em Belém, daí nasceu a Igreja Metodista do Umarizal. O Umarizal é um bairro de classe média, bem diferente da realidade periférica da Pedreira.

A idéia era que esta nova Igreja do Umarizal, por ser mais central e ter um pastor militar que não "bebera" da teologia metodista, iria aos poucos suplantar o trabalho da Igreja da Pedreira, tornando-se a "verdadeira" referência do metodismo na cidade. Assim, a Igreja Metodista do Umarizal virou a "menina-dos- olhos" do poder metodista. Era uma "comunidade missionária a serviço do po...DER". Para lá foram destinados vários recursos e projetos. Enquanto isso na Metodista da Pedreira, até ficar sem pastor ficou.

Mas a obra não é dos homens, é de Deus. Assim, após quase dez anos de fracassos na tentativa de por fim à Igreja Metodista da Pedreira, por diversas crises internas, quem ruiu foi a abastarda Igreja Metodista do Umarizal, em plenas mãos do bispo Adolfo, já atual bispo da REMA, que, diga-se de passagem, sempre foi o bispo que mais vociferou contra a postura teológica e o histórico da Igreja Metodista da Pedreira.

Não conformado com a falência do metodismo a serviço do poder, o bispo Adolfo adotou uma nova estratégia. No início de 2008, inseriu os membros da igreja falida do Umarizal dentro da Igreja da Pedreira, provocando um desconforto imenso para os irmãos e irmãs das duas igrejas. Antes ele ainda teve a ousadia descarada de fazer a seguinte proposta: Os membros da Umarizal ficam com o prédio e a estrutura da Igreja da Pedreira e os membros da Pedreira que dão ênfase nas obras de misericórdia vão para um terreno comprado pela Igreja do Umarizal. Claro, esta proposta foi rejeitada. Hoje temos um templo e duas igrejas.
Para conduzir este "casamento arrumado", o bispo escolheu um outro pastor que também fora da Igreja Batista, trazido ao metodismo pelo pastor ex-batista que iniciou o trabalho no Umarizal. Pensaram, "agora pronto, foi dado o golpe final" no metodismo que prega a ação social, o diálogo ecumênico, a leitura dos documentos da Igreja, uma espiritualidade profunda. O próprio bispo Adolfo afirma sem nenhum pudor ou o mínimo de respeito aos irmãos e irmãs que caminham há anos no evangelho que o metodismo da Igreja da Pedreira faz parte do "deserto" do metodismo brasileiro que no último Concílio foi ultrapassado e agora chegou-se à terra prometida: ênfase no ganho de almas, no crescimento numérico e estruturação financeira da Igreja.

Bastou um ano para percebermos que este "casamento arrumado" não daria certo. Em novembro de 2008, no Concílio Local para a Avaliação da unificação das igrejas de Belém a maioria da Igreja votou pelo fim da união. Ainda mais, o Concílio pediu a urgente mudança de pastor local, relatando uma extensa lista de autoritarismos em apenas um ano de gestão. Para a surpresa de todo mundo, o bispo Adolfo desprezou a decisão da Igreja local e, bem ao seu estilo, decretou um Ato de Governo, decidindo a partir dos seus princípios de "inerrância e infalibilidade" pela continuação da pseudo-união da agora Igreja Metodista Central de Belém e permanência do atual pastor.

A intenção do bispo e de seu pastor, pupilo fiel, é fazer as irmãs e os irmãos metodistas da Pedreira "sangrarem" e chorarem até a última gota, e, assim, vencer pelo cansaço. Querem que estas pessoas saiam aos poucos da Igreja, deixando o espaço livre para a conclusão do plano iniciado na década de 90: acabar com a Igreja (pessoas, princípios, atuação, visão teológica, espiritualidade) da Pedreira. E isto eles já têm conseguido com muito mérito, visto que já se contam mais de vinte as pessoas, eu sou uma destas, que deixaram de comparecer nos cultos à noite para não se depararem mais com shows do Lázaro, expulsão de demônios, apelos absurdos e pregações que mais parecem indiretas ou recados.

Faço toda esta introdução na tentativa de mostrar o contexto em que se dá a notícia "Bispo Adolfo passará o mês de agosto em Belém". Esta visita é justificada pela necessidade de acompanhar este processo de transição forçada "do deserto para a terra prometida" e enquadrar aqueles que estejam fora desta "visão". O Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição terminou seus trabalhos no Pará há exatos 240 anos (1769), deixando um rastro de julgamentos e "Atos de Governos" baseados em fundamentalismos do Catolicismo Romano da época. A Inquisição era uma instituição da Igreja Católica Romana criada para combater quem não se alinhasse com os mandatários do poder eclesiástico e da Metrópole, estes foram acusados de hereges, de manter pacto com o diabo, de supersticiosos e de bruxos e bruxas. Falando em caça às bruxas, não podemos esquecer que estamos falando de um bispo que deixou a Igreja Metodista do Brasil num imenso constrangimento quando acusou de bruxaria uma pastora negra que desenvolvia trabalhos com mulheres carentes.

Agora teremos no mês de agosto de 2009 o Tribunal do Santo Ofício Metodista, com o bispo Adolfo acolhendo as denúncias e autuando contra aqueles e aquelas que têm resistido pela fé há anos de ataques ininterruptos. Sucumbirá enfim a Igreja Metodista da Pedreira? Não sabemos. Contudo, digo novamente, a obra não é dos homens, é de Deus. Logo, nossa esperança é que os conchavos humanos e as estratagemas do poder não resistam à coerência e a sinceridade de quem serve a Deus com ardor e alegria.

Embora com a esperança aguçada, ouso fazer este registro como um testemunho. Pois como diria Affonso Romano de Sant'Ana "o que não escrevi, calou-me". Por isso, compartilho com vocês estas doloridas palavras não por rebeldia ou insubmissão às autoridades, mas porque não agüentamos mais suportar calados. Ficar em silêncio neste caso é tornar-se cúmplice. Irmãs e irmãos do coração aquecido de todo o Brasil têm que saber o que se passa no metodismo por estas terras quentes e longínquas da Amazônia. Oração e informação, serão essas as nossas respostas às perseguições que o bispo nos impõe, mesmo sentindo a afumegação das fogueiras.

Tony Vilhena


Não se pode matar a idéia a tiros de canhão, nem tampouco acorrentá-la
Louise Michel (educadora e libertária, lutou na Comuna de Paris)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Para que todos sejam um

Saiu o trabalho do GT do Ecumenismo, iniciado após o 18º CG da Igreja Metodista:

Para que todos sejam um
A perspectiva metodista para a Unidade Cristã

Colégio Episcopal da Igreja Metodista - Agosto de 2009


APRESENTAÇÃO


"Estas coisas vos escrevo para que a nossa alegria seja completa."I João, Capítulo 1, Versículo 4
 

Nosso compromisso com Deus é o de "espalhar a santidade bíblica por toda terra". Nessa perspectiva, afirmamos também nosso compromisso com a unidade cristã, para que o mundo creia. Assim sendo, apresentamos a vocês esta orientação pastoral.Quando tenho uma relação sadia comigo e com Deus, não tenho problemas para dialogar com as outras comunidades religiosas. A vida sadia, santa, é sempre uma vida aberta aos outros seres humanos e é nela que alcançamos a "alegria completa".O poder do Evangelho vem do Deus que é amor. Ele olha para nós como pessoas a quem Ele ama.Buscando tornar esta orientação de mais fácil utilização, estabelecemos nela algumas novidades. Assim, as inserções nas laterais das páginas são ora referência a frases destacadas do texto, ora perguntas feitas para despertar a discussão nos grupos de estudos. Sugerimos que essas orientações sejam usadas para transmitir as informações deste documento na Escola Dominical, nos grupos societários, nos grupos de discipulados e outros. Seu objetivo é funcionar como uma metodologia de apoio para o aprofundamento do tema.Tenha um abençoado estudo deste documento e que o mesmo produza frutos dignos do Reino de Deus.
 

Bispo João Carlos LopesPresidente do Colégio Episcopal

Download do documento completo: http://www.metodista.org.br/arquivo/documentos/download/Que_todos_sejam_um.pdf

Fonte: Site da Sede Nacional.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Qual o rumo da Igreja Metodista?

Qual o rumo da Igreja Metodista?

Airton Campos

Recebi recentemente cópia de mensagem, entre pastores amigos meus, que tinha o título acima. O texto citava a visão de Amós descrita no capítulo 7 do seu livro: “O Senhor me mostrou numa visão isto também: Ele estava perto de muro construído direito, a prumo, e tinha um prumo na mão. Ele me perguntou: Amós, o que você está vendo? Um prumo – respondi. Então Ele me disse: eu vou mostrar que meu povo não anda direito; é como um muro torto, construído fora do prumo. E nunca mais vou perdoar o meu povo”.

E a mensagem que recebi dizia: uma igreja sem prumo é uma igreja sem rumo. O problema é que alguns líderes não suportam ver o prumo de Deus orientando a obra.

Recebi também, de outro pastor, cópia de mensagem enviada a outros pastores e bispos reagindo bastante ao convite para participar do II Congresso Regional de Discipulado rumo a 1 milhão de Discípulos a se realizar no final do mês de agosto, na Escola de Missões.

Sua indignação foi porque o congresso seria ministrado por dois “apóstolos” da Comunidade Evangélica Projeto Vida, que atua segundo os princípios do G-12 e dissemina esta idéia.

