terça-feira, 31 de maio de 2011

Depoimento sobre as perseguições aos Metodistas em Belém - Encontro Confessante

Encontro Presencial dos Metodistas Confessantes – 28 e 29/05/2011


DEPOIMENTO SOBRE PERSEGUIÇÕES AOS METODISTAS EM BELÉM

 


Saulo Baptista

Baixe aqui a apresentação em Power Point. 


São Paulo, 28 de maio de 2011.

A perseguição à comunidade metodista em Belém se reporta aos últimos 15 anos, mais ou menos, mas tem a ver com as características mesmas do metodismo, que procuramos viver aqui em Belém do Pará. Vou relatar os fatos principais, que permitem uma compreensão da nossa realidade:

1.           A Igreja em Belém foi fundada por um casal de missionários aposentados, Agnes e Will Rogers, há 30 anos, sem que houvesse interesse da área geral, pois não estava prevista como estratégia missionária. A obra em Belém teve a mesma origem da Igreja Metodista em Natal (RN), ou seja, foi resultado de dedicação do casal Rogers. Em menos de um ano, com a direção e sustentação divina, eles implantaram este trabalho em bairro pobre, a Pedreira, com prioridade para atender crianças pobres. Era uma igreja de crianças, que, aos poucos foi crescendo com pessoas de outras idades.

2.           Depois, vieram pastores com a chama metodista muito viva. Um deles, Antonio Margarido Mendes, liderou a construção do templo. Ele, a esposa e a família, são sempre lembrados com muito carinho, no bairro, pelas obras de misericórdia e piedade. Esta vinha sendo a marca da nossa identidade até sermos pressionados a deixar o espaço do templo da Pedreira.

3.           Depois da aprovação do Plano de Vida e Missão da Igreja, tivemos a bênção de receber o casal Francisco e Regina Cetrulo, com filhos ainda pequenos. Eles enfatizaram todas as orientações desse documento da Igreja. Houve momentos em que construímos barracos para pessoas empobrecidas, com madeira arrecadada no próprio bairro. Fazíamos isto em mutirão, como tarefa prática da Escola Dominical e, à noite, celebrávamos a vitória de praticar o evangelho em forma de serviço para pessoas que nem sequer gostavam da Igreja.

4.           Com o documento Dons e Ministérios, aprendemos a servir voluntariamente, sem disputa de cargos nem jogo político, a não ser a política do serviço e nada mais. Foi outra marca que aprendemos com o Francisco e o casal que o sucedeu, pastor Antonio Carlos Teles e Jacqueline, junto com sua filha e filho também pequenos.

5.           Na mesma época desses pastores Francisco e Toninho, intensificamos uma atuação ecumênica no bairro, com a Igreja Luterana e uma Paróquia Católica. Logo, rapidamente, este testemunho de unidade na diversidade se espalhou por outros bairros de Belém. Foi relevante que o padre católico holandês, João Maria, tenha conseguido atrair, a partir dessa experiência ecumênica, uma Assembléia de Deus do bairro para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, quando nós, metodistas e luteranos não acreditávamos que isto fosse possível. Depois dessa experiência, tem havido práticas de ecumenismo muito interessantes em toda a cidade de Belém e arredores. Pode-se dizer que as sementes viraram árvores, com o Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs e surgimento mais recente do Comitê Interreligioso. (Não dá para relatar aqui toda a riqueza dessas práticas, que já duram mais de 20 anos).

6.           Entre outras obras desse período, em nossa Igreja Metodista, tivemos o funcionamento de um Cursinho Pré-Vestibular, criado pela comunidade do bairro, com o apoio da Igreja, o qual aprovou 25% de alunos em universidades públicas, no ano do seu funcionamento. Também operamos uma marcenaria, administrada pela Metodista e Luterana, mas tendo como mestres o pastor Antonio Teles e o João Paulo, membro da nossa igreja.

7.           Quando chegou o primeiro bispo, Rozalino, que assumiu porque o eleito, rev. Lino se recusou a assumir, começaram as dificuldades da nossa comunidade.

8.           O bispo Rozalino acolheu um grupo dissidente da Igreja Batista Central de Belém (da Convenção Batista Nacional, portanto, do ramo renovado dos batistas) que veio com um líder respeitado, o pastor Aluísio Laurindo. Nós estávamos sem pastor e o bispo queria que o rev. Aluísio assumisse nosso pastorado, mesmo sendo recém chegado de outra denominação evangélica. Decidimos que era melhor o grupo recém chegado formar outra igreja local, mesmo que permanecêssemos, temporariamente, sem pastor. O bispo aceitou a decisão da Igreja, mesmo que não fosse esta sua preferência. Diante desta decisão, foi criada a Igreja do bairro Umarizal, que depois construiu um templo no bairro Telégrafo, com apoio de ofertas missionárias. Depois da criação dessa igreja, nós, da Pedreira, passamos a ser mais discriminados, porque éramos ecumênicos e muito voltados para as questões sociais, segundo a visão do bispo Rozalino e dos sucessores, Davi Ponciano e Adolfo Evaristo.

9.           Ainda na gestão do bispo Rozalino, foi feito um processo de escolha de um pastor para a Igreja da Pedreira, através da Coordenação de Ação Missionária, na Sede Nacional. Ficamos sabendo que já havia sido selecionado um casal de pastor e pastora que se identificava com as características da nossa Igreja, mas o processo foi interrompido, contrariando os trâmites legais, e foi enviado um pastor, com características carismáticas, através de um acordo entre o bispo Rozalino e o bispo Paulo Lockman. Sentimos esta decisão como uma imposição, mas acolhemos o pastor. Foi uma convivência difícil, porém respeitosa. Assim como foi respeitosa a convivência com outros pastores(as) que vieram depois, mesmo sabendo que a missão deles(as) era eliminar nossas características e implantar uma igreja com ênfase carismática.

10.       Tivemos um período de ênfase na liturgia, principalmente quando ficamos sem pastor, por cerca de um ano. As famílias se reuniam, durante a semana, de acordo com uma escala, e traziam celebrações muito criativas. Estávamos pondo em prática o que já havíamos aprendido em oficinas de liturgia. Quando voltamos a ter pastor, todos, com exceção do atual (João Coimbra), acharam excelente essa prática e a mantiveram. Essas experiências litúrgicas eram vivências importantíssimas na caminhada da igreja, até sermos proibidos pelo pastor atual e pelo bispo, de continuarmos com as equipes de liturgia. Normalmente, seguíamos o ano litúrgico e os hinos e leituras do Hinário Evangélico. Também utilizávamos cânticos de fora do hinário, mas dentro da temática do culto. Não descuramos, também, de trazer conteúdos e cânticos que nos ligassem à realidade atual, com propósitos proféticos.