A propaganda divulgada na página da 1ª Região Eclesiástica na Internet apresenta a imagem dos dois “apóstolos” em primeiro plano e informa ainda a participação especial do Bispo Paulo Lockmann logo abaixo. A propaganda faz ainda alusão ao tema daquele grupo: Rompendo Limites; Superando Limitações e Ultrapassando Fronteiras, e divulga o nome de sua página na Internet.

Consta que o convite aos “apóstolos” já foi revogado e que ele não era do conhecimento do Bispo, mas a propaganda continuava na Internet. Não consigo entender como a presença do Bispo é anunciada, o cartaz é feito e divulgado inclusive no site da Região e o Bispo não sabe?

Também não tenho nada contra se alguém se intitula “Apostolo” ou qualquer outro título honorífico e que seja venerado, mas que o seja na igreja dele, não na metodista. A estranheza é ainda maior porque existe um texto do Bispo Paulo Lockmann endereçado aos pastores da Região intitulado: “Para não dizer que não falei do G- 12” e também uma Pastoral do Colégio Episcopal apontando os desvios doutrinários deste movimento que contraria as doutrinas bíblicas e wesleyanas.

A Pastoral do Colégio Episcopal, entre outras informações, declara explicitamente: “considerando os equívocos neste método apresentado como programa de discipulado, damos a seguinte orientação ao povo metodista: Não entreguemos nossas ovelhas para serem pastoreadas por terceiros... . Segundo a tradição metodista, grupos de discipulados devem ser organizados em nossas igrejas...Que nestes grupos seja aplicado o modelo wesleyano. Devemos ter cuidado com os métodos e programas de discipulado que apresentam outras conceituações. . O Colégio Episcopal, ao analisar as propostas do G-12 declara que elas são incompatíveis com os documentos, doutrinas e caminhada da Igreja em dons e ministérios; e que pastores e pastoras não têm o direito de envolver a comunidade local em propostas que não foram avaliadas pelos respectivos Concílios... O/a pastor/a que assim proceder, estará contrariando a orientação doutrinária da Igreja, e atraindo para si toda a responsabilidade. Desta forma, estará sujeito ao que prescreve os Cânones da Igreja Metodista.”

Será que isto aconteceu? Diante da exposição e divulgação do evento como foi concebido, espera-se pelo menos uma palavra episcopal, de divulgação também ampla, tornando novamente clara a condenação da Igreja Metodista a este tipo de discipulado. E isto de divulgação também ampla.

Este movimento do G-12 surgiu no Vale do Paraíba e causou um grande problema nas igrejas metodistas da área. A Igreja Metodista tem suas normas de discipulado e de busca de consagração e crescimento espiritual racional, mas mesmo entre nós existem muitos buscando apenas uma espiritualidade emocional, sem conseqüência, condenado por Wesley em seu sermão A Natureza do Entusiasmo.

Wesley exigia de seus pastores leitura e estudo, mas parece que hoje alguns pastores não lêem sequer as Pastorais do Colégio Episcopal, preferindo um ativismo emocional, sem profundidade, sem necessidade de estudo e preparação da mensagem. Estão sempre entusiasmados com práticas neo-pentencostais, esquecendo nossa tradição e doutrina, surgindo a toda hora com novidades: dente de ouro, dança profética, etc.

Quando é que vamos realmente agir e crer que o metodismo é um movimento de busca da santificação equilibrada e de mudança no mundo?

Mas não é só na questão doutrinária que muitos líderes agem em desacordo com a Igreja. Também com relação à estrutura da igreja local alguns deixam sua marca pessoal desagregadora. As sociedades de mulheres tem sido uma das vítimas desta ação em muitas igrejas, enfrentando restrições até deixarem de existir. Isto não é uma prática nova, mas não tem sido corrigida pelas autoridades eclesiásticas.

Será porque nossa Região, apesar de abranger um só Estado, cresceu muito e já dificulta o acompanhamento e a supervisão de lideranças locais?

Temos visto apenas planos de crescimento fabuloso sem que se debata de maneira clara uma nova estrutura regional, que no sistema atual só vai concentrando poder. Existem muitas dúvidas a elucidar e inquietações a dirimir.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Se preciso, pinto o rosto e saio às ruas

Se preciso, pinto o rosto e saio às ruas


Rev. Fernando Cezar Moreira Marques
Igreja Metodista no Ipiranga - São Paulo, SP


Era o ano de 1992. Eu morava nos Estados Unidos, trabalhava e estudava na Pastoral Universitária metodista da Michigan State University.

Imagine o que eu passei: dependia dos raros (porque caros) telefonemas e dos Correios para receber alguma notícia de um Brasil que fervilhava em torno do impeachment do Presidente da República.

Lá de longe acompanhei, ansioso, o movimento que, incrível, parecia mobilizar a população. Lembro-me de ter desejado estar no Brasil naqueles dias para viver as experiências que certamente entrariam para a História nacional.

Não pude. E me senti como o sujeito da canção do Milton: "Quem perdeu o trem da História por querer saiu do juízo sem saber, foi mais um covarde a se esconder diante de um novo mundo".

Pois é, confesso: perdi o trem da História.

Eu e a Velhinha de Taubaté (pra quem não se lembra, criação do LF Veríssimo). Eu, por estar fora do país; ela, por ingenuidade, credulidade, apatia, comodismo. Trancou-se em casa para não se envolver recusando-se a acreditar no que todos entendiam como óbvio.

Anos depois, mais especificamente em julho de 2007, minhas suspeitas se confirmaram: a velhinha era metodista e delegada ao Geral. Só isso explica a lambança.

Será que foi com ela que o Lula e outros Colégios aprenderam a tática do "Não sei, não vi, não sabia, não posso fazer nada, não tenho nada com isso!"?

Receio que ela ainda esteja por aí, temendo, como sempre, ser identificada como alguém que faz conchavos e combina estratégias. Prefere acreditar que todos são bonzinhos como ela e que tudo é e será feito com a melhor das intenções.

Se todos pensarem assim, o que será da Igreja no próximo Concílio Geral?

De minha parte, decidi que, no que depender de mim, nunca mais perco o trem da História.

terça-feira, 21 de julho de 2009

É necessário redescobrir a alegria de ser pastor de comunidade local e rever esse frisson pelo episcopado

Rio, 4/7/2009

É necessário redescobrir a alegria de ser pastor de comunidade local e rever esse frisson pelo episcopado



Pr. Ronan Boechat de Amorim

Eu sinto uma grande alegria, um grande privilégio e consequentemente uma grande responsabilidade em ser pastor de uma comunidade local.Meu chamamento por Deus, meu preparo teológico no velho Seminário César Dacorso Filho, meus votos de presbítero da Igreja foram para que eu pudesse ser pastor.

Eu digo isso porque aparentemente desaprendemos a alegria, o grande privilégio e a conseqüente responsabilidade em sermos pastores e pastoras de uma comunidade local. O frisson é ser bispo ou bispa. As conversas nos encontros de pastores giram em torno de “Você é candidato a bispo?” ou “Você já tem um candidato a bispo?”. Não raramente alguns disparam: “você está fazendo isso para se promover, porque quer ser bispo, não é?”. Ser pastor ou pastora parece-me, tornou-se apenas uma etapa necessária para se chegar ao episcopado da Igreja.
É verdade que a Palavra afirma que boa coisa aspira quem quer ser bispo. Não há pecado em desejar ser reconhecido pela Igreja como um bom pastor que pode exercer a função de bispo ou bispa. O problema não é o desejo em si, mas a “cultura” predominante em que isso se tornou na vida da igreja.

Ser bispo é moda, é um valor cultural. Cabe nos perguntar: “por que?”. Ainda não fiz essas perguntas para os meus amigos pastores e pastoras, mas imagino que eles dirão: “é para servir melhor ao Senhor nosso Deus!” ou “Como Bispo ou bispa vou poder implementar um projeto renovador para a igreja”. E é possível que respostas como essas sejam sinceras e verdadeiras. Mas a igreja local, pastoreando o povo de Deus, é ao meu ver o lugar por excelência para servir ao Senhor e para implementar um projeto renovador para a Igreja. O pastoreio de pessoas e não a administração da instituição é o terreno fértil para o melhor e mais leal serviço a Deus e para início de movimentos de santidade, de evangelização e despertamento missionário.

Já tive a ilusão que a mera ocupação de cargos e funções de poder, ou ao menos de algum poder, promovem mudanças. Já participei do Conselho Diretor do Bennett, do antigo Conselho Regional, da Coordenação Regional de Ação Missionária (COREAM), já fui o líder clérigo da delegação da I Região ao Concílio Nacional... e não se muda a igreja com leis, programas, projetos... Há propostas minhas de todo tipo em vários livros de atas, algumas que nunca saíram do papel... aprendi que as mudanças verdadeiras não nascem de “canetada” (decisão institucional) , mas da oração e do pastoreio segundo o coração de Deus.

Há ainda presente essa ilusão: “quando eu chegar no poder vou fazer e acontecer!”. Desconfio que esse desejo em ser bispo ou bispa nasça dessa visão de mudar a igreja através da ocupação de postos chaves de poder. Mas há também outras desconfianças: servir-se e beneficiar-se do poder para promover a si mesmo ou um grupo. O Bispo tem poder sobre todos os pastores de sua região, pode viajar pra um lado e outro às custas da Igreja ou daqueles que o convidam. O Episcopado para muitos é o “ápice” de uma carreira pastoral, sinal de prestígio, de poder, de oportunidades.

Sinceramente devemos inverter essa ordem de prioridades, ou essa visão. O “ápice” na vida de um homem ou mulher chamados para o pastoreio deve ser o “apascentar o rebanho do Senhor”, e jamais dirigir uma instituição, ainda que haja as melhores intenções e propósitos. O “ápice” na vida de um homem ou mulher chamados para o pastoreio deve ser o pastoreio em si, ser colocado como ministro(a) de Deus sobre a vida de pessoas e ajudá-las a ver, experimentar, alimentar-se, desenvolverem- se, amadurecerem- se, serem remidas pelo sangue do Cordeiro derramado lá na Cruz, serem transformadas pela ação maravilhosa do Espírito Santo, serem curadas de seus pecados e de sua desumanidade, serem discipuladas para serem discípulas que fazem novos discípulos que fazem novos discípulos... terem seus nomes escritos no livro da vida.
O “ápice” na vida de um homem ou mulher chamados para o pastoreio deve ser presenciar os milagres de Deus que transformam pecadores em santos, perdidos em salvos, racistas e egoístas em irmãos, solitários em solidários... deve ser participar dos milagres de Deus na vida das pessoas e da comunidade, quando uma pessoa deixa de beber para a honra e glória de Deus, deixa de bater na esposa ou no esposo, deixa a prostituição ou o adultério, deixa a vida de violência e corrupção.

É maravilhoso demais participar do novo nascimento, da conversão e da nova vida dessas pessoas a quem o amor de Deus vai alcançando, vivificando, santificando, humanizando.
Precisamos redescobrir as alegrias, o grande privilégio e responsabilidade de estarmos na “infantaria” do “exército” de Deus; aqueles que estão na ponta, à frente, desguarnecidos de seus confortáveis escritórios e fortalezas, mas caminhando na dependência de Deus, sob as mãos daquele que nos refigera a alma e nos guia em direção aos pastos verdejantes. E assim, combatendo dia a dia o poder do mal que veio para matar, roubar e destruir, até que Deus o lance para sempre no poço de enxofre cujo fogo não se apaga nunca. Aleluia! Maranata, Senhor Jesus!

Precisamos redescobrir as alegrias, o grande privilégio e responsabilidade de sermos os que ouvem e falam em nome de Deus , os que no poder de Deus exortam e consolam o povo de Deus, os que se alegram com os que estão alegres e choram com os que estão tristes. Precisamos ser os que em nome de Deus profetizam palavras para encorajar e levantar os caídos, fortalecer os que têm as pernas bambas e as mãos destreinadas para a luta pelo Reino de Deus. Aqueles que acolhem e aconselham os que andam sem norte e sem discernimento. Precisamos ser aqueles a quem Deus coloca como líderes espirituais sobre seu povo.

Precisamos redescobrir as alegrias, o grande privilégio e responsabilidade de sermos pastores e pastoras de pessoas, de famílias, de comunidades. .. e vendo nessa atividade o “ápice” de qualquer ministério pastoral e espiritual.

Precisamos redescobrir as alegrias, o grande privilégio e responsabilidade de nos encontrarmos nos Concílios Distritais, Regionais e Nacional não para participarmos apenas da política eclesiástica (inclusive a eleição de bispos) e, às vezes, até de manipulações e conspirações de grupos. Precisamos viver Concílios para celebrar o que Deus tem feito em nós e através de nós, e sobretudo para ouvirmos coletivamente e como corpo deliberativo a voz de Deus, até que sejamos convencidos do caminho que Deus quer que a gente ande por ele.

Nos dois Concílios Nacionais que tive a oportunidade de ir, não tive o privilégio de discutir Missões, pois tudo gira em torno de eleição de bispos e bispas. No Concílio acontecido em Belo Horizonte eu propus com a maior cara de pau que a gente elegesse logo os bispos no primeiro dia, pois teríamos a liberdade de discutir os desafios missionários da Igreja. Fui repreendido duramente pela grande maioria, supostamente porque a igreja tinha de aprovar seu plano de trabalho para o qüinqüênio e só então eleger as pessoas mais adequadas para executar aquele plano. Eu reconheço que deveria ser assim, mas avalio que não é. Nada se fala, discute, pensa, propõe, etc, etc, etc, num Concílio Nacional sem que a discussão de eleição de bispos esteja por trás.

Eu ainda me lembro do último Concílio aqui da I Região, o que antecedeu ao último Concílio Geral. Havia em todo canto grupos conversando e até conchavando politicamente a eleição de alguns delegados(as) previamente definidos porque eles seriam eleitores desse ou daquele candidato a bispo(a). Eu tive a oportunidade de denunciar a hipocrisia de alguns que participavam das orações para que Deus abençoasse e dirigisse as eleições ao mesmo tempo que tinham em mãos a lista feita por integrantes e também lideranças de 2 ou 3 distritos com nomes previamente definidos para todos os cargos em disputa.

Ou oramos sinceramente e não fazemos as listas dos conchavos, ou não oramos e permitimos as listas, ou oramos e deixamos que as pessoas se associem livremente para as tais eleições.
O que não podemos é permitir a hipocrisia de alguns que se portam incovenientemente e afirmam que tudo o que fazem é santo, é de Deus. Não podemos usar o nome de Deus em vão, diz-nos o segundo Mandamento. Tenho estremecido ao ler os capítulos de Ezequiel sobre a responsabilidade dos pastores.

Já tive oportunidade de propor em dois Concílios Nacionais que o mandato dos Bispos fosse de no mínimo 10 anos, e que entre um Concílio Nacional com eleição de Bispo e outro, tivéssemos a oportunidade de ter Concílios Nacionais para discutir Missões.

Temos quantas cidades em nosso país onde não existe uma igreja Metodista? Por que ainda não temos um programa de TV em rede nacional em horário nobre? Por que nossas instituições de ensino andam capengando, quase sempre à beira da falência? Por que ainda não temos trabalho metodista na Guiana Francesa (esse território francês é único “país” na América do Sul onde não há uma igreja metodista)? Podemos elaborar um plano de ação onde a Igreja incentive seus membros a produzirem cultura, não necessariamente religiosa, mas com os conteúdos do Evangelho? Etc, etc...

Lamento que as sucessivas eleições e reeleições supostamente coloquem os Bispos eleitos como refém de grupos dentro da Igreja. Esse processo, ao meu ver, tira a autoridade do bispo, pois para ele dar continuidade ao seu trabalho, digamos, ele tem de estar permanentemente em estado de “campanha eleitoral” (e digo isso com temor e muito respeitosamente) , não podem desagradar seu eleitorado com a disciplina eclesiástica e espiritual necessárias, quase sempre composto por pastores e pastoras que desejam ser bispos e bispas... É como a história de um funcionário de uma instituição que foi demitido e que para se vingar, tanto fez que acabou sendo eleito para o conselho diretor da tal instituição com a finalidade de pedir a cabeça do diretor que o demitiu...

Estou numa fase da minha vida que sinceramente não me importa quem seja o Bispo colocado sobre a minha vida ministerial, desde que seja um homem ou uma mulher de Deus. Importa é que Deus esteja na direção da Igreja. A Igreja local é um alívio e uma recompensa para o pastor(a) fiel, de fato. Mas se não tivermos bons bispos e bispas, sinceramente, não teremos boas igrejas também, porque o caráter pecaminoso de alguns líderes, acobertado por uns e outros, acabam disseminando a falta de temor e de santidde, bem como a consequente divisão no corpo de Cristo.

E hoje eu me sinto uma pessoa grata e abençoada pessoal e ministerialmente pelo nosso Bispo Paulo Lockmann. Meu candidato a Bispo será o Bispo Lockmann, até que Deus mude isso no meu coração ou que o Bispo diga que não deseja mais ser reeleito. Mas hoje eu sou um pastor que me declaro leal ao meu Bispo. Quantas vezes eu tiver oportunidade de votar, o meu primeiro e certeiro voto será para o Bispo Lockmann, cujo consolidado episcopado tem sido um grande facilitador para quem quer ser pastor. Ao Senhor toda honra e glória pela vida do Bispo da I Região Eclesiástica.

Não, não desejo ser bispo. Desejo ardentemente trabalhar na Igreja Local e em Missões. Uma igreja em cada cidade e em cada bairro, um grupo de discipulado em cada rua, é nisso que eu acredito. Precisamos espalhar a santidade bíblica por toda terra, ao mesmo tempo em que precisamos reformar a igreja para que esta possa reformar a nação. Precisamos ser uma igreja relevante na comunidade onde nossas Igrejas locais estão; nos bairros e cidades e nacionalmente também.

Precisamos redescobrir a alegria, privilégio e responsabilidade de sermos pastores e pastoras qualificados em uma igreja local, sem com isso negar a urgente necessidade da discussão de ministérios específicos para pastores e pastoras.

Mudar a cultura... desejar mais ardentemente o apostolado, o pastorado, o mestrado, o envio, a paixão pelas almas perdidas... uma igreja em cada cidade e bairro, um grupo de discipulado em cada rua... um milhão de discípulos só no Estado do Rio. Uma grande e relevante Igreja Metodista em cada uma das mais de mil favelas só da cidade do Rio de Janeiro...

Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu- se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. (João 21:17)

sábado, 4 de julho de 2009

Ninguém perguntou (Não?) mas eu respondo assim mesmo

Ninguém perguntou (Não?) mas eu respondo assim mesmo


Sim, eu apoio e votaria favoravelmente, no próximo Concílio Geral, a uma eventual proposta que prorrogasse o mandato do atual presidente da minha Região Eclesiástica por mais dois anos até que se realizasse, no Concílio Regional, a eleição do novo bispo.