11.       O bispo Davi Ponciano não concordava com a linha da nossa Igreja, mas nos respeitava. Todas as ações dele eram de apoio à Igreja do Umarizal-Telégrafo. Tudo que ele pôde conseguir, inclusive financeiramente, foi carreado para aquela Igreja. Nós vivíamos a míngua, mas conseguíamos viver assim, porque sempre fomos fiéis ao ideal do “povo chamado metodista”, conforme sempre o entendemos.

12.       Quando o bispo Davi faleceu, o bispo João Alves acumulou o Campo Missionário da Amazônia com a Presidência do Colégio Episcopal e a 3ª Região. Apesar de todas essas funções, ele sempre nos compreendeu e nos apoiou. Foi o melhor bispo que nós tivemos aqui na região amazônica, porque respeitava as igrejas locais e era sensível à nossa condição de amazônidas. Ele nunca tentou impor uma cultura alienígena sobre nós, como tem sido feito por outras lideranças.

13.       A partir do bispo Adolfo, este enviou uma pastora e um pastor com um só propósito: moldar a igreja de Belém para aquilo que ele entende como santidade. Para justificar essa intervenção, ele escreveu que somos ligados ao Movimento Ecumênico Internacional e à Teologia da Libertação. Ponderamos que sempre praticamos o que está escrito nos documentos da Igreja Metodista, mas ele insistiu em nos rotular de coisas que nunca foram preocupação dos membros, até porque alguns nem sequer conhecem essas teorias e vivem a simplicidade da fé metodista como aprenderam, ao longo dos anos, em nossa pequena igreja.

14.       A partir de 2008, a liturgia passou a ser totalmente elaborada e conduzida pelo pastor João Coimbra e, algumas vezes, pela esposa, que também é pastora. Havia um grupo de pessoas capacitadas, inclusive com formação teológica metodista, que, nos outros pastorados, pregavam, eventualmente, além de participarem, de modo bem ativo, das liturgias. Todos que estávamos nessa situação fomos cerceados e não mais no foi permitido participar, como fazíamos antes.



15.       A situação se agravou quando o bispo verificou que a igreja do bairro Telégrafo que eles haviam fundado a partir da dissidência batista, foi definhando, ao longo dos anos, após a saída do seu fundador.



16.       Quando a comunidade do Telégrafo já estava com poucos membros ativos (menos de dez), o bispo Adolfo trouxe esses remanescentes para se congregarem conosco, mas sob a condição de serem dissolvidas as duas igrejas e criada uma nova igreja, com o título de Igreja Metodista Central. Aceitamos, imbuídos do propósito de ceder à vontade do bispo, como sinal de paz, e para acolhermos os irmãos recém-chegados, que eram muito necessitados do conhecimento do metodismo. Oferecemos, inclusive, todos os espaços que eles quisessem ocupar na CLAM. E eles o fizeram.



17.       O bispo chegou a dizer, para muitos membros ouvirem, que nenhum projeto nos moldes que ele sonhava iriam prosperar, enquanto a Igreja Metodista da Pedreira existisse. Razão pela qual, ele estava dissolvendo as duas igrejas e formando uma nova. Também deu ênfase na necessidade de começarmos uma nova história, esquecendo nosso passado, como se isto fosse possível.



18.       Tínhamos convicção que nossas práticas seriam assimiladas pelos irmãos recém-chegados do Telégrafo, caso eles fossem expostos a elas, porque eram as práticas metodistas que tanto inspiravam todos nós. Alguns pastores que vieram para a Pedreira, com a determinação encomendada de nos moldar para as práticas neo-pentecostais que eles praticavam, saíram convencidos que praticávamos o metodismo em consonância com tradições e documentos oficiais e passaram a adotar, espontaneamente esse modo de ser metodista.



19.       Não havíamos percebido que o bispo estava iniciando ali, em 1º de janeiro de 2008, uma intervenção violenta para nos massacrar como metodistas remanescentes da Igreja da Pedreira. E foi o que aconteceu. A partir daí, foram vários os fatos que comprovam esse estado permanente de agressões, como, por exemplo: anulação de um concílio da Igreja da Pedreira, através de um ATO DE GOVERNO, porque foi aprovada a criação de um grupo de trabalho para coordenar nossa participação no Fórum Mundial de Teologia e Libertação e no Fórum Social Mundial. É curioso que as mulheres de Global Ministries, da Igreja Metodista Unida dos EUA, nos pediram que formássemos essa equipe de apoio. Fizemos todo o trabalho de apoio, mas o bispo anulou o concílio que criou essa equipe.



20.       Verificando que não tinha maioria nos concílios locais, nem na CLAM, o pastor passou a usar de artifícios autoritários, para impor sua vontade em ambos os espaços citados. Não tendo conseguido, recorreu a um instrumento chamado DECLARAÇÃO PASTORAL para nos suspender dos ministérios e cargos que ocupávamos. A alegação usada foi de que paramos de entregar os dízimos, nos últimos meses. De fato isto é verdade, porque, pelo menos no meu caso, fiquei com problema de consciência de entregar o dízimo para fomentar o arbítrio e a violência, através de um projeto que exclui e persegue pessoas. Não considero que o projeto do pastor e do bispo seja um projeto de santidade, mas, apenas um projeto de poder, que exige, a todo custo, a submissão e subserviência dos que quiserem segui-los.



21.       Para completar este relato, peço que os metodistas confessantes leiam ou releiam as denúncias que o Tony Vilhena já apresentou, porque ali estão detalhados outros fatos da ação do pastor e do bispo.

Acolhida na Igreja Metodista de Bela Aurora em Juiz de Fora (MG)


Depois que o grupo de metodistas ecumênicos ficou sem espaço na Igreja Central de Belém, resolvemos manter nossa união, reunindo cada sábado na casa de um dos integrantes. Não queríamos reunir no domingo, para não caracterizar que estávamos formando outra igreja. Todavia, com o passar do tempo, ficou claro que as manhãs de domingo eram a melhor opção para todos.

O tempo foi passando e ouvimos que seria possível, com base nos Cânones, pedirmos desligamento da Igreja Central de Belém e, de modo concomitante, pedirmos acolhida em outra igreja metodista. Os cânones são bem explícitos que nenhum pastor pode impedir a liberdade do membro que tome esta iniciativa.

Logo surgiram duas igrejas da região metropolitana de São Paulo como possíveis alternativas para esta operação, porém mediante cautelosas análises. Enquanto essas análises aconteciam, o pastor Moisés e alguns líderes da Igreja em Bela Aurora acenaram de forma muito decidida para nos receberem.

Logo aceitamos e estabelecemos contatos para marcar a data de nossa acolhida, com viagem e programação para estarmos presentes no fim de semana de 27 e 28 /11 /2010. Foram dois dias de muita alegria, programação intensa e demonstrações de carinho, solidariedade, intenso amor dos mineiros pelos paraenses. Há um relato de 15 páginas sobre esses momentos inesquecíveis, que muito me inspiraram ao relê-lo para preparar este testemunho.