Concordo: a forma como me expresso parece resposta a uma pergunta que não foi feita.

Desculpo-me. Quis apenas contribuir. Você sabe, há no cenário político um fenômeno ao qual estudiosos e jornalistas dão o nome de "lançamento de um balão de ensaio". O termo é utilizado principalmente quando se quer testar a aceitação de uma idéia (que pode ser uma proposta ou até mesmo uma candidatura). A idéia, então, é lançada sutilmente, quase sem querer, de maneira tal que venha a ser entendida como um comentário despretensioso.
Pela reação provocada, pode-se avaliar o grau de sua aceitação ou rejeição e o resultado dessa avaliação é que orienta os passos seguintes.

Reajo. Que os desavisados não me entendam mal: não estou lançando nenhum balão mas reagindo. Considerando que em se tratando de igreja a dificuldade está em medir a reação, espero estar contribuindo.

Poderia, obviamente, levantar questões concernentes como, por exemplo, a que diz respeito à idade do candidato... Se, por ocasião do Geral, o postulante tinha idade para se candidatar, o Regional poderia considerar como válida sua candidatura. Poderia?
E outras como a que suspende a itinerância mantendo os atuais bispos nas regiões que presidem...

Repito: poderia, obviamente, levantar questões concernentes... Deixo-as para quem se interessar.


Fernando Cezar Moreira Marques
Pastor Titular da IM no Ipiranga, São Paulo, SP

Não nos deixes cair em tentação


Não nos deixes cair em tentação - Por Bispo Nelson Luiz Campos Leite.

A propósito dos próximos Concílios Regionais e Concílio Geral



Aqui está uma “petição” que deveria estar na mente e no coração de todos(as) nós. Vivemos num contexto onde “sedução” e “tentação” são constantes em nossas vidas. Os “valores” comportamentais do “presente século” são convidativos, enganosos e estão em contraposição com os “valores do Evangelho”. Paulo nos diz: “Não vos conformeis (tomai a forma...) com os “valores” (princípios) do presente século” (Rm. 12.2). Infelizmente, nos aspectos os mais diversos, temos, conscientes ou não, nos acomodado a “esses valores”.A motivação central de muitos grupos religiosos tem sido guiada por valores e princípios desse mundo, os quais chamamos pós-modernidade.

Os Concílios Regionais serão realizados no segundo semestre e estão às portas. A preparação regional, os grupos de logística e a movimentação das igrejas locais na escolha dos seus delegados já estão em processo. Tendo em mente que nesses Concílios é onde se elegem os delegados ao próximo Concílio Geral, é momento de reflexão séria e coerente com o Evangelho a respeito de quem e com que delegação as igrejas locais elegerão os seus representantes como “candidatos ao Concílio Geral”.

Começo a perceber a já comum movimentação e vejo que é hora de orar ao Senhor da Seara: “Não nos deixes cair em tentação!”

E por quê?

Porque é necessário que sejamos guiados por uma mente e por valores que tenham sido renovados pelo Espírito em nossas mentes para que possamos vivenciar a vontade de Deus em nossos Concílios e no Concílio Geral. A única vontade que é justa, boa, agradável e perfeita.Rm. 12.2.

O grande desafio é agir, atuar, vivenciar os Concílios Regionais e, a seguir, o Geral conforme os “valores do Evangelho”, do Reino e de acordo com a Vontade Divina. Para tal, há um preço a pagar-se: esvaziamento, quebrantamento, renúncia, conversão, mudança de valores, quebra de ambição, ausência de messianismos, Unidade no Corpo...”santificação”.

A “eleição de delegados (as) ao Concílio Geral tem levado em conta os objetivos, as aspirações individuais e de grupos. Infelizmente, o foco de maior atenção e atração é o da “eleição episcopal”. Tendo-se em mente que o “critério canônico para a eleição episcopal” continua o mesmo, apesar de tantos anseios por mudança, expressos pós-eleição no último Concílio, perdemos a oportunidade de, sob inspiração divina e autoridade do Concílio, criarmos uma forma mais clara, transparente, justa e coerente com os princípios e objetivos do Evangelho e da Igreja Metodista. “Todos (as) Presbíteros (as) são candidatáveis ao Episcopado, através de uma eleição “sem discussão e debate” sob a inspiração do Espírito Santo”. Isso tem ocorrido? Você crê na veracidade e sinceridade do desenvolvimento desse padrão numa eleição episcopal? Nós, que participamos do último Concílio e da última eleição, temos a consciência de que o critério estabelecido pelos Cânones foi realizado fielmente? Creio que existem muitos delegados e delegadas que têm agido coerentemente no decorrer de nossos Concílios, podendo receber a aprovação divina... mas será a maioria? Cada um de nós, desde a igreja local, distrito, região e área nacional dará a Deus a sua resposta.

Há muita “tentação” nesse processo de eleição, desde a igreja local até a escolha dos delegados ao Geral e, especialmente, no momento da eleição episcopal. Somos chamados a “orar”. Orar sincera e coerentemente a Deus, buscando a graça do Espírito visando seguir coerentemente o que o Evangelho e a Igreja Metodista determinam.

Pessoalmente sou favorável à mudança desse critério acima colocado. Creio que a Região deveria encaminhar para o Concílio Geral as pessoas e seus nomes que mais estejam de acordo com os princípios bíblicos do episcopado e preencham de forma coerente o que se requer de um bispo ou bispa, segundo a visão da Igreja Metodista. Isso ocorreria após ter-se uma sondagem honesta e objetiva feita na igreja local e omologada por escolha num Concílio Especial Regional.

Agora nos resta vivenciar o que continuou determinando os Cânones. Aqui entram as “tentações”: aspirações pessoais, movimentos políticos, mobilização de grupos com as mais diversas posturas doutrinárias, consciência de messianismos, acordos regionais e mobilização as mais diversas. Creio na ação do Espírito Santo, na oração, mas descreio do esvaziamento, da submissão ao Senhor, do espírito de humildade e da falta de ambição descabida e desconforme com as normativas Evangélicas. Não descreio de um “quebrantamento evangélico” e nem de um “avivamento genuíno gerado pelo Espírito”.Creio ser essa nossa maior necessidade como cristãos e Igreja. Para tal, não podemos ser obstáculos à ação divina e ser livres das “tentações” anteriormente enumeradas.
Sinceramente falando, vejo como “prioridade” o que acima está, mas temo que “tudo continuará como sempre”, abrindo justificativas, racionalizações e desculpas as mais diversas através das quais a máxima não evangélica está presente: “Os fins justificam os meios”, usada descabidamente por grande parte dos cristãos hoje, em sua maioria evangélicos.

Com que espírito participaremos dos Concílios Locais e Regionais? E, depois, nas reuniões de grupos, delegações e outras?

Chego até a pensar que, no contexto atual, melhor seria a mudança transitória de critério: “eleição episcopal nos Concílios Regionais, deixando para cada Região reconhecer aqueles e aquelas a quem o Senhor tem concedido o “carisma” para o episcopado.

Não há sistema completo e perfeito, pois em todos eles nós humanos é que estaremos decidindo e mesmo no Regional os motivos anteriormente expostos poderão existir, mas de uma forma mais controlada e com possibilidade de quebrantamento mais objetivo e real. Enquanto isso, oremos e busquemos: “Não cair em tentação” contra a vontade e os princípios do Senhor.

Bispo Honorário Nelson Luiz Campos Leite.

domingo, 24 de maio de 2009

Acerca dos 271 anos da experiência religiosa do coração aquecido de João Wesley, o fundador do movimento metodista



Por Pr. Ronan Boechat de Amorim
Ao falarmos da experiência do Coração aquecido de João Wesley naquele 24 de maio de 1738 naturalmente nos recordamos do princípio do metodismo na Inglaterra naquele já distante século XVIII.

E nos lembramos da degradação moral, social, política e religiosa em que vivia a Inglaterra de então. E como em meio aquela situação uma família se destacava em levar à sério a religião, a espiritualidade e o desejo de fidelidade a Deus. Suzana Wesley, aquela mãe e cristã tão vigorosa, ética, sensível e cheia de fibra, o quanto ela foi perseverante em educar seus filhos no temor do Senhor, distinguindo-se do que era “normal em sua época”. Vemos que João Wesley, apesar de todo ensino recebido zelosa e apaixonadamente por sua mãe Suzana, começa uma busca pessoal pela sua própria experiência com Deus. Não queria ser um cristão cujas experiências com Deus fossem limitadas às vividas e recebidas da senhora sua mãe. Ele buscava intensamente ter a sua experiência pessoal e de fé com Deus.

Foi em busca dessa experiência de fé que aceitou ir como missionário na então colônia inglesa na América do Norte, de onde volta algum tempo depois profundamente humilhado, fugindo de um processo colocado na justiça contra ele por supostas práticas pastorais inadequadas.

Em Londres, procura relacionar-se com cristãos alemães chamados de “moravianos”, que eram liderados por um conde chamado Zinzendorf. Ele ficara impressionado com a fé dos moravianos durante sua viagem de ida para a Geórgia. Quando o navio era sacudido de um lado para o outro, um grupo moraviano seguia calmo e confiante. “Nós confiamos em Deus e nossas vidas estão salvas em suas mãos”, diriam mais tarde. Em Londres torna-se amigo de um pregador moraviano que estava naquela cidade preparando-se para seguir viagem para a América. Wesley e Pedro Bolher conversam por vários dias sobre a fé, a doutrina, a salvação, a certeza de ser salvo por Deus, etc... Wesley percebe que criam exatamente na mesma doutrina, mas que lhe faltava sem dúvida, aquilo que ele se ressentia de não ter tido ainda: uma forte experiência com Deus. O que acontece numa pequena reunião dos moravianos na noite de 24 de maio de 1738 quando o pregador lia um comentário escrito quase 200 anos antes por Martinho Lutero sobre o livro de Romanos.

Ele que confessa mais tarde em seu diário ter ido à tal reunião praticamente sem nenhuma vontade; mas que por volta das 20:45h quando o pregador falava sobre as mudanças realizadas por Deus na vida dos salvos, ele sentiu seu coração estranhamente aquecido (na verdade, sentiu seu coração estranhamente abrasado, ardente) pelo poder de Deus e sentiu que seus pecados estavam perdoados, que ele confiava em Deus... um grande peso saiu de sobre seus ombros e ele deixou de ser apenas um servo, passando a experimentar a maravilhosa experiência de ser filho de Deus.

Daquele 24 de maio em diante João Wesley nunca mais foi a mesma pessoa ou o mesmo pregador. Começou um movimento de discipulado de crentes dentro da Igreja Anglicana, que visava vida de oração, estudo da Palavra de Deus, desejo por santidade e dedicação à evangelização e à missões. Ao morrer em 1792, aos 89 anos de idade, calcula-se que havia 70 mil metodistas na Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e Irlanda) e que pelo menos outros 70 mil já haviam morrido durante sua vida tão longeva.
Apesar de ser perseguido pelas autoridades da Igreja Anglicana por causa de seu “entusiasmo” (fervor), deixando-o não apenas sem a designação para uma paróquia, mas proibindo-o de pregar em qualquer igreja anglicana, Wesley e todos os metodistas enquanto ele viveu não deixaram de ser nem anglicanos nem metodistas. O metodismo era um movimento de santidade e evangelização dentro da Igreja Anglicana. Quando proibido de pregar em templos anglicanos, Wesley disse: “O mundo é a minha paróquia”. Sobre o porquê Deus havia levantado os metodistas ele afirmou: “Para reformar a nação, particularmente a igreja; e para espalhar a santidade bíblica por toda a terra”. Sua grande prioridade: “Nada a fazer senão salvar almas”.

Seu “entusiasmo” não foi nem irracional nem alienante. Pois levou Wesley a compreender que além de salvar a alma da pessoa do inferno, era necessário também salvar a vida das mesmas antes da morte, tirando-as de sob o poder da pobreza, do analfabetismo, do trabalho escravo, da injustiça e de todo tipo de valores e práticas que não tivessem em conformidade com a vontade de Deus. O avivamento de Wesley não era apenas no culto, mas sobretudo no dia a dia. E sua teologia do que podemos chamar hoje de “salvação integral” levou-o também a lutar contra a escravidão, os vícios, as leis e sistema prisional desumano da Inglaterra de então.

Olhando para a história desse homem que teve seu coração “estranhamente aquecido” (coração fervente) pelo poder do Espírito Santo, não temos como não reconhecer que foi um homem tremendamente usado por Deus e que ele é um testemunho explícito e vivo de que:

1 – NÃO PODEMOS NOS SATISFAZER COM EXPERIÊNCIAS ALHEIAS E COM VIDA ESPIRITUAL MEDÍOCRE – Não devemos nos satisfazer com aquilo que generosa e amorosamente recebemos de nossos pais e de nossa Igreja. É preciso buscar nossa própria experiência de fé com Deus. Não podemos ser cristãos alimentados apenas pela fé de nossos pais e pela tradição dos que nos antecederam nessa fé. É fundamental que tenhamos nossa própria experiência de fé (e pessoal) com Deus. Deus tem mais para nós do que aquilo que nossos pais podem compartilhar conosco, repassar para nós... por mais leais a Deus e à tarefa do testemunho e do ensino cristão que eles sejam.
Não podemos nos satisfazer com relações superficiais, medíocres, ritualistas e mecânicas com Deus. É necessário que o Espírito de Deus testifique em nosso próprio coração que somos filhos e filhas de Deus. E a partir daí construir uma vida de intimidade e de experiências pessoais contínuas com o Deus vivo e presente.

2 – NÃO DEVEMOS VIVER DE ACORDO COM O MEIO SOCIAL E CULTURAL, MAS DE ACORDO COM A VONTADE DE DEUS – O meio social, político, cultural, eclesiástico e teológico com certeza influem poderosamente no tipo de pessoas que somos ou seremos, nos valores que temos ou teremos e também no tipo de espiritualidade (relação com Deus) que temos. Mas nossa maior referência e influência têm de ser o Evangelho e o Espírito Santo de Deus.

O meio ambiente, cultural e social e religioso forma, deforma, conforma, reforma, formata, etc, as pessoas; mas pessoas podem questionar a formação, superar a conformação e experimentarem reforma e transformação. Particularmente se foram despertadas para a situação em que estão e encorajadas a uma mudança significativa através e por causa do amor de Deus.

Pessoas genuinamente cristãs têm o Evangelho de Jesus como “lâmpada para os pés e luz para o caminho” (Sl 119:105). De modo que têm por natureza o discernimento que nos faz sermos críticos diante das coisas, das tradições, das inovações, das repressões, dos rolos compressores dos modismos de qualquer espécie, inclusive, os modismos teológicos.

Deus tem o poder de mudar as pessoas e o meio cultural onde as pessoas vivem. Para provocar mudanças existe também o testemunho pessoal, a evangelização (que deve ser integral curando o caráter da pessoa, seus relacionamentos e os valores e estruturas da comunidade onde vive) e, sobretudo o poder do Espírito Santo que convence do pecado, guia à verdade e faz tudo novo. Os grandes e genuínos avivamentos, inclusive, têm essa finalidade: mudam as pessoas e enchem a história humana de mais graça de Deus.

3 – PEQUENOS ENCONTROS E PESSOAS SIMPLES TAMBÉM PODEM PROMOVER GRANDES MUDANÇAS – Pessoas simples, como o missionário moraviano Pedro Bolher, podem ser tremendos canais de graça e instrumentos do agir de Deus de Deus, das mudanças de Deus, das operações de Deus em pessoas, nas histórias dessas pessoas e na história da comunidade. Wesley foi, digamos, o estopim que foi aceso através da instrumentalidade de Pedro Bolher pelo “fogo” do Espírito Santo. Depois de um tempo em Londres ponde esperava para ir como missionário nas Américas não se ouviu mais esse nome. Mas assim como o muito sem Deus é sempre pouco, o pouco com Ele muito se faz; é sempre o suficiente.

4 – QUE O CAIR É DO HOMEM, MAS QUE A SALVAÇÃO PERTENCE AO SENHOR – João Wesley, um homem que confiava em seus próprios méritos, na sua sabedoria e conhecimentos, na segurança dos ritos e do tradicionalismo, foi levado por Deus à colônia inglesa na Geórgia e ali foi quebrado como um vaso nas mãos do oleiro. Foi reduzido a alguém que não tinha mais como confiar em si mesmo. Reconheceu que precisava desesperadamente do socorro do Senhor e quando clamou este aflito, Deus o ouviu, o ergueu e o tornou um instrumento de graça e salvação confiável. Não porque era grande, mas porque sua grandeza estava em depender e em obedecer a Deus em todas as coisas.

5 – PESSOAS PODEM LIDERAR PESSOAS E AJUDÁ-LAS A SEREM TRASFORMADAS POR DEUS – João Wesley nunca teve o poder de transformar as pessoas, mas nas mãos de Deus foi um grande líder que levou pessoas a colocarem suas vidas e a fé nas mãos do único e suficiente Salvador, o Senhor Jesus.

Um homem sozinho não pode mudar ninguém (ao menos para melhor!!), não pode mudar um país inteiro, não pode mudar o mundo, transformando-o num lugar melhor e mais justo para todos, mas pode, sob o poder de Deus, vislumbrar e profetizar mudanças, proclamar e promover mudanças, animar e reunir pessoas que desejam mudanças e liderar pessoas para que mudanças de fato aconteçam.

6 – QUE A IGREJA PODE SER O LUGAR DA AUSÊNCIA DE DEUS - A Igreja (a vida das pessoas crentes, o culto, os ritos, a religião cristã, etc) pode transformar-se num lugar difícil de encontrar o Deus vivo, tal como aconteceu no tempo de Jesus com o templo de Jerusalém e seus religiosos e tal como aconteceu no tempo de João Wesley, onde, segundo estudiosos, se alguém se convertesse de seus pecados os mais surpresos seriam os próprios pregadores.

Graças a Deus porque ele não desiste de seu povo, de sua igreja e que o fermento do Reino, tal como aconteceu com João Wesley e seus companheiros metodistas, leveda toda a “massa”, todo o corpo, sendo luz que vence as trevas e sal da terra. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos. Aleluia!

7 – NADA QUE HOJE É GRANDE COMEÇOU GRANDE E TUDO QUE É GRANDE COMEÇOU PEQUENO – Foi assim como movimento dos metodistas e posteriormente com a Igreja Metodista. Começou com um, depois dois, depois dez, depois cem. Mas graças a Deus por aqueles que viram quando nada ainda havia para ver, a não ser através da fé. “Paulo plantou, Apolo regou, mas é Deus quem dá o crescimento”. Aleluia!