A partir dessa nossa integração na Igreja de Bela Aurora, temos sido visitados, uma vez por mês, pelo pastor Moisés, que confessa estar com o coração dividido entre seu rebanho de Bela Aurora e de Belém. Ele tem visitado cada membro de Belém, cuidado dos que sofrem, servido a ceia no cultos e nas casas dos que não podem estar presentes por motivo de doença. Enfim, temos pastor, que nos ama, à semelhança de uns poucos que já tivemos.

Damos glória a Deus pelas bênçãos da presença do pastor Moisés conosco, mas temos que registrar as ameaças e o processo que foi aberto contra ele pelo pastor da Igreja Central de Belém, sob orientação do bispo Adolfo. O processo foi encaminhado ao bispo da 4ª região e está em andamento. (Não temos os pormenores dessa ação truculenta, mas estamos orando e apoiando o pastor Moisés, da forma que podemos fazer, com depoimentos escritos para ele utilizar em sua defesa).

De todo este relato, quero tirar uma lição, com um viés de quem estudou ciência política e que não admite o autoritarismo, principalmente quando ele é praticado usando o nome de Deus.



A Igreja Metodista está sendo destruída por um projeto autoritário de conseqüências imprevisíveis




Irmãos e irmãs,
Sabemos que instituições não costumam ser democráticas, salvo no discurso que pregam e em alguns momentos espasmódicos. 
No caso da Igreja Metodista, temos momentos de democracia, porém, com base no que vem acontecendo, desde o último Concílio Geral e devido à proximidade dos Concílios Regionais e do próximo Geral, esses fragilíssimos momentos de democracria estão ameaçados pelo autoritarismo que impera nos interregnos entre os eventos conciliares. Diante deste fato ameaçador, escrevi e reitero abaixo um texto que toma por base os fatos que vêem ocorrendo em Belém. Sou um dos que está suspenso de exercer seus dons na igreja local, por medida imposta pelo pastor, com aval do bispo. Estou proibido de ministrar aulas na Escola Bíblica Dominical.
Leiam o texto a seguir. Fico na expectativa que reajam ao seu conteúdo.

 A prática episcopal de "santidade" na Região Missionária da
Amazônia


Como todos têm sido informados pelo Tony Vilhena, principalmente, o trabalho de Igreja Metodista em Belém (Pará), construído em 30 anos, com muito amor, está sendo destruído pelas ações truculentas dessa nova onda de "santidade". ("Santidade" é o termo que o bispo daqui usa para denominar e justificar seu projeto de intervenção violenta na comunidade local).
Pois bem, como testemunha e vítima dessas ações, posso declarar que a pior coisa que esse grupo faz é tomar de assalto os espaços democráticos da Igreja Metodista do Brasil para destruir a democracia que permite a eles terem liberdade de atuar. Adolfo Hitler e os nazistas fizeram isto na Alemanha. Há outros exemplos históricos e todos nos apontam para a necessidade de entender a gravidade dessa prática, porque o resultado é destruição espiritual, moral, emocional e física de muitas vidas. Não sei como dimensionar o que está acontecendo na Região Missionária da Amazônia, mas hoje vejo os obreiros que restaram como verdadeiros zumbis, dirigidos de forma ególatra e autocrática por quem não tem capacidade para estar à frente de obra tão importante. Esses obreiros e obreiras não são de todo inocentes, pois alguns têm o mesmo DNA do autoritarismo, outros são tomados pelo medo de perder o "emprego"  e muitos deles e delas são vítimas da própria ignorância. Vários deles não eram metodistas e tiveram formação no fundamentalismo de origem batista e pentecostal.
Infelizmente, o pior colonialismo é o interno. O Brasil acostumou-se a assaltar a Amazônia, através de grupos estranhos a ela. O mesmo tem acontecido neste caso da REMA. Não vêm para cá pessoas que amam outros seres humanos e que desejam estudar e compreender a complexidade, diversidade e riqueza do nosso povo. Os que vêm estão imbuídos do propósito de roubar, matar e destruir. É assim que funciona o distrito industrial e a zona franca sediados em Manaus. Os projetos instalados para o "desenvolvimento" da Amazônia são projetos para saquear a região. As hidrelétricas servem para transferir energia em blocos descomunais para as transnacionais do alumínio. Nós não precisamos dessas hidrelétricas. Poderíamos ter soluções com turbinas pequenas e médias, que dispensam barragens, em harmonia com nossa grande rede de cursos dágua, sem a necessidade de agredir o ambiente. As soluções implantadas aqui são projetadas  fora da região, por quem está a serviço de grandes capitalistas que não têm compromisso algum com o povo da Amazônia. O mesmo raciocínio e a mesma prática estão sendo efetivados nessa obra da Igreja Metodista recente, feita aqui na região, embora existam especificidades do trabalho missionário que não estou esmiuçando neste meu desabafo. Aliás, a Igreja Metodista não fez obra missionária na Amazônia. Ela apenas veio a reboque das ondas migratórias, imposta pelos militares que criaram os fracassados projetos de colonização (tipo Polonoroeste, em Rondônia).
 Resumindo: a questão central de que estamos sendo vítimas é a destruição do espaço democrático, por quem usa da democracia e o faz para destruir essa mesma democracia. É exatamente isto que esse grupo da nova "santidade" está implantando na nossa Igreja, por esses brasis afora.


Mais sobre o Quarto Encontro Confessante:

Relato do Encontro Nacional Confessante: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/05/relato-do-encontro-presencial.html 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Relato do Encontro Presencial Confessante

Relato do Encontro Presencial Confessante, nos dias 28 e 29 de maio, na Igreja Anglicana - Paróquia da Santíssima Trindade.





O primeiro dia começou às 9h30. Depois da devocional que foi acompanhada de muitos abraços, café e amizade, iniciamos o painel com João Wesley Dornellas com o assunto Autoridade e Autoritarismo. João Wesley fez uma recuperação histórica das relações de poder na igreja metodista, desde antes da autonomia até os dias atuais. Depois do grande nome do movimento metodista, ouvimos as emocionantes palavras do irmão Saulo, que nos contou - com toda a graça que só o sotaque norte-nordeste tem - a história da comunidade de Belém do Pará: Desde a sua criação até a adoção por Bela Aurora.

Almoçamos nas imediações, e logo voltamos para a tarde.

 Na volta nos dividimos em grupos de oito pessoas para refletir a  respeito dos painéis apresentados. Levantamos questões, reflexões e  trocamos muito conhecimento entre nós à partir da apresentação das discussões de cada grupo e a reação de todos em roda. Ainda à tarde, procedemos uma pequena mudança na agenda, não discutindo as propostas ao Concílio Geral, mas adiantando o assunto sobre os rumos dos metodistas confessantes. Anivaldo apresentou as dificuldades de institucionalizar o Movimento Metodista Confessante. Arthur, como bom advogado que é, mostrou as falhas da argumentação do Anivaldo ao apresentar um tipo de  Sociedade não-personalizada. Após cantar Finda-se este dia e orar brevemente, nos despedimos na certeza de encontrar-mo-nos no dia 29.

Abrimos o dia 29 com um belo café-da-manhã comunitário. Muita alegria, confraternização, abraços. 
Passamos, por volta das 9h30 para uma reunião coordenada pelo Arthur Dianin. Na tarde anterior houveram as provocações do Anivaldo Padilha e do Arthur Dianin a respeito dos próximos passos da Rede Metodista Confessante. Estamos na internet desde novembro de 2007 e precisamos começar a caminhar de uma forma mais orgânica. O irmão Arthur coordenou as discussões, baseadas na discussão em grupo no dia anterior, para começarmos a esboçar um escopo de atuação, de organização mínima e de caminhada presencial.

às 10h45 interrompemos os trabalhos para participar do culto eucarístico na Igreja Anglicana. Foi uma liturgia muito bonita. Houve responso congregacional em canto gregoriano, houve hinos do Hinário Episcopal, hinos conhecidos nossos mas com letra em tradução levemente diferente, houve orações contemporâneas escritas em reuniões ecumênicas recentes, houve orações tradicionalíssimas do Livro de Orações Comum, uma homilia bastante didática e uma celebração da Ceia do Senhor na qual todos nós nos sentimos acolhidos e abençoados. O rev.Arthur, pároco da igreja que nos hospedou, nos saudou e pudemos agradecê-lo pessoalmente pela acolhida.

Após o almoço voltamos para a reunião. Como muitos teriam a necessidade de viajar muitas horas, combinamos tocar a reunião sem interrupções até as 15h30. Neste momento da tarde alinhavamos melhor as questões organizacionais. Definimos forma de contribuição e financiamento, forma de nos apresentarmos oficialmente e presencialmente ao Colégio Episcopal. O Paulo Silas e o Arthur Dianin ficaram responsáveis pela elaboração dos documentos fundantes da Rede Metodista Confessante em forma de associação. Um Comitê Coordenador Provisório foi escolhido para tocar esse momento ímpar na nossa Rede, formado por Maria Newnum, Arthur Dianin, Paulo Silas Lara, Anivaldo Padilha e Fabio Martelozzo. Esse comitê será provisório, para levar a cabo as tarefas que temos. No final pudemos ouvir o rev.Moisés Coppe, suas angústias, sua preocupação mas sobretudo sua fé, sua alegria e sua confiança no Senhor. 

No final houve mais um momento de confraternização, tomando café da tarde, comendo uns acepipes, tomando suco e trocando idéias.

Definiu-se que haverá outro Encontro Nacional Confessante para uma data futura, entre setembro e outubro, para avaliarmos o pós-Concílio Geral e colocarmos nosso carro nos trilhos. Estamos certos e convictos de nosso papel na Igreja Metodista, que foi definido por um dos participantes como o papel de Natã na vida de Davi. Um papel profético, denunciador mas um papel de amor, de quem conhece e ama aquele a quem admoesta.

Aguardamos com ansiedade e fé o próximo Encontro Nacional Confessante 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O que querem os Metodistas Confessantes, afinal de contas?

O que querem os Metodistas Confessantes, afinal de contas?



“Quem são os Metodistas Confessantes?” “O que eles querem?” “Quais seus objetivos, sua agenda secreta, seus intentos?” “São uns rebeldes que visam derrubar os líderes da Igreja Metodista.” “São os descontentes e derrotados do Concílio Geral de Aracruz/2006 que buscam vingança.” “São um grupo cuja militância é fundamentada na Teologia da Libertação.”

O ser humano, no decorrer dos séculos, reage com medo ao se defrontar com o desconhecido. Não foram poucas vezes que lendas e eventos sobrenaturais foram associados a doenças, como histórias de vampiros, que na verdade eram pessoas portadoras de uma enfermidade chamada porfíria ou lobisomens, pessoas que eram portadoras de hipertricose. Da mesma maneira, nós metodistas estamos presenciando a criação de uma nova lenda quase sobrenatural, baseada nos Metodistas Confessantes.


Pastores, pastoras, leigos e leigas estão sendo “orientados” por lideranças locais, regionais ou institucionais a não participarem da Rede Metodista Confessante pois, segundo essas lideranças, os Metodistas Confessantes são um grupo que contesta a estrutura da Igreja Metodista. Outros consideram os Metodistas Confessantes uns rebeldes que querem atacar a autoridade da Igreja Metodista.


Triste engano. Nós Metodistas Confessantes publicamos em nosso blog um documento chamado “Movimento dos Metodistas Confessantes” (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2009/09/movimento-dos-metodistas-confessantes.html ) onde explicamos detalhadamente aquilo que motiva e impele nossa atuação na Igreja Metodista. Entre os pontos mencionados, destaco:


Convite à união - Nós, metodistas, sempre fomos do dissenso na experiência, do    pluralismo no pensar e deixar pensar, mas nos reconhecíamos intensamente na vida comunitária e na disposição de caminhar juntos/as. Somos de origem diferente na mesma Igreja que nos acolheu um dia: pietistas, puritanos, crentes pentecostais, carismáticos, da tradição litúrgica, da transformação social, da denúncia profética, do trabalho pela justiça no mundo.


Recuperar o dissenso na experiência e a unidade (diferente de hegemonia) na vida comunitária e nos propósitos de ser Igreja é a principal motivação da Rede Metodista Confessante. Não temos dificuldade em caminhar junto com irmãos/ãs metodistas de experiência de fé diferente da nossa. É chegado o tempo de percebermos, de uma vez por todas, que as divisões e cortes dentro de nossa Igreja não decorem das questões relacionadas às formas como cada indivíduo expressa sua espiritualidade. Mas, por nossos compromissos íntimos ou pela ausência deles.


No cristianismo todos sãos sacerdotes e sacerdotisas - Ao passo devemos tolerar as diferentes expressões de fé dentro de nossa igreja e fora dela, é preciso sermos intolerantes com todas as formas de oportunismos, corrupções, desonestidades, autoritarismos e personalismos que permeiam as estruturas eclesiásticas.


Nós, Metodistas Confessantes (e Metodistas mundiais), cremos que todos/as são ungidos/as por Deus; que o sacerdócio é universal para todos/as os/as crentes e que, portanto, não há entre nós, maiores nem menores. Conseqüentemente rejeitamos a idéia equivocada que há, entre nós, “autoridades incontestáveis”; aliás, esse é um dos pontos que nos difere de outros grupos religiosos.


Nós, Metodistas Confessantes, entendemos que é necessário recuperar a Igreja como comunidade “terapêutica”, espaço que propicia a acolhida e colabora para a conversão das pessoas e das estruturas sociais; comunidade que crê no poder do Evangelho de transformar pelo amor, graça e pela responsabilidade.