8 – NÃO TEMER AS ESTRUTURAS, AS PERSEGUIÇÕES E A PERDA DE PRIVILÉGIOS – João Wesley, de posse da tarefa que Deus lhe deu, enfrentou as tradições doentias, o clero corrompido e sem visão missionária, a cultura da frouxidão ética, a antipatia dos governantes, a perda de uma designação para uma igreja local e até mesmo a humilhação de ser proibido de pregar na igreja da qual era pastor, que seu pai, avôs e bisavôs eram pastores. Ele certamente sofreu, mas preferiu tomar sobre si a cruz de Cristo, não se deixou apequenar diante dos poderes das estruturas eclesiásticas, não se deixou corromper pelas dádivas de uma teologia e uma ação pastoral e missionária domesticada, mas se ressentiu de perder o papel de comensal na mesa das autoridades e os privilégios daí advindos. Ele preferiu ser fiel a Deus, ao seu chamado, à sua fé e à sua consciência. Como Daniel, ele preferiu estar com Deus na cova dos leões do que estar sem Ele na Mesa do rei e nas louvações do Palácio real.

9 – TER UMA AUTORIDADE QUE NÃO ABRE NÃO DO PODER, MAS EXERCER O PODER E A AUTORIDADE NO TEMOR DO SENHOR, COMO DESPENSEIRO DE DEUS E SERVO DOS DEMAIS E COMO QUEM ESTÁ PRONTO PAR AOUVIR E MUDAR - Depois que teve sua experiência com Deus naquele 24 de maio Wesley tornou-se crescentemente uma referência e uma autoridade espiritual e pastoral em seu país. Mas foi um homem que ouvia e que mudava de opinião, mesmo que isso doesse tanto quanto ter de arrancar o próprio fígado. Foi assim com a pregação de leigos, com a pregação de mulheres, com a ordenação de pregadores para ministrar a Ceia aos metodistas dos EUA quando não havia lá sacerdotes anglicanos para fazê-lo... Também aceitou a autonomia dos metodistas norte-americanos em relação à Igreja Anglicana... era contra tudo isso, mas Deus, através de sua mãe Suzana, de seu amigo Maxfield, e de outros próximos, o quebrava e remodelava sempre que necessário.

10 – É PRECISO CONTINUAR, SENDO CRIATIVO E REMINDO O TEMPO – João Wesley nunca se satisfez com o trabalho feito e os resultados obtidos. Não podia descansar enquanto houvesse pessoas a serem alcançadas e almas a serem aliviadas, perdoadas e salvas. Morreu aos 88 anos de idade, trabalhando, mesmo depois de ter exercido um ministério pastoral e evangelístico no qual pregou mais de 40 mil vezes, escrito mais de 30 livros, visitado missionariamente a Irlanda 11 vezes e a Escócia 22 vezes, viajado a cavalo mais de 4.500 milhas por ano até os seus 60 anos de idade (totalizando mais de 375.000 quilômetros), pregado e visitado... Wesley e os primeiros metodistas apoiaram a reforma do ensino que era fraco e para apenas alguns poucos privilegiados; criaram escolas para os pobres e casas de acolhida para as viúvas e órfãos pobres; apoiaram as mudanças nas leis e a reforma das prisões; lutou pela libertação dos escravos; contra o trabalho das crianças nas minas de carvão; e por uma reforma ampla e geral das leis e costumes da decaída Inglaterra do Século XVIII.

No leito, bem pouco antes de morrer escreveu ao primeiro ministro inglês de então, Wilbeforce, igualmente um metodista, para que não cessasse de lutar contra a escravidão, o mais vil pecado e vergonha sobre a face da terra. E ao invés de vangloriar-se do que fez e do legado que deixava, apenas disse: “O melhor de tudo é que Deus está conosco”.

Ainda sobre o legado que deixava, sentenciou: “Não tenho medo que o Metodismo deixe de existir. Tenho medo que ele se torne insípido”.

João Wesley, foi profundamente impactado pela sua experiência religiosa do 24 de maio de 1738, mas nunca tornou-se prisioneiro dela. Ou melhor, nunca foi homem de apenas uma única experiência com Deus. Na medida em que os anos passam daquele 1938, cada vez ele fala menos daquela experiência. Tinha outras experiências a viver e a testificar.

Como dois séculos mais tarde diria o Bispo Metodista Francis Ensley sobre aquele 24 de maio, a experiência do coração aquecido acontecida na rua Aldersgate “não livrou Wesley da luxúria, da bebedeira ou da criminalidade. Não representa a conversão aos preceitos de Cristo, ou um retorno da indiferença religiosa. Aldersgate marca uma onda contrária aos inimigos espirituais que o flagelavam. Um deles era a concepção legalista da religião que ele professava. (...) O outro inimigo espiritual foi a indiferença emocional. (...) Sua religião era antes um peso do que algo que trouxesse alívio. (...) E para uma coisa ela o inflamou: para a tarefa evangelística”.
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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Cultura Gospel: Fruto da pós–modernidade



Por : Antônio Carlos Soares dos Santos*
Cada vez mais me convenço de que estamos vivendo um tempo de grandes perdas, de grandes “desvios”, de sepultamento das raízes do mais puro cristianismo. E o algoz tem um nome: Cultura Gospel.
Não é protestantismo, nem mesmo pentecostalismo, mas é um fruto oriundo da tal pós-modernidade. Uma das características dessa “dita-cuja” pós-modernidade é justamente a ojeriza ao passado, às tradições e tudo que possa indicar algo que um dia chamamos de IDENTIDADE.
Não entendo muito bem o que seja essa tal pós modernidade...mas uma coisa digo..não é coisa boa não...mas vamos recorrer a especialistas. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman diz que pós modernidade é “uma realidade ambígua, multiforme, na qual, como na clássica expressão marxiana, tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Já o filosófo francês Gilles Lipovetsky declara ser “uma exarcebação de certas características das sociedades modernas, tais como o individualismo, o consumismo, a ética hedonista, a fragmentação do tempo e do espaço”.
Agora pergunto: nosso adorável mundo gospel não é pós moderno?
Com toda sua busca individualista, com seu capitalismo religioso, com as estatística de mercado, suas estratégias de Marketing... A verdade é que o pós modernismo (leia-se: cultura gospel) esvaziou o cristianismo e nós ainda batemos palmas para isso. Trocamos a seriedade e serenidade pelo êxtase momentâneo do sucesso a qualquer preço.
O Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior em seu artigo “A Igreja Brasileira na Pós-modernidade” faz a seguinte declaração: “Na Igreja, o que antes era convicção, hoje é opção. Os mandamentos divinos passaram a ser sugestões divinas. A igreja é orientada por aquilo que dá certo e não por aquilo que é certo”.
Que grande e triste verdade! Podemos perceber cada vez mais essa realidade quando nos deparamos com algumas mensagens que exaltam tanto a busca de poder e os dons individuais e nada dizem a respeito da comunhão partilhada, da necessidade do arrependimento, do caráter de Jesus, da compaixão com os injustiçados em uma sociedade corrompida, cruel e impune.
Vivemos tempos em que a Bíblia não é mais a nossa única regra de fé, pois, as experiências pessoais acabam por suplantar o conceito bíblico de Igreja, suas doutrinas e orientações mais essenciais. É lamentável vermos nossa amada Igreja Metodista, de tantas histórias e História, de tanta tradição, se perder em meio a uma salada “gospel” de consumismo mercadológico. E todos sabem que os olhos do mercado não enxergam o individuo e sim a multidão.
Vivemos uma contradição eclesiológica, pois adotamos o discipulado como estilo de vida, mas a prática é cada vez mais de agrupamento de pessoas sem rosto e sem identidade. E não importa os meios que se usa para alcançar esse “agrupamento”, o importante é que o “número” aumente!
Deus é o produto...os fiéis, os consumidores...Deus é encontrado com várias faces de acordo com o gosto e a tendência...Tem o Deus dos ricos, o Deus dos “guerreiros”, o Deus curandeiro, o Deus-Gênio da Lâmpada...Onde antes era “Senhor, seja feita a Tua vontade” hoje é “ eu reinvidico, eu exijo, eu determino...”
Uma pregação triunfalista, ufanista...triste, dolorida para quem antes buscava a Igreja para encontrar uma palavra de consolo, carinho e até mesmo de exortação e não uma chamada para sucesso continuo e ininterrupto. Não existe mais aquela sede pelo conhecimento a Deus, não é mais o que quero conhecer, mas o que eu sinto é o que importa, se a Palavra não me agradou eu busco uma que me agrade e com isso o corpo pastoral passa não mais a aplicar o que a Igreja necessita, mas sim o que o povo quer.
Jazie Guerreiro explana muito bem isso ao dizer “Na cultura pós-moderna o religioso se expressa com um forte predomínio da experiência sobre a razão e sobre a própria explicação da fé”. Enquanto o espírito ecumênico é duramente criticado e até visto como jocoso, o sincretismo religioso vai ganhando espaço nas Igrejas e alimentando a superstição popular. Quando vemos que o símbolo se torna maior que o significado, alguma coisa está muito errada!
Ao que parece, já não sabemos mais como o autor de I Pedro nos convida a “estarmos sempre preparados para responder a qualquer pessoa que nos pedir a razão de nossa esperança” (I Pedro 3.15), talvez por considerarmos que Rick Warren com sua “obra prima” Uma igreja com propósitos tenha mais a dizer ao povo de Deus do que a própria tradição bíblica e histórica da Igreja.
Como pastor metodista, de tradição Wesleyana, me preocupo muito...hoje estou vendo que não sou festeiro, que não sou alegre o tempo todo, que tenho momentos de tristeza, de solidão...por isso compreendo que não posso prometer a Igreja nada além daquilo que Deus revela na Bíblia...Felizmente, ou infelizmente, para alguns, levo meu pastorado muito a sério.
Em meio a tantas heresias ditas à vontade nos púlpitos, televisão e rádios, quero citar um “herege” abençoado por Deus e lúcido: “Já não espero que uma relação com Deus me blinde de percalços. Não acredito, e nem quero, que Deus me revista com uma carcaça impenetrável. Acho um despautério prometer, em meio a tanto sofrimento, que uma vida obediente e pura gere segurança contra doenças, acidentes, violência”. (Pr. Ricardo Gondim). Hoje vivemos uma pós modernidade, “uma mistura de ilusão com esperança”[1], para que no fim de tudo, Deus venha a restaurar a ordem e confirmar os valores de seu Reino.
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* Antônio Carlos Soares dos Santos é pastor Metodista
[1] Gondim, Ricardo: Repensando a fé.
Fonte - http://metodistaecumenico.blogspot.com/ - 5 maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