Poder é Serviço - O sentido do Sacerdócio Universal de todos/as os/as crentes deve ser antídoto também para a tentação ao governo eclesial despótico. É preciso relembrar que o metodismo é conciliar, conexional e até episcopal; nessa ordem. Em muitos lugares mundo afora o metodismo não é episcopal (Inglaterra, igrejas do esforço missionário inglês e outras como a do Uruguai) ao contrário, mas defende o princípio de que o poder na Igreja é exercido a partir dos concílios e que as igrejas devem viver em conexão. Não é o episcopado que une o metodismo universal, mas a missão e o serviço.


Para o bem da Igreja e da democracia interna, é importante termos uma ordem presbiteral forte, bem formada, valorizada e, no essencial, coesa (diferente de homogênea). Episcopado é condição temporária e especial; e a depender dos abusos do poder e da irrelevância para o caminhar da Igreja, pode vir a ser abolido pelo Concílio, que é o lugar onde leigos/as e clérigos/as, através do voto, fazem as mudanças que julgam necessárias à vida da Igreja.


Esta introdução é necessária para desfazer qualquer insinuação sobre as motivações que levaram um grupo de homens e mulheres metodistas, no apagar das luzes do 18º Concílio Geral, a se corresponderem e passarem a refletir sobre os rumos do metodismo histórico no Brasil e no mundo. Desta forma nos apresentamos à Igreja Metodista e enviamos, ainda no início das atividades da Rede Metodista Confessante, a todos os bispos e bispa nosso documento fundante, nos apresentando e explicando nossa motivação.


Ainda assim surgem vozes acusando os Metodistas Confessantes de serem rebeldes e confrontadores, que buscam combater a autoridade na Igreja Metodista. Quando os Metodistas Confessantes enviam cartas eletrônicas (e-mails) aos bispos e bispa, a superintendentes distritais e pastores, não o fazem com o intuito de combaterem a autoridade, mas sim de fortalecê-la. Desta maneira buscamos contribuir de maneira efetiva para o caminhar de uma Igreja que deve ser absolutamente comprometida com as raízes históricas do metodismo, do cristianismo e com o Reino de Deus nessa terra marcada por tantos males, entre eles, a miséria material e ética.

Em novembro de 2009 os Metodistas Confessantes enviaram correspondência ao pastor titular da IM Central em Juiz de Fora, ao SD e ao bispo-presidente da 4ª Região (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2009/11/carta-de-solicitacao-de-informacoes-aos.html) dentro do espírito democrático, conciliar e conexional que caracteriza o metodismo desde sua formação, no século XVIII. O fizemos de maneira aberta, democrática, respeitosa, direta e sem subterfúgios solicitando informações sobre atos que poderiam ferir a práxis e a doutrina metodista histórica.

Também em novembro de 2009 enviaram, segundo os mesmos princípios acima mencionados, uma carta para o revmo. Roberto Alves (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/08/carta-de-solicitacao-de-informacoes-ao.html) pedindo informações sobre pastores da região que tornavam obrigatória a participação no projeto Empacto/Impacto para membros que exercessem cargos de liderança nas igrejas locais, o que contraria não apenas a doutrina do Sacerdócio Universal dos Crentes como também os Cânones (Art.11) e o programa Dons e Ministérios.


Em novembro de 2009 e em agosto de 2010 os Metodistas Confessantes remeteram ao revmo. Adolfo Evaristo de Souza uma carta solicitando sua ação pastoral visando garantir a unidade da igreja e do Corpo de Cristo com vistas a intermediar e solucionar conflitos que estavam atingindo um grupo de cristãos metodistas que congregavam na Igreja Metodista Central de Belém (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/09/o-caso-belem-e-carta-solicitando-acao.html). Esses irmãos e irmãs, membros ativos desde a época da Igreja Metodista da Pedreira, passaram a ser discriminados e perseguidos em sua própria congregação por serem metodistas ativos em eventos e organismos ecumênicos antes da decisão do 18º Concílio Geral, por defenderem o envolvimento da Igreja em questões sociais e de combate à exclusão, sendo caracterizados como praticantes de atos da Teologia da Libertação e desta maneira excluídos dos cargos nacionais, regionais e locais, bem como alijados da participação da vida ministerial da IMCB de maneira ilegal, anticanônica e sem ação que visasse conduzir aquela igreja e seus membros à convivência harmoniosa e ao provimento do cuidado pastoral necessário.

No mês de outubro de 2010 enviaram cartas a diversos bispos e à Secretária Para a Vida e Missão da Igreja, revda. Joana D’Arc Meireles, comunicando atos de flagrante desrespeito às orientações publicadas nas Cartas Pastorais sobre as eleições e o uso indevido da Cruz e Chama, logomarca institucional da Igreja Metodista, que é propriedade intelectual protegida por registro no Instituto Nacional de Marcas e Patentes (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/09/as-eleicoes-de-2010-e-os-bispos.html).


Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes não cometem ato de rebeldia ou de confronto à autoridade na Igreja Metodista. Ao contrário. Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes defendem a autoridade da Igreja Metodista. Autoridade legítima é aquela que emana do povo que, representado por seus delegados e delegadas, elege seus líderes que agem de acordo com os princípios do Evangelho, com a compreensão do metodismo histórico, que é conexional, conciliar e democrática e de conformidade com as orientações Canônicas da Igreja Metodista. Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes buscam resistir a toda forma de autoritarismo, autocracia e despotismo, que impõe sua vontade ao defenestrar aqueles que se opõe a medidas ilegais, anticanônicas, contrárias à prática do protestantismo, sistema religioso que confronta a visão católico-romana de autoridade monárquica e infalível. Ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes assumem posição clara de defesa da herança wesleyana, da legalidade e da autoridade legítima e evangélica. Ao fazê-lo, oferecem oportunidade para que, em especial, o Colégio Episcopal, possa se manifestar de forma a deixar evidente que certas práticas (mesmo que partam de bispos) não condizem com os valores desse órgão máximo responsável por proteger e zelar pela unidade e herança da Igreja Metodista. Ao fazê-lo, defendem a autoridade da Igreja Metodista de todo e qualquer abuso que deturpa e solapa essa autoridade.

Quando os Metodistas Confessantes publicam manifestos dirigidos ao Concílio Geral defendendo posições favoráveis à participação da Igreja Metodista em órgãos ecumênicos que contam com a participação da Igreja Católica (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/07/manifesto-ao-19-concilio-geral-da.html) e defendem esta posição em petição pública que pode contar com a participação de toda e qualquer pessoa metodista (http://www.ipetitions.com/petition/manifesto19cg/), não o fazem por rebeldia ou rejeição à autoridade conciliar que, em 2006 em Aracruz, tomou as decisões que os Metodistas Confessantes discordam. Ao contrário. Dentro dos mesmos parâmetros democráticos e legais que permitiram que a proposta que previu a retirada da IM dos órgãos ecumênicos, nós elaboramos uma reflexão a respeito da história metodista, da doutrina metodista em todo o mundo de participação ecumênica e testemunho de unidade. A diferença é que ao fazê-lo, os Metodistas Confessantes o fazem em público, convidando toda a igreja a participar desta reflexão, publicando nossos documentos, convidando as pessoas a fazerem parte de nossa lista de discussão e abrindo nossa petição para a participação de todos e todas. Não o fazemos no escuro da noite, em reuniões secretas, em articulações inter-regionais entre delegados e listas de nomes para serem votados. Fazemo-lo às claras, em plena luz do dia, em respeito e consideração à nossas autoridades episcopais, que são sempre comunicadas sobre nossas posições e convidadas à discussão.


Quando os Metodistas Confessantes tornam públicas as propostas que serão deliberadas no 19º Concílio Geral (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/04/caderno-de-propostas-ao-19o-cg-da.html) e emitem um documento aberto a todos os conciliares e participantes onde expomos nossa opinião e instamos os conciliares a refletirem sobre importantes aspectos referentes à caminhada missionária e ministerial da Igreja Metodista (http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/05/carta-aberta-aos-conciliares-e.html), o fazemos lembrando os princípios democráticos que nortearam a caminhada de nossa denominação até os dias de hoje, baseados no Sacerdócio Universal dos Crentes e nos Cânones e na Constituição da Igreja Metodista, que versam, no artigo 5º de nossa constituição, que “A forma de governo da Igreja Metodista é episcopal e seu sistema, representativo”, ou seja, garantindo voz e vez à membresia leiga e clériga através da eleição de delegados e delegadas que os representam nos Concílios nos diversos níveis de atuação. Lembramos também que os Metodistas Confessantes não tem delegados no Concílio Geral, não articularam listas inter-regionais, não apóiam nenhum presbítero como candidato a bispo, não participam de conchavos e de acordos sorrateiros que são, infelizmente, tão característicos do atual momento político da Igreja Metodista.


Por fim, acusam os Metodistas Confessantes de ser um grupo fechado, uma seita, uma sociedade secreta que quer se imiscuir nas instâncias de poder para impor sua vontade e seus interesses particulares. Nada mais incorreto. Os Metodistas Confessantes são leigos, leigas, clérigos e clérigas de todas as regiões eclesiásticas e missionárias, com nomes e rostos conhecidos. São pastores, professores de escola dominical, evangelistas, missionários, participantes de pastorais, ministérios e instituições metodistas nos níveis local, distrital, regional e nacional. São crentes ativos e ativas nas suas igrejas locais, diligentes e operosos na evangelização, na ação docente, ação social e na proclamação dos valores do Reino de Deus. São pessoas que participam das classes de Escola Dominical em igrejas locais conhecidas por todos. A Rede Metodistas Confessante publica todas as suas posições em seu blog (http://metodistaconfessante.blogspot.com/) e conta com uma lista de discussões aberta (http://br.groups.yahoo.com/group/metodista_confessante/). Tão aberta que nossa lista abriga pessoas que não compartilham as mesmas visões e opiniões que nós, o que é uma prerrogativa metodista desde a época de Wesley (Quanto a todas as opiniões que não danificam as raízes do cristianismo, nós pensamos e deixamos pensar). Todavia, ao sermos tão abertos, sabemos da existência de pessoas que entram no grupo e costumam divulgar conteúdos de nossas conversas, de maneira distorcida, descontextualizada e deturpada, o que reforça o preconceito e a falsa noção de que os Metodistas Confessantes são rebeldes; que combatem a autoridade da Igreja Metodista. Ora, se assim fosse, seriamos mais cuidadosos e criaríamos um grupo fechado com pactos de silêncio, tal qual vem acontecendo nos moldes dos “Encontros com Deus” e Impacto/Empacto. Ao contrário, nossas opiniões são públicas e nossos Encontros Presenciais e nossas agendas estão disponíveis em nosso blog.

Estes são os Metodistas Confessantes. São cristãos e cristãs autênticos/as e apaixonados/as pela Igreja Metodista. São trabalhadores na Seara do Senhor. São estudiosos da herança wesleyana e preocupados com o testemunho da Igreja Metodista e com a perenização da vocação metodista na sociedade. São pessoas que não se conformam com o barateamento da Graça, com a comercialização da Fé e com a banalização do Evangelho. São pessoas que, como Wesley, temem mais que o Povo Chamado Metodista passe a ser seita morta que deixe de existir como Igreja.

Fabio Martelozzo Mendes
Membro da Igreja Metodista na Lapa e moderador da Rede Metodista Confessante.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Carta Aberta do Bispo Metodista Aldo Etchegoyen a Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos da América.

Carta Aberta do Bispo Metodista Aldo Etchegoyen a Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos da América.



Dr. Barack Obama

Senhor Presidente

Após a operação militar acontecida no Paquistão, de cujo planejamento o senhor participou pessoalmente e que culminou no desaparecimento forçado, morte e afundamento no mar de Osama bin Laden, surgem-me algumas perguntas.

Onde o senhor aprendeu semelhante metodologia a serviço da morte? Na escola dominical de sua igreja, onde recebeu os primeiros ensinamentos do evangelho da paz? Na escola pública ou privada, onde aprendeu a ler e a escrever? Talvez na universidade onde se graduou ou na cultura estadunidense onde o senhor se desenvolveu como pessoa? Quem sabe no partido político por meio do qual chegou à presidência deste poderoso país?

Não creio que por estes caminhos o senhor tenha chegado a pensar e a atuar tão violentamente, violando toda a lei e o direito nacional e internacional. Estive em seu país onde encontrei gente boa, regular e má, como em qualquer outro país do mundo. Sei também que os elogiadores da morte associaram-se ao senhor. Também sei que outros deploraram o acontecido, mas preferem manter um status cúmplice de silêncio, por via das dúvidas, sabe? Melhor não serem mal interpretados.

Volto à pergunta: onde aprendeu semelhante maneira de pensar e consequentemente atuar?

Sabe de uma coisa? Nós, na Argentina, conhecemos esta metodologia de atuação por parte daqueles a quem os senhores chamam de “tropas de elite”. Em nosso caso foram grupos-tarefa que roubavam pessoas e bens de milhares e milhares de famílias. Não lhe conto o que faziam com estas pessoas, para não acrescentar tristeza à celebração e à alegria que o senhor e sua equipe têm pelo êxito alcançado. Estes grupos-tarefa também roubavam. Terão também feito o mesmo os integrantes de sua “tropa de elite” que irrompeu como o ladrão à noite na casa de bin Laden? Provavelmente! Não com má intenção, mas para levar uma lembrancinha do lugar.

Conto-lhe que a nós aconteceu a mesma coisa, mas com a abismal diferença de que ninguém, absolutamente ninguém, se vingou pelo acontecido. E o número de desaparecidos é estimado em 30 mil pessoas.