Manifesto do Movimento Metodista Confessante sobre a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2009



No livro Um só Senhor, uma só Igreja publicado no Brasil em 1964 o Rev. Metodista Dr. John Robert Nelson pergunta:
"Por que tanto interesse hoje pela unidade cristã? Se o problema da unidade fosse ignorado, a vida seria muito mais fácil para a maior parte dos cristãos em todo o mundo. O fato de que diferenças doutrinárias impedem todos os membros da família de Cristo de receber a Sua Ceia na mesma mesa, não seria causa de angústia de espírito de forma alguma; a competição aberta de igrejas cristãs pregando o mesmo Evangelho da mesma Bíblia na mesma vila para confusão dos mesmos povos não-cristãos, não seria causa de escândalo; cada pequeno grupo de cristãos poderia sentir-se complacente e satisfeito em seu isolacionismo das demais igrejas vizinhas; e cada denominação poderia realizar seu próprio programa de evangelização e de serviço social sem cogitar dos outros. Tudo isto estaria certo, se não fosse por uma cousa: Jesus Cristo quer que sua Igreja seja uma em mente, espírito, vida e testemunho." (p.6).

Estamos em 2009 e as mesmas questões apontadas pelo Rev. John Robert Nelson, há 45 anos continuam latentes: Será que há esperança para o ecumenismo?

Em 1986 outro metodista, o Professor Dr. Hélerson Bastos Rodrigues em No mesmo barco: vivência inter-eclesiástica dos Metodistas do Brasil De 1960 A 1971, assim introduz seu livro:" 'Se teu coração é como o meu coração'; se amas a Deus e a toda a humanidade, não peço mais: 'Dá-me a tua mão' ". Apoiando-se na Escritura (2 Reis 10.15) João Wesley, deflagrador do metodismo, pregou sobre "O Espírito Católico" [ou seja, universal], desenvolvendo uma argumentação que se encaminhou para conclusões da seguinte ordem:
... o homem de espírito católico é o que (...) ama — como amigos, como irmãos no Senhor, como membros de Cristo e filhos de Deus, como atuais co-participantes do presente reino de Deus e co-herdeiros de seu reino eterno — a todos, de qualquer opinião ou culto, ou congregação, que creiam no Senhor Jesus Cristo; que amem a Deus e aos homens; e que, regozijando-se em louvar a Deus e temendo causar-lhe ofensa, sejam cuidadosos no abster-se do mal e zelosos nas boas obras.
Espalhados pelas Igrejas que hoje atuam em dezenas de países, os sucessores de João Wesley souberam acolher aos conselhos de seu patrono. No Brasil, também, os metodistas não perderam o ideal da unidade que vem de Jesus Cristo.”

Não esqueçamos: o autor fala da de uma realidade do ano de 1986. Ao descrever o relacionamento da Igreja metodista brasileira com a Igreja Católica Helerson Bastos diz: "Nas 'celebrações em conjunto' programaram-se situações que contaram com católicos e protestantes, entre os quais os metodistas, que elaboraram e realizaram o evento conjuntamente. Tratam-se das Semanas de Oração pela Unidade Cristã, Semanas de Oração pela Pátria, celebração de ação de graças em datas nacionais, solenidades religiosas em formaturas escolares. (...)” (p.92)

Nas páginas conclusivas do livro Helerson Bastos afirma: “Os metodistas foram se conscientizando da necessidade de conhecer mais profundamente sua própria Igreja, suas raízes, sua identidade, sem o que não teriam como prosseguir maduramente no diálogo ecumênico.” Helerson Bastos encerra o livro com os seguintes dizeres sobre o ecumenismo:
“Realidade? Utopia!
Fé. . . esperança. . . amor. ..
Dá-me a tua mão. Estamos no mesmo barco.”

Desde a publicação de No mesmo barco passaram-se 23 anos e muitos/as metodistas nesse ano de 2009 repetem as mesmas indagações: Ecumenismo é realidade? Ou utopia?

Infelizmente o 18º concílio da Igreja Metodista do Brasil realizado em julho de 2006 decidiu sua retirada de todos os organismos e eventos onde a Igreja Católica participe. Assim distanciou seus membros do sonho de um ecumenismo pleno. Mas não “matou” a “utopia” dos corações ecumênicos. Muito pelo contrário, homens e mulheres comprometidos com o metodismo “histórico” encontram-se hoje ainda mais engajados/as como a causa ecumênica, por entender que ela é, não somente o fundamento da Igreja de Cristo, mas, o alicerce do Metodismo histórico formulado pelo pai da fé do metodismo mundial.

As palavras de Wesley, fundador do metodismo, ainda chama pela união das mãos e dos corações em unidade fraterna, refutando toda “unanimidade” perversa e excludente. “Na casa de nosso Pai/Mãe, que como galinha acolhe todos/as sob suas asas, há muitas moradas...” É essa compreensão que nutre o Movimento Metodista Confessante e demais metodistas ecumênicos espalhados/as pelo Brasil.

A cada Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, nós, católicos e protestantes, temos oportunidade de testemunhar que: “Iluminados/as pela luz do Cristo que se fez homem e habitou entre nós”, temos a nítida convicção que “um novo mundo é possível”, mesmo e apesar das formulações equivocadas das lideranças “passageiras” que controlam o “poder” de nossas igrejas.

Assim na fé, na esperança e no amor podemos pedir: Dá-me tua mão; afinal estamos no mesmo barco.
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Movimento Metodista Confessante http://metodistaconfessante.blogspot.com/
Aprofunde a leitura
Um só Senhor, uma só Igreja
http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/Um_so_Senhor_uma_so_Igreja.pdf
No mesmo barco: vivência inter-eclesiástica dos Metodistas do Brasil De 1960 A 1971
http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/No_Mesmo_Barco.pdf

domingo, 7 de dezembro de 2008

UMA TRÍADE NA ESPIRITUALIDADE MINISTERIAL:CARISMA, CARÁTER E CARIDADE

*Por Bispo Josué Adam Lazier

Introdução

Gosto de pensar na espiritualidade enquanto uma relação das experiências adquiridas, do conhecimento e do saber com a vida prática. Em outras palavras, pensar na conexão do interior com o exterior. A espiritualidade nos desafia a sermos uma pessoa que evidencia esta conexão em todos os momentos da vida.

No que se refere aos ministérios desenvolvidos, a espiritualidade conecta o sentido de vocação com os atos ministeriais praticados. Destaco, portanto, uma tríade nesta espiritualidade ministerial: carisma, caráter e caridade. Sem carisma não há qualidade e autoridade no ministério que se exerce, sem caráter não há autoridade nas ações pastorais e ministeriais e sem caridade não dá para chegar ao coração das pessoas com as quais trabalhamos.

Carisma
Já tive a oportunidade de desenvolver este tema em outros textos, incluindo o livro publicado pela EDITEO (O Carisma do Ministério Pastoral), onde apresento os contornos do carisma pastoral. Ao falar de carisma estou me referindo ao ato de reconhecimento e de mandato dado pela Igreja. O carisma, seja do ministério pastoral ou dos ministérios laicos, é reconhecido pela comunidade cristã e desenvolvido em sintonia com a eclesiologia. Não cabe, seja qual for a denominação, um ministério autônomo e sem qualquer relação com as doutrinas, em especial a que define o modo de ser igreja.

Carisma significa o dom através do qual o Espírito Santo age na vida do cristão e da Igreja na medida em que o cristão se oferece a Deus em resposta ao Seu amor. O carisma se evidencia de forma comunitária e não individualizada, pois ele se expressa por meio da dedicação da pessoa ao serviço de Deus e por meio da Sua Graça.

Em outras palavras, o carisma que atribui autoridade ao ministério, não é o pessoal, não são os dons pessoais ou os talentos da pessoa, e sim o mandato, a ordenação ou a consagração realizada pela comunidade de fé.

Caráter
O ministério “carismático”, ou seja, aquele que tem o carisma dado pela Igreja é acompanhado por comportamentos e atitudes que evidenciam uma boa índole, um bom caráter, um conjunto de boas qualidades. Nas cartas pastorais (I e II Timóteo e Tito) o autor apostólico destaca várias qualidades que se referem ao comportamento ético e relacional dos líderes da comunidade de fé. Fala, portanto, de caráter e de integridade na vida pessoal, familiar e social.

Falar do carisma é o mesmo que falar da integridade da pessoa. O que confere valor e autoridade ao carisma recebido por ordenação e consagração é a integridade que a pessoa evidencia, em termos de comportamento ético, responsabilidade, transparência, honestidade, respeito e confiabilidade. Sem esta integridade a pessoa que exerce um determinado ministério, mesmo que possua o carisma, não possuirá autoridade e legitimidade para suas ações ministeriais. Da mesma forma que na figura da espiritualidade há conexão do interior com o exterior, deve existir conexão entre o carisma dado pela Igreja e o caráter da pessoa que recebe o mandato (carisma). O carisma sem caráter não tem substância e qualidade.

Caridade
Poderia falar do amor, mas preferi a expressão caridade. Parece que o amor tem sido tema dos escritores bíblicos que ficou distante de nós, tema de músicas que são cantadas nas igrejas locais dominicalmente ou tema de poesia e romance. O amor como descrito pelas sagradas escrituras e que se refere ao ato de entregar-se pelos outros, perdoar, pedir perdão, restauração, etc, parece ser algo que ficou no passado. O amor se transformou meramente numa virtude teologal quando deveria ser um fruto sempre presente na vida do cristão. Desta forma, a música que fala da volta ao primeiro amor, lembrando a carta dirigida à Igreja de Éfeso (Ap 2.4), tem razão: a Igreja precisa voltar ao primeiro amor e começar de novo suas boas obras na ótica do ágape.

Optei por falar da caridade, pois se não é possível amar como Cristo amou, que haja pelo menos caridade para com os mais fracos, caridade para com os diferentes, caridade para com o que pensam de forma diferenciada e que ela seja para integrar e incluir os que ficam marginalizados. Recordo-me das palavras do apóstolo Paulo dirigidas aos tessalonicenses, quando diz: “admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejas longânimos para com todos” (I Ts 5.14). Estas palavras inspiram, de certa forma, atitudes de caridade.
Caridade pode ser complacência, benevolência ou compaixão e caridoso seria aquele que procura identificar-se com o amor de Deus. Se conseguirmos isto em nossas práticas ministeriais já estaremos num bom caminho.

Tentando concluir
Não dá para concluir. Esta reflexão apresenta inquietações, preocupações, desafios, provocações, questionamentos, convite para o diálogo e para o aprofundamento do tema do carisma. Vamos seguir conversando...

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*Josué Adam Lazier é Bispo da Igreja Metodista

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A IGREJA E O MESSIAS: A Expectativa de Justiça

* Rev. Efraim Sanches Pereira
"Do tronco de Jessé sairá um rebento, ...julgará comjustiça os pobres,e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra;"(Is 11.1,4)
Sabemos que Justiça é um ideal. Jamais, neste mundo em quevivemos, teremos a bênção de ver prevalecer aquilo que écorreto, digno, justo e perfeito. Esta retidão não é domíniodos mortais, mas dos deuses! Por causa disso, devemos abdicar de buscar a Justiça? Naturalmenteque não!
O ser humano possui dentro de sí o desejo e o apelo desempre procurar viver e agir de forma a manifestar as características que o Livro da Lei, a Bíblia, chama de "Imagem de Deus"implantada em nossas mentes e corações. Assim, nem que seja para se sentir um pouco divino, todo homem/mulher busca ser justo.
A Justiça é uma esperança! É assim que devemos ler este texto da Bíblia, onde o profeta vive um contexto de crueldades, parcialidades, desmandos, corporativismos, deslealdades, subornos dos magistrados, burla da Lei, usurpações de heranças, desigualdade social e econômica, escravidão, violência. Tudo isso é parte integrante da realidade do homem Isaías, que se revolta e num rasgode esperança, apresenta sua visão de como deveria ser um Juíz eou um Rei.
A Justiça também é compromisso. O que admira na palavra doprofeta não é a descrição do que deve ser um homem público,mas sua crença firme de que haverá um dia em que finalmente, oideal de justiça prevalecerá. Ele mantém, mesmo diante de umarealidade adversa, uma confiança de que em breve o Deus Eterno sefará notar na figura de um Enviado, que com seu comportamento perfeito, realizará os anseios e desejos dos injustiçados.
A Igreja está na condição de Agência do Reino de Deus. Ela éo Messias antes que Ele volte. Sua presença na educação, nogoverno, nas várias instâncias da vida cidadã deve sercomprometida com a realização da esperança. O Messias não está patrocinado pelo capital, mas pelo sonho de Deus e seu projeto para homem. As "autoridades" religiosas nada mais são do ques ervos e instrumentos da concretização da vontade de Deus.
Nos aproximamos do Natal, uma das épocas em que a desigualdade e a injustiça mais se fazem notar. É o momento de reafirmarmos, juntamente com Isaías, o compromisso com um futuro diferente desse nosso presente, em que inocentes são presos; autoridades não tem pejo de vir a público dizer que não punirão o faltoso, por puro corporativismo; pais de família são despedidos, em detrimento do capital; crianças são postas no mundo sem qualquer responsabilidade; poucos teimam em ter muito, quando muitos não tem nada; alguns retém mais terra do que podem cuidar; trabalhadores dignos, tratados indignamente, ficam sem salário; criminosos ilustres ficam sem punição. E se continuar, faltará espaço!
Diante do exposto, na figura do Messias, (que não tem nenhumcompromisso com essa estrutura religiosa que existe em nosso mundo e que teima ilegitimamente em ser Sua representante), assumamos com o profeta:"Naquele dia recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será amorada". (Is 11.10). Renovemos nossa confiança; não abandonemos nossa utopia, pois outros viveram antes de nós, que alimentaram sua luta nesta mesma esperança, certos de que as gerações futuras não abandonariam o ideal. É difícil, mas deve sempre existir alguém que mantenha a Luz acessa, para esta denuncie e espante as trevas. Se a lâmpadaapagar-se, como encontrar o caminho?
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*Rev. Efraim Sanches Pereira- 5ªRE

sábado, 29 de novembro de 2008

Ética Pastoral

Está aberto convite para artigos sobre a Ética pastoral tendo como fonte as orientações dos cânones da Igreja Metodista do Brasil.
A idéia é expandir para as comunidades locais orientações básicas sobre o papel e os limites do "poder pastoral". Se você tem uma contribuição sobre esse tema Envie seu artigo ao email:
metodista_confessante-owner@yahoogrupos.com.br*Foto é da "Mesa da Graça" no primeiro encontro presencial Confessante
*Foto é da "Mesa da Graça" no primeiro encontro presencial Confessante

Casa dividida não subsiste

*Por Efraim Sanches Pereira
"se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir" Mt 3.25

Tenho ouvido algumas notícias advindas do mundo metodista. Informam que foram instaladas "tendas da prosperidade" em nossas igrejas, e o povo está passando por elas; que existem comunidades ainda celebrando os seus cultos utilizando o Hinário Evangélico e igrejas que nem mais sabem que existiu um dia esse Hinário. Cantam a esperança e a experiência das outras denominações.
Existem ainda, aqueles que, no afã de protegerem-se contra as artimanhas e ataques do Maligno, amarram correias ao pescoço de outros, batizam-nos de Leões de Judá e saem urinando nos cantos dos templos, para marcar o território de Jesus, o Leão de Judá. Existem os metodistas que querem viver a experiência do Apóstolo Paulo, de ter ido até ao terceiro céu. Assim, praticam o arrebatamento em suas reuniões de oração, levando colchonetes para as mesmas, sendo embalados ao som de músicas evangélicas hipnotizantes, com a finalidade de viver tais experiências astrais.
Existem os preocupados com o aumento do número de membros, que se apropriam da linguagem e dos métodos dos batistas, presbiterianos, e os aplicam na evangelização e discipulado na busca do crescimento da Igreja.
Existem aqueles que aprenderam que a religião é um fenômeno e por isso, todas essas manifestações místicas são coisa da ignorância que grassa no meio do povo brasileiro. É preciso racionalizar a fé. Existem os que entendem que a religião e o metodismo só se justificam no serviço libertário á favor do pobre contra a opressão do rico e do capitalismo.
Também existem os que enxergam na igreja um meio de ascender socialmente, preparando-se para serem os futuros dirigentes das nossas instituições, na ânsia de ganhar dinheiro e poder.Existem os que vivem das modas. Dente de ouro, arrebatamento, Dons espirituais, batalha espiritual, caminhadas para Jesus, e etc. Existem os irmãos que percebem Satanás em cada canto da comunidade e desejam exorcizá-lo, falar dele o tempo todo, alertando os desavisados e inconscientes. Precisam ser ensinados dioturnamente sobre as artimanhas do maligno.
Ao tomar conhecimento dessas notícias, também fico sabendo e vendo que existem metodistas interessados em conhecer as doutrinas de João Wesley e se aprofundar no saber bíblico, sem, contudo, descobrir onde. Ao cumprir minha disciplina diária iniciando com minha meditação matinal, esbarro no versículo acima e, quase automaticamente, lembro-me de outro texto da Palavra de Deus: "O meu povo está sendo destruido porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu, te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da Lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos" Os 3.6.
Minhas orações dessa manhã são para que as ovelhas do Israel espiritual reunido na Igreja Metodista brasileira encontrem o verdadeiro pastor, nos seus pastores e em seus bispos, pois "se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir" Mt 3.25.
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* Efraim Sanches Pereira é Revdo metodista da 5aRE