Cremos que a morte não mata a morte, mas a favorece e a faz renascer com outro nome: vingança!

Nós sabemos onde foram educados aqueles que dirigiram e participaram destes grupos-tarefa. Foi na Escola das Américas, instituição “educativa” programada pelo seu país mas, naquela época, no Panamá, fora das fronteiras dos Estados Unidos, talvez para não contaminar seu território, exatamente como acontece hoje no centro de prisão e torturas instalado na base militar de vocês em Guantánamo, Cuba.

Mas... ocorre-me outra pergunta. Não terá o senhor estudado nesta mesma Escola Educativa?... Perdão, não quero ser desrespeitoso. É somente uma suspeita, seguramente sem fundamentos.

Finalizo com as palavras de alguém que tinha a mesma cor de sua pele, seu compatriota que no passado dizia: “Fico de luto pela perda de milhares de preciosas vidas, mas não me regozijo pela morte de qualquer uma, nem mesmo a de um inimigo. Devolver ódio por ódio, multiplica o ódio. É agregar maior escuridão a uma noite já desprovida de estrelas. A escuridão não pode eliminar a escuridão. Só a luz o pode fazer. O ódio não pode eliminar o ódio. Só o amor o pode fazer”.

Chamava-se Martin Luther King.

Saúdo-o com todo o meu respeito.

Aldo M. Etchegoyen, co-presidente da APDH (Assembléia Permanente pelo Direitos Humanos). Buenos Aires, Maio de 2011.

Prensa Ecumênica

PreNot 9503
110516

sábado, 21 de maio de 2011

Tribuna Metodista nº 5

Tribuna Metodista nº 5 já está no ar!




Baixe aqui o último número da Tribuna Metodista.

Neste número da Tribuna está publicado o texto "Pastor denuncia abusos de poder na Igreja Metodista", que relata a repercussão da recepção dos irmãos e irmãs de Belém do Pará recebidos como membros em Bela Aurora (Juiz de Fora) por sofrerem perseguições políticas e religiosas na REMA.

Metodistas que sofrem perseguição são acolhidos: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/04/metodistas-que-sofrem-perseguicao-sao.html (04/04/2011)

O caso Belém e a carta solicitando ação pastoral ao revmo. Bispo Adolfo: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/09/o-caso-belem-e-carta-solicitando-acao.html (09/09/2010)

O retorno do Santo Ofício ao Pará: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2009/08/o-retorno-do-santo-oficio-ao-para.html (18/08/2009)
 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Pastor denuncia abusos de poder na Igreja Metodista

Pastor denuncia abusos de poder na Igreja Metodista

Prezados irmãos e irmãs,


Me apresento aos metodistas brasileiros, na condição de membro da Igreja Metodista, para tecer algumas considerações sobre a dinâmica de acolhimento de irmãos e irmãs metodistas da cidade de Belém do Pará, região Norte do país.
 
Sei que a situação que envolveu esse acolhimento é inusitada e, talvez, tenha ocasionado alguns constrangimentos para muitas pessoas, mas, por uma razão óbvia, aprendi desde cedo, os caminhos inerentes à mística do ministério pastoral e fui ensinado pelos meus pastores o significado do apoio e acolhimento ao diferente, mesmo o muito diferente. A máxima “Pensar e deixar pensar”, tão fundamental para a dinâmica de uma Igreja conciliar, ou que se pretende conciliar, máxima esta exorcizada por muitos na atualidade, sempre serviu, pelo menos na concepção de muitos metodistas, como um paradigma para a fundamentação relacional, tão cara aos princípios mais basilares do Evangelho.


Tenho consciência de que na atualidade, líderes, visando a tranquilidade do arraial impõem sua visão e se afirmam diante da obediência dos liderados. Não poucos(as) pastores(as) têm vociferado em seus púlpitos palavras de abuso, determinando uma obediência muda para que os membros da igreja não se tornem feiticeiros, numa grotesca e fundamentalista alusão a 1 Samuel 15.23. Ao contrário disso, sempre busquei o caminho da elegância e da educação, dando minha resposta, tão somente, através da dedicação e do serviço, com os olhos fitos nos princípios da justiça, mesmo quando era derrotado em decisões conciliares ou em qualquer tipo de reunião. A vontade alheia sempre foi por mim respeitada. Aliás, somente consigo compreender a missão na Igreja e a teologia, ou o que se requer dela, na sua forma encarnada, como práxis, diaconia, serviço, conciliações, justiça e Reino. Sempre me esmerei no intuito de ser realmente pastor. De ser um companheiro e amigo nas horas das alegrias e também das dificuldades. Pastoreio, assim, as ovelhas do rebanho que não é meu, é de Deus. Visito-as e acolho-as em suas possíveis crises existenciais.
  
Dessa forma acolhi 42 membros oriundos de outras Igrejas Metodistas da cidade de Juiz de Fora e um membro da cidade de São Paulo, que no passado fora pastor metodista. Todos, muito queridos por mim. 
 
Confesso, entretanto, que gostaria que fosse diferente. Eu queria que estas pessoas continuassem perpetuando a alegria de celebrar junto aos(às) seus(suas) antigos(as) amigos(as) nas suas respectivas Igrejas. Esse afastamento provocou lutos outros que ainda estão sendo elaborados. Quero somente lembrar que as causas que levaram esses irmãos ao afastamento são as seguintes:
 
1. Uso indiscriminado de campanhas financeiras travestidas de campanhas de vitória através da oração;
2. Excesso de pregadores de distintas denominações nos púlpitos de nossas Igrejas;
3. Obrigatoriedade de participação no encontro metodista do pacto ou encontro com Deus, para exercimento de funções junto a Igreja;
4. Aceitação indiscriminada de toda e qualquer proposta ou “visão” dos(as) pastores(as).

Sobre este último aspecto, é curioso notar que na atualidade, a discordância dos leigos quanto às ideias e formas dos pastores tem a ver com rebeldia. Os chamados “rebeldes” são encaminhados para a “santa inquisição metodista”. O princípio do sacerdócio universal de todos os crentes foi completamente abolido de muitas igrejas.
 
Ora, o problema do autoritarismo na Igreja por parte das ordens sacerdotais não é novo e já foi denunciado por Martinho Lutero. Em suas próprias palavras: “Pois daí vem essa detestável tirania dos clérigos com relação aos leigos. Confiam na unção corporal pela qual suas mãos são consagradas e, depois, na tonsura e na veste. Não só creem que são mais que os cristãos leigos, que são ungidos com o Espírito Santo, mas quase os consideram como cachorros indignos de serem enumerados juntamente com eles na Igreja. Por isso, atrevem-se a mandar, exigir, ameaçar, pressionar e espremer em todo o sentido. Resumindo: o sacramento da ordem foi e continua sendo uma maquinação belíssima para consolidar todas as monstruosidades que se cometeram e ainda se cometem na Igreja. Aqui desaparece a fraternidade cristã, aqui os pastores se transformam em lobos, os servos em tiranos, os eclesiásticos em mais que mundanos”. (Do Cativeiro Babilônico da Igreja. In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, 1989, vol. 2, p. 414). 


A propósito, tive a oportunidade de participar do último Concílio Geral e vi, ouvi, senti e, infelizmente, participei sem comungar de um dos mais atrozes momentos da história da igreja metodista em terras brasileiras. Fiquei pasmo em descobrir ali os “reais” interesses que moviam as orações e as celebrações. Eu, inclusive, tinha conversado com um bispo informando-lhe que os burburinhos pré-concílio eram terríveis e que a Igreja seria atropelada por decisões unilaterais. Sugeri até mesmo o cancelamento do Concílio, o que não foi possível. As eleições dos bispos e da bispa foram momentos de desrespeito, infâmia, discórdias, maledicência, jogo sujo... Ouvi de um bispo, em particular, o desabafo indignado em relação a pastores que, pela frente, batiam as mãos nas costas dele e por trás, queriam a sua degola.


Por estas e outras convicções de fórum estritamente pastoral, resolvi acolher os 17 irmãos e irmãs de Belém do Pará e arrola-los como membros em nossa Igreja Metodista de Bela Aurora. Informo que, além desses, ainda serão acolhidos diversos adolescentes e crianças, que ainda não professaram a fé. 
 
Tenho a nítida clareza de que agi, insisto, num foro estritamente pastoral, numa brecha de lei canônica e numa ampla porta aberta, marcada pela (i) lógica do Evangelho de Jesus. Não fiz coisa alguma pensando em denegrir ou afrontar a imagem de quem quer que seja. Entretanto, sei que acabei apontando e denunciando o problema da autoridade, que em minha compreensão, é o calcanhar de Aquiles da Igreja atual. Ora, autoridade é fundamental para a dinâmica da práxis missionária da Igreja, mas é preciso considerar que uma autoridade somente pode ser exercida em três variáveis: pelo caminho da legalidade (que se caracteriza pela imposição da lei ou da força de coerção); pelo caminho da legitimidade (que ocorre quando uma comunidade percebe o carisma de seu líder ou pessoa responsável e legitima sua autoridade); e pelo caminho ideal, numa espécie de dialética entre legalidade e legitimidade, desde que a legitimidade seja a tônica do discurso, porque marcada pela conquista e serviço. Assim, acredito piamente que autoridade, com princípios bíblicos, é conquistada pelos caminhos relacionais na dialética de uma legalidade afirmada, posteriormente legitimada na vivência com a comunidade.
 
Nesse fórum pastoral, não creio ter ferido a ética. 
 
Decorreu desse abraço a formulação de uma queixa contra a minha pessoa por parte da liderança da REMA e da igreja central de Belém. A queixa questiona minha atitude, principalmente pelo fato dos(as) irmãos(ãs), que foram acolhidos por mim, estarem em disciplina. Ora, que disciplina? A que vem arbitrariamente do púlpito? A que vem como abuso do poder? Quando percebo que alguém está se desviando dos princípios da igreja ou mesmo da fé evangélica, procuro essa pessoa, vou a casa delas. Desejo ouvi-las e conciliá-las. Como se pode estabelecer disciplina eclesiástica para membros na Igreja Metodista sem os percalços canônicos? Expliquem-me, por favor!
 
Informo também que nos primeiros contatos com estes(as) irmãos(ãs) acolhidos(as), ficou claro para mim a perspectiva de que eles(as) não queriam ir para Igrejas Batistas ou Igrejas Presbiterianas, entre outras, mas queriam continuar membros da Igreja Metodista. Assim, assumi o acolhimento pensando em coisas estranhas que acho, não fazem mais parte do nosso convívio eclesiástico, tais como, por exemplo: unidade, conexidade, liberdade de espírito, pastoreio, entre outras.
 
Informo aos irmãos que trabalhei tão somente para resguardar a unidade da Igreja. Eu sei que às vésperas de um Concílio Geral, essa minha ação pastoral pode parecer ação politica para evidenciação de minha pessoa. Tenho o coração no altar e todos os mais próximos sabem muito bem que as decisões tomadas se deram por uma estrita devoção ao Evangelho.
  
Então, a minha ação de acolhimento, tão somente isso, não é uma ação esporádica com tonalidade puramente teórica. Como já evidenciei, o Evangelho para mim é Evangelho encarnado e, como tal, precisa ser prático seguindo a lógica do serviço. Por isso, tenho estado com o grupo mensalmente. Celebramos a Ceia do Senhor e nos apoiamos mutuamente.

Pergunto-me: por que essas pessoas foram excluídas? Por que tinham que aceitar a imposição de uma visão pastoral? Por que as decisões conciliares não foram respeitadas? Por que não se pôde sentar em uma mesa para saborear uma deliciosa maniçoba ou o pato no tucupi e buscar amizades?
 
Mesmo diante dessas questões de ordem prática, eu estou sendo questionado em minha ação de acolhimento. Eu disse na primeira reunião da comissão de disciplina que se eu tivesse adulterado com mulheres da igreja local, ou dado um calote em estabelecimentos da cidade, ou ainda, se tivesse tido uma vida irresponsável em relação às finanças e organização da minha igreja, então eu diria estar arrependido, choraria, pediria perdão, receberia uma exortação, uma disciplina de três meses, e tudo voltaria “tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.

Concluo, assim, esse meu breve relato, solicitando aos(às) meus(minhas) irmãos(ãs) metodistas que se manifestem contra arbitrariedades, que denunciem os abusos de poder, que reclamem pelo genuíno Evangelho de Jesus Cristo, que busquem a justiça, que digam não ao “papismo” que afronta a simplicidade do Reino que é sempre uma dimensão modesta, de pequenas ações. Ora, quem faz a Igreja é o povo, não os(as) pastores(as), os(a) bispos(a); quem dá dízimo para a manutenção da Igreja são as pessoas de coração sincero que amam a Igreja. A Igreja precisa ser ouvida. 
 
No amor de Cristo, Senhor da Vida,

Moisés Abdon Coppe
Membro e pastor na Igreja Metodista de Bela Aurora.

Esta é uma versão encurtada da carta intitulada "Considerações aos Metodistas Brasileiros", distribuída na internet.

Para compreender o pano de fundo:

Metodistas que sofrem perseguição: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2011/04/metodistas-que-sofrem-perseguicao-sao.html (04/04/2011)

O caso Belém e a carta solicitando ação pastoral ao revmo. Bispo Adolfo: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2010/09/o-caso-belem-e-carta-solicitando-acao.html (09/09/2010)

O retorno do Santo Ofício ao Pará: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2009/08/o-retorno-do-santo-oficio-ao-para.html (18/08/2009)